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Descolonizar_o_Imaginario_web

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nossos governos tendem a aceitar como “destino” o “novo<br />

consenso internacional”, em nome das “vantagens comparativas”,<br />

ou da pura subordinação à ordem geopolítica<br />

mundial, que historicamente reserva para a América<br />

Latina o papel de exportador de Natureza, sem considerar<br />

seus impactos desestruturantes sobre a população e suas<br />

enormes consequências socioambientais.<br />

Em termos geopolíticos, a opção extrativista que se<br />

busca implementar na região latino-americana, do México<br />

à Argentina, responde a uma nova divisão territorial e<br />

global do trabalho, baseada na apropriação irresponsável<br />

dos recursos naturais não renováveis, o que deu lugar a<br />

novas assimetrias econômicas, políticas e ambientais entre<br />

o Norte e o Sul geopolíticos. Nesse sentido, o extrativismo<br />

resultante não é um destino, é uma opção política e também<br />

civilizatória assumida pelos diferentes governos, que vai<br />

reconfigurando negativamente nossos territórios e economias<br />

e gera uma nova dependência: cada vez exportamos<br />

mais matérias-primas, o que aparece refletido na concentração<br />

econômica, na especialização produtiva, assim como na<br />

consolidação de enclaves de exportação, traços que historicamente<br />

foram criticados tanto pelo desenvolvimentismo<br />

como pelo marxismo.<br />

Essa demanda de matérias-<br />

-primas ou de bens de consumo<br />

dos países dependentes<br />

tem levado a um vertiginoso<br />

processo de reprimarização da<br />

economia latino-americana que<br />

afeta não apenas países<br />

de forte tradição extrativista<br />

(como Bolívia, Equador ou Peru),<br />

mas também aqueles com padrões<br />

econômicos mais diversificados<br />

(como Brasil e Argentina).<br />

Uma das consequências da atual inflexão extrativista<br />

é a explosão de conflitos socioambientais, visíveis<br />

na potencialização das lutas ancestrais pela terra por<br />

parte dos movimentos indígenas e camponeses, assim<br />

como no surgimento de novas formas de mobilização<br />

e participação cidadã, centradas na defesa dos recursos<br />

naturais (definidos como “bens comuns”), da biodiversidade<br />

e do meio ambiente. Entendemos por conflitos<br />

socioambientais aqueles ligados ao acesso, à conservação<br />

e ao controle dos recursos naturais, que supõem,<br />

por parte dos atores confrontados, interesses e valores<br />

divergentes em torno dos mesmos, em um contexto de<br />

assimetria de poder. As linguagens de valoração divergentes<br />

em relação aos recursos naturais se referem ao<br />

território (compartilhado ou a intervir) e, de maneira<br />

mais geral, ao meio ambiente, em relação à necessidade<br />

de sua preservação ou proteção. Enfim, tais conflitos<br />

expressam diferentes concepções sobre a Natureza e,<br />

em última instância, manifestam uma disputa sobre o<br />

que se entende por “desenvolvimento”. Em razão disso,<br />

a análise dos conflitos socioambientais é uma janela<br />

privilegiada para abarcar duas questões tão imbricadas,<br />

tão complexas e tão intimamente associadas, como são<br />

na atualidade o desenvolvimento e o meio ambiente.<br />

Nesse sentido, não é possível desestimar o papel do<br />

Estado nacional na configuração sempre assimétrica que<br />

os conflitos socioambientais adquirem. O certo é que, em<br />

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