Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
eiro formado para, pelo vigor de<br />
seu braço e pela intrepidez de seu<br />
espírito, fazer o bem à Cristandade.<br />
A força, o ímpeto, a coragem, postos<br />
a serviço da Fé: esta a missão<br />
dele.<br />
De outro lado, porém, os cavaleiros<br />
eram autênticos artesãos da<br />
paz, porque usavam a força somente<br />
para defender a ordem contra<br />
aqueles que a queriam destruir. Ora,<br />
segundo São Tomás de Aquino, a<br />
paz é a tranqüilidade da ordem. Se<br />
alguém defende a ordem, está protegendo<br />
a tranqüilidade e, portanto,<br />
a paz. Quando os cavaleiros, sobre<br />
as muralhas de seus castelos, amparavam<br />
suas populações e suas honestas<br />
posses, eram, pois, guerreiros<br />
da paz!<br />
Desse modo, o cavaleiro, terror<br />
dos maus, é também o encanto dos<br />
bons. Termina a batalha, o adversário<br />
se foi, ele retorna a seu castelo e<br />
sua presença faz a alegria de todos.<br />
Porque ele afaga, é bom e não é jactancioso.<br />
É para ele motivo de júbilo<br />
não ser o único, e sim o chefe de<br />
gente que possui particular valor.<br />
Embora receba as merecidas homenagens,<br />
compraz-se em ressaltar as<br />
qualidades de seus guerreiros, distribuindo<br />
generosas recompensas e<br />
a todos agradando com sua simplicidade<br />
e paternal benevolência.<br />
Esse herói por amor de Deus,<br />
esse pai e comandante é, antes de<br />
tudo, piedoso. Deixado o campo de<br />
batalha, dirige-se de imediato à Capela<br />
do castelo, ajoelha-se e, comovido,<br />
rende graças a Nosso Senhor<br />
por ter escapado ileso. Graças, sobretudo,<br />
por ter afugentado o bárbaro<br />
ou o maometano pagãos, por<br />
ter conseguido levar à vitória os que<br />
eram de Deus, e assim ter feito brilhar<br />
a glória divina sobre o adversário.<br />
Depois, ele se coloca diante<br />
de uma imagem de Nossa Senhora,<br />
e a Ela reza de modo especial, sobremaneira<br />
grato e enternecido.<br />
Aparece, então, o outro lado do<br />
cavaleiro. Ele é devoto, humilha-se,<br />
alegra-se em se curvar diante de<br />
Deus.<br />
PLINIO<br />
CORRÊA DE<br />
OLIVEIRA,<br />
AUTÊNTICO<br />
CAVALEIRO<br />
DE NOSSO<br />
SÉCULO<br />
Tudo isso constitui o perfil moral<br />
do cavaleiro. Na guerra, heróico e<br />
temido; na paz, previdente, pois sabe<br />
que o repouso é apenas a respiração<br />
entre duas batalhas. Com os<br />
inimigos de Deus, implacável; com<br />
os amigos, doce e cortês.<br />
Essa afabilidade, esse amor cristão<br />
que o cavaleiro tem ao próximo<br />
se traduz nos seus atos de caridade,<br />
mas também nas suas boas maneiras,<br />
que são o modo de exteriorizar<br />
a bondade interior. Assim, o cavaleiro<br />
é gentil, distinto, trata bem as<br />
pessoas, tributando a cada uma seu<br />
devido respeito, e espera que tenham<br />
igualmente para com ele a<br />
justa deferência.<br />
Em torno dele e daqueles que lhe<br />
são iguais, vai se constituindo um<br />
cerimonial, e se formando uma classe<br />
em que a educação é mais excelente,<br />
o palavreado é mais nobre,<br />
florido e belo. Onde a elegância dos<br />
trajes e das maneiras desabrocha de<br />
modo acentuado, dando origem à<br />
cortesia e à distinção própria dos<br />
cavaleiros. E, cumpre dizê-lo, longe<br />
de rebaixar os que lhes eram inferiores,<br />
na sua ascensão os cavaleiros<br />
elevavam também as demais camadas<br />
da sociedade, as quais aprendiam<br />
com eles a linguagem apurada,<br />
a boa educação, e iam assim se<br />
tornando cultas e acabando de se<br />
desbarbarizar...<br />
Daí provém o sentido do cavaleiro<br />
de nossos dias. Palavra tão respeitada,<br />
tão bela, tão plena de significado,<br />
porque representa esse tipo<br />
ideal do católico posto na sociedade<br />
temporal, que tem como um<br />
dos traços mais preponderantes de<br />
sua alma a combatividade a serviço<br />
do amor de Deus, da Causa da Igreja,<br />
da Cristandade.<br />
É o católico corajoso, temível,<br />
admirável, bondoso, gentil, acolhedor.<br />
É o homem cuja palavra vale como<br />
escritura pública, porque um cavaleiro<br />
não mente nunca!<br />
É o varão casto, porque a impureza<br />
é o contrário da cavalaria, e o<br />
verdadeiro complemento desta é a<br />
virgindade. A força do cavaleiro não<br />
é a violência de um vulgar botequineiro,<br />
mas o vigor do homem<br />
puro.<br />
Assim é o cavaleiro, no qual refulgem<br />
todas as qualidades do verdadeiro<br />
católico.