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Geração: resíduos de madeira abastecem mercado de energia verde<br />
revista biomassa energia<br />
PCHs<br />
FONTE LIMPA DE PRODUÇÃO DE ENERGIA<br />
COMPROVA POTENCIAL BRASILEIRO<br />
SHP’s<br />
CLEAN SOURCE OF ENERGY GENERATION<br />
REVEALS BRAZILIAN POTENTIAL<br />
DANIEL FURLAN<br />
PERSPECTIVAS<br />
EMIRADOS ÁRABES<br />
PARA O BIODIESEL INVESTEM EM FONTES RENOVÁVEIS
Participe da 7ª edição do Ecoenergy e saiba mais sobre o uso racional dos recursos renováveis para<br />
a geração de energia não poluidoras como o sol, o vento, a biomassa, os resíduos agrícolas e até<br />
mesmo o lixo urbano. O tema principal deste ano será Planejamento Estratégico e Superação de<br />
Gargalos para a Decolagem de Projetos em Energia Solar no Brasil.<br />
Alavancagem da Energia Solar<br />
pautada na regulamentação<br />
e sinergia entre agentes do<br />
mercado.<br />
PROGRAMAÇÃO<br />
23 DE MAIO 24 DE MAIO 25 DE MAIO<br />
Financiamento e Gestão<br />
de Projetos de Energia<br />
Solar Fotovoltaica, Eólica e<br />
Termossolar.<br />
BIOMASS DAY<br />
Otimização do pontecial da<br />
Biomassa para geração de<br />
Energia Elétrica e Bioprodutos.<br />
Perspectivas para CSP no Brasil,<br />
tributação de Energia Solar,<br />
geração de empregos verdes e<br />
programas de capacitação.<br />
Pagamento online em até 6x no cartão de crédito:<br />
À vista no boleto bancário:
FOTOS BIOMAIS<br />
www.REVISTABIOMAIS.com.br<br />
SUMÁRIO<br />
04 | EDITORIAL<br />
De olho no futuro<br />
ENTREVISTA<br />
06 | CARTAS<br />
08 | NOTAS<br />
14 | ENTREVISTA<br />
18 | PRINCIPAL<br />
24| PELO MUNDO<br />
Novos rumos<br />
Foto: divulgação<br />
iodiesel é um combustível biodegradável derivado de fontes renováveis, que pode ser obtido por diferentes processos<br />
– a alternativa renovável e sustentável, opção ecológica ao petróleo, permite reduzir a importação desta fonte, além<br />
de diminuir consideravelmente a poluição. Em entrevista à BIOMAIS, Daniel Furlan, gerente de economia da Abiove<br />
B<br />
(Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais), fala sobre o mercado de óleos vegetais, a projeção de produção<br />
de soja para atender esta nova demanda e perspectivas futuras para o setor. Confira:<br />
PRINCIPAL<br />
B<br />
• DANIEL<br />
FURLAN •<br />
COMPETITIVO SEM<br />
PERDER A ESSÊNCIA<br />
COMPETITIVE WITHOUT LOSING THE ESSENCE<br />
iodiesel is a biodegradable fuel derived from renewable sources, which can be obtained from different processes – a renewable<br />
and sustainable alternative, eco-friendly option to petroleum, leading to reductions in imports from this source, in addition to<br />
considerably decreasing pollution. In an interview with BIOMAIS, Daniel Furlan, Manager of Economics for Abiove (Brazilian<br />
Association of Vegetable Oil Producers), talks about the vegetable oil market, soybean production projections to meet this new<br />
demand, and future prospects for the Sector. Check it out:<br />
28 | TECNOLOGIA<br />
Aproveita-se até o bagaço<br />
32 | CASE<br />
Oasis no deserto<br />
12<br />
www.REVISTABIOMAIS.com.br<br />
RESERVA<br />
ESTRATÉGICA<br />
FOTOS DIVULGAÇÀO<br />
PCHS CONSOLIDAM MOMENTO DE EXPANSÃO<br />
INICIADO HÁ MAIS DE 10 ANOS<br />
O<br />
mercado de energia hidrelétrica representa a<br />
maior fonte de geração de energia do Brasil<br />
e do mundo – o setor corresponde a cerca de<br />
20% do total de energia gerada no mundo.<br />
Nesse contexto, ganham destaque as PCHs (pequenas centrais<br />
hidrelétricas), que passam por ciclo de expansão no<br />
mercado brasileiro na última década.<br />
As PCHs operam de modo similar às grandes usinas – as<br />
pás das turbinas são movimentadas pelo fluxo de água e alimentam<br />
geradores que produzem energia. A diferença está<br />
no volume de energia gerado: as pequenas centrais geram<br />
no máximo 30 MW, volume suficiente para abastecer até 6<br />
mil residências de classe média. Com esse volume de produção,<br />
as PCHs atendem a áreas próximas à sua localização, o<br />
que implica em menores perdas na transmissão de energia;<br />
elas apresentam apenas 3% de perda na transmissão, contra<br />
10% observados nas grandes usinas do país – o limite recomendado<br />
pelo padrão internacional é de 6%.<br />
O crescimento do setor de PCHs atende a uma demanda<br />
específica do mercado brasileiro. As pequenas centrais<br />
atuam como reserva estratégica no sistema de geração de<br />
energia, um papel que foi fundamental durante a crise do<br />
STRATEGIC RESERVE<br />
SHP’S CONSOLIDATE A MOMENT OF EXPANSION<br />
INITIATED MORE THAN 10 YEARS AGO<br />
T<br />
he hydroelectric energy market represents the largest<br />
source of Brazil’s generated energy, and the<br />
world’s generated energy, with the Sector representing<br />
about 20% of the total energy generated in the<br />
world. In this context, SHP’s (small hydropower plants) have<br />
to be noted, as they have undergone an expansion cycle in<br />
the Brazilian market over the last decade.<br />
SHP’s operate similarly to large power plants – the turbine<br />
blades are moved by a water flow and feed generators<br />
that produce energy. The difference is in the amount<br />
of energy generated: small hydro power plants generate,<br />
at the most, 30 MW, enough to power up to 6 thousand<br />
middle-class homes. With this production volume, SHP’s<br />
serve areas close to their location, which implies lower<br />
energy transmission losses; they have only a 3% loss in<br />
transmission, against 10% observed in large power plants<br />
in the Country – the limit recommended by international<br />
standards is 6%.<br />
SHP Sector growth has met a specific demand in the<br />
Brazilian market. The small hydro plants act as a strategic<br />
reserve in the energy generation system, a role that was<br />
crucial during the 2001 energy supply crisis. With their role<br />
16 www.REVISTABIOMAIS.com.br<br />
REVISTA + BIOMASSA + ENERGIA 17<br />
38 | ESPECIAL<br />
44 | ARTIGO<br />
ESPECIAL<br />
SEM<br />
DESPERDÍCIO<br />
48 | AGENDA<br />
50| OPINIÃO<br />
Donald Trump ou “nada é tão ruim<br />
que não possa piorar”<br />
34<br />
RESÍDUOS DE MADEIRA DESCARTADOS PELA<br />
INDÚSTRIA, AGRICULTURA E DA CONSTRUÇÃO<br />
CIVIL ABASTECEM O MERCADO DE ENERGIA<br />
RENOVÁVEL<br />
REVISTA + BIOMASSA + ENERGIA 35<br />
REVISTA + BIOMASSA + ENERGIA 03
EDITORIAL<br />
DE OLHO NO FUTURO<br />
Ilustra a capa desta edição da BIOMAIS uma<br />
PCH, fonte de geração limpa de energia<br />
JOTA COMUNICAÇÃO<br />
EXPEDIENTE<br />
Diretor Comercial / Commercial Director: Fábio<br />
Alexandre Machado (fabiomachado@revistabiomais.<br />
com.br) • Diretor Executivo / Executive Director: Pedro<br />
Bartoski Jr (bartoski@revistabiomais.com.br) • Diretora<br />
de Negócios / Business Director: Joseane Knop<br />
(joseane@jotacomunicacao.com.br)<br />
Recentemente, o Brasil passou por dificuldades no setor elétrico:<br />
aumento no custo da produção e do preço da energia, apagões, falta<br />
de chuva e os baixos níveis nos reservatórios das hidrelétricas do país.<br />
Houve ainda falta de planejamento e investimento no setor energético<br />
com volume para suprir a demanda e as perdas de eficiência energética.<br />
Diante deste cenário, trazemos em nossa reportagem principal, um<br />
panorama sobre as PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas), importante<br />
complemento para nossa matriz hidrelétrica. Tratamos, ainda, do reaproveitamento<br />
de resíduos de madeira, no Brasil e no mundo, para geração<br />
de energia e contamos como os países dos Emirados Árabes Unidos,<br />
berço do petróleo, estão agora olhando para as energias renováveis. Boa<br />
leitura.<br />
JOTA EDITORA<br />
Diretor Comercial / Commercial Director: Fábio<br />
Alexandre Machado (fabiomachado@revistabiomais.<br />
com.br) • Diretor Executivo / Executive Director: Pedro<br />
Bartoski Jr (bartoski@revistabiomais.com.br) • Redação<br />
/ Writing: Rafael Macedo - Editor, Murilo Basso,<br />
(jornalismo@revistabiomais.com.br) • Dep. de Criação<br />
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Fabiano Mendes, Fernanda Maier (criacao@<br />
revistabiomais.com.br) • Tradução / Translation: John<br />
Wood Moore • Dep. Comercial / Sales Departament:<br />
Gerson Penkal, (comercial@revistabiomais.com.br)<br />
• Fone: +55 (41) 3333-1023 • Dep. de Assinaturas /<br />
Subscription: (assinatura@revistabiomais.com.br).<br />
A REVISTA BIOMAIS é uma publicação da<br />
JOTA Editora - Rua Maranhão, 502 - Água Verde -<br />
Cep: 80610-000 - Curitiba (PR) - Brasil<br />
Fone/Fax: +55 (41) 3333-1023<br />
www.jotaeditora.com.br<br />
WITH AN EYE ON THE FUTURE<br />
Recently, Brazil went through difficulties in the Electric Energy Sector:<br />
increasing production costs and electric energy prices, blackouts, lack of<br />
rainfall, and low levels of hydroelectric plant reservoirs. There was also lack<br />
of planning and investment in the energy sector at a volume necessary to<br />
meet demand and energy efficiency losses. Given this scenario, in our main<br />
story, we give an overview on SHP`s (Small Hydropower Plants), an important<br />
component of our hydroelectric energy matrix. We also cover the recycling<br />
of wood waste in Brazil and in the world, as to power generation, and<br />
explain how the countries of the United Arab Emirates, birthplace of oil, are<br />
now looking to renewable energies. Pleasant reading.<br />
Veículo filiado a:<br />
A REVISTA BIOMAIS - é uma publicação bimestral e independente,<br />
dirigida aos produtores e consumidores de energias limpas e alternativas,<br />
produtores de resíduos para geração e cogeração de energia, instituições<br />
de pesquisa, estudantes universitários, órgãos governamentais,<br />
ONG’s, entidades de classe e demais públicos, direta e/ou indiretamente<br />
ligados ao segmento. A REVISTA BIOMAIS não se responsabiliza por<br />
conceitos emitidos em matérias, artigos, anúncios ou colunas assinadas,<br />
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A utilização, reprodução, apropriação, armazenamento de banco de<br />
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autorização escrita dos titulares dos direitos autorais, exceto para fins<br />
didáticos.<br />
REVISTA BIOMAIS is a bimonthly and independent publication, directed<br />
at clean alternative energy producers and consumers, producers of residues<br />
used for energy generation and cogeneration, research institutions, university<br />
students, governmental agencies, NGO’s, class and other entities, directly and/<br />
or indirectly linked to the Segment. REVISTA BIOMAIS does not hold itself responsible<br />
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by others; these are the responsibility of their authors. The use, reproduction,<br />
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other intellectual property of REVISTA BIOMAIS are strictly forbidden without<br />
written authorization of the holder of the authorial rights, except for educational<br />
purposes.<br />
04<br />
www.REVISTABIOMAIS.com.br
CARTAS<br />
INICIATIVA<br />
Interessante iniciativa adotada pelos países do Reino Unido, onde resíduos alimentares geram<br />
energia. Precisamos pensar no futuro do planeta e modelos como este precisam ser adotados.<br />
João Fleury – Curitiba (PR)<br />
Foto: divulgação<br />
CRESCIMENTO<br />
Parabéns por incentivar e retratar fielmente o crescimento do mercado de energia solar, que promete movimentar<br />
mais de R$ 100 bilhões nos próximos 15 anos.<br />
Marcio Charnescki – Blumenau (SC)<br />
BATE-PAPO<br />
Excelente entrevista com Ricardo Blandy! Sempre bom ouvir representantes de empresas de sucesso em nosso setor<br />
que podem servir de exemplo para boas e novas iniciativas.<br />
Fábio Marconi – São Paulo (SP)<br />
INUSITADO<br />
Nunca imaginei que pudéssemos gerar combustível a partir do esgoto. Uma alternativa<br />
viável e inusitada para alimentarmos nossos veículos.<br />
Ana Matta – Belo Horizonte (MG)<br />
Foto: divulgação<br />
REVISTA<br />
na<br />
mídia<br />
www.revistabiomais.com.br<br />
www.facebook.com.br/revistabiomais<br />
informação<br />
biomassa<br />
energia<br />
www<br />
Publicações Técnicas da JOTA EDITORA<br />
06<br />
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NOTAS<br />
Foto: divulgação<br />
REPRESENTATIVIDADE<br />
A predominância de fontes renováveis na matriz energética<br />
brasileira deve se manter estável em <strong>2017</strong>. Segundo estimativas<br />
do MME (Ministério de Minas e Energia), a participação deve ser<br />
de 43,8% do total. Já na oferta interna de energia elétrica, a proporção<br />
das renováveis será bem mais significativa, com previsão<br />
na casa dos 83%; a energia hidráulica deve continuar como a<br />
mais importante na matriz elétrica de <strong>2017</strong>, respondendo por<br />
67,9%. A eólica, por outro lado, deve passar de uma proporção<br />
de 5,3% para 6,5%, enquanto a biomassa de 8,8% para 9,0%, de<br />
2016 para <strong>2017</strong>. As produções de petróleo e gás natural também<br />
registraram crescimento: 15,3% e 13,1%, respectivamente.<br />
CONSUMO DE GÁS<br />
NATURAL RECUA<br />
EM SÃO PAULO<br />
A cidade de São Paulo consumiu, no primeiro bimestre<br />
de <strong>2017</strong>, 756 milhões de m3 (metros cúbicos) de<br />
gás natural. O total consumido é 11,25% menor que o<br />
verificado nos mesmos meses de 2016, quando atingiu<br />
851 milhões de m³. A maior queda no consumo de gás<br />
natural no Estado foi registrada no setor de termogeração,<br />
passando de 112 milhões de m³ no primeiro bimestre<br />
de 2016, para 3 milhões de m³, uma queda de<br />
97,3%. Já a cogeração de energia elétrica (sistemas de<br />
geração distribuída de energia elétrica) apresentou um<br />
crescimento de 11,6%. De 44 milhões de m³ no primeiro<br />
bimestre de 2016, a cogeração subiu para 49 milhões de<br />
m³ em <strong>2017</strong>.<br />
Foto: divulgação<br />
Foto: divulgação<br />
MESMO NA CHUVA<br />
Uma equipe de cientistas de duas universidades da<br />
China desenvolveu painéis solares capazes de gerar energia<br />
também em dias de baixa insolação. Os painéis funcionariam<br />
inclusive com chuva ou nevoeiro e no período<br />
noturno. Segundo a imprensa oficial chinesa, as placas<br />
podem representar uma revolução fotovoltaica, afinal a<br />
principal inovação dos painéis é o uso de um novo material<br />
chamado LPP (sigla em inglês de fósforo de longa<br />
persistência). Esse material pode armazenar energia solar<br />
durante o dia para que seja colhida à noite.<br />
08<br />
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NOTAS<br />
COMPLEXO EÓLICO NO CEARÁ<br />
Depois de receber autorização da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica),<br />
o Complexo Eólico Santa Mônica entrou em operação comercial plena<br />
no Ceará. Localizado no município de Trairi, o empreendimento custou R$ 460<br />
milhões. O Complexo possui quatro parques eólicos: Santa Mônica, Cacimbas,<br />
Estrela e Ouro Verde. Neles, funcionam 36 aerogeradores com capacidade instalada<br />
total de 97,2 MW (Megawatts), o suficiente para abastecer uma cidade<br />
de 170 mil habitantes.<br />
Foto: divulgação<br />
Foto: divulgação<br />
ENERGIA TÉRMICA<br />
NO JAPÃO CAIRÁ<br />
40% ATÉ 2030<br />
A demanda por energia térmica irá diminuir<br />
consideravelmente no Japão até 2030.<br />
É o que diz o novo relatório publicado pelo<br />
Instituto de Economia da Energia e Análise<br />
Financeira. O documento - Japão: Maior Segurança<br />
Energética Através de Transformações<br />
Elétricas Renováveis em uma Economia<br />
Pós-Nuclear -, destaca o potencial para melhorar<br />
a segurança energética nacional por<br />
meio de energias renováveis, especialmente<br />
energia solar e eólica offshore; a publicação<br />
também prevê que muitas das 45 usinas a<br />
carvão atualmente projetadas não chegarão<br />
a ser construídas.<br />
DE VENTO EM POPA<br />
O vento pode ser a solução para um transporte marítimo mais eficiente no século<br />
XXI. A tecnologia de navios movidos à energia eólica vai ser testada nos próximos<br />
dois anos; a responsável é a Norsepower Oy, em parceria com a Maersk Tankers, o<br />
ETI (Energy Technologies Institute) e a Shell Shipping & Maritime. Se os dispositivos<br />
economizarem tanto combustível como esperado, a Maersk Tankers poderia usá-los<br />
em seus navios maiores. O interesse justifica-se pela proximidade das novas regras<br />
de controle da poluição marítima, que devem entrar em vigor em 2020.<br />
Foto: divulgação<br />
10<br />
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NOTAS<br />
TURBINA EÓLICA A PREÇO DE<br />
SMARTPHONE<br />
A energia eólica pode se tornar mais acessível para residências. É o que pretendem<br />
dois irmão indianos, por meio da startup Avant Garde Innovations. Arun<br />
e Anoop George desenvolveram uma turbina eólica residencial cujo valor de venda<br />
estimado está em 50 mil rupias, cerca de R$ 2.300. Os irmãos projetaram a turbina<br />
eólica domiciliar, com o tamanho das pás de um ventilador de teto que podem<br />
gerar de 1 a 3 KWh (Quilowatt horas) de energia elétrica diária. A quantidade<br />
é suficiente para alimentar uma residência na Índia. Um dos objetivos principais<br />
dos irmãos é acabar com a pobreza energética e turbina já recebeu diversos prêmios<br />
de reconhecimento internacional. O produto deve logo chegar ao mercado.<br />
Foto: divulgação<br />
Foto: divulgação<br />
SOL E AR<br />
A adição de capacidade nos setores de<br />
energia eólica e solar em todo mundo atingiu<br />
recorde em 2016: as duas fontes totalizaram<br />
166 gigawatts. O anúncio foi feito pela agência<br />
ONU Meio Ambiente, que divulgou um relatório<br />
sobre energias renováveis. Apesar do recorde,<br />
graças à redução de custos no setor, os<br />
investimentos em energias renováveis foram<br />
menores; ao todo foram investidos US$ 242<br />
bilhões em 2016, período em que também foi<br />
registrada a diminuição das emissões de gases<br />
de efeito estufa geradas pelo setor de energia,<br />
o que foi possível graças aos investimentos da<br />
China e dos EUA (Estados Unidos da América)<br />
em fontes renováveis.<br />
ENERGIA SOLAR 24H NO HAVAÍ<br />
A ilha de Kauai, no Havaí, é conhecida por suas densas florestas e belas<br />
cascatas. Apesar da abundância de luz solar, ela é dependente do óleo diesel,<br />
fonte de eletricidade cara e poluente. Mas esse quadro deve mudar: a<br />
Tesla, empresa do Vale do Silício, que mira um futuro mais limpo e sustentável,<br />
concluiu seu megaprojeto de instalação de uma fazenda solar na<br />
ilha e instalou um conjunto de baterias para armazenamento de energia<br />
durante os picos de produção. Com isso, os habitantes de Kauai vão poder<br />
consumir eletricidade de fonte renovável, mesmo durante a noite ou períodos<br />
de pouca produção. Os custos com o novo projeto ficarão menores<br />
do que a energia gerada a partir do uso do diesel.<br />
Foto: divulgação<br />
12<br />
www.REVISTABIOMAIS.com.br
ENTREVISTA<br />
• DANIEL<br />
FURLAN •<br />
Foto: divulgação<br />
COMPETITIVO SEM<br />
PERDER A ESSÊNCIA<br />
B<br />
iodiesel é um combustível biodegradável derivado de fontes renováveis, que pode ser obtido por diferentes processos<br />
– a alternativa renovável e sustentável, opção ecológica ao petróleo, permite reduzir a importação desta fonte, além<br />
de diminuir consideravelmente a poluição. Em entrevista à BIOMAIS, Daniel Furlan, gerente de economia da Abiove<br />
(Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais), fala sobre o mercado de óleos vegetais, a projeção de produção<br />
de soja para atender esta nova demanda e perspectivas futuras para o setor. Confira:<br />
COMPETITIVE WITHOUT LOSING THE ESSENCE<br />
B<br />
iodiesel is a biodegradable fuel derived from renewable sources, which can be obtained from different processes – a renewable<br />
and sustainable alternative, eco-friendly option to petroleum, leading to reductions in imports from this source, in addition to<br />
considerably decreasing pollution. In an interview with BIOMAIS, Daniel Furlan, Manager of Economics for Abiove (Brazilian<br />
Association of Vegetable Oil Producers), talks about the vegetable oil market, soybean production projections to meet this new<br />
demand, and future prospects for the Sector. Check it out:<br />
14<br />
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PERFIL:<br />
PROFILE:<br />
Nome: Daniel Furlan<br />
Name: Daniel Furlan<br />
Formação: Bacharel em Ciências<br />
Econômicas pela USP (Universidade de São<br />
Paulo), Mestre em Economia também pela<br />
USP e Doutorando em Economia Aplicada<br />
na mesma universidade<br />
Cargo: Gerente de Economia da Abiove<br />
(Associação Brasileira das Indústrias de<br />
Óleos Vegetais)<br />
Education: B.Sc. in Economic Sciences, USP<br />
(University of São Paulo); M.Sc. in Economics,<br />
USP; and PhD. in Applied Economics, USP<br />
Function: Manager of Economics for Abiove<br />
(Brazilian Association of the Vegetable Oil<br />
Producers)<br />
O biodiesel - que emite cerca de 70% menos CO2 do<br />
que o diesel comum - tem conquistado importante papel<br />
na matriz energética nacional. Por que ele é importante<br />
para o clima e para a economia?<br />
A avaliação de Ciclo de Vida das emissões de Gases de<br />
Efeito Estufa do biodiesel mostra que ele reduz as emissões<br />
em mais de 70% em relação ao diesel mineral. Além disso,<br />
o biodiesel reduz as emissões de materiais particulados. Essas<br />
características tornam-no um produto benéfico ao meio<br />
ambiente e à qualidade do ar, tema particularmente sensível<br />
nas grandes cidades. Também é importante mencionar<br />
que o biodiesel é um combustível renovável e permite a<br />
transformação de resíduos (gorduras animais, óleo de cozinha<br />
recuperado, etc.) em energia. O biodiesel também contribui<br />
com a geração de empregos no campo e na indústria<br />
de forma direta e indireta. Proporciona ainda a substituição<br />
do diesel mineral importado, o que se traduz em economia<br />
de divisas internacionais e geração de renda no Brasil.<br />
O óleo de soja ainda representa o maior percentual<br />
da produção de biodiesel fabricado no Brasil?<br />
Sim, o óleo de soja respondeu por 77% dos óleos e<br />
gorduras utilizados na produção de biodiesel. Isso se deve<br />
à eficiência da produção agrícola brasileira (o Brasil é o segundo<br />
maior produtor mundial de soja) e da indústria processadora,<br />
a qual fornece ao mercado farelo proteico e óleo<br />
de soja para diversos usos no mercado doméstico e para<br />
exportação.<br />
Biodiesel – that emits about 70% less CO2 than<br />
common mineral diesel – has come to play an important<br />
role in the national energy matrix. Why is it important<br />
for the climate and for the economy?<br />
According to Ciclo de Vida, greenhouse gas emissions<br />
from biodiesel show that it reduces emissions by more than<br />
70% in relation to mineral diesel. In addition, biodiesel reduces<br />
particulate matter emissions. These characteristics<br />
make it a product that is beneficial to the environment and<br />
air quality, a particularly sensitive topic in major cities. It is<br />
also important to mention that biodiesel is a renewable fuel<br />
that can come from the transformation of waste (animal<br />
fats, recovered cooking oil, etc.) into energy. Biodiesel also<br />
leads to the generation of jobs in the field and in industry,<br />
both direct and indirect. It also leads to the replacement<br />
of imported mineral diesel which translates to foreign exchange<br />
savings and income generation in Brazil.<br />
Does soybean oil still represent the highest percentage<br />
of production of biodiesel manufactured in Brazil?<br />
Yes, soy oil accounted for 77% of the oils and fats used<br />
in the production of biodiesel. This is due to the efficiency<br />
of Brazilian agricultural production (Brazil is the world’s second<br />
largest producer of soy) and in industrial processing,<br />
which provides the market with protein meal and soybean<br />
oil for various uses in the domestic and export markets.<br />
REVISTA + BIOMASSA + ENERGIA 15
ENTREVISTA<br />
Até quando a soja<br />
consegue abastecer<br />
esse mercado?<br />
Existe ampla capacidade<br />
de aumento<br />
da produção de<br />
biodiesel pela cadeia<br />
produtiva da soja.<br />
Em <strong>2017</strong>, a Abiove<br />
prevê exportações<br />
de soja em grão de<br />
mais de 60 milhões<br />
de toneladas. Estas, se<br />
processadas no Brasil,<br />
são capazes de gerar<br />
mais de 12 milhões de<br />
toneladas de óleo de soja.<br />
Para se ter uma proporção<br />
do uso de óleo para biodiesel,<br />
atualmente são destinados cerca<br />
de 3 milhões de toneladas para<br />
atender à mistura de 8% de biodiesel<br />
no diesel mineral (B8).<br />
Quais seriam as potenciais alternativas<br />
para crescer em representatividade e<br />
consequentemente em números gerais?<br />
O biodiesel proporciona grandes oportunidades<br />
de agregação de valor aos óleos e gorduras. Exemplos<br />
disso são a produção a partir do óleo de palma (o Brasil<br />
usa pequena parte dos 7 milhões de ha (hectares) de terras<br />
aptas para cultivo), aumento da recuperação das gorduras<br />
animais e de óleo usado de cozinha. Esses são caminhos<br />
que podem gerar milhares de empregos na produção e<br />
distribuição desses produtos.<br />
Voltando à questão ambiental, um dos objetivos<br />
mais ambiciosos do compromisso brasileiro no histórico<br />
Acordo de Paris prevê, até 2030, a participação de 18%<br />
de biocombustíveis na matriz energética do país. Como<br />
estamos nessa meta?<br />
Essa meta é bem vinda, mas aquém do potencial de<br />
produção de energias renováveis no Brasil. Até 2020, a<br />
Abiove defende adoção de 20% de biodiesel no diesel mineral<br />
(B20) em ônibus urbanos e, até 2030, que o B20 seja<br />
implantado de forma obrigatória em todo o diesel comercializado<br />
no país. O Brasil deve se comprometer a metas de<br />
O biodiesel também<br />
proporciona geração<br />
de empregos no<br />
campo e na indústria<br />
de forma direta<br />
e indireta<br />
Until when<br />
can soy continue<br />
to supply<br />
this market?<br />
There<br />
is ample<br />
capacity for<br />
increased production<br />
of biodiesel<br />
from the<br />
soy production<br />
chain. In <strong>2017</strong>,<br />
Abiove predicts<br />
soybean exports of<br />
more than 60 million<br />
tons. These, if processed<br />
in Brazil, would be able to<br />
generate more than 12 million<br />
tons of soybean oil. For the use of<br />
soy oil for biodiesel, about 3 million tons<br />
are currently destined to meet the 8% of biodiesel<br />
blended into mineral diesel (B8).<br />
What are the potential alternatives to<br />
increase its share and what are the overall<br />
numbers?<br />
Biodiesel provides good opportunities for<br />
adding value to oils and fats. Examples of<br />
this are its production from Palm oil (Brazil<br />
currently only uses a small part of 7 million<br />
hectares of land suitable for cultivation)<br />
and increasing the recovery of animal<br />
fats and used oil. These are the ways<br />
that can generate thousands of jobs<br />
in the production and distribution<br />
of these products.<br />
Returning to the environmental issue, one of the<br />
most ambitious goals of the Brazilian commitment in<br />
the historic Paris agreement envisages that by 2030,<br />
biofuels will represent an 18% share in the Country's<br />
energy matrix. How are we as to this goal?<br />
This goal is welcome, but short of the production potential<br />
of renewable energies in Brazil. By 2020, Abiove defends<br />
the adoption of the use of 20% biodiesel in mineral<br />
diesel (B20) in city buses and, by 2030, that B20 becomes<br />
mandatory for all diesel fuel sold in the Country. Brazil<br />
16<br />
www.REVISTABIOMAIS.com.br
participação de renováveis mais altas, visto que essas fontes<br />
de energia proporcionam benefícios econômicos, sociais e<br />
ambientais.<br />
O cronograma de ampliação da mistura obrigatória<br />
de biodiesel no diesel fóssil: dos atuais 7% deve aumentar<br />
para 8%, 9% e 10% até 2019. No que esse aumento<br />
percentual de biodiesel na mistura do diesel comum<br />
contribui efetivamente?<br />
Esses cronogramas previstos em lei proporcionarão à<br />
sociedade brasileira usufruir dos benefícios econômicos, sociais<br />
e ambientais gerados na cadeia produtiva do biodiesel.<br />
Importante mencionar que a lei também prevê o B15 assim<br />
que os testes em motores forem concluídos e a critério do<br />
Cnpe (Conselho Nacional de Política Energética).<br />
De que formas a indústria de biodiesel pode, ou já<br />
busca, auxiliar o país da perspectiva social?<br />
O biodiesel tem como importante instrumento de<br />
integração o Selo Combustível Social. Por este<br />
mecanismo, parcela importante das<br />
compras de matérias primas<br />
advém da agricultura familiar,<br />
o que beneficia mais de 70<br />
mil famílias de agricultores<br />
por todo o país.<br />
Com a ampliação<br />
da mistura, os<br />
benefícios para<br />
os agricultores<br />
também serão<br />
estendidos.<br />
O Brasil deve se<br />
comprometer a metas de<br />
participação de renováveis<br />
mais altas, visto que<br />
essas fontes de energia<br />
proporcionam diversos<br />
benefícios<br />
should commit itself to these higher renewable share goals,<br />
given that these energy sources provide economic, social<br />
and environmental benefits.<br />
The timetable for the expansion of the compulsory<br />
blending of biodiesel in mineral diesel: the 7% last year<br />
should increase to 8%, 9% and 10%, each year to 2019.<br />
What does this biodiesel percentage increase effectively<br />
contribute to the common diesel mixture?<br />
This timetable, foreseen by law, will allow Brazilian<br />
society to obtain the economic, social and environmental<br />
benefits generated in the biodiesel production chain. It is<br />
important to mention that the law also provides for the<br />
possible use of B15 as soon as the engine tests are completed<br />
and at the discretion of Cnpe (National Energy Policy<br />
Council).<br />
How will, or already is, the biodiesel industry seeking<br />
to assist the Country in the social perspective?<br />
The integration of biodiesel into the Social<br />
Fuel Seal program has become an important<br />
tool. Through this mechanism,<br />
an important portion of raw<br />
material purchases comes<br />
from family agriculture,<br />
which benefits more<br />
than 70 thousand<br />
farming families<br />
throughout the<br />
Country. With<br />
the expansion<br />
of the share<br />
in mixtures,<br />
the benefits to<br />
farmers will also<br />
be extended.<br />
REVISTA + BIOMASSA + ENERGIA 17
PRINCIPAL<br />
RESERVA<br />
ESTRATÉGICA<br />
FOTOS DIVULGAÇÀO<br />
PCHS CONSOLIDAM MOMENTO DE EXPANSÃO<br />
INICIADO HÁ MAIS DE 10 ANOS<br />
18<br />
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STRATEGIC RESERVE<br />
SHP’S CONSOLIDATE A MOMENT OF EXPANSION<br />
INITIATED MORE THAN 10 YEARS AGO<br />
O<br />
mercado de energia hidrelétrica representa a<br />
maior fonte de geração do Brasil e do mundo<br />
– o setor corresponde a cerca de 20% do total<br />
de energia gerada em todo planeta. Nesse contexto,<br />
ganham destaque as PCHs (Pequenas Centrais Hidroelétricas),<br />
que passaram por ciclo de expansão no mercado<br />
brasileiro na última década.<br />
As PCHs operam de modo similar às grandes usinas – as<br />
pás das turbinas são movimentadas pelo fluxo de água e alimentam<br />
geradores que produzem energia. A diferença está<br />
no volume de energia gerado: as pequenas centrais geram<br />
no máximo 30 MW (Megawatt), volume suficiente para abastecer<br />
até 6 mil residências de classe média. Com esse volume<br />
de produção, as PCHs atendem a áreas próximas à sua localização,<br />
o que implica em menores perdas na transmissão de<br />
energia; elas apresentam apenas 3% de perda na transmissão,<br />
contra 10% observados nas grandes usinas do país – o<br />
limite recomendado pelo padrão internacional é de 6%.<br />
O crescimento do setor de PCHs atende a uma demanda<br />
específica. As pequenas centrais atuam como reserva estratégica<br />
no sistema de geração de energia, um papel que foi<br />
fundamental durante a crise do abastecimento de energia<br />
T<br />
he hydroelectric energy market represents the largest<br />
source of Brazil’s generated energy, and the<br />
world’s generated energy, with the Sector representing<br />
about 20% of the total energy generated in the<br />
world. In this context, SHP’s (small hydropower plants) have<br />
to be noted, as they have undergone an expansion cycle in<br />
the Brazilian market over the last decade.<br />
SHP’s operate similarly to large power plants – the turbine<br />
blades are moved by a water flow and feed generators<br />
that produce energy. The difference is in the amount<br />
of energy generated: small hydro power plants generate,<br />
at the most, 30 MW, enough to power up to 6 thousand<br />
middle-class homes. With this production volume, SHP’s<br />
serve areas close to their location, which implies lower<br />
energy transmission losses; they have only a 3% loss in<br />
transmission, against 10% observed in large power plants<br />
in the Country – the limit recommended by international<br />
standards is 6%.<br />
SHP Sector growth has met a specific demand in the<br />
Brazilian market. The small hydro plants act as a strategic<br />
reserve in the energy generation system, a role that was<br />
crucial during the 2001 energy supply crisis. With their role<br />
REVISTA + BIOMASSA + ENERGIA 19
PRINCIPAL<br />
PCHS<br />
DESATIVADAS<br />
PODERIAM<br />
OPERAR<br />
NOVAMENTE COM<br />
AS ESTRUTURAS<br />
JÁ EXISTENTES,<br />
APENAS COM<br />
A TROCA DE<br />
EQUIPAMENTOS<br />
DANIFICADOS OU<br />
MODERNIZAÇÃO<br />
DE SEUS SISTEMAS<br />
em 2001. Com o seu papel consolidado a partir daquele<br />
momento, o setor vem presenciando uma expansão nos últimos<br />
anos.<br />
POTENCIAL<br />
Com baixo impacto ambiental e redução de perdas na<br />
transformação de energia, as PCHs representam um setor<br />
com potencial de crescimento para o mercado de energia<br />
brasileiro. Além das vantagens ambientais, os incentivos públicos<br />
como a isenção na tarifa de transmissão e a garantia<br />
de venda de energia por 30 anos colocam as pequenas centrais<br />
no mapa de investidores e pesquisadores – estes, voltados<br />
para a avaliação do potencial energético na recuperação<br />
de PCHs desativadas.<br />
Segundo dados do Cerpch (Centro Nacional de Referência<br />
em PCH), vinculado à Unifei (Universidade Federal<br />
de Itajubá), de Minas Gerais, existem no Brasil mais de mil<br />
pequenas centrais desativadas, parte delas implantadas no<br />
começo do século 20, durante a primeira onda de expansão<br />
do uso de energia elétrica no Brasil.<br />
Esse número elevaria a potência instalada total das usinas<br />
do país em 300 MW, suficiente para abastecer 60 mil casas.<br />
Os números, apesar de tímidos, são representativos no<br />
longo prazo, de acordo com o professor José Luz Silveira, do<br />
becoming consolidated from that moment on, the Sector<br />
has been witnessing an expansion over recent years.<br />
POTENTIAL<br />
With a low environmental impact and reduced losses<br />
in energy transformation, SHP’s represent a sector with a<br />
constant growth potential. In addition to the environmental<br />
benefits, public incentives, such as the transmission fee<br />
exemption and a guaranteed energy sale for 30 years, have<br />
put the small energy generators on investor and research<br />
maps – those aimed at the assessment of the energy potential<br />
with the reactivation of the deactivated SHP’s.<br />
According to Cerpch data (National Reference Center<br />
for SHP’s), linked to Unifei (Federal University of Itajubá),<br />
in Minas Gerais, there exists in Brazil more than one thousand<br />
deactivated small generating plants, some of them<br />
installed at the beginning of the 20th century, during the<br />
first expansion wave for the use of electricity in Brazil.<br />
This number could increase the total installed capacity<br />
of energy generating plants in the Country by 300 MW,<br />
enough to supply energy to 60 thousand homes. According<br />
to Professor José Luz Silveira, from the Department<br />
of Energy and the Graduate Energy Program of the Engineering<br />
School of Unesp in Guaratinguetá, in the interior of<br />
20<br />
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EXISTEM NO<br />
BRASIL MAIS DE<br />
MIL PEQUENAS<br />
CENTRAIS<br />
DESATIVADAS,<br />
PARTE DELAS<br />
IMPLANTADAS<br />
NO COMEÇO DO<br />
SÉCULO 20<br />
departamento de energia e do programa de pós-graduação<br />
de energia da Faculdade de Engenharia da Unesp (Universidade<br />
do Estado de São Paulo) de Guaratinguetá, no interior<br />
de São Paulo. “Apesar de representar um potencial pequeno,<br />
se as PCHs que estão paradas por problemas técnicos não<br />
forem reformadas e reativadas, o país terá que investir em<br />
novas usinas geradoras”, alerta Silveira. “Como a principal atividade<br />
de investimento hoje são as usinas térmicas movidas<br />
a gás natural, poderemos ter sérios problemas pela frente.”<br />
As PCHs desativadas poderiam operar novamente com<br />
as estruturas já existentes, apenas com a troca de equipamentos<br />
danificados ou modernização de seus sistemas. O<br />
potencial econômico é somado à possibilidade de obter créditos<br />
de carbono pelos benefícios ambientais da repotencialização<br />
das pequenas centrais.<br />
A possibilidade de comercialização dos créditos de carbono<br />
obtidos torna o investimento mais atraente, com uma<br />
redução do tempo de amortização do investimento. “Em vez<br />
de quatro anos e quatro meses, o tempo de retorno passa<br />
a ser de três anos e seis meses, aumentando a atratividade<br />
econômica do empreendimento”, diz Dinara Silva Gyori, pesquisadora<br />
da Unesp responsável por um estudo sobre a PCH<br />
Sodré de Guaratinguetá, inaugurada em 1912 e desativada<br />
desde 1992.<br />
the State of São Paulo, these numbers, though timid, are<br />
representative in the long run, “Despite a low potential, if<br />
the SHP’s that are shut down for technical problems are<br />
not rehabilitated and reactivated, the Country will have<br />
to invest in new generating plants,” analyzes Professor<br />
Silveira. “As the main investment activity today is geared<br />
towards natural gas-fired thermal plants, we could face<br />
serious problems ahead.”<br />
Deactivated SHP’s could once again operate using<br />
existing structures, just with the replacement of damaged<br />
equipment or modernization of their systems. Added to<br />
the economic potential is the possibility of obtaining carbon<br />
credits from the environmental benefits of bringing<br />
the small hydro plants back online. The possibility for the<br />
sale of these carbon credits makes the investment even<br />
more attractive, with a shorter amortization of investment.<br />
“Instead of four years and four months, the economic return<br />
is reduced to three years and six months, increasing<br />
the economic attractiveness of the project,” says Dinara<br />
Silva Gyori, Research Scientist at Unesp, responsible for<br />
the study of the Sodré SHP in Guaratinguetá, inaugurated<br />
in 1912 and disabled in 1992. According to data from the<br />
Federal Government, small hydropower generating plants,<br />
already designed and with their power potential assessed<br />
REVISTA + BIOMASSA + ENERGIA 21
PRINCIPAL<br />
COM BAIXO<br />
IMPACTO<br />
AMBIENTAL E<br />
REDUÇÃO DE<br />
PERDAS NA<br />
TRANSFORMAÇÃO<br />
DE ENERGIA, AS<br />
PCHS REPRESENTAM<br />
SETOR COM<br />
POTENCIAL DE<br />
CRESCIMENTO<br />
CONSTANTE<br />
Segundo dados do governo federal, as pequenas centrais<br />
já projetadas e potenciais avaliadas e registradas pela<br />
Aneel somam 17 mil MW. Segundo estudo feito pelo Cerpch,<br />
o potencial teórico para PCHs ainda não inventariadas é de<br />
cerca de 14 mil MW, com o maior mercado consumidor e o<br />
maior potencial hídrico reunidos na região sudeste<br />
Já de acordo com dados dos relatórios do Plano Decenal<br />
de Expansão de Energia 2010-2019 e pela Matriz Energética<br />
Nacional 2030, a potência instalada das PCHs no Brasil é estimado<br />
em 11.366 MW até 2030, o que representa 3,3 vezes a<br />
potência instalada de 2010.<br />
MERCADO LIVRE<br />
Uma das vantagens econômicas das PCHs é a possibilidade<br />
de operar no mercado livre de energia, onde não existe<br />
a obrigatoriedade de aceitar os valores cobrados pela distribuidora<br />
local, sendo possível negociar os preços praticados<br />
em cada contrato.<br />
Criado em 1995, o mercado livre de energia contempla<br />
apenas pequenas centrais hidrelétricas e vem crescendo nos<br />
últimos anos. Em 2016, o número de indústrias consumidoras<br />
mais que dobrou, ultrapassando a marca de quatro mil<br />
clientes. “Dois motivos explicaram esse movimento no ano<br />
passado: a forte alta das tarifas de energia elétrica das distribuidoras<br />
no mercado cativo e os preços do mercado livre<br />
significativamente baixos”, explica Rafael Carneiro, head de<br />
and registered with Aneel (National Agency for Electric<br />
Energy), add up to 17 thousand MW. According to a study<br />
carried out by Cerpch, the theoretical potential for SHP’s<br />
scheduled but not yet built is about 14 thousand MW, with<br />
the largest consumer market and the largest hydro energy<br />
potential in the Southeastern Region.<br />
According to data from the 2010-2019 Ten-year Energy<br />
Expansion Plan and the 2030 National Energy Matrix report,<br />
the installed capacity of SHP’s in Brazil is estimated<br />
to be 11,366 MW by 2030, which is 3.3 times that installed<br />
in 2010.<br />
FREE MARKET<br />
One of the economic benefits of SHP’s is the ability<br />
to operate in the free energy market, where there is no<br />
obligation to accept the values paid by local distributors,<br />
whereby it is possible to negotiate prices for each contract.<br />
Created in 1995, the free energy market, which includes<br />
only small hydroelectric power plants, has been growing in<br />
recent years. In 2016, the number of consuming companies<br />
more than doubled, surpassing the mark of 4 thousand<br />
customers. “Two reasons explain this movement last year:<br />
the sharply higher electricity tariffs set by distributors on<br />
the captive market and significantly lower open market<br />
prices,” says Rafael Carneiro, Head of Energy at XP Investimentos.<br />
It is expected that this number will double again<br />
22<br />
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POTÊNCIA<br />
INSTALADA DAS<br />
PCHS NO BRASIL<br />
É ESTIMADO EM<br />
11.366 MW ATÉ<br />
2030, O QUE<br />
REPRESENTA 3,3<br />
VEZES A POTÊNCIA<br />
INSTALADA DE<br />
2010<br />
Energia da XP. A expectativa é que esse número dobre novamente<br />
até o final de <strong>2017</strong>.<br />
Desde sua criação, essa é a segunda onda de crescimento<br />
do mercado livre de energia no Brasil. A primeira ocorreu<br />
durante o apagão de 2001, diante da necessidade de empresas<br />
grandes consumidoras de energia que não tinham sua<br />
demanda atendida pela rede local.<br />
Agora, a adesão é liderada por pequenas e médias empresas<br />
que tentam evitar os preços altos praticados pelo<br />
mercado cativo. “A elevação dos custos do mercado regulado<br />
combinada ao momento econômico desfavorável está<br />
forçando as empresas a buscarem o mercado livre, que hoje<br />
é um mercado sólido e muito atrativo”, completa Carneiro.<br />
Desde o começo da atual onda de crescimento, em 2015,<br />
o preço da energia no mercado livre caiu em média 80%,<br />
para cerca de R$ 80/MW no curto prazo. Essa queda representa<br />
uma economia de até 30% para o consumidor, quando<br />
comparado com o mercado cativo. Essa economia pode ser<br />
prevista já no estabelecimento do contrato, que podem ter<br />
seus preços negociados diretamente entre o consumidor e<br />
a distribuidora para todo o período de vigência, como explica<br />
Cristopher Vlavianos, presidente da Comerc: “Isso dá<br />
previsibilidade de custo ao consumidor, que já sabe quanto<br />
vai pagar pela energia durante a vigência do contrato, sem<br />
surpresas no final do mês.”<br />
by the end of <strong>2017</strong>.<br />
Since its creation, this is the second wave of growth in<br />
the free energy market in Brazil. The first occurred during<br />
the 2001 "blackout", with the needs of large power consuming<br />
companies that didn’t have their demand satisfied<br />
by the local network.<br />
Now, this need is being fulfilled led by small and medium-sized<br />
companies that seek out a way of avoiding<br />
the high prices charged by the captive market. “The high<br />
costs in the regulated market combined with unfavorable<br />
economic conditions is forcing companies to seek the free<br />
market, which today is a solid and very attractive market,”<br />
adds XP Investimentos Carneiro.<br />
Over the short term, since the start of the current wave<br />
of growth in 2015, the price of energy on the free market<br />
has fallen, on average 80%, to about US$ 80/MW. This<br />
drop represents a savings of up to 30% for the consumer,<br />
when compared to the captive market. These savings can<br />
be anticipated in the establishment of a contract, which<br />
can have prices negotiated directly between the consumer<br />
and distributor for the entire contracted period, as explains<br />
Christopher Vlavianos, President of Comerc: “this provides<br />
a predictability of cost to the consumer, who already knows<br />
how much he will have to pay for energy during the term<br />
of the contract, with no surprises at the end of the month.”<br />
REVISTA + BIOMASSA + ENERGIA 23
PELO MUNDO<br />
NOVOS RUMOS<br />
FOTOS DIVULGAÇÃO<br />
BERÇO DO PETRÓLEO, EAU (EMIRADOS ÁRABES<br />
UNIDOS) INVESTEM EM ENERGIAS RENOVÁVEIS<br />
24<br />
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E<br />
m uma região conhecida pela exploração de<br />
petróleo, o setor de energias renováveis cresce<br />
no Oriente Médio e norte da África. De acordo<br />
com relatório da Ernst & Young (EY), os investimentos<br />
no setor em 2016 somaram US$ 8,7 milhões:<br />
as negociações no setor de energia e serviços públicos<br />
tiveram liderança na área, superando um período de atividade<br />
lenta no ano anterior.<br />
Para o líder em Transações de Energia do Oriente<br />
Médio da EY, David Lloyd, o destaque será o programa<br />
de energia renovável da Arábia Saudita. O objetivo do<br />
programa é gerar 3,45 GW (Gigawatt) em energia renovável<br />
até 2020 e 9,5 GW até 2023, por meio de uma<br />
matriz de energia diversificada e voltada para o desenvolvimento<br />
da economia local.<br />
“A Arábia Saudita sempre foi um grande multiplicador<br />
para a região, porque se os sauditas encontrarem<br />
um jeito de fazer funcionar no seu país, eles seguem<br />
para outros lugares”, revela Browning Rockwell, diretor<br />
executivo da Aliança Solar do CGH (Conselho de Cooperação<br />
do Golfo). “Eles podem impulsionar o desenvolvimento<br />
de energia solar em outros mercados.”<br />
Do mesmo modo, destaca-se o investimento no<br />
Parque Solar Mohammad Bin Rashid Al Maktoum, em<br />
Dubai, nos EAU (Emirados Árabes Unidos). A transação<br />
contempla um projeto de geração de energia solar, que<br />
integra o plano de abastecer 7% da demanda de energia<br />
em Dubai com fontes renováveis até 2020, aumentando<br />
para 25% em 2030 e 44% em 2050.<br />
Além do novo parque solar, o fundo Dubai Green<br />
REVISTA + BIOMASSA + ENERGIA 25
PELO MUNDO<br />
Fund recebeu US$ 27 bilhões para fomento a projetos<br />
de sustentabilidade, como startups de energia limpa. O<br />
investimento é parte da iniciativa de tornar Dubai a capital<br />
verde do mundo nas próximas décadas. “Nosso objetivo<br />
é equilibrar as nossas necessidades econômicas<br />
com os nossos objetivos sustentáveis”, afirma o primeiro-ministro<br />
e vice-presidente dos EAU, Sheikh Mohammed<br />
bin Rashid al-Maktoum em anúncio oficial. “Quem<br />
não pensa em energia não pensa no futuro. O governo<br />
dos EAU teve a conquista de estabelecer uma estratégia<br />
de energia unificada para o país.”<br />
Demais países do Oriente Médio estão mudando<br />
sua estratégia doméstica e econômica para além do petróleo.<br />
Nos EAU, a expectativa é de uso de 12% do abastecimento<br />
de energia por combustíveis fósseis mais<br />
limpos até 2050, contra 38% de gás e 44% de energias<br />
renováveis.<br />
Já no Irã, a estimativa é de uma transição completa<br />
para energias renováveis até 2030, de acordo com pesquisa<br />
da Universidade de Tecnologia de Lappeenranta,<br />
na Finlândia. O país, em processo de reabertura, anseia<br />
uma modernização da sua infraestrutura de eletricidade<br />
e pretende atrair investidores para leiloar projetos de<br />
energia solar e eólica que somam US$ 12 bilhões.<br />
POTENCIAL<br />
Segundo a pesquisa da Universidade de Tecnologia<br />
de Lappeenranta, os países produtores de petróleo do<br />
Oriente Médio e norte da África têm potencial para o<br />
desenvolvimento de sistemas lucrativos de uso energias<br />
renováveis nas próximas duas décadas. A expectativa<br />
é que os países do Oriente Médio invistam um total<br />
de US$ 670 bilhões nos próximos 25 anos.<br />
De acordo com dados do relatório da Internati CCG,<br />
os países que atingirem as metas de energias renováveis,<br />
poderão poupar até quatro bilhões de barris de<br />
petróleo e reduzir as emissões em 1,2 gigatoneladas até<br />
2030.<br />
“Esperamos que comecem a construir. Como é barato,<br />
faz todo sentido”, analisa a economista especializada<br />
nos mercados de energia na consultoria britânica<br />
Bloomberg New Energy Finance, Elena Giannakopoulou.<br />
“A luz solar na região é confiável e eles têm problemas<br />
que a energia solar pode resolver, como a confiabi-<br />
26<br />
www.REVISTABIOMAIS.com.br
lidade de abastecimento.”<br />
O movimento em direção à energia renovável ainda<br />
está em seus passos iniciais. Hoje, as fontes renováveis<br />
representam menos de 5% da capacidade de geração<br />
de energia na região. Mas a expectativa é de crescimento,<br />
sobretudo na energia solar, uma vez que a região<br />
conta com um dos maiores números de dias ensolarados<br />
por ano no mundo. A Jordânia, cujo mercado de<br />
energia solar vê crescimento, conta com uma média de<br />
330 dias ensolarados por ano.<br />
A estimativa de crescimento da energia renovável<br />
no país é incentivada pelo rei Adullah II, que inaugurou,<br />
em 2015, uma usina de energia solar para o abastecimento<br />
de energia elétrica do seu palácio e corte, incluindo<br />
uma nova frota de carros elétricos. A expectativa<br />
é que a iniciativa dê o tom do mercado de energia<br />
no país. Na cidade de Petra, a usina solar Shams Ma’na<br />
começou a operar em 2016 e gera energia suficiente<br />
para abastecer 35 mil residências.<br />
Um cenário similar se desenha no Marrocos, que<br />
atualmente importa cerca de 90% da sua energia consumida;<br />
há um projeto de construção da maior usina solar<br />
do mundo utilizando tecnologia solar concentrada, que<br />
usa espelhos ou lentes para focar a luz solar que então<br />
gera calor para ativar turbinas. A primeira fase do projeto,<br />
o complexo solar de Noor, começou a operar no<br />
começo do ano passado. O objetivo é empregar energia<br />
solar em 50% da produção de energia no país até 2025,<br />
com a energia solar correspondendo a um terço da demanda.<br />
“No passado, quando me reunia com ministros de<br />
energia em alguns dos países ricos em petróleo, alguém<br />
falava sobre energia renovável e a reunião era encerrada<br />
em um nanossegundo”, pondera o presidente da General<br />
Electric no Oriente Médio e norte da África, Nabil<br />
Habayeb. “Hoje, muitos estão ansiosos para discutir isso.<br />
Você sendo rico em petróleo ou não, essa é uma forte<br />
tendência.”<br />
Para o mercado, estima-se que a mudança não seja<br />
passageira. “As pessoas estão cansadas porque já houve<br />
muita promessa e muito hype”, reitera Rockwell. “Mas<br />
agora muitos países estão chegando a um ponto em<br />
que não tem mais alternativa além de levar a sério a<br />
energia renovável.”<br />
REVISTA + BIOMASSA + ENERGIA 27
TECNOLOGIA<br />
APROVEITA-SE<br />
ATÉ O<br />
BAGAÇO<br />
RESÍDUOS DE CANA<br />
VIRAM ENERGIA COM A<br />
AJUDA DE TECNOLOGIA E<br />
EQUIPAMENTOS MODERNOS<br />
FOTOS DIVULGAÇÃO<br />
28<br />
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REVISTA + BIOMASSA + ENERGIA 29
TECNOLOGIA<br />
D<br />
a cana vem o açúcar e o etanol, combustível<br />
para as máquinas. O que sobra do processo,<br />
o bagaço, e a palha que fica no campo, também<br />
podem ser transformados em energia.<br />
O material processado, a biomassa, gera energia térmica,<br />
que por sua vez produz energia elétrica.<br />
Atualmente o Brasil ainda não aproveita todo o potencial<br />
energético da palha da cana como poderia. Estudos<br />
indicam que aproximadamente 50% da palha gerada<br />
pode ser utilizada, com ganhos para a área agrícola e<br />
meio ambiente. Para cada 10 mil toneladas de palha de<br />
cana é possível gerar até 153 MW (Megawatts).<br />
TECNOLOGIA<br />
Empresa brasileira do segmento sucroenergético, a<br />
Jalles Machado desenvolve produtos em paralelo com<br />
foco no desenvolvimento sustentável. Eles já exportam<br />
açúcar orgânico para a Áustria e a Holanda. O investimento<br />
em mão de obra especializada e em novas tecnologias<br />
está trazendo resultados significativos. São cerca<br />
de 4,5 milhões de t (toneladas) de cana processadas em<br />
média a cada ano. Tudo isso gera aproximadamente 250<br />
milhões de litros de etanol e 205 mil toneladas de açúcar.<br />
Além dos dois principais produtos (açúcar e etanol)<br />
a Jalles Machado também produz látex e energia a partir<br />
da cana-de-açúcar.<br />
A utilização de biomassa para gerar energia é um<br />
dos diferenciais da empresa. Com o bagaço e a palha da<br />
cana ela desenvolve o processo de cogeração. O início<br />
desse processo foi em 2000, com a instalação de uma<br />
central termelétrica. A empresa se tornou pioneira em<br />
Goiás na cogeração de energia a partir do bagaço de<br />
cana. Além de suprir o consumo de energia elétrica da<br />
própria usina, o excedente da produção é comercializado,<br />
gerando uma receita adicional.<br />
A capacidade de cogeração é de 40 MW e 48 MW em<br />
duas unidades, energia suficiente para abastecer uma<br />
cidade com cerca de 300 mil habitantes. Para transformar<br />
todo esse resíduo a Jalles Machado investiu em um<br />
triturador modelo HG6000E, da fabricante Vermeer. O<br />
equipamento foi comprado em 2015 depois de uma<br />
criteriosa avaliação de mercado. “Tivemos contato com<br />
consultores e empresas que estavam realizando a tritu-<br />
30<br />
www.REVISTABIOMAIS.com.br
ação de palha de cana para alimentação de caldeira”,<br />
explica Eduardo Oliveira Pimenta, gerente de manutenção<br />
industrial da Jalles Machado.<br />
Depois de recolhida e enfardada a palha da cana alimenta<br />
o triturador, que transforma e prepara tudo para<br />
alimentar as caldeiras. De acordo com o gerente industrial,<br />
o triturador HG6000, que é elétrico, processa aproximadamente<br />
25 t/h (toneladas por hora). “Avaliando as<br />
opções do mercado e decidimos que o equipamento<br />
era o que mais se enquadrava na nossa necessidade,<br />
com custo compatível às nossas possibilidades”, avalia.<br />
No início algumas dificuldades técnicas limitavam<br />
as operações. “Após a instalação de uma mesa de alimentação<br />
de fardos e um sistema de exaustão de poeira<br />
melhoramos significativamente as operações. O<br />
suporte técnico da Vermeer sempre atuou e apoiou na<br />
busca de soluções para os problemas enfrentados”, lembra<br />
Eduardo.<br />
O BRASIL<br />
AINDA NÃO<br />
APROVEITA TODO<br />
O POTENCIAL<br />
ENERGÉTICO DA<br />
PALHA DA CANA<br />
COMO PODERIA<br />
Para cada<br />
10 mil<br />
toneladas<br />
de palha<br />
de cana é<br />
possível<br />
gerar até 153<br />
Megawatts<br />
(MW) de<br />
energia<br />
REVISTA + BIOMASSA + ENERGIA 31
CASE<br />
OÁSIS NO<br />
DESERTO<br />
FOTOS DIVULGAÇÃO<br />
32<br />
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LAS VEGAS REINVENTA FORMA COMO LIDA<br />
COM RECURSOS NATURAIS; NO ESTADO,<br />
11,5% DA ENERGIA CONSUMIDA VÊM DE<br />
FONTES RENOVÁVEIS<br />
REVISTA + BIOMASSA + ENERGIA 33
CASE<br />
L<br />
ocalizada em uma região desértica, com um<br />
dos climas mais secos dos EUA (Estados Unidos<br />
da América), a cidade de Las Vegas, em Nevada,<br />
vem explorando seu potencial ao abraçar as suas<br />
condições climáticas, antes vistas como desafio, agora<br />
como uma ferramenta para iniciativas sustentáveis.<br />
O programa de recuperação de água adotado pelo<br />
município ganhou reconhecimento mundial ao cortar o<br />
consumo de água em 37% na última década. Nos prédios<br />
do governo local, o uso de energia solar reduziu<br />
os gastos públicos em US$ 5 milhões ao ano – a cidade<br />
possui alguns dos maiores conjuntos de painéis solares<br />
dos EUA, além do maior número de prédios com certificação<br />
Leed. Juntamente com as iniciativas públicas, os<br />
cassinos também vêm adotando medidas e programas<br />
que tornam os grandes eventos mais sustentáveis do<br />
que parecem.<br />
“O que as pessoas não sabem é que Las Vegas foi<br />
fundada ao redor de uma nascente”, diz Lauren Boitel,<br />
34<br />
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da Green Chips, uma ONG local dedicada à promoção<br />
da sustentabilidade na região. “Esse era o único motivo<br />
que as pessoas paravam aqui, porque tínhamos recursos.<br />
Vegas precisa aceitar a ideia de que precisa administrar<br />
bem esses recursos.”<br />
As iniciativas para preservação dos recursos naturais<br />
começaram em 2002, após uma seca abaixar o nível do<br />
rio Colorado em 75% do seu volume natural. Com esse<br />
desafio, o governo local mudou a perspectiva de soluções<br />
temporárias para adotar medidas em longo prazo.<br />
“Queríamos ter certeza que a solução alcançasse todo<br />
mundo”, explica Bronson Mack, representante da Autoridade<br />
para Água do Sul de Nevada. “Não empurramos<br />
isso nem para os nossos consumidores residenciais, nem<br />
para os cassinos. Procuramos meios de conservar água e<br />
incentivar a todos.”<br />
O resultado dessas iniciativas transformou Las Vegas<br />
em um modelo de conservação e um estudo de caso<br />
para cidades do mundo inteiro. De acordo com Mack, a<br />
região viu sua população crescer em meio milhão desde<br />
2002, e o consumo de água diminuir em mais de 30%.<br />
As iniciativas de desenvolvimento sustentável se estendem<br />
para os cassinos, que contam com sistemas de<br />
EM 2016,<br />
O ESTADO<br />
DUPLICOU A SUA<br />
CAPACIDADE DE<br />
ENERGIA SOLAR,<br />
PASSANDO DE<br />
1.033 MW PARA<br />
2.191 MW<br />
REVISTA + BIOMASSA + ENERGIA 35
CASE<br />
reciclagem e manejo de resíduos, aumento no uso de luzes<br />
de LED e outras medidas de conservação de energia.<br />
Um dos destaques é o resort MGM, que investiu em sistemas<br />
inovadores de climatização e trocou a iluminação<br />
tradicional por LED, o que levou a uma diminuição do<br />
consumo de energia em aproximadamente 120 milhões<br />
de KWh (Quilowatts hora) – e a expectativa é diminuir<br />
em mais 20% nos próximos cinco anos.<br />
“Você pode se sentir exuberante usando a águas das<br />
piscinas e dos spas”, explica Yalmaz Siddiqui, vice-presidente<br />
de sustentabilidade corporativa do MGM Resorts.<br />
“Mas mesmo que tenha uma perda inevitável por evaporação,<br />
a grande maioria da água é reciclada, graças ao<br />
investimento da cidade em infraestrutura.”<br />
ENERGIA SOLAR<br />
O maior potencial da região é a energia solar, graças<br />
à grande quantidade e à infraestrutura robusta das antigas<br />
usinas de energia termoelétricas instaladas na região.<br />
A rede pública de energia abriu recentemente uma<br />
36<br />
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nova usina, Boulder II, com capacidade para abastecer<br />
até 25 mil residências na região. No começo do ano, a<br />
companhia SolarReserve anunciou um projeto de US$ 5<br />
bilhões para geração de energia solar, que poderá abastecer<br />
cerca de 500 mil residências por meio de sistemas<br />
solares concentrados – cada um dos dez sistemas terá<br />
um espelho circular para concentrar calor em uma torre<br />
de 195 m (metros) de altura. Ideia, claro, comprada pelos<br />
cassinos da região.<br />
De acordo com Boitel, a rede pública do Estado de<br />
Nevada, tem um portfólio robusto voltado para energia<br />
solar e geotermal. No Estado, 11,5% da energia consumida<br />
vêm de fontes renováveis, com mais de 360 mil residências<br />
abastecidas por energia solar, de acordo com<br />
números da Seia (Associação de Indústrias de Energia<br />
Solar). Em 2016, o Estado duplicou a sua capacidade de<br />
energia solar, passando de 1.033 MW para 2.191 MW. A<br />
expectativa é que o número duplique novamente nos<br />
próximos cinco anos.<br />
“Acreditamos que o Estado de Nevada pode ser líder<br />
no uso em escala de energia solar”, projeta Sean Gallagher,<br />
vice-presidente de assuntos estaduais da Seia. “Os<br />
consumidores querem energia solar. É isso que está incentivando.<br />
E os serviços públicos têm que encontrar<br />
meios de dar aos consumidores o que eles querem.”<br />
CASSINOS ADOTAM<br />
MEDIDAS E PROGRAMAS<br />
QUE TORNAM OS GRANDES<br />
EVENTOS MAIS SUSTENTÁVEIS<br />
DO QUE PARECEM<br />
REVISTA + BIOMASSA + ENERGIA 37
ESPECIAL<br />
SEM<br />
DESPERDÍCIO<br />
FOTOS BIOMAIS<br />
38<br />
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RESÍDUOS DE MADEIRA DESCARTADOS PELA<br />
INDÚSTRIA, AGRICULTURA E CONSTRUÇÃO<br />
CIVIL ABASTECEM O MERCADO DE ENERGIA<br />
RENOVÁVEL<br />
REVISTA + BIOMASSA + ENERGIA 39
ESPECIAL<br />
NOVA ZELÂNDIA AQUECE<br />
A INDÚSTRIA DE GERAÇÃO<br />
DE ENERGIA POR MEIO<br />
DO APROVEITAMENTO DE<br />
RESÍDUOS DA INDÚSTRIA<br />
MADEIREIRA<br />
M<br />
ateriais que tradicionalmente terminariam<br />
em aterros sanitários estão abastecendo<br />
um setor da indústria de energia renovável,<br />
baseada em resíduos de madeira descartados<br />
pela indústria, agricultura e da construção civil.<br />
Um destaque nesse mercado é a Greenleaf Power<br />
LDD, companhia norte-americana que opera usinas de<br />
geração de energia renovável em cidades do Estado da<br />
Califórnia. “Estamos focados em um segmento de resíduos<br />
que ninguém quer, e reciclamos e transformamos<br />
em energia”, orgulha-se Hugh Smith, presidente e CEO<br />
da Greenleaf. “Faz todo sentido pegar materiais que já<br />
foram utilizados uma vez e transformá-los em energia<br />
ou combustível que pode ser utilizado mais uma vez."<br />
40<br />
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TUDO SE APROVEITA<br />
A alocação de resíduos industriais na geração de energia<br />
dá destino a toneladas de descartes. Na indústria de<br />
produtos de madeira, cerca de 40% das toras terminam<br />
como serragem, cavaco e outras partículas que representam<br />
uma fonte potencial de energia, de acordo com Steve<br />
Kelley, chefe do departamento de biomateriais florestais<br />
da Universidade Estadual da Carolina do Norte, nos EUA<br />
(Estados Unidos da América), para a Bioenergy Collection.<br />
“Quando você corta um cilindro em retângulos, você perde<br />
muita madeira boa nesse processo.”<br />
Os resíduos adotados por essas plantas incluem<br />
descartes da indústria madeireira, resíduos retirados de<br />
áreas desmatadas nos centros urbanos, árvores danificadas<br />
por infestações, resíduos da agricultura, madeira<br />
de demolição e descartes da construção civil, desde que<br />
não tenham passado por tratamentos químicos que podem<br />
liberar poluentes no processo de transformação em<br />
energia.<br />
A FORMA MAIS SIMPLES<br />
DE TRANSFORMAR<br />
RESÍDUOS EM ENERGIA<br />
É PELA QUEIMA: O<br />
PROCESSO GERA ENERGIA<br />
EQUIVALENTE A ATÉ 70%<br />
DA GERADA POR CARVÃO<br />
TRANSFORMAR RESÍDUOS<br />
EM ENERGIA DE MODO<br />
MAIS EFICIENTE E<br />
MAIS SUSTENTÁVEL É<br />
FUNDAMENTAL PARA O<br />
PLANETA
ESPECIAL<br />
PROCESSO GERA ENERGIA<br />
EQUIVALENTE A ATÉ 70%<br />
DA ENERGIA GERADA POR<br />
CARVÃO<br />
De acordo com estudo realizado por pesquisadores<br />
da Universidade Federal do Amazonas e da Universidade<br />
do Estado do Pará, algumas espécies de madeira usadas<br />
em serrarias da região, como guajará e muiracatiará, podem<br />
apresentar rendimento de cerca 35% do seu volume<br />
destinado para a fabricação de artefatos, com os 65% restantes<br />
podendo ser destinados para a geração de energia<br />
juntamente com a serragem resultante do corte.<br />
No Distrito Federal, a Cooperativa Sonho de Liberdade<br />
emprega ex-detentos para trabalharem no processo<br />
de análise e triagem dos resíduos de madeira. Na primeira<br />
triagem, os resíduos são destinados para a produção de<br />
móveis, tijolos e utensílios. Os resíduos não selecionados<br />
nessa etapa são triturados e comercializados como matéria-prima<br />
para a geração de energia térmica.<br />
42<br />
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PELO MUNDO<br />
A forma mais simples de transformar esses resíduos<br />
em energia é pela queima. O processo gera energia equivalente<br />
a até 70% da energia gerada por carvão – volume<br />
suficiente para gerar energia elétrica e abastecer parcialmente<br />
as próprias indústrias.<br />
Na Nova Zelândia, a iniciativa de gerar energia a partir<br />
desses resíduos é incentivada pela autoridade para a<br />
Eeca (Conservação e Eficiência Energética). A intenção<br />
é aquecer a indústria de geração de energia por meio<br />
do aproveitamento de resíduos da indústria madeireira,<br />
como cavaco, serragem e descartes do corte de madeira.<br />
“Em escala global, essa é a perspectiva”, acredita<br />
Smith, da Greenleaf. “Com 10 bilhões de pessoas produzindo<br />
resíduos todos os dias, não podemos continuar a<br />
acumular isso em aterros. É crucial para o planeta desenvolvermos<br />
a tecnologia necessária para servir as nossas<br />
necessidades de modo inteligente e economicamente<br />
viável e transformar resíduos em energia de modo mais<br />
eficiente e mais sustentável do que fazemos hoje.”<br />
ALGUMAS ESPÉCIES<br />
DE MADEIRA USADAS<br />
EM SERRARIAS,<br />
COMO GUAJARÁ<br />
E MUIRACATIARÁ,<br />
PODEM TER 65%<br />
DE SEU TOTAL<br />
DESTINADOS À<br />
GERAÇÃO DE ENERGIA
ARTIGO<br />
OS DESAFIOS DAS GRANDES<br />
REDES DE SUPERMERCADOS<br />
PARA ELEVAR A EFICIÊNCIA<br />
ENERGÉTICA DE SUAS LOJAS<br />
FOTOS DIVULGAÇÃO<br />
*POR FERNANDO BACELLAR, GERENTE DE ENGENHARIA, E ANDRÉ FIGUEIREDO,<br />
DESENVOLVIMENTO DE NEGÓCIOS, DA GREENYELLOW<br />
44<br />
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O<br />
mundo inteiro já despertou para a necessidade<br />
de se preparar para uma era<br />
pós-petróleo. Até os países produtores<br />
já buscam alternativas, não apenas para<br />
diversificar sua receita, mas buscar soluções de longo<br />
prazo para esse novo momento da economia mundial.<br />
Grandes produtores de petróleo como a Arábia Saudita,<br />
Kuwait, Qatar e outros países do Golfo Pérsico já<br />
estão se movendo na diversificação de suas atividades<br />
além do petróleo.<br />
No Brasil, imaginou-se que o pré-sal resolveria todos<br />
os problemas, mas a queda vertiginosa dos preços<br />
do petróleo e o escândalo da Lava Jato revelaram o<br />
engano dessa estratégia. Hoje o país se vê diante do<br />
desafio de redefinir sua política energética de maneira<br />
a priorizar investimentos na infraestrutura necessária<br />
para atrair projetos não apenas na área de petróleo.<br />
Para agravar o quadro, a turbulência econômica<br />
enfrentada pelo Brasil, com uma recessão paralisante,<br />
moeda com valor em queda e desemprego em ascensão,<br />
o caminho para a recuperação econômica parece<br />
assustador. É verdade que o uso da energia diminui durante<br />
uma recessão porem isso não minimiza a necessidade<br />
de seu uso mais eficiente. Países como os EUA<br />
(Estados Unidos da América) tiveram um aumento da<br />
demanda de energia de apenas 17% nos últimos 25<br />
anos enquanto seu PIB (Produto Interno Bruto) cresceu<br />
83%, indicando uma melhoria de 56% em produtividade<br />
energética.<br />
No setor energético as mudanças climáticas vêm<br />
forçando o país a recorrer sistematicamente a fontes<br />
térmicas como carvão, gás, óleo diesel e combustível<br />
desde 2012 para complementar sua oferta de energia<br />
elétrica, onerando os custos da energia em toda a cadeia<br />
produtiva, além dos altos furtos de energia que<br />
dificultam os serviços públicos.<br />
O Brasil tem a oportunidade de realizar avanços<br />
durante a crise, priorizando a eficiência energética e<br />
a geração de energia distribuída como parte de um<br />
compromisso de longo prazo para melhorias de infraestrutura.<br />
Se nada for feito, a tendência é que essa participação<br />
aumente cada vez mais, principalmente a partir de<br />
2025, quando o potencial hidrelétrico brasileiro estará<br />
esgotado.<br />
Neste cenário, fontes renováveis ganham papel<br />
cada vez mais importante em uma matriz elétrica diversificada,<br />
sustentável e eficiente. E ressalta a impor-<br />
tância de se buscar eficiência energética em todos os<br />
segmentos, através de novas tecnologias, processos e<br />
equipamentos que proporcionem o uso racional nos<br />
setores industrial, comercial, residencial e de edificações<br />
públicas e particulares, melhorando a disponibilidade<br />
energética, reduzindo custos e aumentando<br />
ganhos.<br />
Empresas que investem em projetos de eficiência<br />
energética podem economizar recursos, ganhar competitividade<br />
e amenizar a pressão sobre o aumento da<br />
oferta de energia.<br />
E como fica o setor varejista neste ambiente? Com<br />
o país em crise, o volume de vendas do comércio varejista<br />
brasileiro registrou queda de 4,3% em 2015. Este<br />
foi o pior desempenho do setor dentro da série histórica<br />
do levantamento, iniciada em 2001, pelo Ibge (Instituto<br />
Brasileiro de Geografia e Estatística). Os destaques<br />
negativos para o resultado global foram: móveis e eletrodomésticos<br />
(-14%); hipermercados, supermercados,<br />
produtos alimentícios, bebidas e fumo (-2,5%); tecidos,<br />
vestuário e calçados (-8,7%) e combustíveis e lubrificantes<br />
(-6,2%).<br />
Diante deste cenário o GPA (Grupo Pão de Açúcar)<br />
está implementando este ano projetos de eficiência<br />
energética em sistemas de refrigeração, ar-condicionado<br />
e iluminação em mais de 150 lojas do Rio de Janeiro,<br />
São Paulo e região nordeste do país, cerca de 20<br />
por mês até dezembro, em continuidade ao trabalho<br />
iniciado em 2015. O programa é implantado pela GreenYellow,<br />
empresa do Grupo Casino, e tem a proposta<br />
de reduzir o impacto do varejo no meio ambiente, reduzir<br />
custos operacionais e aumentar o desempenho<br />
das lojas. Com estas mudanças, a diminuição média<br />
de consumo total de energia esperada, em média, em<br />
cada uma das unidades, está em 25%.<br />
As adaptações começaram com os hipermercados<br />
(137) e agora se estendem para as redes Extra Supermercado<br />
e Pão de Açúcar. Cinco centrais de distribuição<br />
também estão sendo modificadas. A conclusão<br />
deste trabalho, prevista para o final de <strong>2017</strong>, consolidará<br />
aproximadamente 500 lojas modificadas e está<br />
prevista daqui a dois anos.<br />
A energia (89 GWh) que deixou de ser consumida<br />
nos Hiper Extra já beneficiados é equivalente ao consumo<br />
residencial de uma cidade como Campos de Jordão<br />
(SP) por um ano.<br />
As ações são customizadas para cada uma das lojas,<br />
de acordo com as demandas e características de cada<br />
REVISTA + BIOMASSA + ENERGIA 45
ARTIGO<br />
negócio. Lâmpadas antigas estão sendo substituídas<br />
por leds e novas linhas de iluminação automatizadas<br />
permitem alternar a luminosidade nos diversos ambientes<br />
aproveitando a iluminação natural e horários<br />
de baixa frequência de clientes. Acrescenta-se ainda a<br />
adoção de melhorias no sistema de refrigeração com o<br />
fechamento de ilhas e balcões com portas de vidro, instalação<br />
de inversores de frequência e automação bem<br />
como novas regulagens no ar condicionado, o que reduz<br />
a necessidade da produção de frio considerando a<br />
temperatura de fora e de dentro da loja.<br />
Todas as intervenções são permanentemente monitoradas<br />
por uma equipe da GreenYellow que recebe<br />
alarmes se acontece alguma não conformidade e imediatamente<br />
entra em contato com o responsável da<br />
loja para as devidas correções. Isto é feito durante toda<br />
a vigência do contrato para garantir que a economia<br />
mínima projetada seja obtida.<br />
“A HORA DO PROSSUMIDOR”<br />
Outra medida em desenvolvimento é a geração<br />
distribuída, que através da resolução normativa 482/12<br />
possibilita que consumidores produzam sua própria<br />
energia elétrica. Esta resolução, que recentemente foi<br />
revisada para a RN 687/15, está movimentando o mercado<br />
de energia brasileiro, que passa a ter a figura do<br />
“prossumidor”, que provém da junção de produtor +<br />
consumidor, um neologismo para indicar o novo papel<br />
do consumidor na sociedade pós-moderna, possibilitando<br />
que qualquer consumidor gere, pela primeira<br />
vez, a sua própria energia elétrica.<br />
Apesar do enorme potencial solar, o Brasil ainda<br />
tem poucos projetos instalados e está muito atrás de<br />
países como Alemanha, que em determinados dias do<br />
ano consegue gerar mais de 50% de toda a demanda<br />
por eletricidade utilizando apenas a energia proveniente<br />
do sol.<br />
Aqui no Brasil, com aproximadamente 30 MW<br />
instalados, a energia solar fotovoltaica distribuída representa<br />
apenas 0,02% da matriz de energia elétrica<br />
nacional. Entretanto, devido ao aumento tarifário dos<br />
últimos anos e ao desenvolvimento da tecnologia, a<br />
geração distribuída vem crescendo exponencialmente.<br />
Apenas no primeiro semestre de 2016, foram instalados<br />
mais projetos fotovoltaicos do que a soma de<br />
todos os anos anteriores:<br />
Atentos à conjuntura e oportunidades do setor<br />
elétrico, a GreenYellow, em conjunto com o GPA, vem<br />
desde o começo do ano mapeando as lojas do grupo<br />
em todo o país para reduzir as despesas com energia<br />
elétrica utilizando também a irradiação solar.<br />
Um primeiro projeto piloto de 300 kWp está em desenvolvimento<br />
e entrará em operação ainda neste ano.<br />
Mais de mil painéis fotovoltaicos serão instalados sobre<br />
Unidades Fotovoltaicas: Instalações por ano<br />
2256<br />
1274<br />
3 52<br />
274<br />
2012 2013 2014 2015 2016<br />
Fonte: Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel)<br />
46<br />
www.REVISTABIOMAIS.com.br
1.050.000<br />
950.000<br />
850.000<br />
750.000<br />
650.000<br />
550.000<br />
450.000<br />
Economia de 106<br />
TWh/ano em<br />
2030<br />
10% DO CONSUMO<br />
} Eficiência<br />
Energética<br />
106 twh/ano<br />
é equivalente<br />
à geração de<br />
uma Itaipu.<br />
350.000<br />
2008 2010 2012 2014 2016 2018 2020 2022 2024 2026 2028 2030<br />
o telhado de uma das lojas do grupo, ocupando uma<br />
área de dois mil metros quadrados. A energia gerada<br />
pelos painéis ficará em torno de 10% mais barata que a<br />
energia da distribuidora local.<br />
O Grupo Pão de Açúcar possui milhões de metros<br />
quadrados disponíveis em telhados de supermercados,<br />
postos de combustíveis e centros de distribuição<br />
espalhados por todo o território nacional, mas principalmente<br />
nos centros urbanos. A geração solar é uma<br />
alternativa nobre na ocupação de uma área que, até o<br />
momento, não havia nenhuma aplicação rentável para<br />
o grupo.<br />
Outro ponto importante na utilização dos telhados<br />
é a geração de energia dentro do centro de carga, que<br />
além dos benefícios socioambientais, reduziriam os<br />
elevados investimentos na transmissão e distribuição<br />
da energia.<br />
Outros modelos estão sendo avaliados pela GreenYellow,<br />
principalmente o conceito de auto consumo<br />
remoto. A nova resolução da Aneel permite a construção<br />
de uma usina de até 5 MW, conectá-la na rede da<br />
distribuidora e compensar a geração em unidades consumidoras<br />
espalhadas na área de concessão da mesma<br />
distribuidora aonde foi instalada a usina. Este modelo<br />
potencializa a disseminação da fonte no país, uma vez<br />
que apenas uma usina pode abastecer dezenas ou até<br />
mesmo centenas de pontos de consumo, com uma geração<br />
mais otimizada por serem construídas em solo<br />
e ainda contar com a possibilidade do uso de trackers<br />
(rastreador solar) que aumentam em 20% o volume de<br />
energia gerado pelas placas. Outra grande vantagem<br />
da usina compartilhada é a operação, a manutenção e<br />
o monitoramento que ficam centralizados em apenas<br />
em um só local.<br />
Além de já ser mais barata que a energia da rede<br />
em algumas regiões do país, a energia solar é uma fonte<br />
de energia limpa e previsível, que possibilita mitigar<br />
riscos como o hidrológico, regulatório e cambial que<br />
influenciam diretamente na precificação dos elétrons<br />
que circulam nas redes das concessionárias brasileiras.<br />
Essa previsibilidade tem muito valor para alguns setores,<br />
principalmente para setores como o supermercadista,<br />
que já tem na energia elétrica a sua segunda<br />
maior fonte de custo e precisam de estabilidade na<br />
precificação dos insumos para operar com eficiência<br />
e competitividade.<br />
Recentemente o MME (Ministério de Minas e Energia)<br />
apresentou o Pnef (Plano Nacional de Eficiência<br />
Energética)que incorpora ao planejamento de expansão<br />
do setor elétrico a redução de 10% do consumo de<br />
energia até 2030.<br />
Em abril deste ano o Brasil e outros 194 países,<br />
dentre os quais China e EUA (Estados Unidos da América)<br />
assinaram acordo sobre clima nas Nações Unidas<br />
se comprometendo a reduzir em 9,8% da energia até<br />
2030.<br />
REVISTA + BIOMASSA + ENERGIA 47
AGENDA<br />
MAIO Maio <strong>2017</strong> <strong>2017</strong><br />
ePower China<br />
Data: 4 a 6<br />
Local: Xangai (China)<br />
Informações: http://www.china-epower.com/en/<br />
JULHO Julho <strong>2017</strong> <strong>2017</strong><br />
All Energy<br />
Data: 10 a 11<br />
Local: Glasgow (Reino Unido)<br />
Informações: www.all-energy.co.uk/<br />
Fiee (Feira Internacional da Indústria Elétrica)<br />
Data: 25 a 28<br />
Local: São Paulo (SP)<br />
Informações: www.fiee.com.br/<br />
Saudi Power<br />
Data: 14 a 16<br />
Local: Riad (Arábia Saudita)<br />
Informações: http://www.saudi-power.com<br />
ExpoSolar Colômbia<br />
Data: 19 a 21<br />
Local: Medellín (Colômbia)<br />
Informações: http://feriaexposolar.com/?lang=en<br />
AGOSTO Agosto <strong>2017</strong> <strong>2017</strong><br />
Brasil Wind Power<br />
Data: 28 a 31<br />
Local: Rio de Janeiro (RJ)<br />
Informações: www.brazilwindpower.org/<br />
Enersolar+<br />
Data: 23 a 25<br />
Local: São Paulo (SP)<br />
Informações: enersolarbrasil.com.br/<br />
Acesse:<br />
www.portalreferencia.com.br
DESTAQUE<br />
Destaque<br />
Brasil Wind Power<br />
Data: 28 a 31 de agosto<br />
Local: Rio de Janeiro (RJ)<br />
Informações: www.brazilwindpower.org<br />
Um dos maiores eventos de energia eólica da América Latina<br />
proporciona oportunidades de networking e negócios que envolvem<br />
este mercado. Durante três dias, o visitante encontra as principais<br />
autoridades setoriais para debater o crescimento do mercado<br />
brasileiro durante o congresso e players do mercado para a feira de<br />
negócios, em um setor que movimenta bilhões ao ano.<br />
Imagem: reprodução<br />
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OPINIÃO<br />
DONALD TRUMP OU<br />
“NADA É TÃO RUIM<br />
QUE NÃO POSSA PIORAR”<br />
Foto: divulgação<br />
NÃO É DE ADMIRAR QUE O SR. TRUMP, PRESIDENTE DOS<br />
EUA (ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA), TENHA TOMADO A<br />
INICIATIVA DESTRAMBELHADA DE DESMONTAR A POLÍTICA<br />
AMERICANA DE COMBATE ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS<br />
ESTABELECIDA POR SEU ANTECESSOR<br />
H<br />
á poucos dias, Trump foi derrotado na sua primeira<br />
grande batalha legislativa, a tentativa de desmontar<br />
o sistema público de saúde do país, conhecido<br />
como Obamacare. Imediatamente voltou-se contra<br />
seu segundo grande alvo eleitoral: tudo e qualquer coisa relacionados<br />
a prevenir e mitigar efeitos das mudanças climáticas<br />
globais, que ele não crê existir. Por meio de ato executivo, porque<br />
via legislativo talvez encare sua segunda grande derrota,<br />
deu início a mudanças nas regras de um jogo já em curso que<br />
colocavam os EUA (Estados Unidos da América) nos trilhos do<br />
necessário ajuste para enfrentar o problema. Há quem acredite<br />
ser esse o passo inicial para a retirada do país da convenção do<br />
clima da ONU (Organização das Nações Unidas), embora seja<br />
certo que isso não acontecerá sem renhida luta política judicial<br />
interna. Mas nada a estranhar até aqui considerando-se os<br />
passos do presidente desde sua posse, que mostra sempre que<br />
seu discurso eleitoral é também o seu perigoso mapa de rota.<br />
Tomando agora duas questões mais concretas para exemplificar<br />
a enganosa, senão desastrosa, rota vale lembrar: (1) em<br />
março de 2015 o respeitadíssimo e capitalista FMI (Fundo Monetário<br />
Internacional) divulgou relatório dando conta do estrago<br />
global em termos de finanças públicas do setor carbonífero<br />
(petróleo, carvão e gás), com subsídios anuais totais da ordem<br />
de US$ 2,3 trilhões, dinheiro público mal usado, cujo corte<br />
reduziria imediatamente as emissões globais de carbono em<br />
20%, além de salvar 1,6 milhão de vidas anualmente perdidas<br />
associadas às externalidades desse setor de atividades; e (2) há<br />
campanhas e programas regulares nos EUA de desinvestimento<br />
financeiro em relação ao setor carbonífero, com destaque<br />
para os fundos de investimentos das grandes fundações filan-<br />
trópicas, do conjunto da igreja católica e também das grandes<br />
universidades americanas. No caso das fundações, destaque<br />
para a Rockeffeler Foundation e a Rockeffeler Brothers Foundation,<br />
nascidas das fortunas familiares construídas exatamente<br />
no setor carbonífero, que há anos decidiram limpar suas carteiras<br />
desses investimentos sujos.<br />
Mencionado ciência, indispensável lembrar que os EUA<br />
têm a melhor do planeta a considerar as muitas dúzias de Nobel<br />
recebidos, que o fazem o campeão científico planetário. E<br />
é nesse contexto, coincidentemente com o mau passo presidencial,<br />
que a prestigiosa revista Nature publicou os resultados<br />
de estudo confirmando crença antiga: as mudanças climáticas<br />
não estão apenas mudando padrões do tempo meteorológico<br />
e aumentando a probabilidade de ondas de calor, chuvas fora<br />
do padrão e inundações severas, mas levando a novos e piores<br />
padrões climáticos, bem definidos geográfica e temporalmente,<br />
e assim aumentando ainda mais os danos causados.<br />
A inteligência americana, porém, parece estar do outro<br />
lado. Mesmo assim, Trump é, seguramente, um desses homens<br />
que pode piorar o mundo que conhecemos. Pelo menos não<br />
o fará sem severa resistência interna, política e judicial, o que<br />
nos deixa alguma esperança, conforme nota conjunta já pelos<br />
governadores da Califórnia e de Nova Iorque, duas locomotivas<br />
da economia e da democracia americanas, bem como pela<br />
ação de poderosos grupos ambientalistas americanos que já<br />
estão contratando conceituadas bancas de advogados para<br />
desafiar na justiça a iniciativa.<br />
Por Miguel Serediuk Milano<br />
Engenheiro Florestal, MSc, Doutor, ex-professor da Ufpr e ex-professor visitante da Colorado State University,<br />
especialista em sustentatbilidade, hoje consultor independente e conselheiro de várias organizações<br />
nacionais e estrangeiras. Também é membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza<br />
Foto: Gisele Koprowski<br />
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