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Descolonizar_o_Imaginario_web

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(hipoteticamente) disponíveis para enverdecê-la. A isso<br />

se poderia argumentar na direção oposta: quanto mais degradação<br />

ambiental e escassez de recursos, mais valiosos<br />

(e caros no mercado) estarão os títulos de cobertura florestal,<br />

as compensações de biodiversidade, as licenças de água,<br />

os créditos de carbono etc.<br />

As principais ideias por trás dessas propostas que hoje<br />

se apresentam sob a aura de novidade da “economia verde”<br />

não são inteiramente novas, mas sim consequência de tentativas<br />

anteriores que desde o final dos anos 1970, e especialmente<br />

nos anos neoliberais de 1980 e 1990, vêm consolidando<br />

um campo de ideias e teorização que tomou forma e<br />

nome de “economia ambiental” ou “economia ecológica”.<br />

Qual seria então o traço distintivo da economia verde?<br />

280<br />

Da era do capital mal-alocado para<br />

a era do capital natural<br />

O sistema econômico atual é definido pelo Pnuma como<br />

a “era do capital mal-alocado” (era of capital misallocation),<br />

em que temos “permitido” que os negócios<br />

sigam sob “externalidades ambientais e sociais significativas,<br />

amplamente não contabilizadas e não verificadas”;<br />

diante disso, colocar preço à contaminação (e ao carbono,<br />

às compensações, às permissões de água, à biodiversidade,<br />

aos serviços ambientais etc.) é apresentado como uma<br />

engrenagem central para seguir adiante, para possibilitar<br />

“mudanças nos padrões de investimento privado<br />

e obter histórias de sucesso, especialmente nos países<br />

em desenvolvimento”. 41<br />

41 unep, Towards Green Economy: Pathways to Sustainable Development<br />

and Poverty Erradication, p.2, 2011, grifos meus.<br />

Como exemplo dessa valorização das externalidades<br />

(custo das emissões resultantes do desmatamento<br />

e os créditos por evitá-lo ou reduzi-lo), o guia do<br />

Pnuma aponta o mecanismo de redd+, que ainda<br />

aguarda regulamentação definitiva nas negociações da<br />

Convenção do Clima, como o “regime de redd+”,<br />

pois atualmente este seria “talvez a melhor oportunidade<br />

para facilitar a transição para a economia verde para<br />

o setor [global] de florestas”. 42<br />

Assim como a contabilização das externalidades<br />

“sociais e ambientais” é uma engrenagem central para<br />

seguir adiante na economia verde, a criação de novos<br />

ativos econômicos é estrutural.<br />

Na constelação de temas que apontam para onde nos<br />

levará a economia “verde” está a incorporação de uma<br />

nova medição da riqueza dos países através do pib verde,<br />

que seria a quantificação e contabilização dos chamados<br />

“ativos ambientais” (termo pelo qual se definem o carbono,<br />

a biodiversidade, a água etc.). O carbono já é um<br />

ativo negociado sob mecanismos internacionais, como o<br />

Mecanismo de Desenvolvimento Limpo e nos mercados<br />

voluntários, e além disso já estão em desenvolvimento<br />

novos mecanismos e mercados que incorporem outros<br />

ativos verdes. Esses ativos, comercializados como<br />

os novos títulos “verdes”, despertam o interesse, por<br />

exemplo, de bancos e empresas que necessitam de cada<br />

vez mais securitização ambiental para seus empreendimentos<br />

e investimentos.<br />

Os mercados de carbono (e um preço global ao carbono)<br />

figuram como a principal aposta dos governos e das<br />

macropolíticas de combate às mudanças climáticas,<br />

assim como estão na espinha dorsal das propostas<br />

para uma economia verde ou de baixo consumo de<br />

281<br />

42 Ibid., p.7.

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