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LUZES DA CIVILIZAÇÃO CRISTÃ<br />
Senhora, as figuras e as cenas desenhadas<br />
no vitral. E assim vai, numa<br />
alternância entre a prece, o pedido,<br />
a necessidade, e o deixar-se<br />
influenciar por uma arte<br />
inspirada pela Igreja, que<br />
dulcifica a alma e a enche<br />
de paz.<br />
*<br />
Forte, sério e temperante,<br />
o gótico é‚ ao mesmo<br />
tempo, delicado.<br />
Considerem-se, por<br />
exemplo, as formidáveis<br />
colunas de uma catedral.<br />
Os medievais lograram atenuar<br />
nelas as características<br />
que poderiam transmitir<br />
a impressão de força<br />
quase bruta, dando-lhes o<br />
aspecto de um feixe de<br />
coluninhas, que parecem<br />
amarradas umas às outras<br />
para suportarem as grandes<br />
abóbadas. E assim,<br />
sustentando com toda a<br />
firmeza o que lhes vai por<br />
cima, esses pesadíssimos<br />
pilares góticos dão a idéia<br />
de serem leves e elegantes.<br />
Elegância e leveza, entretanto,<br />
não dissociada<br />
da força. Daí, a extrema<br />
beleza das ogivas. De fato,<br />
a coluna gótica de grande<br />
estilo, ainda que talhada<br />
para dar aquela impressão<br />
de que acima falamos,<br />
conserva algo de coluna<br />
de combate. E do combate medieval,<br />
que, quando justo, sempre visava<br />
à paz e a uma concórdia equilibrada.<br />
Disposição esta muito bem<br />
simbolizada pela ogiva: são dois arcos<br />
que podemos imaginar opostos,<br />
e que se resolvem numa posição de<br />
equilíbrio, ou seja, numa reconciliação.<br />
Não é raro existirem florões e<br />
adornos no ponto de encontro das<br />
duas partes, quase como a festejar<br />
a paz.<br />
Presente está também no gótico<br />
uma profunda noção do dever. Tal<br />
noção se exprime, por exemplo,<br />
através das colunatas das abadias e<br />
Grupo de esculturas<br />
na fachada da<br />
Catedral de Reims<br />
catedrais, que dão ao homem a<br />
idéia de um caminho alto, estreito,<br />
mas conducente a uma grande solução.<br />
É o caminho do Céu. Uma<br />
estrada não larga, não folgada, não<br />
espaçosa nem agradável, mas apertada<br />
e difícil, sempre a dois passos<br />
de precipícios, problemas, tentações<br />
e perigos. Representa algo grandioso,<br />
metódico, do qual não se pode<br />
afastar nem um passo, porque se<br />
perderia de vista a meta e se transviaria.<br />
Essa é a imagem da nossa<br />
própria existência enquanto vivida à<br />
luz dos Mandamentos.<br />
E é precisamente o que nos sugere<br />
a colunata gótica:<br />
a idéia de um caminho<br />
apertado, estreito, sério,<br />
reto e, sobretudo, elevado.<br />
Quer dizer, se nos sentirmos<br />
opressos por estarmos<br />
cercados de colunas,<br />
nossos olhos e nossa alma<br />
encontram os grandes espaços<br />
olhando para o alto.<br />
O que, em outros termos,<br />
significa: “Quando a<br />
vida estiver apertada, olhemos<br />
para o Céu”. Assim<br />
era a alma católica medieval,<br />
que deu origem ao<br />
gótico.<br />
Na colunata como na<br />
ogiva, essa mesma alma,<br />
depois de ter explicitado<br />
seu desejo e sua afirmação<br />
de força, começou a sorrir<br />
e a manifestar sua própria<br />
doçura, como quem continua<br />
a descrever em pedra<br />
os diversos aspectos<br />
de sua personalidade. Dessa<br />
maneira, sem atraiçoar<br />
a coluna, que será sempre<br />
o objeto do maior entusiasmo,<br />
surgem os florões,<br />
as figuras esculturais e toda<br />
espécie de adornos graciosos<br />
do gótico.<br />
E assim, à maneira de<br />
alguém que vai retirando<br />
de sua arca as mais variadas<br />
peças de um opulento tesouro,<br />
o medieval foi lentamente manifestando<br />
as riquezas de seu espírito<br />
através dos requintes da arte gótica.<br />
Esta parece, pois, descrever uma alma<br />
profunda e verdadeiramente católica.<br />
Sim, porque o gótico é, no fundo,<br />
um magnífico reflexo do imenso,<br />
inesgotável e fabuloso espírito da<br />
Santa Igreja Católica Apostólica<br />
Romana.<br />
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