*Dezembro/2019 - Revista Biomais 36
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SUMÁRIO<br />
04 | EDITORIAL<br />
Oportunidades<br />
06 | CARTAS<br />
08 | NOTAS<br />
12 | ENTREVISTA<br />
16 | PRINCIPAL<br />
22| CASE<br />
28| PELO MUNDO<br />
Retorno certo<br />
34| TECNOLOGIA<br />
Combate natural<br />
38 | ECONOMIA<br />
Dinheiro verde<br />
Gigante sustentável<br />
42 | INOVAÇÃO<br />
46 | PRÊMIO<br />
PRÊMIO REFERÊNCIA <strong>2019</strong><br />
50 | ARTIGO<br />
56 | AGENDA<br />
58| OPINIÃO<br />
A desertificação do Brasil<br />
REVISTA + BIOMASSA + ENERGIA<br />
03
EDITORIAL<br />
Estampa a capa da <strong>Biomais</strong> desse mês,<br />
o secador desenvolvido pela empresa<br />
catarinense Imtab<br />
OPORTUNIDADES<br />
O<br />
Rio Grande do Sul é um dos Estados com maior potência instalada (MW) de energia solar<br />
fotovoltaica no país, segundo a Absolar (Associação Brasileira de Energia Solar). Nesse<br />
cenário, startups aproveitam as oportunidades que aparecem onde menos esperamos para<br />
fomentar ainda mais as energias renováveis – por isso abordamos o assunto nesta edição.<br />
Além disso, conversamos com Donizete José Tokarski, superintendente da União Brasileira do Biodiesel e<br />
Bioquerosene, sobre o RenovaBio e os próximos passos da entidade, além de abordarmos a Bioeconomia,<br />
que traz um cenário promissor na América Latina, região com grande variedade de ecossistemas e<br />
possibilidades de inovações sustentáveis. Tenha uma ótima leitura e um excelente 2020!<br />
EXPEDIENTE<br />
ANO VI - EDIÇÃO <strong>36</strong> - DEZEMBRO <strong>2019</strong><br />
Diretor Comercial<br />
Fábio Alexandre Machado<br />
(fabiomachado@revistabiomais.com.br)<br />
Diretor Executivo<br />
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Redação<br />
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Representante Comercial<br />
Dash7 Comunicação - Joseane Cristina Knop<br />
Dep. Comercial<br />
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produtores e consumidores de energias limpas e alternativas, produtores de resíduos<br />
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órgãos governamentais, ONG’s, entidades de classe e demais públicos, direta e/<br />
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didáticos.<br />
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energy producers and consumers, producers of residues used for energy generation and<br />
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04 www.REVISTABIOMAIS.com.br
CARTAS<br />
CASE<br />
Excelente reportagem sobre os investimentos da Apple em sustentabilidade. Continuem<br />
trazendo cases de impacto para nós leitores!<br />
Heloísa Falce – Belo Horizonte (MG)<br />
Foto: divulgação<br />
EXPANSÃO<br />
Ótima reportagem sobre o crescimento dos investimentos em energia eólica, biomassa, hidrelétrica e solar na última<br />
década. É o setor de energias renováveis em expansão contínua.<br />
Gustavo Taborda – Goiânia (GO)<br />
SUGESTÃO<br />
A equipe da REVISTA BIOMAIS está de parabéns! Para as próximas edições, gostaria de sugerir uma reportagem sobre o<br />
destino de Itaipu com a eminente revisão do Tratado que envolve a Usina.<br />
Jackson Filipelli – Foz do Iguaçu (PR)<br />
EXEMPLO<br />
Bom exemplo capitaneado pelo Estado do Paraná, que pretende construir 11 novas<br />
mini hidrelétricas, além de um parque eólico, para continuar fomentando o uso de energias<br />
limpas!<br />
Breno Capelas – Santos (SP)<br />
Foto: Daniel Castellano / Smcs<br />
Publicações Técnicas da JOTA EDITORA<br />
06 www.REVISTABIOMAIS.com.br
NOTAS<br />
DRONE SUSTENTÁVEL<br />
A empresa britânica de tecnologia limpa H2GO Power<br />
fez uma parceria com a Ballard Unmanned Systems no que<br />
pode ser o primeiro vôo de teste de um drone impresso em<br />
3D e movido a hidrogênio. O vôo foi lançado no final de<br />
agosto a partir de um local de teste em Boston. O combustível<br />
de hidrogênio maximiza o tempo de vôo do drone com<br />
uma energia mais limpa. A solução de aplicação de drones<br />
da empresa pode aumentar o tempo de vôo da bateria de<br />
um drone em até 90 min (minutos), em comparação com<br />
menos de 25 min para sistemas típicos de baterias de íon de<br />
lítio. Além disso, o design permite até 15% da redução total<br />
do peso do drone e controle de volume e a estrutura interna<br />
otimiza o gerenciamento de calor dentro e fora do sistema<br />
de energia, permitindo que viajem três a cinco vezes mais e<br />
carreguem cargas mais pesadas.<br />
Foto: divulgação<br />
BIODIESEL DE MICROALGAS<br />
Um estudo divulgado pela Universidade Federal da Bahia<br />
aponta que o cultivo de microalgas heterotróficas em afluentes<br />
de estação de tratamento de esgoto possuem um alto rendimento,<br />
uma vez que as microalgas possuem grande potencial<br />
de nutrientes. Segundo o estudo, a microalga dos afluentes<br />
é uma ótima espécie para produção de biodiesel de terceira<br />
geração. A viabilidade do cultivo da microalga em águas residuais<br />
ocorre porque elas absorvem nutrientes como fósforo e<br />
nitrogênio e são capazes de converter poluentes orgânicos em<br />
lipídios e proteínas, que podem ser transformados em biocombustível.<br />
A técnica representa uma alternativa para a produção<br />
de biocombustível no Brasil, que é hoje proveniente da cana.<br />
Foto: divulgação<br />
Foto: divulgação<br />
BIOGÁS NO CAMPO<br />
O campo está se mostrando um espaço em potencial para a Geração<br />
Distribuída de energia renovável e retorno financeiro para os usuários.<br />
Esse potencial é apoiado tanto na necessidade de diversificação da<br />
matriz energética brasileira quanto o potencial energético do campo,<br />
sobretudo para sistemas solares e de biomassa, incluindo o biogás. Em<br />
diversas regiões do país, propriedades rurais já contam com biodigestores<br />
capazes de gerar energia limpa através de resíduos agrícolas,<br />
industriais e urbanos, transformando-os em biogás. Como o combustível<br />
é produzido através da degradação do material orgânico, os rejeitos<br />
da atividade rural representam um potencial de geração de energia<br />
sustentável. A expectativa é que, no futuro, a produção de biocombustível<br />
também abasteça tratores e máquinas de colheita sustentáveis.<br />
08 www.REVISTABIOMAIS.com.br
BIOCOMBUSTÍVEL DE<br />
CAPIM ELEFANTE<br />
Novos processos de pré-tratamento de capim elefante pretendem aproveitar<br />
o potencial da gramínea para geração de biocombustível como o etanol de<br />
segunda geração. O estudo está sendo desenvolvido pela UFT (Universidade<br />
Federal do Tocantins). A pesquisa avalia a melhor condição de pré-tratamento<br />
por peróxido de hidrogênio alcalino para fortalecer o setor de biocombustíveis<br />
no país. De acordo com os especialistas, é possível encontrar vários métodos<br />
de pré-tratamentos em vegetais lignocelulósicos, de natureza física, química e<br />
biológica. Ainda assim, o estudo aponta a necessidade de desenvolvimento de<br />
tecnologias que sejam eficientes em termos de custos e competitividade.<br />
Foto: divulgação<br />
MAIS RECEITA<br />
Alteração na garantia física das usinas de<br />
biomassa poderia trazer receita de R$1 bilhão,<br />
segundo estimativa da Associação da Indústria<br />
da Cogeração de Energia. O valor corresponde<br />
ao potencial de perda de adicional de receita<br />
por safra do setor sucroenergético pela decisão<br />
do MME (Ministério de Minas e Energia)<br />
de negar pleito da associação para mudar<br />
a portaria que define os limites da garantia<br />
física das usinas a biomassa. De acordo com o<br />
presidente da associação, Newton Duarte, uma<br />
medida infralegal do MME, o país acarretaria<br />
em 1 GW (Gigawatts) na geração vinda do setor<br />
sucroenergético. Segundo ele, a retomada do<br />
crescimento do país vai depender de energia, e<br />
o setor sucroenergético tem plena capacidade<br />
para responder, gerando energia limpa, próxima<br />
do centro de carga e preservando pelo menos<br />
15% de água nos reservatórios do sistema<br />
sudeste-centro-oeste. Além disso, a produção<br />
adicional de energia de 1 GW poderia contribuir<br />
para poupar mais 2% no nível desses reservatórios,<br />
totalizando 17% de economia de água.<br />
MÉTODO CHINÊS<br />
Um novo método desenvolvido na China permite estimar a biomassa de<br />
árvores em florestas subtropicais. O objetivo é permitir uma contabilidade<br />
global de carbono e a formulação de políticas de reflorestamento. O método<br />
foi desenvolvido por especialistas do Instituto de Ecologia Aplicada da<br />
Academia Chinesa de Ciências. O método consistiu na coleta de uma floresta<br />
plantada em Hunan e sensoriamento remoto para estimar a biomassa da<br />
plantação com a idade da floresta. Com cruzamento de dados entre o modelo<br />
de crescimento e com algoritmos de máquina, o método estimou com<br />
maior precisão a densidade e biomassa das florestas.<br />
Foto: divulgação<br />
Foto: divulgação<br />
REVISTA + BIOMASSA + ENERGIA<br />
09
NOTAS<br />
DE CARVÃO A BIOMASSA<br />
O Ministério de Minas e Energia da Sérvia anunciou que seis usinas de combustível<br />
fóssil, como o carvão, receberão 26,7 milhões de euros para conversão<br />
em biomassa nos próximos meses. O objetivo é trazer recursos para a instalação<br />
de caldeiras de biomassa e a reforma do sistema de aquecimento urbano.<br />
A capacidade total das seis usinas de aquecimento será de 30 MW<br />
(Megawatts). Além das seis usinas já confirmadas, outras 19 já<br />
estão interessadas em converter o carvão para biomassa<br />
no país. A meta é reduzir a poluição causada pelo uso<br />
de carvão e óleo para aquecimento nas cidades e<br />
também reduzir a dependência de importação<br />
e até 15% as despesas de aquecimento<br />
dos municípios.<br />
Foto: divulgação<br />
BIOMASSA NO<br />
JAPÃO<br />
Uma nova usina de biomassa de<br />
44 MW (Megawatts) será construída no<br />
Japão, na cidade de Omuta. O empreendimento<br />
contará com duas unidades,<br />
ambas com capacidade de 22,1<br />
MW, e está sendo construída por uma<br />
subsidiária da Toshiba Energy Systems<br />
& Solutions Corp. “O objetivo da Toshiba<br />
é ser uma empresa líder em tecnologia<br />
de sistemas ciber-físicos no setor de<br />
energia, com nossa rica experiência e<br />
know-how acumulado no uso de soluções<br />
integradas de energia e tecnologia<br />
IoT”, destaca o vice-presidente sênior da<br />
empresa, Koji Saito.<br />
BIOMASSA NA HEINEKEN<br />
A Heineken Ponta Grossa (PR) anunciou resultados positivos após<br />
dois anos de uso de uma caldeira de biomassa que gera energia renovável<br />
para toda a produção da planta. Atualmente, a unidade é considerada<br />
uma das mais sustentáveis da Heineken no mundo no que se refere à<br />
redução de CO2 (Gás Carbônico). A expectativa é que o Grupo Heineken<br />
tenha todas as suas cervejarias sendo abastecidas por energia renovável<br />
até o ano de 2023. Em Ponta Grossa, os principais resultados incluem<br />
redução de 60% a 70% de custo, quando comparado ao investimento realizado<br />
em gás natural; diminuição de 13.633 t/ano (toneladas ao ano) de<br />
gases de efeito estufa na atmosfera, o que equivale a aproximadamente<br />
4.800 carros rodando 15 mil km (quilômetros) durante um<br />
ano; e aumento da demanda de consumo de matéria-prima<br />
cavaco (pequenos pedaços de madeira<br />
proveniente de floresta plantada) para o<br />
funcionamento da caldeira de biomassa e<br />
geração de emprego na região.<br />
Foto: divulgação Foto: divulgação<br />
10 www.REVISTABIOMAIS.com.br
Foto: divulgação<br />
CONSTRUÇÃO CIVIL<br />
Novos sistemas de construção civil são alternativas<br />
para reduzir o impacto ambiental de construções urbanas<br />
de residências e prédios, considerados os maiores<br />
geradores de entulhos e resíduos no país. Algumas<br />
alternativas incluem a reciclagem de até 98% do material,<br />
dentro do próprio canteiro ou em centrais externas<br />
especializadas. Outra alternativa está no uso de chapas<br />
pré-fabricadas de madeira reflorestada. Neste processo,<br />
a obra gera 80% menos de CO2 (Gás Carbônico) e<br />
85% menos resíduos, além de consumir 90% menos<br />
água na produção.<br />
Foto: divulgação<br />
PATENTE VERDE<br />
A Natura é a primeira empresa brasileira de cosméticos a<br />
receber uma Patente Verde, concedida a um tratamento desenvolvido<br />
por pesquisadores do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas)<br />
e da Natura. A iniciativa do Inpi (Instituto Nacional<br />
da Propriedade Industrial) reconhece tecnologias voltadas para<br />
o meio ambiente. O procedimento premiado aproveita a biomassa<br />
gerada a partir da extração do óleo de oleaginosas como<br />
insumos de produção da Natura. De acordo com a companhia,<br />
anteriormente, a biomassa gerada como resíduo era utilizada<br />
para compostagem de solo. Agora, ela será inserida em um<br />
novo produto a ser lançado em 2020.<br />
Foto: divulgação<br />
RECORDE<br />
FLORESTAL<br />
A produção de energia elétrica gerada a partir de<br />
biomassa florestal na Dinamarca bateu recorde em<br />
2018. O país vem importando cada vez mais madeira<br />
dos EUA (Estados Unidos da América) e do Canadá. A<br />
energia limpa cresceu 33% em relação a cinco anos<br />
atrás e atualmente a biomassa é responsável por 75%<br />
do consumo de energia sustentável da Dinamarca. O<br />
aumento é impulsionado pela queima de madeira,<br />
palha e outro material biológico, ou seja, o uso de<br />
biomassa florestal para geração de energia na matriz<br />
energética dinamarquesa.<br />
REVISTA + BIOMASSA + ENERGIA<br />
11
ENTREVISTA<br />
Foto: divulgação<br />
ENTREVISTA<br />
DONIZETE<br />
JOSÉ<br />
TOKARSKI<br />
Formação: Graduado em Engenharia<br />
Agronômica (UFG) com especialização em<br />
Atividade de Gestão Ambiental pela FAO/<br />
ONU, em Madrid (Espanha)<br />
Cargo: Superintendente da Ubrabio (União<br />
Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene)<br />
CAMINHO<br />
ALTERNATIVO<br />
A<br />
Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio) proporcionará ao Brasil um ganho<br />
de R$ 1,2 trilhão, entre investimentos e economia, nos próximos 10 anos – é o<br />
que estima o MME (Ministério das Minas e Energia). Por isso, é preciso estar atento<br />
as oportunidades e entidades sólidas que defendam os interesses de seus respectivos<br />
setores são essenciais para o desenvolvimento de políticas públicas alinhadas as expectativas<br />
da sociedade. Na esteira do RenovaBio, a REVISTA BIOMAIS conversou com Donizete José<br />
Tokarski, superintendente da Ubrabio (União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene), sobre a<br />
medida e outras pautas defendidas pela entidade. Confira:<br />
12 www.REVISTABIOMAIS.com.br
Como é o mercado de combustíveis renováveis<br />
no Brasil hoje? Até onde projetos ou iniciativas estão<br />
sendo desenvolvidos para esse setor?<br />
O Brasil tem tudo para se tornar a “Arábia Saudita dos<br />
biocombustíveis”. A afirmação é frequente entre analistas<br />
do setor. O cenário externo nunca foi tão favorável. Com<br />
a assinatura do Acordo do Clima de Paris em 2015, 192<br />
países se comprometeram a adotar medidas para transição<br />
rumo a uma economia mais limpa. Temos grandes<br />
empresas tomando medidas efetivas para tentar reduzir<br />
seu impacto ambiental. O mercado financeiro está de<br />
olho nos riscos de investimentos insustentáveis ambientalmente,<br />
porque a questão ambiental tem reflexos diretos<br />
nos ganhos econômicos. O cenário interno também é<br />
favorável. O uso de biodiesel e etanol estão consolidados<br />
no país. A indústria vem demonstrando cada vez mais a<br />
capacidade de atender à demanda crescente por energia<br />
limpa. O Brasil conta com grande oferta de matéria-<br />
-prima, mão de obra, solo fértil e condições climáticas<br />
favoráveis que nos colocam em avançada vantagem<br />
em relação ao resto do mundo. Com a Política Nacional<br />
de Biocombustíveis (RenovaBio) temos a perspectiva<br />
de um novo paradigma de produção e consumo de<br />
combustíveis que pode ser aplicado inclusive em outros<br />
setores da economia. Este modelo valoriza a eficiência,<br />
considerando todos os aspectos da cadeia de produção,<br />
desde sustentabilidade da matéria-prima, passando pelos<br />
processos de produção, até a entrega do produto final<br />
ao consumidor. Ou seja, estamos com a faca e o queijo<br />
na mão. O mundo conspira a favor do Brasil, que tem o<br />
maior potencial na produção de biocombustíveis: biodiesel,<br />
etanol, biogás e, o próximo e indiscutivelmente o que<br />
vem para ficar por muitos anos, o bioquerosene.<br />
segurança energética e cuidado com o meio ambiente e<br />
com a saúde da população. Em 2018, o Brasil produziu o<br />
recorde de 5,3 bilhões de litros de biodiesel para abastecer<br />
o mercado interno. Com isso, não só os consumidores<br />
puderam utilizar um combustível mais limpo como também<br />
a indústria pôde retomar sua produção e consolidar<br />
a posição do país como segundo produtor global deste<br />
biocombustível - atrás apenas dos EUA (Estados Unidos<br />
da América). Já em <strong>2019</strong>, a produção e o consumo no Brasil<br />
devem marcar novo recorde: 6 bilhões de litros/ano.<br />
No final do ano passado, o Cnpe (Conselho Nacional de<br />
Política Energética) aprovou uma resolução que deu previsibilidade<br />
inédita para o setor. O cronograma do Cnpe<br />
estabelece o aumento de 1% ao ano no teor de biodiesel<br />
adicionado ao diesel fóssil até 2023. Com isso, a previsão<br />
é alcançar o B15 (15% de biodiesel) até março de 2023.<br />
Para a Ubrabio, o B11 chegou oportunamente e o B12 em<br />
março é necessário para que a indústria possa continuar<br />
produzindo, gerando empregos e, principalmente, substituindo<br />
combustível fóssil por renovável.<br />
Como o RenovaBio deverá mudar o cenário de<br />
combustíveis no Brasil? Quais as expectativas do<br />
projeto?<br />
O RenovaBio é uma política de Estado de descarbonização<br />
do transporte e valorização dos biocombustíveis.<br />
Ela foi desenvolvida para ajudar o Brasil a cumprir seu<br />
compromisso de redução de emissões de gases de efeito<br />
estufa assumido no Acordo do Clima de Paris. Além de<br />
reduzir as emissões e melhorar a qualidade do ar, um<br />
estudo do MME mostra que o RenovaBio deve gerar mais<br />
No âmbito das políticas públicas, até onde o país<br />
está avançando para os combustíveis renováveis?<br />
Como a legislação brasileira está acertando ou errando<br />
neste sentido?<br />
A legislação brasileira prevê importantes avanços<br />
para o setor de transportes e combustíveis, com a<br />
previsibilidade de incremento do uso de biodiesel para<br />
substituir gradualmente o diesel fóssil – desde 1° de<br />
setembro de <strong>2019</strong>, todo o diesel fóssil vendido no Brasil<br />
conta com 11% de biodiesel. A atual política de biocombustíveis<br />
foi construída a partir de necessidades latentes<br />
no cenário brasileiro: valorização dos produtos nacionais,<br />
diminuição do desemprego, fortalecimento da indústria,<br />
Ao substituir o diesel<br />
fóssil por biodiesel, que<br />
é um produto renovável<br />
e produzido no Brasil,<br />
reduzimos a dependência<br />
por combustível<br />
importado<br />
REVISTA + BIOMASSA + ENERGIA<br />
13
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PRINCIPAL<br />
PERFORMANCE E<br />
QUALIDADE<br />
FOTOS DIVULGAÇÃO<br />
MERCADO DA<br />
BIOMASSA TEM<br />
TUDO PARA CRESCER<br />
CONSIDERAVELMENTE<br />
NO BRASIL NA<br />
PRÓXIMA DÉCADA,<br />
MAS MAQUINÁRIO<br />
ADEQUADO É<br />
FUNDAMENTAL PARA<br />
A EVOLUÇÃO<br />
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REVISTA + BIOMASSA + ENERGIA<br />
17
PRINCIPAL<br />
J<br />
á não é novidade para ninguém, mesmo a<br />
passos tímidos, que a economia brasileira está<br />
retomando o crescimento após quase uma<br />
década de retração que resultou em uma estagnação<br />
considerável em todos os setores industriais.<br />
No caso da geração de biomassa, um segmento ainda<br />
em desenvolvimento no Brasil, não foi diferente. Mas,<br />
mesmo assim, as empresas fornecedoras de maquinários<br />
souberam driblar as dificuldades e trouxeram para<br />
o consumidor peças com alta performance e grande<br />
retorno financeiro.<br />
A exemplo disso, a energia de biomassa comercializou<br />
20.488 GWh (Gigawatts/hora) no SIN (Sistema Interligado<br />
Nacional), somente durante os primeiros nove<br />
meses do ano passado. Esse resultado, coletado pela<br />
Unica (União da Indústria da Cana-de-Açúcar), representa<br />
quase 10% a mais que no mesmo período de 2017.<br />
O estudo, corroborado com os dados da Câmara<br />
de Comercialização de Energia Elétrica, mostra também<br />
que a bioeletricidade brasileira é duas vezes mais<br />
produtiva que a cadeia de energia elétrica de um dos<br />
nossos países vizinhos, o Paraguai.<br />
Já em <strong>2019</strong>, essa recente prática energética desbancou<br />
a produção de eletricidade por termelétricas de<br />
carvão vegetal, produzindo 13.387 GWh para o SIN, um<br />
volume 2,5 vezes maior que essa atividade de origem<br />
fóssil.<br />
E os números poderiam ser ainda melhores, caso<br />
houvesse maior engajamento dos órgãos públicos em<br />
incentivar o uso da biomassa. A Associação da Indústria<br />
da Cogeração de Energia estima que a receita gerada<br />
pelas usinas de biomassa poderia ser até R$ 1 bilhão<br />
maior, por safra do setor sucroenergético, se o MME<br />
(Ministério de Minas e Energia) aprovasse pleito da<br />
associação para mudar a portaria que define os limites<br />
da garantia física das usinas a biomassa. De acordo com<br />
a associação, bastaria uma medida infralegal do MME<br />
para o país ter 1 GW (Gigawatt) na geração vinda do<br />
setor sucroenergético.<br />
Já o diretor de Tecnologia e Regulação da Cogen,<br />
Leonardo Caio Filho, defende que bastaria uma simples<br />
alteração na Portaria MME nº 564/2014 para ampliar<br />
os montantes de garantia física, isto é, o volume de<br />
bioeletricidade que as usinas podem comercializar no<br />
18<br />
www.REVISTABIOMAIS.com.br
REVISTA + BIOMASSA + ENERGIA 19
20 www.REVISTABIOMAIS.com.br
REVISTA + BIOMASSA + ENERGIA<br />
21
CASE<br />
GIGANTE<br />
SUSTENTÁVEL<br />
22 www.REVISTABIOMAIS.com.br
AMAZON LANÇOU 18 PROJETOS DE<br />
ENERGIA RENOVÁVEL EÓLICA E SOLAR QUE<br />
FORNECERÃO MAIS DE 4,6 MILHÕES DE MW/H<br />
DE ENERGIA LIMPA ANUALMENTE<br />
FOTOS DIVULGAÇÃO<br />
REVISTA + BIOMASSA + ENERGIA<br />
23
CASE<br />
A<br />
Amazon anunciou uma série de projetos<br />
que pretendem ampliar seus esforços em<br />
energia renovável e minimizar as emissões<br />
de carbono. A gigante de tecnologia<br />
desenvolverá três projetos de energia renovável que<br />
deverão fornecer energia para os data centers da<br />
AWS (Amazon Web Services), que abastecem a Amazon<br />
e milhões de clientes da AWS em todo o mundo.<br />
Um parque eólico, com uma capacidade máxima<br />
de 50 MW (Megawatts), será instalado na Península<br />
Kintyre na Escócia e deverá produzir 168 mil MW/h<br />
(Megawatt/hora) de energia por ano. A instalação<br />
poderia abastecer o equivalente a 46 mil residências<br />
no Reino Unido e seria o maior contrato corporativo<br />
de compra de energia eólica do Reino Unido, segundo<br />
informações da companhia.<br />
Os outros dois projetos solares serão instalados<br />
nos EUA (Estados Unidos da América), sendo um na<br />
Um parque eólico, com<br />
uma capacidade máxima<br />
de 50 MW, será instalado<br />
na Península Kintyre na<br />
Escócia e deverá produzir<br />
168 mil MW/h de energia<br />
por ano<br />
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REVISTA + BIOMASSA + ENERGIA<br />
25
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27
PELO MUNDO<br />
RETORNO<br />
CERTO<br />
28 www.REVISTABIOMAIS.com.br
ACELERAÇÃO NA<br />
IMPLANTAÇÃO<br />
DE ENERGIA<br />
RENOVÁVEL NA<br />
AUSTRÁLIA REGISTRA<br />
NÍVEIS RECORDES DE<br />
INVESTIMENTO<br />
FOTOS DIVULGAÇÃO<br />
REVISTA + BIOMASSA + ENERGIA<br />
29
PELO MUNDO<br />
A<br />
energia gerada a partir de fontes renováveis<br />
alcançou um marco na Austrália: pela<br />
primeira vez, essas fontes abasteceram<br />
50,2% da rede elétrica do país, na primeira<br />
semana de novembro, de acordo com dados do NEM<br />
(National Energy Market). A região abastecida abrange<br />
alguns dos principais mercados da Austrália, como<br />
Queensland, Nova Gales do Sul, Vitória, Austrália do<br />
Sul e Tasmânia.<br />
A energia solar ficou na liderança, alimentando<br />
32,5% da rede. A energia eólica ocupou o segundo lugar<br />
com 15,7% e a hidrelétrica com 1,9%. As energias<br />
renováveis mantiveram a marca de 50,2% por apenas<br />
10 minutos e, durante o resto do dia, contribuíram<br />
com 31,2% da eletricidade usada nos cinco estados.<br />
Especialistas acreditam que o avanço é uma prévia<br />
de um futuro em que esses números se tornarão uma<br />
ocorrência cada vez mais comum no país.<br />
“Vamos começar a ver isso acontecendo com mais<br />
frequência. Foi apenas um episódio, mas é indicativo<br />
de uma tendência subjacente no sistema”, alerta<br />
Dylan McConnell, da Faculdade de Clima e Energia da<br />
Universidade de Melbourne.<br />
McConnell explicou que os meses da primavera<br />
geralmente são tempos de alta produção de energias<br />
renováveis, quando a demanda não está sendo<br />
impulsionada pelos clientes que desejam aquecer ou<br />
esfriar casas.<br />
“É uma conquista fantástica ter mais da metade do<br />
mercado nacional de eletricidade movido a energia renovável,<br />
e vale a pena comemorar”, empolgou-se Kane<br />
Thornton, executivo-chefe do Clean Energy Council.<br />
“Daqui a uma década, será completamente normal<br />
à medida que mais projetos de energia renovável e<br />
armazenamento forem construídos para substituir as<br />
usinas de carvão que estão se aposentando. No início<br />
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REVISTA + BIOMASSA + ENERGIA<br />
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33
TECNOLOGIA<br />
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COMBATE<br />
NATURAL<br />
MÉTODOS NATURAIS COMBATEM<br />
VAZAMENTOS NO NORDESTE<br />
FOTOS DIVULGAÇÃO<br />
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35
TECNOLOGIA<br />
V<br />
azamentos de petróleo estão atingindo<br />
mais de 450 praias no Nordeste do Brasil,<br />
alcançando areia, estuários e manguezais.<br />
Para conter a contaminação, métodos<br />
naturais são a recomendação de especialistas como a<br />
melhor alternativa de biorremediação.<br />
O Igeo/Ufba (Instituto de Geociências da Universidade<br />
Federal da Bahia) apresentou ao Comando<br />
Unificado de Incidentes, em Salvador, uma minuta<br />
em que estão indicados métodos biotecnológicos<br />
de remediação. O documento indica processos que<br />
aceleram a degradação dos compostos de petróleo já<br />
impregnados nas áreas afetadas, realizando a limpeza<br />
da toxicidade microscópica, impossível de ser feita<br />
com o trabalho manual.<br />
As técnicas foram desenvolvidas pelo Igeo, com<br />
patente da Ufba, individualmente ou em parceria com<br />
a Universidade de Salvador - Unifac. As inovações<br />
aliam tecnologia e insumos encontrados facilmente<br />
nas costas baiana e nordestina, o que reduz o custo<br />
ao mesmo passo em que evita o uso de produtos<br />
químicos, diminuindo a inserção de novas substâncias<br />
possivelmente tóxicas nas biotas já impactadas pelo<br />
derramamento de óleo. Apesar de novas, as técnicas já<br />
foram testadas com amostras do óleo que chegou ao<br />
litoral do nordeste brasileiro.<br />
“O que fazemos é usar organismos vivos para<br />
remover os poluentes do ambiente. Não adianta só<br />
tirar a poluição visual, é preciso eliminar os compostos<br />
invisíveis, como benzeno, tolueno e xileno, ou no<br />
mínimo diminuir a presença deles. Aí entra a biotecnologia,<br />
com diferentes indicações para cada ambiente”,<br />
explica o professor da Ufba, Ícaro Moreira, que já<br />
atuou na agência ambiental do governo canadense na<br />
área de remediação em episódios de derramamento<br />
de petróleo.<br />
Para remover poluentes que já estão dissolvidos<br />
na água, a técnica utilizada é baseada em microalgas<br />
que se alimentam do carbono contido nas substâncias<br />
tóxicas. Neste processo, a água contaminada entra em<br />
um reator contendo microalgas que se abastecem do<br />
carbono. Em seguida, a água limpa é liberada de volta<br />
no ambiente. Já as microalgas, após se alimentarem<br />
de carbono e crescerem, viram uma biomassa que<br />
pode ser utilizada para produção de biodiesel. “É um<br />
Apesar de novas, as<br />
técnicas já foram testadas<br />
com amostras do óleo<br />
que chegou ao litoral do<br />
nordeste brasileiro<br />
processo que não gera resíduo. A água fica limpa e a<br />
microalga pode virar um combustível também limpo”,<br />
completa Moreira em entrevista ao portal UOL.<br />
O processo, além de sustentável, é altamente<br />
eficaz: um dos estudos desenvolvidos no Programa<br />
de Pós-Graduação em Geoquímica - Petróleo e<br />
Meio Ambiente da Ufba mostrou que as microalgas<br />
conseguem, em um período de 28 dias, eliminar 94%<br />
dos poluentes de amostras da chamada “água do<br />
petróleo” (efluente resultante da produção petrolífera<br />
que é considerado um dos efluentes mais poluídos do<br />
mundo).<br />
Uma estimativa feita pelo professor Ícaro Moreira,<br />
um dos coautores das pesquisas que deram origem às<br />
técnicas de biorremediação, aponta que um conjunto<br />
de reatores capaz de tratar 1,5 mil litros de água marinha<br />
a cada três dias custaria cerca de R$ 50 mil para<br />
implantação, com custo de manutenção mensal de R$<br />
7 mil. Ao final do processo, a biomassa gerada poderia<br />
ser vendido por R$ 1 mil/quilograma.<br />
“No final das contas, a biomassa gerada paga as<br />
contas e ainda dá lucro. Isso é um exemplo bem claro<br />
do que nós chamamos de economia circular”, aponta<br />
Moreira.<br />
Já as áreas de areia de praia ou áreas de mangue<br />
apresentam dificuldades para limpeza manual e maior<br />
risco de impregnação de substâncias poluentes.<br />
Nesses casos, a recomendação da entidade é fitorre-<br />
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REVISTA + BIOMASSA + ENERGIA 37
ECONOMIA<br />
DINHEIRO<br />
VERDE<br />
CENÁRIO É PROMISSOR NA AMÉRICA LATINA,<br />
REGIÃO COM GRANDE VARIEDADE DE ECOSSISTEMAS<br />
E POSSIBILIDADES DE INOVAÇÕES SUSTENTÁVEIS<br />
FOTOS DIVULGAÇÃO<br />
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D<br />
esenvolvimento sustentável já deixou de ser<br />
uma tendência e hoje é compreendido como o<br />
caminho para se manter inserido no presente<br />
e futuro da economia. A bioeconomia é uma<br />
parte promissora desse futuro; é uma forma inovadora de<br />
impulsionar o desenvolvimento sustentável na América<br />
Latina.<br />
“A bioeconomia moderna é capaz de mitigar gases de<br />
efeito estufa e trazer inúmeros benefícios para a sociedade.<br />
Pode dar mais valor e produtividade para a agricultura,<br />
possibilitar o aproveitamento de resíduos urbanos<br />
e rurais, garantir a segurança energética e o acesso à<br />
energia, além de ser uma fonte próspera de negócio. A<br />
bioeconomia já movimenta € 22 bilhões”, afirmou o então<br />
ministro de Relações Exteriores, Aloysio Nunes, durante o<br />
I Biofuture Summit.<br />
O cenário é especialmente promissor na América<br />
Latina, região com grande variedade de ecossistemas e<br />
possibilidades de inovações sustentáveis. “Não é de se<br />
estranhar que a América Latina oferece hoje os melhores<br />
indicadores da Bioeconomia mundiais, observando a<br />
incidência relativa das energias renováveis em sua matriz<br />
energética, os melhores índices de produtividade agrícola<br />
no caso de alimentos, fibras e combustíveis”, destacou<br />
Ingo Plöger, presidente do Conselho de Empresários da<br />
América Latina presidente do Ipdes (IP Desenvolvimento<br />
Empresarial e Institucional), em palestra no Green Rio,<br />
plataforma de negócios que reúne expositores, palestrantes<br />
e representantes da Economia Verde.<br />
Plöger destacou a atuação da Argentina, que criou<br />
uma Plataforma de Bioeconomia integrando três a quatro<br />
ministérios envolvendo várias organizações da sociedade<br />
civil, e da Costa Rica, que mantém um programa antigo<br />
de Bioeconomia como uma das prioridades de Estado.<br />
“No Brasil temos havido políticas fortes que transformam<br />
setores, porém não temos nenhuma coordenação<br />
REVISTA + BIOMASSA + ENERGIA<br />
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REVISTA + BIOMASSA + ENERGIA<br />
41
INOVAÇÃO<br />
NOVA<br />
ECONOMIA<br />
STARTUPS ENTENDEM QUE A DISRUPÇÃO E<br />
SUSTENTABILIDADE ABREM CAMINHO PARA<br />
NOVOS NEGÓCIOS NA INDÚSTRIA<br />
FOTOS DIVULGAÇÃO<br />
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REVISTA + BIOMASSA + ENERGIA<br />
43
INOVAÇÃO<br />
O<br />
s avanços na busca por fontes renováveis<br />
abrem possibilidades de mercado e empresas<br />
voltadas para inovação estão explorando<br />
essas possibilidades. Um relatório recente da<br />
Bnef (Bloomberg NEF), líder em pesquisa mundial sobre<br />
energia limpa, aponta que, por volta de 2030, geradores<br />
solares, eólicos e baterias de grande porte terão preços<br />
inferiores em relação às usinas de gás ou carvão em<br />
quase qualquer lugar do mundo. Esse cenário é sinônimo<br />
de oportunidades, que estão sendo aproveitadas por<br />
startups em diversos nichos.<br />
No Brasil, startups estão avançando no setor, motivadas<br />
inclusive pelas condições climáticas naturais do país<br />
que favorecem a ampliação de fontes renováveis como<br />
painéis solares e usinas eólicas. De acordo com a base de<br />
dados Startupbase, existem 67 empresas de energia em<br />
parques tecnológicos, e 14 com matriz renovável, entre<br />
elas, eólica, hídrica, biomassa, biogás e energia solar.<br />
“É um cenário extremamente positivo de um mercado<br />
em crescimento exponencial”, acredita o gestor<br />
de projetos do Sebrae-RS, Cleverton Rocha. Ele destaca<br />
a importância do surgimento de novas alternativas de<br />
energia como fator fundamental para o desenvolvimento<br />
tecnológico e desaceleração do aquecimento global, com<br />
a redução da emissão de gás carbônico.<br />
Uma dessas empresas é a Incyclus, startup acelerada<br />
pela catarinense Spin, que mantém uma plataforma digital<br />
focada na conexão de empresas com consumidores.<br />
“Negociamos e gerenciamos energia limpa e renovável<br />
para tornar possível um futuro mais sustentável através<br />
do consumo consciente de energia”, afirma o CEO da Inccyclus,<br />
Kayo Cheganças, em entrevista à revista Business.<br />
A plataforma funciona como um hub integrador, que<br />
engloba empresas, indústrias, casas, agentes, plataformas<br />
geradoras e parque de fontes renováveis; ali é possível<br />
contratar energia de forma mais rápida e simplificada.<br />
Como o consumidor tem opções de escolha da fonte e do<br />
fornecedor, os custos podem diminuir de forma considerável<br />
- segundo Cheganças, a economia chega a 90%.<br />
De acordo com Kayo, o objetivo é promover e democratizar<br />
o acesso a uma energia sem impacto ao meio ambiente.<br />
“A ferramenta transforma o complexo em simples<br />
ao unificar todas as experiências de alta gestão”, ressalta.<br />
“Toda a cadeia de valor da indústria está na palma da<br />
mão e para contratar, trocar ou gerenciar será tão simples<br />
quanto entrar no app de um banco”, assegura.<br />
Já no Rio Grande do Sul, um destaque é a Valencia<br />
Serviços de Energia, startup incubada no parque tecnológico<br />
da Unisinos há três anos. A startup foi criada pelo<br />
engenheiro eletricista graduado pela Unisinos, Thiago<br />
Lemes de Sá, que hoje tem dois sócios, Eliézer Brazil e<br />
Wagner Martins.<br />
O projeto foi financiado com investimentos próprios<br />
desde o começo: os sócios aportaram R$ 15 mil na<br />
abertura da Valencia. Atualmente, a startup desenvolve<br />
trabalhos na Região Metropolitana de Porto Alegre e no<br />
Vale do Taquari.<br />
Ao longos dos três anos de atividade, a empresa<br />
cresceu com o lucro de três produtos: projeto elétrico;<br />
análises e consultoria de eficiência energética para reduzir<br />
consumo de energia elétrica; e, como foco central da<br />
empresa, energia solar fotovoltaica.<br />
“A questão da sustentabilidade é muito importante.<br />
Vemos cada vez mais pessoas se preocupando com o<br />
meio ambiente, há uma mudança na cultura e a energia<br />
fotovoltaica é uma das soluções”, ressalta o fundador da<br />
empresa. Ele destaca ainda o potencial de ganho para<br />
a energia elétrica brasileira a partir do surgimento de<br />
fontes renováveis. “O país não vai precisar investir tanto<br />
na área, porque as pessoas vão estar gerando sua própria<br />
energia”, defende, em entrevista ao Jornal do Comércio.<br />
Já no Maranhão, um projeto desenvolvido durante a<br />
graduação em Engenharia Mecânica na Uema (Universidade<br />
Estadual do Maranhão) se transformou em uma<br />
startup inovadora. A Bio Fluid Soluções Eco Biodegradáveis<br />
atua na fabricação de um fluido biodegradável à<br />
De acordo com a base de<br />
dados Startupbase, existem<br />
67 empresas de energia<br />
em parques tecnológicos,<br />
e 14 com matriz renovável,<br />
entre elas, eólica, hídrica,<br />
biomassa, biogás e energia<br />
solar<br />
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REVISTA + BIOMASSA + ENERGIA<br />
45
PRÊMIO<br />
PRÊMIO<br />
2 19<br />
DESTAQUES DO SETOR DE<br />
BIOMASSA BRASILEIRO<br />
RECEBEM PRÊMIO<br />
REFERÊNCIA <strong>2019</strong><br />
FOTOS ROSANGELA BINI<br />
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PRÊMIO<br />
2<br />
19<br />
O<br />
s principais empresários e profissionais do setor<br />
de biomassa de todo o país estiveram presentes<br />
na cerimônia do PRÊMIO REFERÊNCIA, realizada<br />
no final do mês de outubro, em Curitiba (PR),<br />
com assinatura da JOTA EDITORA.<br />
Com 17 anos de tradição, a premiação é uma das mais<br />
respeitadas do Brasil por enaltecer a atuação de empresas<br />
do setor ao longo do ano, como forma de reconhecimento<br />
ao trabalho e ao desenvolvimento do país, considerando<br />
também critérios como empregabilidade, sustentabilidade,<br />
valores, cultura organizacional, inovação, geração de renda,<br />
entre outros quesitos.<br />
O PRÊMIO REFERÊNCIA busca fomentar o mercado, em<br />
toda a cadeia produtiva da madeira: nas florestas, na indústria,<br />
na produção de celulose e de papel, na geração de biomassa<br />
e nos produtos de madeira. Desta maneira, valoriza<br />
as empresas e as organizações do setor que colaboram para<br />
que o mercado brasileiro seja um dos mais desenvolvidos<br />
e promissores do mundo. “Minha gratidão à presença de<br />
vocês que dedicaram um tempo para estarem aqui. Há 21<br />
anos, a REVISTA REFERÊNCIA vem trazendo a informação especializada<br />
para o nosso segmento e sinto orgulho da força<br />
da revista impressa”, ressaltou o diretor comercial da JOTA<br />
EDITORA, Fábio Machado.<br />
Em tempos de fake news e da dubiedade de informações<br />
das mídias digitais, Fábio destacou a potência da mídia<br />
impressa especializada no mundo que, cada vez mais, tem<br />
um púbico cativo por ter a credibilidade como valor primordial.<br />
“Recentemente, a Rock Content, maior empresa de<br />
conteúdo digital da América Latina, lançou uma revista impressa,<br />
assim como a Uber e Airbnb, por exemplo. Isso tem<br />
ocorrido porque, em uma pesquisa, foi revelada a dificuldade<br />
dessas empresas em se comunicar com empresários,<br />
diretores, investidores, CEO’s, presidentes de empresas, etc.<br />
E esse público-alvo falou que busca informação na revista<br />
segmentada impressa por confiar nessa fonte de informação”,<br />
revelou.<br />
Além da credibilidade e qualidade de conteúdo da mídia<br />
impressa, outro ponto ressaltado pelo diretor executivo da<br />
JOTA EDITORA, Pedro Bartoski Jr., é a comunicação direta<br />
que as empresas passam a ter com público por meio do veículo<br />
impresso. “Muitas vezes o setor empresarial não informa<br />
ao seu público o que está produzindo e desenvolvendo. A<br />
revista é uma ferramenta para as empresas e os profissionais<br />
divulgarem e comunicarem o trabalho realizado em prol<br />
do nosso Brasil. A gente tem orgulho de estar premiando<br />
10 dessas empresas que pesquisamos e descobrimos como<br />
fizeram algo de muito importante, dentro do nosso segmento,<br />
neste ano. Mas convido a participarem ativamente:<br />
divulguem mais as empresas, porque credibilidade a gente<br />
tem de sobra, assim como vocês, precisamos saber usar mais<br />
essa ferramenta”, orientou o diretor executivo.<br />
REVISTA + BIOMASSA + ENERGIA<br />
47
48 www.REVISTABIOMAIS.com.br
REVISTA + BIOMASSA + ENERGIA<br />
49
ARTIGO<br />
EFEITO DO SISTEMA DE PLANTIO E<br />
DA EXPOSIÇÃO SOLAR SOBRE A<br />
ALOCAÇÃO DA BIOMASSA NO<br />
DESENVOLVIMENTO<br />
INICIAL DO EUCALIPTO<br />
FOTOS FABIANO MENDES<br />
50 www.REVISTABIOMAIS.com.br
HELIO TONINI<br />
Engenheiro Florestal, Pesquisador da Embrapa Pecuária Sul<br />
MARINA MOURA MORALES<br />
Química, Pesquisadora da Embrapa Florestas<br />
VANDERLEY PORFIRIO DA SILVA<br />
Agrônomo, Pesquisador da Embrapa Florestas<br />
JORGE LULU<br />
Engenheiro Agrícola, Pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril<br />
AUSTECLINIO LOPES DE FARIAS NETO<br />
Pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril<br />
REVISTA + BIOMASSA + ENERGIA<br />
51
ARTIGO<br />
RESUMO<br />
E<br />
ste trabalho foi desenvolvido com o objetivo<br />
de comparar a alocação da biomassa arbórea,<br />
a conicidade do tronco e a relação altura<br />
e diâmetro ao longo do fuste de árvores de<br />
eucalipto implantadas em um sistema silvipastoril, em<br />
diferente exposição solar, e em monocultivo. Os dados<br />
foram coletados em 13 árvores-amostra aos 27 meses<br />
de idade, selecionadas em função do intervalo de confiança<br />
da média dos DAP (Diâmetros a Altura do Peito)<br />
e da posição das árvores na faixa de plantio, com face<br />
de exposição sul, norte e central. Concluiu-se que na<br />
comparação com o monocultivo, as árvores plantadas<br />
em sistema silvipastoril apresentaram menor altura<br />
total, maior conicidade e maior biomassa na copa. No<br />
sistema silvipastoril, não houve efeito da posição da<br />
árvore na faixa de plantio sobre a produção total de<br />
biomassa na parte aérea, porém, árvores com face de<br />
exposição norte foram mais baixas, cônicas e produ-<br />
ziram maior biomassa de galhos e folhas nas partes<br />
inferiores da copa.<br />
INTRODUÇÃO<br />
Nos sistemas silvipastoris, em geral, são adotados<br />
arranjos do componente arbóreo no sentido leste -<br />
oeste, para permitir maior penetração de luz entre<br />
as linhas de árvores, beneficiando as forrageiras no<br />
consórcio. Com a utilização de espécies florestais e forrageiras<br />
adequadas, a arborização de pastagens, pode<br />
aumentar a produção e a qualidade das forrageiras e<br />
melhorar o desempenho dos animais em ganho de<br />
peso, lactação, sanidade e reprodução além de gerar<br />
renda pela produção dos multiprodutos florestais.<br />
Neste tipo de sistema agroflorestal, o Eucalyptus<br />
é um dos gêneros mais utilizados como componente<br />
florestal. A sua adoção ocorre devido ao grande número<br />
de genótipos/fenótipos disponíveis; a adaptação às<br />
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REVISTA + BIOMASSA + ENERGIA<br />
53
ARTIGO<br />
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REVISTA + BIOMASSA + ENERGIA<br />
55
AGENDA<br />
JANEIRO 2020<br />
INTERSOLUTION<br />
Data: 15 a 16<br />
Local: Gante (Bélgica)<br />
Informações: www.intersolution.be/en/home<br />
DESTAQUE<br />
ENERGY MEXICO<br />
Data: 28 a 30<br />
Local: Cidade do México<br />
Informações: www.energymexico.mx<br />
FEVEREIRO 2020<br />
WIND EXPO JAPAN<br />
Data: 26 a 28<br />
Local: Tóquio (Japão)<br />
Informações: www.windexpo.jp/en<br />
ABRIL 2020<br />
FIEMA BRASIL<br />
Data: 14 a 16<br />
Local: Bento Gonçalves (RS)<br />
Informações: www.fiema.com.br<br />
EUROPEAN BIOMASS CONFERENCE<br />
Data: 27 a 30<br />
Local: Marselha (França)<br />
Informações: www.eubce.com<br />
AGOSTO 2020<br />
FENASCUCRO<br />
Data: 18 a 21<br />
Local: Sertãozinho (SP)<br />
Informações: www.fenasucro.com.br/pt-br.html<br />
FIEMA<br />
Data: 14 a 16 de abril de 2020<br />
Local: Bento Gonçalves (RS)<br />
Informações: www.fiema.com.br<br />
Em sua IX edição e oferece infraestrutura, amplo<br />
espaço e instalações adequadas para empresas<br />
e instituições apresentarem soluções ambientais,<br />
tecnologias e inovação para resíduos, águas, efluentes,<br />
energia, construções sustentáveis, ciência e tecnologia,<br />
segurança do trabalho e gestão ambiental.<br />
Um encontro dinâmico que prioriza geração de<br />
negócios, rede de relacionamento, disseminação de<br />
conhecimento e, sobretudo, impulsiona o fluxo de<br />
informações e troca de experiências entre profissionais,<br />
especialistas e acadêmicos.<br />
Imagem: divulgação<br />
56 www.REVISTABIOMAIS.com.br
OPINIÃO<br />
Foto: divulgação<br />
A DESERTIFICAÇÃO<br />
DO BRASIL<br />
POPULAÇÃO DEVE LEMBRAR DOS TRANSTORNOS OCORRIDOS<br />
EM 2015 E 2016 EM VÁRIAS REGIÕES DO BRASIL<br />
E<br />
m 2005, o governo federal iniciou a grandiosa obra<br />
de transposição do Rio São Francisco para levar água<br />
às regiões setentrionais do nordeste. A condição<br />
climática no semiárido nordestino é extremamente<br />
complexa, pois alterna períodos de chuvas e longos períodos<br />
de estiagem, afetando principalmente os produtores rurais.<br />
Essa alternância resulta na característica de que a região<br />
não é tão seca a ponto de expulsar definitivamente as pessoas,<br />
e tampouco é úmida suficiente para gerar prosperidade<br />
econômica por meio das atividades agropecuárias.<br />
Os períodos de chuvas favoráveis mantém as pessoas no<br />
campo e geram alguma reserva; já os períodos de estiagem<br />
consomem toda a reserva acumulada. E em condições de<br />
seca muito severa, correntes migratórias partem para outras<br />
regiões do país, como é notório desde o início do século XX.<br />
No saldo, as famílias que permanecem no sertão ficam reféns<br />
da seca e da miséria.<br />
Após inaugurações apressadas, a obra de transposição<br />
está em ruínas, e o que seria uma medida para acabar com a<br />
“indústria da seca” e para implantar um novo modelo econômico<br />
na região tornou-se mais um dos grandes exemplos de<br />
ineficiência e má gestão dos recursos públicos: a transposição<br />
do São Francisco definha, e isso secou também o sonho de<br />
milhões de pessoas que almejavam com a obra uma vida mais<br />
próspera.<br />
Estamos assistindo a um efeito de ampliação de extensas<br />
áreas de seca no Brasil, pois largas extensões territoriais estão<br />
se tornando mais áridas. E diferentemente do que ocorre no<br />
nordeste, em que a própria natureza moldou a aridez da região,<br />
a ampliação de regiões áridas em outras partes do Brasil<br />
é fruto da intervenção direta do homem sobre os processos<br />
naturais.<br />
Como é de amplo conhecimento não somente da comunidade<br />
acadêmica, a presença de florestas é fundamental para<br />
que a umidade proveniente da Amazônia, também chamada<br />
de rios voadores, alcance áreas ao sul do Brasil, tanto nas regiões<br />
centro-oeste, sudeste e sul, como também alcance outras<br />
partes do território sul-americano.<br />
O desmatamento desenfreado da floresta amazônica<br />
sem nenhum tipo de planejamento e ordenamento territorial<br />
está comprometendo o fluxo natural de umidade. Com esse<br />
comprometimento, extensas áreas estão mais propensas à estiagem,<br />
prejudicando todo o sistema econômico já instalado<br />
e consolidado, como o agropecuário, a geração de energia,<br />
o transporte hidroviários e os sistemas de saneamento, por<br />
exemplo. E ao contrário de discursos atuais, não há falácias<br />
sobre o que vem acontecendo na Amazônia: ela está sim em<br />
perigo e corre o risco de ser extinta nas próximas décadas –<br />
além de inviabilizar economicamente outras regiões do Brasil<br />
por conta da estiagem, tornando essas regiões semelhantes<br />
ao que acontece no sertão nordestino. Sem água, uma das<br />
grandes fontes de riqueza econômica desse país, a atividade<br />
agropecuária, estará severamente comprometida.<br />
Grande parte da população deve se lembrar dos transtornos<br />
ocorridos em 2015 e 2016 em várias regiões do Brasil,<br />
mas em especial no sudeste, que viveu a maior crise hídrica<br />
de sua história, afetando milhões de pessoas. É certo que<br />
crises hídricas irão retornar com mais frequência e severidade<br />
caso o desmatamento continue. E é nesse aspecto que deve<br />
haver a mobilização dos diversos setores sociais do Brasil<br />
para combatermos um eminente desastre ambiental e, por<br />
decorrência, uma tragédia social. Portanto, a prosperidade<br />
brasileira depende essencialmente da manutenção dos serviços<br />
ambientais gerados pela floresta amazônica, sem a qual o<br />
semiárido ocupará grandes extensões do território brasileiro e<br />
mais pessoas estarão atadas à miséria.<br />
Por Rodolfo Coelho Prates<br />
Doutor em Economia e professor do curso de Economia da PUC/PR<br />
(Pontifícia Universidade Católica do Paraná)<br />
58 www.REVISTABIOMAIS.com.br