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<strong>Luzes</strong> da Civilização Cristã<br />
Jorge A .A.<br />
Viver é olhar para o Céu<br />
Imaginem um monge andando sozinho, rezando e meditando<br />
sobre São Bento, tal episódio da vida de Nosso<br />
Senhor, o Rosário, tal fato da vida de Nossa Senhora.<br />
Como teria São Bento meditado esses fatos? O Rosário<br />
ainda não existia no tempo dele; foi revelado por Nossa<br />
Senhora, em plena Idade Média, a<br />
São Domingos de Gusmão.<br />
Mas vamos imaginar aquele monge<br />
andando de um lado para outro, sozinho,<br />
e posto nessa solidão onde não há<br />
nenhum barulho, porque não existe<br />
agricultura, não se vê passar um homem,<br />
um bicho, nada se muda a não<br />
ser um arvoredo encaracolado que, às<br />
vezes, é seguido por uma grama escassa<br />
sobre uma terra feia e dura, e que<br />
parece não servir para nada. É a negação<br />
de tudo, o vazio, mas ali está<br />
um monge com grandes ideias, grandes<br />
considerações, fenômenos místicos<br />
dos quais ele tem ou não tem consciência<br />
e que o unem enormemente a<br />
Nossa Senhora. Dir-se-ia que os passos<br />
dele fazem eco aos passos de São<br />
Bento, e que esses arcos embaixo possuem<br />
algo da lógica, da força simples,<br />
robusta e despretensiosa da alma de São Bento, o qual era<br />
uma alma em arcadas assim, imagino eu.<br />
Veem-se duas montanhas que se encontram na base,<br />
formando uma espécie de “V”. Alguém perguntaria,<br />
Sem ter a<br />
certeza do que<br />
ia nascer de lá,<br />
São Bento sentia<br />
que qualquer<br />
coisa de muito<br />
grande se<br />
jogava no Céu.<br />
por curiosidade: “O que há além?” Existe outro tanto<br />
igual a esse, vazio, árido, inútil, servindo apenas para<br />
essa coisa também inútil, da qual vive a Terra: a solidão.<br />
A solidão dos homens chamados para a solidão. Mais<br />
adiante se forma outro “V” e depois outro, e só o que se<br />
vê são montes assim. O homem se sente perdido na solidão,<br />
na terra árida, para ele a vida<br />
não reserva mais nada. Viver é olhar<br />
para o Céu: “Pater noster qui es in cœlis,<br />
sanctificetur nomen tuum...”<br />
A Cristandade europeia<br />
estava nascendo<br />
No prédio da esquerda há um pouco<br />
mais de arquitetura. Existem uma<br />
rosácea e um campanariozinho construídos<br />
muito tempo depois, certos<br />
adornozinhos quão pobres e modestos,<br />
o suficiente para, com os ecos do Angelus<br />
na aurora e no pôr do Sol, às seis<br />
da manhã e às seis da tarde, saudar a<br />
Nossa Senhora e fazer com que esses<br />
ecos santifiquem aquelas solidões.<br />
Notem aquelas montanhas. Nenhuma<br />
delas desce de modo bonito,<br />
não tem aquelas flexões e deflexões<br />
doces dos montes da Baía da Guanabara, nem é amiga<br />
da montanha seguinte. Essas são montanhas agrestes<br />
justapostas pela mão de Deus, que não se conhecem<br />
umas às outras, e parecem dilaceradas diante do céu.<br />
Em outra fotografia vemos a gruta. Tudo é desconforto,<br />
solidão. Devemos<br />
imaginar São Bento<br />
sentado lá, lendo um<br />
livro e pensando... Ele<br />
não sabia, mas a Europa<br />
estava nascendo.<br />
Muito melhor que a Europa,<br />
a Cristandade europeia<br />
estava surgindo.<br />
Ele não teria a menor<br />
ideia da quantidade<br />
dos peregrinos que<br />
iriam humildes, reverentes,<br />
oscular esse lugar.<br />
Mas cada peregrino<br />
que vai ao Mosteiro<br />
de Subiaco leva uma<br />
gotazinha de glória extrínseca<br />
para São Bento<br />
no Céu.<br />
Jorge A .A.<br />
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