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Descolonizar_o_Imaginario_web

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qual é a transição que a civilização petroleira – e o capitalismo<br />

– tem planificada para garantir sua reprodução.<br />

De fato, os desafios e oportunidades para uma economia de<br />

“baixo consumo de carbono” em um mundo de recursos cada<br />

vez mais escassos é também objeto de reflexão de corporações<br />

emblemáticas da economia atual, como a Shell (Scramble<br />

and Blueprints, e Signals & Signposts), 33 assim como grandes<br />

coalizões do setor empresarial, como o Conselho Empresarial<br />

Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (Visión 2050), 34<br />

em cujos informes é comum considerar-se 2050 como um horizonte<br />

de transição global em relação aos recursos fósseis, assim<br />

como o ano 2020 como um marco para finalizar uma arquitetura<br />

institucional que viabilize essa “transição”. 35<br />

274<br />

Um giro discursivo determinante:<br />

das políticas climáticas “negativas”<br />

à economia verde “positiva”<br />

Ao longo dos últimos anos, as mudanças climáticas conseguiram<br />

assumir um papel central na agenda internacional.<br />

Da mesma forma, a luta contra o aquecimento global<br />

e a “justiça climática” foram incorporadas às agendas,<br />

aos discursos e às mobilizações da sociedade civil global.<br />

Esse movimento teve seu momento culminante na<br />

15ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das<br />

Nações Unidas sobre Mudança do Clima, realizada em<br />

Copenhague, na Dinamarca, em dezembro de 2009, 36<br />

33 Shell, 2011. Cf. .<br />

34 Cf. .<br />

35 Cf guia para descarbonização do setor de energia da União Europeia:<br />

.<br />

36 5 a Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre<br />

Mudanças Climáticas, .<br />

quando fracassaram as expectativas de se concretizar<br />

um acordo legalmente vinculante para frear as mudanças<br />

climáticas.<br />

A capacidade mobilizadora e midiática que teve<br />

a luta para “salvar o clima” tanto na política quanto na<br />

opinião pública, decaiu significativamente por causa<br />

das crises financeiras, em função da expectativa de que<br />

os governos, num contexto de austeridade e recessão<br />

nas economias do Norte, as mais afetadas pelas crises,<br />

viessem a adotar medidas para reduzir a atividade<br />

econômica, frear ou sobretaxar o consumo energético,<br />

diante do imperativo político (e eleitoral) de manter<br />

empregos e estimular o crescimento. Por sua vez, os<br />

países emergentes do Sul, com taxas de crescimento<br />

alcançadas sobretudo pela demanda extrativista e pela<br />

oferta de expansão de energia (o que também significa<br />

mais emissões e responsabilidades), não estavam de<br />

acordo com medidas que poderiam conter ou desacelerar<br />

a entrada de suas economias no ranking do primeiro<br />

time dos países.<br />

É sintomática a mudança que se seguiu. O termo, até<br />

então muito utilizado e disseminado e que se referia ao<br />

processo de “transição”, como passar a uma “economia<br />

de baixo consumo de carbono”, “desenvolvimento de<br />

baixo consumo de carbono” e até “crescimento de baixo<br />

consumo de carbono”, 37 passou a ser permanentemente<br />

recolocado e substituído, nos mesmos contextos e pelos<br />

mesmos atores, pelo termo de “economia verde”. Uma<br />

mudança aparentemente discursiva, porém determinante para<br />

a consolidação da hegemonia.<br />

Diante da desmobilização da opinião pública, passado<br />

o momento de ímpeto internacional na luta para<br />

275<br />

37 Cf. .

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