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<strong>Luzes</strong> da Civilização Cristã<br />
Gabriel K.<br />
Vicente Torres<br />
Gabriel K.<br />
fora muito poética:<br />
por onde a patas<br />
do cavalo dele<br />
pousavam nunca<br />
mais nascia erva.<br />
As populações<br />
daquelas<br />
regiões ficaram com pavor de Átila e se aprofundaram<br />
em seus pântanos, procurando lugares de mais resistência<br />
para se fixarem. Ali mais ou menos repetiram as palafitas.<br />
Esses povos depois foram batizados, e o Batismo operou<br />
em suas almas o efeito regenerador que lhe é próprio;<br />
e de primitivos, mais ou menos vagabundos, passaram<br />
a ser homens de trabalho que, seduzidos pelas<br />
águas do Mar Adriático, entregaram-se à navegação.<br />
Tornaram-se grandes navegantes e se dedicaram ao comércio,<br />
passando a ser a maior potência marítima do<br />
Mar Mediterrâneo.<br />
As riquezas voltavam para Veneza e com elas as possibilidades<br />
de trabalho, de organização. Aquelas ilhas<br />
resultantes do antigo pântano foram consolidadas, ajeitadas,<br />
fizeram correr água onde havia lodo outrora. As<br />
casas foram melhorando, as águas se tornaram de trânsito<br />
fácil e, no lugar do antigo pântano, constituiu-se um<br />
arquipélago que foi se enchendo de palácios de uma beleza<br />
famosa no mundo inteiro.<br />
E ali, em vez do jardim que Veneza não tem, nasceu<br />
para o homem este sonho que se realizava: morar num<br />
palácio à beira d’água, com um céu lindíssimo. O céu de<br />
Veneza é uma espécie de céu dos céus, o colorido e as<br />
brumas são uma beleza, os anoiteceres são lindíssimos.<br />
E realiza-se assim esse ponto de eleição que é uma espécie<br />
de paraíso feito pelo homem, pela sua fantasia, pelo<br />
seu talento, pela sua capacidade de trabalhar, pelo<br />
seu desejo do maravilhoso, coisa tão distante do homem<br />
contemporâneo.<br />
Então, realizou-se em Veneza esse ponto de encontro<br />
onde a terra feia, outrora pântano, é disfar-<br />
çada pelo chão dos palácios, o pântano é coberto pelas<br />
águas do mar que correm, o céu maravilhoso e as<br />
águas se osculam, formado um dos lugares mais bonitos<br />
da Terra.<br />
Maravilha que nasceu do Sangue<br />
de Nosso Senhor Jesus Cristo<br />
No centro desta narração está o desvendar de um<br />
enigma. Como povos tão primitivos puderam realizar<br />
uma coisa tão maravilhosa? Será por que se mesclaram<br />
com outros povos? A meu ver, se eles não fossem batizados<br />
isso não saía. Pode ser que se tenham mesclado<br />
com latinos decadentes. Mas do pântano do primitivismo<br />
e da decadência das grandes cidades em decomposição<br />
sair uma coisa assim, não era preciso um terceiro<br />
elemento que fizesse uma coisa verdadeiramente<br />
mais bela?<br />
A meu juízo é evidente que sim. É o Corpo e o Sangue<br />
de Nosso Senhor Jesus Cristo, cuja imolação no alto do<br />
Calvário obteve as grandes regenerações morais. É deste<br />
Sangue, a propósito de cuja efusão Nossa Senhora chorou<br />
e do qual resulta tudo quanto há de bom, de grande,<br />
de belo na Terra, que nasceram maravilhas dessas, pela<br />
regeneração do homem. Batizou-se, ficou trabalhador.<br />
Intensificou e disciplinou o seu desejo do maravilhoso,<br />
as maravilhas começam a nascer.<br />
Foi à procura desse auge de realização do maravilhoso<br />
na Terra que me pus a sonhar sobre Veneza e a querê-la.<br />
Desde minha primeira viagem àquela cidade, meu<br />
espírito estava tomado por esta ideia: eu estava visitando<br />
uma junção incomparável e paradisíaca de coisas<br />
maravilhosas.<br />
Poder-se-ia dizer, entretanto, haver mais algo ocupando<br />
no meu espírito um grande espaço, um ponto importante<br />
que procurarei condensar: das várias obras-primas<br />
existentes em Veneza, – oh, mistério! – nenhuma é<br />
tão grande e tão maravilhosa quanto o homem.<br />
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