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Revista Dr. Plinio 230

Maio de 2017

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carinho sério, um tema elevado –,<br />

a voz dela ficava muito comunicativa.<br />

Isso fazia com que ela, quando<br />

queria comunicar a confiança, tivesse<br />

inflexões de voz que transmitiam<br />

uma espécie de persuasão, a qual, à<br />

primeira vista, poderia parecer gratuita,<br />

mas analisando bem, via-se<br />

não ser assim.<br />

A mim mesmo, como filho dela,<br />

em circunstâncias da vida de menino<br />

– porque o homem precisa ter confiança<br />

desde quando é pequeno –,<br />

como depois em situações da vida de<br />

moço e de adulto, várias vezes ela recomendou<br />

essa virtude, comunicando-a<br />

de modo a persuadir-me de que<br />

realmente era o caso de confiar e de<br />

manter-me tranquilo.<br />

O menino <strong>Plinio</strong> é<br />

atingido pela caxumba<br />

Lembro-me, por exemplo, de uma<br />

coisinha que é uma bagatela: o modo<br />

de ela tratar-me de uma caxumba.<br />

Essa doença, se bem cuidada –<br />

evitando-se que a criança saia correndo<br />

pelo jardim, etc. –, não tem<br />

gravidade, mas é um pouquinho prolongada,<br />

e constitui para a criança<br />

uma eternidade ficar na cama. Não<br />

há criança que não tenha horror de<br />

permanecer na cama.<br />

Ora, eu não sabia que a caxumba<br />

podia passar de um lado para outro<br />

do pescoço. Tive de um lado, e depois<br />

foi diminuindo. Mamãe – que<br />

conhecia esse predicado da enfermidade,<br />

mas não me dizia para eu não<br />

ficar apreensivo – me tranquilizava:<br />

“Olha, já está melhorando a sua caxumba!”<br />

Eu ia apalpando, sentindo que diminuía,<br />

e já fazendo planos de sair<br />

correndo para o jardim, e de mil outras<br />

coisas de criança que não aguenta<br />

mais a cama.<br />

Um belo dia eu disse a ela:<br />

– Mamãe, uma coisa engraçada,<br />

estou com algo aqui.<br />

– Meu filho, é que a caxumba passou<br />

para o outro lado.<br />

Comecei a chorar, porque para<br />

um menino de seis anos isso pode<br />

significar uma catástrofe cósmica,<br />

universal...<br />

– Não, mas você tenha paciência,<br />

isso passa como já passou desse outro<br />

lado – consolava-me ela.<br />

Se uma outra pessoa dissesse isso<br />

eu urraria: “Isso não passa, isso não<br />

está acabando, não vês? Troca esse<br />

médico!” Eu não entendia bem o<br />

que ocorria. Como era possível aparecer<br />

a mesma doença do outro lado?<br />

Esse médico é um incompetente,<br />

não serve para nada!<br />

Mas ela dizendo “isso passa” dava-me<br />

a persuasão de que passava<br />

mesmo, o tempo não seria tão longo,<br />

era suportável e, afinal de contas,<br />

durante a doença eu teria carinhos<br />

excepcionais dela, que compensariam<br />

a provação de ficar na cama.<br />

“Tenha confiança!”<br />

Podem imaginar o desfecho do<br />

caso: quando a caxumba estava quase<br />

curada, amanheci com uma indisposição<br />

de estômago violentíssima.<br />

Meu quarto ficava ao lado do dela.<br />

Chamei:<br />

– Mamãe, faz favor.<br />

Ela veio e eu lhe disse:<br />

– Amanheci com isso.<br />

– Filhão, a caxumba passou para o<br />

estômago...<br />

– Mas isso se transmite para o estômago?!<br />

Passa para onde mais, para<br />

os olhos, para a língua...?!<br />

– Esteja calmo, porque só dá<br />

nos dois lados do pescoço e no estômago;<br />

não em outro lugar. Agora<br />

é mesmo a última vez. Você esteja<br />

consolado. Veja bem, vou lhe<br />

arranjar um brinquedo. Tenha confiança!<br />

Esse “tenha confiança” era dito<br />

de tal modo que eu começava a confiar<br />

e sossegava. Era o efeito comunicativo<br />

do timbre de voz dela, próprio<br />

ao de uma mãe, mas ao mesmo<br />

tempo com algo que eu seria levado<br />

a julgar como sendo sobrenatural,<br />

e que atuava profundamente sobre<br />

mim.<br />

Embora eu tenha sido, em toda a<br />

minha vida, muito categórico, sossegava,<br />

deitava, recostava minha cabeça<br />

no meu travesseiro e começava a<br />

minha triste manhã de doente. Mas,<br />

com ela ao lado, não tinha problema,<br />

estava tudo resolvido: “Mamãe<br />

está lá, eu confio nela, porque ela leva<br />

consigo qualquer coisa de Deus<br />

que faz com que dê tudo certo.”<br />

Intercâmbio de moções<br />

que aumentará nas mais<br />

difíceis circunstâncias<br />

A grande quantidade de flores depositadas<br />

na sepultura de Dona Lucilia<br />

mostra como são tratados como<br />

filhos os que a ela recorrem. Aquilo<br />

tudo corresponde a graças recebidas,<br />

esperanças de novos favores, afeto e<br />

gratidão pelos benefícios obtidos. É<br />

uma coisa muito justa, muito razoável.<br />

Além das flores, aquele tufo de<br />

gente que fica ali indefinidamente,<br />

sem programa de ir embora. Tanto<br />

podem sair de repente se chover, por<br />

exemplo, quanto não se incomodarem<br />

muito e permanecerem embaixo<br />

da chuva mesmo.<br />

Por quê? Por estarem sentindo<br />

algo interior, uma graça que leva a<br />

pessoa, mais ou menos confusamente,<br />

a pensar: “Aqui está bom e daqui<br />

eu não saio.” Vê-se que há uma espécie<br />

de diálogo mudo entre a alma<br />

dela no Céu e as pessoas que estão<br />

rezando ali.<br />

Esse intercâmbio de moções dever-se-á<br />

dar intensissimamente em<br />

circunstâncias difíceis como, por<br />

exemplo, durante os castigos previstos<br />

por Nossa Senhora, em Fátima. ❖<br />

(Extraído de conferência de<br />

28/2/1993)<br />

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