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Descolonizar_o_Imaginario_web

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sustentável; na África, o ubuntu, uma filosofia humanista<br />

e altruísta; a nível global, o movimento pelos comuns<br />

e a produção colaborativa, que teve como resultado, por<br />

exemplo, o software livre.<br />

Todas essas correntes compartilham alguns princípios:<br />

a colaboração em vez da concorrência que o capitalismo<br />

promove; a valorização da convivencialidade; a importância<br />

da autonomia, da autogestão e dos processos construídos<br />

localmente a partir de baixo; o respeito à diversidade<br />

e o valor central da deliberação; a democratização da<br />

economia e da tecnologia; a transformação da propriedade<br />

privada em propriedade social (que não é o mesmo que<br />

propriedade estatal) ou em comuns; a soberania alimentar;<br />

a solidariedade e a reciprocidade.<br />

As alternativas ao desenvolvimento<br />

nas políticas públicas<br />

No entanto, desde o princípio, os governos progressistas<br />

latino-americanos apostaram, na prática, no neodesenvolvimentismo<br />

e aprofundaram o modelo extrativista – argumentando<br />

com a necessidade de financiar o investimento<br />

social com os royalties obtidos com a exportação de commodities.<br />

Muitas organizações sociais tiveram de organizar<br />

– ou seguir com – a resistência aos impactos sociais<br />

e ambientais do extrativismo das maneiras mais diversas,<br />

em todos os países do continente. 10 Em muitos casos, apostaram,<br />

além disso, na construção de alternativas locais para<br />

34<br />

10 Maristella Svampa, “Extractivismo neodesarrollista y movimientos<br />

sociales: ¿un giro ecoterritorial hacia nuevas alternativas?” (In:<br />

Miriam Lang et al. [coords.], Más allá del desarrollo. Quito: Fundação<br />

Rosa Luxemburgo; Abya Yala, 2011, p.185-218. Grupo Permanente de<br />

Trabajo sobre Alternativas al Desarrollo, ).<br />

a população, por exemplo, mediante a comercialização<br />

de produtos agrícolas orgânicos.<br />

Em 2016, em retrospectiva, podemos dizer que, embora<br />

se tenha elaborado e até discutido uma multiplicidade<br />

de propostas, em termos de política pública não se<br />

utilizou essa conjuntura excepcional para promover as<br />

alternativas ao desenvolvimento. Na verdade, em toda<br />

a região, aproveitando o que hoje se chama de superciclo<br />

de alta dos preços das commodities (petróleo, minerais,<br />

soja etc.) no mercado internacional, as economias<br />

se reprimarizaram e se desindustrializaram – ou seja,<br />

o extrativismo foi aprofundado em detrimento de uma<br />

diversificação das economias. A iniciativa de deixar o<br />

petróleo debaixo da terra no Parque Nacional Yasuní,<br />

no Equador, internacionalmente reconhecida, foi<br />

revertida em agosto de 2013 pelo governo do presidente<br />

Rafael Correa em favor da exploração petrolífera.<br />

E a concorrência entre países para vender as mesmas<br />

commodities ao mercado internacional – por exemplo,<br />

para a China – impediu que a integração regional fosse<br />

aprofundada em termos econômicos, de comércio entre<br />

países latino-americanos ou de complementariedade na<br />

produção, o que teria sido uma condição para se tornarem<br />

independentes do mercado mundial e poderem<br />

avançar em direção às alternativas ao desenvolvimento<br />

como região ou bloco. 11<br />

Tudo isso reconfigurou rapidamente as relações<br />

e gerou tensões entre os partidos de esquerda<br />

e os governos progressistas, de um lado – que se<br />

35<br />

11 Eduardo Gudynas, “Transiciones hacia un nuevo regionalismo<br />

autónomo” (In: Miriam Lang et al. [coords.], Alternativas al<br />

capitalismo/colonialismo del siglo xxi. Quito: Fundação Rosa<br />

Luxemburgo; Abya Yala, 2013, p.129-160. Grupo Permanente de<br />

Trabajo sobre Alternativas al Desarrollo, ).

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