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de técnica pede que se viole a proporcionalidade<br />
no aspecto físico da máquina,<br />
no local onde ela deve funcionar,<br />
nos ruídos produzidos por ela,<br />
gases, odores que ela desprende, etc.<br />
Tudo isso tem uma nota qualquer de<br />
desproporcionalidade, que é uma ostentação<br />
triunfal do monstruoso.<br />
A mera funcionalidade é a regra<br />
e, na indústria, ela produz tanta feiura.<br />
Ora, o homem não pode viver do<br />
meramente funcional, abstraindo da<br />
proporcionalidade e da beleza, porque<br />
o simplesmente funcional, pelo<br />
menos em certos domínios da atividade<br />
do homem, é anti-humano. É preciso<br />
fazer o belo, por amor de Deus, e<br />
o funcional no tamanho da globalidade<br />
das necessidades do homem.<br />
Tomemos, por exemplo, uma fábrica<br />
de sabonetes. O sabonete é<br />
necessário ao homem, e a máquina<br />
será tanto mais útil à humanidade<br />
quanto mais sabonetes ela produzir.<br />
Mas se o aspecto dessa máquina<br />
bestializa os que ali trabalham, esses<br />
não têm direito a não trabalhar naquilo?<br />
É um direito natural que se<br />
deve considerar.<br />
Mecanização do<br />
trabalho humano<br />
Por outro lado, o mundo comercial<br />
e burocrático procura organizar-<br />
-se à maneira de uma máquina, da<br />
qual o homem seria uma peça. Por<br />
causa disso, exige dele certas movimentações<br />
ou imobilidades excessivas<br />
que não só fazem mal ao ser humano,<br />
mas àquilo que ele vê.<br />
Por exemplo, o banco. Vamos imaginar<br />
um guichê de banco, onde haja<br />
uma armação qualquer pela qual se<br />
ouça perfeitamente a voz de um lado<br />
e de outro. Mas de fato, a única coisa<br />
aberta é um pequeno semicírculo em<br />
baixo, por onde as mãos entregam ou<br />
recebem o dinheiro.<br />
Isso poderia ter uma porção de justificativas.<br />
Por exemplo, evitaria que o<br />
funcionário se distraísse, um namori-<br />
co começasse, um assalto ocorresse –<br />
porque ficaria muito difícil dar um tiro<br />
no funcionário, o qual poderia facilmente<br />
esquivar-se, etc. Mas há uma<br />
necessidade humana de, no trato completo,<br />
ver a outra parte que não é funcional.<br />
Quer dizer, a função não exige<br />
isso. É razoável educar o homem, de<br />
maneira que ele se habitue a essa outra<br />
coisa e com toda a facilidade trave<br />
esse contato? Ou, pelo contrário, a<br />
natureza humana é incompatível com<br />
isso e não se pode impô-lo? E se no<br />
todo é preciso quase um estudo para<br />
habituar o homem a isto, não se deve<br />
concluir que é uma dessas necessidades<br />
de atender que faz bem a terceiros,<br />
mas não ao funcionário?<br />
Não é uma espécie de mecanização<br />
do trabalho humano? Há uma<br />
série de coisas assim.<br />
Uma organização<br />
completamente inumana<br />
Lembro-me disso no tempo em<br />
que fui funcionário da Secretaria de<br />
Viação e Obras Públicas. Havia uma<br />
sala de trabalho modesta, de expediente,<br />
que era dirigida por um engenheiro,<br />
um homem bem inteligente;<br />
fora meu professor universitário,<br />
mas ele ganhava mais sendo diretor<br />
daquela repartição.<br />
Ele tinha uma escrivaninha grande,<br />
talvez sobre um estradozinho. Os<br />
datilógrafos permaneciam alinhados<br />
e de frente para ele. E de um lado<br />
havia três ou quatro escriturários<br />
mais velhos, cujas mesas eram maiores,<br />
um pouco mais confortáveis e<br />
perpendiculares à escrivaninha do<br />
diretor; eram os que precisavam escrever<br />
coisas à mão, por exemplo, livros<br />
ou registros, etc.<br />
Faltava serviço, porque toda Secretaria<br />
de Estado que se preza tem<br />
mais funcionários do que trabalho.<br />
De maneira que ficavam horas vagas<br />
nas quais um certo pudor coletivo<br />
impedia de ostentarem que não tinham<br />
serviço. E havia um certo medo<br />
de que, ficando patenteado que<br />
não tinha trabalho, alguns fossem<br />
transferidos para outros lugares com<br />
mais serviços. Então, eles tinham interesse<br />
em não mudar de lá.<br />
As datilógrafas, em geral moçoilas<br />
– lembro-me de uma delas, Da. Iolanda<br />
–, permaneciam sentadas em<br />
fila, e às vezes brincando um pouquinho<br />
com o teclado, mas sem acalcar.<br />
Agence Rol (CC3.0)<br />
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