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2018_Luzes-ApostoloPulchrum

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A “Sereníssima República de Veneza”<br />

Se Deus tivesse criado Veneza, mas a cidade houvesse<br />

ficado sozinha para ser habitada pelos pombos, que valor<br />

ela teria? Muito mais do que simplesmente aquilo, há em<br />

Veneza o estilo de vida, o estilo artístico veneziano, a cultura,<br />

as instituições venezianas, que modelaram as fisionomias<br />

dos palácios. E, no plano da Providência, o palácio é<br />

modelado pela cultura do homem, mas o auxilia a modelar<br />

depois a sua própria cultura. Ajuda-o a se requintar. O céu,<br />

o mar e a terra foram feitos para, iluminando a casa ou o<br />

palácio do homem, iluminar a alma de quem ali reside.<br />

Esta é a dignidade do ser humano. Tudo isso nos reporta<br />

ao fato de que a chamavam de “Sereníssima República<br />

de Veneza”. “Sereníssima” é quase mais bonito<br />

do que Imperial e Real. Dá a impressão de orvalhada<br />

por todas as calmas da noite. “Sua Alteza Sereníssima”,<br />

por exemplo, eu acho um título lindíssimo! E a República<br />

de Veneza, por ser soberana e querer se encaixar<br />

na hierarquia nobiliárquica e feudal da Europa, considerando<br />

que seu chefe tinha uma verdadeira dignidade<br />

de um duque, tomou para si o título de “Sereníssima”.<br />

Veneza era uma república aristocrática, dirigida por<br />

uma nobreza inscrita num livro chamado “Livro de Ouro”.<br />

As famílias promovidas à nobreza tinham seus nomes inscritos<br />

nesse livro, e pertenciam a uma classe social que elegia<br />

uma espécie de Câmara dos Lordes. Havia também, para<br />

as várias categorias da plebe, câmaras, conselhos, etc.<br />

Casamento de Veneza com o mar<br />

À testa disso estava o Conselho dos Dez, chefiado por<br />

um doge que usava o barrete frígio das repúblicas contemporâneas,<br />

cercado de uma pequena coroa. Tratado<br />

como um príncipe, eleito de dez em dez anos, podendo<br />

ser reeleito, o doge era o ponto de partida de politicagens<br />

finíssimas, rasteiras jeitosíssimas, mais elegantes<br />

do que passos de minueto; com a beleza de quem se habituou<br />

muito cedo a burilar a política como quem burila um<br />

cristal. Aliás, por uma coincidência bonita, as fábricas<br />

de cristal começaram a aparecer. Daí vem o famoso<br />

cristal Murano. Há qualquer coisa de cristalino<br />

na República de Veneza.<br />

Todo mundo conhece a festa<br />

anual de esplendor de Veneza. O<br />

doge, vestido com trajes fabulosos,<br />

ia até o alto-<br />

-mar num navio todo folheado a ouro, chamado Bucentauro,<br />

seguido de um cortejo de embarcações com gente<br />

a bordo tocando violinos e outros instrumentos. Ao chegar<br />

a certa altura, fazia-se o casamento de Veneza com o<br />

mar, lançando no fundo do Mar Adriático um anel. Nesse<br />

momento, a música dava o seu todo, o pessoal aclamava.<br />

Ao cair da tarde, todos voltavam, em meio aos reflexos<br />

da água do mar de Veneza, e a festa continuava<br />

na terra. Aqueles canais eram percorridos por gente em<br />

gôndolas, lanternas bonitas iluminavam os terraços, de<br />

fora dos palácios se percebia a luz das festas que se estavam<br />

dando ali dentro. O tilintar dos copos de cristal, os<br />

vivas, os cânticos se prolongavam<br />

pela noite afora.<br />

Se passarmos daí para as<br />

palafitas que constituíram<br />

a primeira Veneza, compreenderemos<br />

a enorme<br />

trajetória percorrida<br />

nesse lugar verdadeiramente<br />

privilegiado,<br />

onde a Providência<br />

quis reunir as suas maravilhas.<br />

v<br />

(Continua no próximo<br />

número)<br />

(Extraído de conferência<br />

de 2/12/1988)<br />

Gabriel K. TYP (CC3.0)<br />

35

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