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1999_Luzes-ApostoloPulchrum

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Nascido e cultivado na<br />

Cristandade européia,<br />

o estilo gótico, em vários<br />

dos seus traços, representa de<br />

modo muito característico o espírito<br />

medieval que o inspirou.<br />

O gótico é forte e, porque forte,<br />

tende ao perene. Suas construções<br />

têm um visível desejo de durar sempre,<br />

de se tornarem algo que nunca<br />

mais será substituído. E nisto o gótico<br />

bem se mostra um filho da Idade<br />

Média, a qual, diferentemente do<br />

homem moderno, não era escrava<br />

do tempo. Aquela foi uma época em<br />

que os edifícios — as catedrais, por<br />

exemplo — podiam levar cem, duzentos<br />

ou mais anos para serem<br />

completados. E as gerações que<br />

participavam da edificação de uma<br />

catedral, mesmo sabendo que dificilmente<br />

a veriam pronta, morriam<br />

em paz.<br />

Eram gerações de Fé, imbuídas<br />

da noção de que, quando chegassem<br />

ao Céu, teriam diante de si uma<br />

visão incomparavelmente mais bela<br />

do que a catedral: a recompensa da<br />

paz com que elas adormeciam em<br />

Deus. Nas cercanias do templo, às<br />

vezes ainda em construção, os corpos<br />

eram inumados com as mãos<br />

postas, à espera do juízo e da infinita<br />

misericórdia de Nosso Senhor.<br />

Gerações de Fé, numa época de Fé.<br />

Além de forte, o estilo gótico tem<br />

uma seriedade que confere ao interior<br />

de seus edifícios um certo recolhimento,<br />

uma compostura própria<br />

de quem é profundamente sério. A<br />

luz que neles penetra não é comum,<br />

mas tamisada pelo colorido feérico<br />

dos vitrais, fazendo-nos pensar num<br />

dia ideal, num sonho que está do lado<br />

de fora.<br />

A esses vitrais deve o gótico a sua<br />

capacidade de apaziguar os espíritos,<br />

de transmitir serenidade e temperança.<br />

Imagine-se uma pessoa<br />

muito aflita, tomada por graves<br />

angústias e preocupações. Ela passa<br />

defronte a uma catedral gótica, re-<br />

solve entrar e se senta próximo de<br />

um vitral. Repara na figura de um<br />

santo nele representado, ou numa<br />

imagem de Nossa Senhora da qual<br />

aquela luz filtrada serve de resplendor.<br />

Começa a rezar. De início, pensa<br />

apenas nos seus problemas. Roga<br />

à Santíssima Virgem, aos Anjos e<br />

Santos que sejam seus intercessores<br />

junto ao nosso clementíssimo Salvador,<br />

para que a ajude nas dificuldades,<br />

obtenha-lhe o perdão de um pecado,<br />

a correção de um defeito, etc.<br />

Ao cabo de algum tempo de orações,<br />

a pessoa passa instintivamente<br />

a prestar atenção no vitral. Este, entretanto,<br />

antes mesmo dessa observação<br />

clara e explícita, já lhe vinha apaziguando<br />

a alma, pois nesses vitrais<br />

há grande harmonia, vida, riqueza<br />

de cores e matizes, abundância de<br />

arte nos seus menores aspectos.<br />

Catedral de Sens.<br />

Na página ao lado,<br />

interior da<br />

Catedral de Reims<br />

Basta a alguém estar perto deles<br />

para se sentir tranqüilizado. Quando<br />

começa uma análise explícita do<br />

vitral, a pessoa já está preparada<br />

para prestar atenção em algo que<br />

não é o seu mero interesse individual.<br />

Acalmada, ela volta a rezar,<br />

contemplando a imagem de Nossa<br />

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