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<strong>Luzes</strong> da Civilização Cristã<br />
majestosa solidão, esplendidamente iluminada, deixando<br />
perceber o branco reluzente do mármore de que foi<br />
construída, bem como seus pormenores magníficos, e<br />
torna-se especialmente evidente sua linha geral.<br />
Faço notar as três profundidades para a vista humana<br />
diante dessa catedral. Em primeiro lugar, as arcadas que<br />
têm como centro um arco maior com um magnífico mosaico<br />
e, acima, um terraço. Constituem o primeiro corpo do edifício.<br />
Depois, uma espécie de ogiva central muito grande, onde<br />
se percebem os famosos cavalos, dois torreões, e de cada<br />
lado duas ogivas muito abertas, encimadas cada qual com<br />
uma figura. Por fim, constituindo a terceira dimensão, encontram-se<br />
as cúpulas ladeadas de umas torrezinhas.<br />
Diante dessa catedral somos objeto de uma determinada<br />
impressão a respeito do desejo de maravilhoso, de<br />
grandioso, inspirado pelo espírito de Fé, com que, em louvor<br />
de São Marcos, ela foi construída. É uma das mil cintilações<br />
deslumbrantes do espírito católico que se manifesta<br />
ali, de maneira que, ao contemplá-la, uma pessoa<br />
pode dizer: “Igreja Católica é isto. Ó Igreja Católica!”<br />
Entretanto, dentro dessa catedral passaram-se fatos<br />
históricos da maior importância que determinaram rotações<br />
inteiras na História da Cristandade, das nações banhadas<br />
pelo Mar Adriático, que se manifestaram na História<br />
de Veneza e da Itália, episódios ora de violência, ora de<br />
refinamento político e esperteza levada a um grau inimaginável.<br />
Veneza era uma escola de<br />
diplomatas extraordinários.<br />
Nos arquivos dessa cidade<br />
se conservam relatórios<br />
que os embaixadores<br />
venezianos<br />
mandavam periodicamente, contando o que se passava nos<br />
países onde viviam. As narrações são tão bem feitas, tão seguras<br />
– de tal maneira eles sabem evitar boatos –, as análises<br />
tão finas e tão sutis, que essas cartas servem de fonte<br />
ótima para a História de qualquer país da Europa.<br />
Imponderável de São Pio X em Veneza<br />
Assim, pelo auxílio da graça, temos não apenas uma<br />
percepção do espírito de Fé que levantou tudo isso, mas<br />
também uma ideia dos mil fatos que ali se passaram.<br />
Um desses fatos se deu no começo do século XX. São Pio<br />
X, antes de ser eleito Papa, era o Patriarca de Veneza,<br />
portanto, Cardeal e Arcebispo daquela cidade. Quando<br />
morreu Leão XIII, convocaram o Conclave. São Pio<br />
X – então Cardeal Giuseppe Sarto – comprou passagem<br />
de ida e volta, pois ao que parece ele não contava com a<br />
possibilidade de ser eleito e, ademais, não tinha vontade<br />
nenhuma. Ainda nas vésperas de sua eleição, o Cardeal<br />
Sarto julgava que não seria escolhido, mas como, de repente,<br />
as coisas viraram e sua escolha tornou-se iminente,<br />
ele chorou, porque tinha pânico de ser Papa, pelo peso<br />
da responsabilidade do Papado.<br />
Podemos imaginar a última visita desse Santo Cardeal,<br />
pouco antes de tomar a gôndola para se dirigir ao<br />
Conclave; sua longa figura esguia, com os trajes cardinalícios,<br />
cabelos já muito brancos, ele mesmo alvíssimo,<br />
acompanhado de seus secretários, monsenhores, prelados,<br />
entrando na Basílica de São Marcos para rezar. Depois,<br />
com o coração pesado de presságios que via apenas<br />
obliquamente, ele tomar a embarcação e partir para o<br />
lugar de onde o trem o conduziria até Roma.<br />
Divulgação (CC3.0)<br />
Nevsepic (CC3.0)<br />
Dom Giuseppe M. Sarto (futuro<br />
São Pio X), por ocasião de sua<br />
ordenação como Bispo<br />
de Veneza<br />
O Grande Canal de Veneza (por Canaletto) - Galeria Nacional de Londres, Inglaterra<br />
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