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30 Lusitano<br />
CULINÁRIA<br />
Sopa da Pedra<br />
A Sopa da Pedra é uma sopa tradicional da cozinha portuguesa,<br />
originária de Almeirim, em Santarém, no centro de Portugal. É<br />
uma sopa consistente e rica, feita à base de carne, enchidos,<br />
feijão, couve, batatas e cenoura. Tradicionalmente, coloca-se a<br />
pedra, bem lavada, no fundo<br />
da terrina e, depois<br />
de comida a sopa,<br />
guarda-se a pedra<br />
para a próxima<br />
vez que<br />
for confeccionada.<br />
Ingredientes:<br />
- 2,5 l de<br />
água<br />
- 1 kg de feijão<br />
vermelho<br />
- 1 orelha de porco<br />
- 1 chouriço de carne<br />
- 1 chouriço de sangue (morcela)<br />
- 200 g de toucinho<br />
- 2 cebolas<br />
- 2 dentes de alho<br />
- 700g de batatas<br />
- 1 molho de coentros<br />
- Sal, louro e pimenta a gosto<br />
Preparação:<br />
Ponha o feijão a demolhar de um dia para o outro. De véspera,<br />
escalde e raspe a orelha de porco de modo a ficar bem limpa.<br />
No próprio dia, leve o feijão a cozer em água, juntamente com<br />
a orelha, os enchidos, o toucinho, as cebolas, os dentes de alho<br />
e o louro. Tempere de sal e pimenta. Junte mais água, se for<br />
necessário. Quando as carnes e os enchidos estiverem cozidos,<br />
tire-os do lume e corte-os em bocados.<br />
Junte, então, à panela as batatas, cortadas em cubinhos e os<br />
coentros bem picados.<br />
Deixe ferver lentamente até a batata estar cozida. Tire a panela<br />
do lume e introduza as carnes previamente cortadas.<br />
No fundo da terrina onde vai servir a sopa coloque uma pedra<br />
bem lavada.<br />
O conto por trás da<br />
receita...<br />
Um frade andava no peditório. Chegou à porta de um lavrador,<br />
mas não lhe quiseram aí dar nada. O frade estava a cair<br />
de fome e disse:<br />
— Vou ver se faço um caldinho de pedra.<br />
E pegou numa pedra do chão, sacudiu-lhe a terra e pôs-se<br />
a olhar para ela, como para ver se era boa para um caldo.<br />
A gente da casa pôs-se a rir do frade e daquela lembrança.<br />
Diz o frade:<br />
— Então nunca comeram caldo de pedra? Só lhes digo que<br />
é uma coisa muito boa. Responderam-lhe:<br />
— Sempre queremos ver isso.<br />
Foi o que o frade quis ouvir. Depois de ter lavado a pedra,<br />
pediu:<br />
— Se me emprestassem aí um pucarinho...<br />
Deram-lhe uma panela de barro. Ele encheu-a de água e<br />
deitou-lhe a pedra dentro.<br />
— Agora, se me deixassem estar a panelinha aí, ao pé das<br />
brasas...<br />
Deixaram. Assim que a panela começou a chiar, disse ele:<br />
— Com um bocadinho de unto é que o caldo ficava a primor!<br />
Foram-lhe buscar um pedaço de unto. Ferveu, ferveu, e a<br />
gente da casa pasmada para o que via. O frade, provando<br />
o caldo:<br />
— Está um nadinha insosso. Bem precisa duma pedrinha de<br />
sal.<br />
Também lhe deram o sal. Temperou, provou, e disse:<br />
Quando os olhos já estavam aferventados, arriscou:<br />
— Ai! Um naquinho de chouriça é que lhe dava uma graça!...<br />
Trouxeram-lhe um pedaço de chouriço. Ele pô-lo na panela<br />
e, enquanto se cozia, tirou do alforge pão e arranjou-se<br />
para comer com vagar. O caldo cheirava que era um regalo.<br />
Comeu e lambeu o beiço.<br />
Depois de despejada a panela, ficou a pedra no fundo. A<br />
gente da casa, que estava com os olhos nele, perguntou-<br />
-lhe:<br />
— Ó senhor frade, então a pedra?<br />
— A pedra... lavo-a e levo-a comigo para outra vez.<br />
Conto Tradicional português<br />
recolhido por Teófilo Braga<br />
Colaboração:<br />
Amílcar Malhó