Revista Líder – Setembro(2017) Nº1 Pago

LEADING LIFE
///CLASSIC CARS
“Quando se conduz um clássico, é a imperfeição
que nos dá prazer”
“What I like about classic cars is the imperfection that gives us pleasure”
Automóveis clássicos
UM EQUILÍBRIO
ENTRE RAZÃO E EMOÇÃO
Entrevista a Manuel Tarré
Interview with Manuel Tarré
Por/By Filipe Vaz
Fotos/Photo Manuel Tarré
Comprar um automóvel clássico é um processo de emoções
e tal como nas relações humanas, muitas vezes a emoção
prevalece sobre a razão.
Falámos com um dos principais colecionadores de automóveis
antigos em Portugal que, simultaneamente, lidera uma
grande empresa. Manuel Tarré é Presidente do Conselho de
Administração da Gelpeixe, empresa emblemática no mundo
dos congelados, que tem 170 trabalhadores, fatura 53 milhões
de euros por ano e nos últimos cinco anos registou crescimento
de exportações a dois dígitos, para além disso, é apaixonado por
automóveis antigos.
Líder (L): Qual foi o seu primeiro automóvel clássico?
Manuel Tarré (MT): Foi um Mercedes 350SL de 1971, que adquiri
em 1985 a um amigo. Um carro muito apreciado na altura
porque era o carro de um dos protagonistas da série Dallas.
Estava bem longe nesses anos de prever que algum dia poderia
vir a ter condições e entusiasmo para colecionar algumas peças
que marcaram épocas.
L: E com o propósito de colecionar, qual foi o primeiro clássico que
comprou?
MT: Curiosamente foi também um Mercedes, mas um
300Adanauer de 1955. Estava num estado deplorável, desde o
exterior ao interior, a tal ponto que quando a minha mãe o viu
perguntou-me: “filho, quanto é que te pagaram para trazeres
este carro para casa”?
L: O que sente quando guia um automóvel clássico?
MT: Quando se conduz um clássico é a imperfeição que nos dá
prazer. São os pedais desajeitados, o travão que trava mal, a
suspensão que incomoda, as caixas de velocidades duras e às
vezes imprecisas, os pneus de medidas estreitas e que, a par
dos travões desses tempos, não nos permitem parar o carro em
poucos metros, o ruído do vento que passa pelas borrachas das
portas ou algum manómetro que não funciona ou funciona mal,
mas um prazer extraordinário em ouvir aqueles motores que
soam como se o tempo voltasse atrás e as curvas têm de ser
abordadas com cuidado redobrado, e o prazer da condução fala
mais alto. Não há controlo de tração nem ABS que ajudem.
L: Quais têm sido os seus critérios de composição da coleção?
MT: Salvo raras exceções, os modelos coupé e cabrio, são os
mais procurados e daí o seu maior potencial de fácil venda e
valorização. O Mercedes Adenauer que referi atrás poderá ter
um valor no mercado de 50 000€, mas se fosse este mesmo
modelo em cabrio, provavelmente valia cinco vezes mais.
O maior fator de valorização é a raridade ou exclusividade, pelo
que ouso afirmar que, um investimento numa boa peça clássica,
pode ser hoje em dia, uma ótima alternativa a um depósito a
prazo, com melhor retorno. Nos últimos dez anos assim tem
sido, conseguindo-se rentabilidades a dois dígitos nos modelos
“mais apetecíveis”.
CLASSIC CARS –BALANCING BETWEEN
REASON AND EMOTION
Interview with Manuel Tarré
Buying a classic car is an emotional process, just like human relations,
emotion often prevailing over reason.
We spoke with one of the main classic car collectors in Portugal, who at
the same time, runs a large company. Manuel Tarré is the Chairman of the
Board of Directors of Gelpeixe, a company engaged in frozen food, with 170
employees and a turnover of 53 million euros a year, with a double digit
export growth. In addition, he is passionate about antique cars.
Líder (L): What was your first classic car?
Manuel Tarré (MT): It was a Mercedes 350 SL from 1971, which I bought
from a friend in 1985. It was a very popular car at the time, because it
was the car of one of the lead actors of the Dallas TV series. I was far
from thinking that I would become a collector.
L: What was the first classic car you bought when you started collecting?
MT: Funny enough it was also a Mercedes, a 300 Adenauer from 1955. It
was in such an awful state, inside and out, that my mother said: “Son,
how much did they pay you to keep the car?”.
L: What do you feel when you drive a classic car?
MT: What I like about classic cars is the imperfection that gives us
pleasure. The pedals that are not in the right place, the brakes that do
not work properly, the uncomfortable suspension, the gears that are
hard to shift, narrow tires which, together with the brakes at the time,
did not make it possible to stop the car over a short distance, the noise
of the wind that passes through the rubbers of the doors or some gauge
that does not work or works poorly, but an extraordinary sound of the
engines that takes us back in time and the curves have to be approached
with extra care and the pleasure of driving speaks close to the heart.
There is no traction control or ABS to help.
L: What criteria do you use when building your collection?
MT: Except for a few exceptions, there is more demand for coupés and
cabrios, so they are easier to sell and value more. The Mercedes Adenauer
I mentioned before is worth €50,000; if it were a cabrio, it would be worth
five times more. Rare and exclusive cars are worth more, so I dare say
that nowadays buying antique cars is a more stable investment than a
term deposit, and probably with a better return. Over the past ten years,
the most “appealing” models have earned double digit returns.
L: What is your purchase suggestion for those interested
in investing in this market?
MT: You must buy a car you like, avoiding the temptation of buying
an antique, beautiful and apparently cheap one. It is best to listen to a
specialist, otherwise you risk buying a car that you enjoy owning and
driving, but that is hard to sell or to sell with added value. I say this
because I have also made some mistakes.
L: Give us examples of interesting cars to buy.
LIDER ideias que fazem futuro /129