Descolonizar_o_Imaginario_web
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luta aberta ou encoberta, em muitas frentes e de maneira simultânea:<br />
Iraque, Afeganistão, Líbia, Sudão, Somália, Irã...<br />
Por conta das crescentes limitações financeiras e das<br />
atuais reacomodações hegemônicas, o governo de Barack<br />
Obama anunciou uma nova estratégia militar para preservar<br />
a liderança global dos Estados Unidos no século<br />
xxi. Nessa reorientação destacam-se dois aspectos: Forças<br />
Armadas mais reduzidas, porém “ágeis, flexíveis, preparadas,<br />
inovadoras e tecnologicamente avançadas”, e a prioridade<br />
estratégica para conter a China, rival que é vista como<br />
uma ameaça à hegemonia global dos Estados Unidos. 55<br />
A secretária de Estado Hillary Clinton denominou<br />
essa nova orientação geoestratégica de “Século do Pacífico<br />
Estadunidense”. Segundo Clinton, o “futuro da política será<br />
decidido na Ásia, não no Afeganistão ou no Iraque, e os<br />
Estados Unidos estarão bem no centro da ação”. 56 Em seu<br />
discurso no parlamento australiano, no fim de 2011, o presidente<br />
Obama antecipou que, depois das guerras do Iraque<br />
e do Afeganistão, os Estados Unidos estavam voltando sua<br />
atenção para o vasto potencial da zona Ásia-Pacífico, o que<br />
incluía “uma forte presença militar na região”. Como parte<br />
do fortalecimento dessa presença militar, Obama anunciou<br />
o acordo para estabelecer uma nova base militar naval na<br />
Austrália: a primeira expansão com tais características na<br />
região desde a guerra do Vietnã. Isso provocou uma resposta<br />
irritada do governo chinês, que acusou o presidente estadunidense<br />
de estar agravando as tensões militares. 57<br />
Estamos presenciando o início de uma nova época de<br />
Guerra Fria?<br />
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55 United States of America, Department of Defense, Defense Budget<br />
Priorities and Choices (Washington, 2012).<br />
56 Hillary Clinton, “America’s Pacific Century” (Foreign Policy, nov.<br />
2011, ).<br />
57 Jackie Calmes, “A u.s. Marine Base for Australia irritates China”<br />
(The New York Times, 16 nov. 2011).<br />
Povos em movimento<br />
Diante dessa extraordinária combinação de ameaças,<br />
não apenas à democracia, à paz e à dignidade humana,<br />
como também à própria vida, encontramos povos<br />
em movimento e resistência. Em 2011, produziram-se<br />
surpreendentes mobilizações em todo o mundo em<br />
oposição a esses propósitos e em favor da luta por outro<br />
mundo possível.<br />
Durante as últimas duas décadas, a América<br />
Latina tem sido o continente mais ativo nesse sentido.<br />
Continuam e, em muitos casos, aprofundam-se e se<br />
radicalizam as mobilizações e lutas contra as múltiplas<br />
modalidades de extrativismo: mineração a céu aberto;<br />
extração de petróleo e gás; monoculturas de soja transgênica,<br />
eucaliptos, pinos e palma africana; e grandes<br />
represas hidrelétricas. Entre as lutas mais emblemáticas,<br />
destacam-se ações contra a mineração na Argentina;<br />
a resistência à usina de Belo Monte na Amazônia brasileira;<br />
as grandes ações de resistência contra as corporações<br />
mineradoras em Cajamarca, no Peru; e a oposição<br />
à rodovia que pretende atravessar o Território Indígena<br />
Parque Nacional Isiboro Sécure (Tipnis), na Bolívia.<br />
No entanto, para além das profundas mudanças políticas<br />
experimentadas no continente, a lógica extrativista<br />
e a inserção primário-exportadora dessas economias<br />
continuam vigentes – e representam a fonte principal<br />
das contradições internas e dos desencantos com os<br />
governos “progressistas” e de esquerda da região.<br />
Surgiram, desse modo, outros sujeitos e outros<br />
temas. Entre eles, destacam-se as lutas estudantis<br />
chilenas, que reivindicam uma educação pública e de<br />
qualidade. No Chile, a ditadura de Augusto Pinochet<br />
(1973-1990) havia instalado uma ampla hegemonia<br />
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