16.05.2017 Views

Revista Dr. Plinio 230

Maio de 2017

Maio de 2017

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

de técnica pede que se viole a proporcionalidade<br />

no aspecto físico da máquina,<br />

no local onde ela deve funcionar,<br />

nos ruídos produzidos por ela,<br />

gases, odores que ela desprende, etc.<br />

Tudo isso tem uma nota qualquer de<br />

desproporcionalidade, que é uma ostentação<br />

triunfal do monstruoso.<br />

A mera funcionalidade é a regra<br />

e, na indústria, ela produz tanta feiura.<br />

Ora, o homem não pode viver do<br />

meramente funcional, abstraindo da<br />

proporcionalidade e da beleza, porque<br />

o simplesmente funcional, pelo<br />

menos em certos domínios da atividade<br />

do homem, é anti-humano. É preciso<br />

fazer o belo, por amor de Deus, e<br />

o funcional no tamanho da globalidade<br />

das necessidades do homem.<br />

Tomemos, por exemplo, uma fábrica<br />

de sabonetes. O sabonete é<br />

necessário ao homem, e a máquina<br />

será tanto mais útil à humanidade<br />

quanto mais sabonetes ela produzir.<br />

Mas se o aspecto dessa máquina<br />

bestializa os que ali trabalham, esses<br />

não têm direito a não trabalhar naquilo?<br />

É um direito natural que se<br />

deve considerar.<br />

Mecanização do<br />

trabalho humano<br />

Por outro lado, o mundo comercial<br />

e burocrático procura organizar-<br />

-se à maneira de uma máquina, da<br />

qual o homem seria uma peça. Por<br />

causa disso, exige dele certas movimentações<br />

ou imobilidades excessivas<br />

que não só fazem mal ao ser humano,<br />

mas àquilo que ele vê.<br />

Por exemplo, o banco. Vamos imaginar<br />

um guichê de banco, onde haja<br />

uma armação qualquer pela qual se<br />

ouça perfeitamente a voz de um lado<br />

e de outro. Mas de fato, a única coisa<br />

aberta é um pequeno semicírculo em<br />

baixo, por onde as mãos entregam ou<br />

recebem o dinheiro.<br />

Isso poderia ter uma porção de justificativas.<br />

Por exemplo, evitaria que o<br />

funcionário se distraísse, um namori-<br />

co começasse, um assalto ocorresse –<br />

porque ficaria muito difícil dar um tiro<br />

no funcionário, o qual poderia facilmente<br />

esquivar-se, etc. Mas há uma<br />

necessidade humana de, no trato completo,<br />

ver a outra parte que não é funcional.<br />

Quer dizer, a função não exige<br />

isso. É razoável educar o homem, de<br />

maneira que ele se habitue a essa outra<br />

coisa e com toda a facilidade trave<br />

esse contato? Ou, pelo contrário, a<br />

natureza humana é incompatível com<br />

isso e não se pode impô-lo? E se no<br />

todo é preciso quase um estudo para<br />

habituar o homem a isto, não se deve<br />

concluir que é uma dessas necessidades<br />

de atender que faz bem a terceiros,<br />

mas não ao funcionário?<br />

Não é uma espécie de mecanização<br />

do trabalho humano? Há uma<br />

série de coisas assim.<br />

Uma organização<br />

completamente inumana<br />

Lembro-me disso no tempo em<br />

que fui funcionário da Secretaria de<br />

Viação e Obras Públicas. Havia uma<br />

sala de trabalho modesta, de expediente,<br />

que era dirigida por um engenheiro,<br />

um homem bem inteligente;<br />

fora meu professor universitário,<br />

mas ele ganhava mais sendo diretor<br />

daquela repartição.<br />

Ele tinha uma escrivaninha grande,<br />

talvez sobre um estradozinho. Os<br />

datilógrafos permaneciam alinhados<br />

e de frente para ele. E de um lado<br />

havia três ou quatro escriturários<br />

mais velhos, cujas mesas eram maiores,<br />

um pouco mais confortáveis e<br />

perpendiculares à escrivaninha do<br />

diretor; eram os que precisavam escrever<br />

coisas à mão, por exemplo, livros<br />

ou registros, etc.<br />

Faltava serviço, porque toda Secretaria<br />

de Estado que se preza tem<br />

mais funcionários do que trabalho.<br />

De maneira que ficavam horas vagas<br />

nas quais um certo pudor coletivo<br />

impedia de ostentarem que não tinham<br />

serviço. E havia um certo medo<br />

de que, ficando patenteado que<br />

não tinha trabalho, alguns fossem<br />

transferidos para outros lugares com<br />

mais serviços. Então, eles tinham interesse<br />

em não mudar de lá.<br />

As datilógrafas, em geral moçoilas<br />

– lembro-me de uma delas, Da. Iolanda<br />

–, permaneciam sentadas em<br />

fila, e às vezes brincando um pouquinho<br />

com o teclado, mas sem acalcar.<br />

Agence Rol (CC3.0)<br />

23

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!