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1999_Luzes-ApostoloPulchrum

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LUZES DA CIVILIZAÇÃO CRISTÃ<br />

Senhora, as figuras e as cenas desenhadas<br />

no vitral. E assim vai, numa<br />

alternância entre a prece, o pedido,<br />

a necessidade, e o deixar-se<br />

influenciar por uma arte<br />

inspirada pela Igreja, que<br />

dulcifica a alma e a enche<br />

de paz.<br />

*<br />

Forte, sério e temperante,<br />

o gótico é‚ ao mesmo<br />

tempo, delicado.<br />

Considerem-se, por<br />

exemplo, as formidáveis<br />

colunas de uma catedral.<br />

Os medievais lograram atenuar<br />

nelas as características<br />

que poderiam transmitir<br />

a impressão de força<br />

quase bruta, dando-lhes o<br />

aspecto de um feixe de<br />

coluninhas, que parecem<br />

amarradas umas às outras<br />

para suportarem as grandes<br />

abóbadas. E assim,<br />

sustentando com toda a<br />

firmeza o que lhes vai por<br />

cima, esses pesadíssimos<br />

pilares góticos dão a idéia<br />

de serem leves e elegantes.<br />

Elegância e leveza, entretanto,<br />

não dissociada<br />

da força. Daí, a extrema<br />

beleza das ogivas. De fato,<br />

a coluna gótica de grande<br />

estilo, ainda que talhada<br />

para dar aquela impressão<br />

de que acima falamos,<br />

conserva algo de coluna<br />

de combate. E do combate medieval,<br />

que, quando justo, sempre visava<br />

à paz e a uma concórdia equilibrada.<br />

Disposição esta muito bem<br />

simbolizada pela ogiva: são dois arcos<br />

que podemos imaginar opostos,<br />

e que se resolvem numa posição de<br />

equilíbrio, ou seja, numa reconciliação.<br />

Não é raro existirem florões e<br />

adornos no ponto de encontro das<br />

duas partes, quase como a festejar<br />

a paz.<br />

Presente está também no gótico<br />

uma profunda noção do dever. Tal<br />

noção se exprime, por exemplo,<br />

através das colunatas das abadias e<br />

Grupo de esculturas<br />

na fachada da<br />

Catedral de Reims<br />

catedrais, que dão ao homem a<br />

idéia de um caminho alto, estreito,<br />

mas conducente a uma grande solução.<br />

É o caminho do Céu. Uma<br />

estrada não larga, não folgada, não<br />

espaçosa nem agradável, mas apertada<br />

e difícil, sempre a dois passos<br />

de precipícios, problemas, tentações<br />

e perigos. Representa algo grandioso,<br />

metódico, do qual não se pode<br />

afastar nem um passo, porque se<br />

perderia de vista a meta e se transviaria.<br />

Essa é a imagem da nossa<br />

própria existência enquanto vivida à<br />

luz dos Mandamentos.<br />

E é precisamente o que nos sugere<br />

a colunata gótica:<br />

a idéia de um caminho<br />

apertado, estreito, sério,<br />

reto e, sobretudo, elevado.<br />

Quer dizer, se nos sentirmos<br />

opressos por estarmos<br />

cercados de colunas,<br />

nossos olhos e nossa alma<br />

encontram os grandes espaços<br />

olhando para o alto.<br />

O que, em outros termos,<br />

significa: “Quando a<br />

vida estiver apertada, olhemos<br />

para o Céu”. Assim<br />

era a alma católica medieval,<br />

que deu origem ao<br />

gótico.<br />

Na colunata como na<br />

ogiva, essa mesma alma,<br />

depois de ter explicitado<br />

seu desejo e sua afirmação<br />

de força, começou a sorrir<br />

e a manifestar sua própria<br />

doçura, como quem continua<br />

a descrever em pedra<br />

os diversos aspectos<br />

de sua personalidade. Dessa<br />

maneira, sem atraiçoar<br />

a coluna, que será sempre<br />

o objeto do maior entusiasmo,<br />

surgem os florões,<br />

as figuras esculturais e toda<br />

espécie de adornos graciosos<br />

do gótico.<br />

E assim, à maneira de<br />

alguém que vai retirando<br />

de sua arca as mais variadas<br />

peças de um opulento tesouro,<br />

o medieval foi lentamente manifestando<br />

as riquezas de seu espírito<br />

através dos requintes da arte gótica.<br />

Esta parece, pois, descrever uma alma<br />

profunda e verdadeiramente católica.<br />

Sim, porque o gótico é, no fundo,<br />

um magnífico reflexo do imenso,<br />

inesgotável e fabuloso espírito da<br />

Santa Igreja Católica Apostólica<br />

Romana.<br />

<br />

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