Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Revista Dr. Plinio 10, Janeiro de <strong>1999</strong><br />
<strong>Luzes</strong> da Civilização Cristã<br />
O Cavaleiro,<br />
flor e gloria<br />
’<br />
da Cristandade<br />
AAssim como não se<br />
pode determinar o<br />
exato momento em<br />
que os grandes crepúsculos terminam,<br />
deixando-se envolver inteiramente<br />
pela noite, assim também<br />
não se conhece ao certo o instante<br />
em que se consumou o pôr-do-sol<br />
da Cavalaria. Sabe-se, contudo, que<br />
em fins do século XVII já não se<br />
podia falar dela, no sentido próprio<br />
do termo. Sem o esplendor de<br />
outrora, algumas ordens militares<br />
mantinham apenas recordações e títulos<br />
daquela antiga instituição medieval<br />
que, após lenta agonia, desaparecera.<br />
Entretanto, ainda hoje, neste limiar<br />
do século XXI, quando se deseja<br />
significar que alguém procedeu<br />
de modo bonito, nobre, corajoso,<br />
diz-se: “Tu agiste como um cavaleiro”.<br />
Ou quando se pretende enaltecer<br />
a redação de uma carta elevada,<br />
digna, distinta, afirma-se: “É a<br />
carta de um cavaleiro”. E se há entre<br />
dois homens de educação uma<br />
contenda que acabe de maneira ele-<br />
gante, comenta-se: “Terminou como<br />
uma rixa de cavaleiros”.<br />
Cavaleiro é, portanto, um vocábulo<br />
que tem livre curso em todas as<br />
partes como o mais requintado dos<br />
elogios. Algo ficou de tal maneira<br />
impregnado nesta palavra que, embora<br />
não se saiba defini-la, nela se<br />
reconhece um certo brilho, uma<br />
qualquer luz que dignifica o homem<br />
a quem ela se dirige.<br />
Este algo outra coisa não é senão<br />
um resquício de aroma da Civilização<br />
Cristã, ela mesma somente um<br />
vestígio neste ocaso de milênio. Para<br />
usar uma metáfora empregada<br />
pelo Papa São Pio X, pode-se dizer<br />
que, para o mundo hodierno, a Civilização<br />
Cristã é como o interior de<br />
um jarro do qual se retirou a rosa<br />
perfumada que nele esteve por longo<br />
período. Levou-se a flor, ficou a<br />
fragrância. Quer dizer, há um resto<br />
de perfume, mas a rosa, que é a Civilização<br />
Cristã, não está mais presente.<br />
Ora, uma das coisas que ainda recendem<br />
esse bom odor da Civilização<br />
Cristã, esse aroma delicioso que<br />
resiste até à poluição deste fim de<br />
era histórica, é, precisamente, a palavra<br />
cavaleiro, interpretada no seu<br />
mais apropriado sentido.<br />
De fato, o cavaleiro é uma flor e<br />
uma glória da Cristandade. É o varão<br />
católico capaz de, com o auxílio<br />
da graça divina, realizar a mais alta<br />
perfeição de certas qualidades humanas,<br />
quando ele está posto nas<br />
condições de combater. Ou seja,<br />
quando as circunstâncias da luta entre<br />
o Bem e o Mal o colocam no caso<br />
de batalhar, e aí se acha ele, manifestando<br />
uma especial forma de<br />
excelência, emitindo um particular<br />
brilho de sua alma. Brilho e excelência<br />
que representam um maravilhoso<br />
modo de ser do próprio amor<br />
a Deus, visto enquanto recusando e<br />
derrotando o que é contra Ele.<br />
Tal é o cavaleiro. Tais foram, sobretudo,<br />
o cavaleiro medieval e o<br />
seu tipo mais perfeito — o cruzado.<br />
É o varão católico apostólico romano,<br />
destinado a viver para o legítimo<br />
emprego da força. É um guer-<br />
26