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<strong>Sapeca</strong><br />
Misto de sapo e perereca<br />
Nº <strong>14</strong> – Julho/2018 – Editor: Tonico Soares<br />
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MUSA DO QUASE SEMESTRE<br />
Mulher bonita era o que não faltava no cinema mexicano e María Felix<br />
foi a mais célebre, além de musa do pintor miraiense Slotti. Casou-se, entre<br />
outros, com Agustin Lara, inspirando-lhe a belíssima canção María bonita,<br />
cuja letra em castelhano aprendi com Marina, na zona. Felix recusou papéis<br />
secundários em Hollywood (ou tudo, ou nada), limitando a carreira internacional<br />
à Espanha, Itália e França (nas fotos acima ela contracena com Gérard Philipe<br />
e Yves Montand). Casou-se por fim com um milionário francês, herdando<br />
uma bela fortuna, e passou a se interessar mais por cavalos de corridas.
Continuando no México: sei de mulheres que enjoaram de sexo, uma<br />
delas a atriz Lady Francisco, em certa época, não sei se persistiu.<br />
Já homem é novidade, caso do ator mexicano Eduardo Verástegui que<br />
abandonou o sexo em todas as suas formas. Em 2012, ao celebrar 10<br />
anos de abstinência, assegurou que esta foi a melhor etapa de sua vida.<br />
Os abutres também amam<br />
O abutre-fouveiro ocorre em montanhas do sul da Europa, sudoeste<br />
asiático e África, e tem no Jardim Zoológico de Amsterdam um<br />
programa de conservação da espécie. Criados em cativeiro, quando ficam<br />
fortes ganham liberdade. E celebridade, caso de um dos pássaros<br />
liberados. Razão da fama: funcionário do dito zoo encontrou um ovo<br />
abandonado, entregue a um casal de abutres gays que se revezavam no<br />
trabalho de chocar, depois, alimentar, coisa de um ano de convívio,<br />
sendo o filho levado prum aviário na Sardenha. O projeto já lançou doze<br />
abutres na ilha e estima-se que haja trinta pares na região. Vale lembrar<br />
que a espécie quase foi extinta pelos agricultores. Conclusão da<br />
reportagem da BBC: ‘Sem bancada evangélica, sem discurso de ódio<br />
gratuito e sem preconceito, a natureza conseguiu salvar mais uma vida’.
No arquivo municipal deparei, num jornal Cataguazes de 02/10/1927,<br />
com uma saudação à revista Verde oito dias após o seu apparecimento,<br />
sendo redactor do hebdomadário à ephoca o Sr. L. Soares dos Santos.<br />
“Verde”<br />
Uma força ingente de energias nobres faz vibrar, nos tempos que refluem, a<br />
alma da modernidade num anseio latente e ascencional de crear o inedito, de refundir<br />
as antigas formulas, de remodelar, de modernisar, de visualizar e corporificar<br />
uma nova arte na litteratura.<br />
Tanto quanto a nossa apoucada intelligencia de conservador conseguiu a-<br />
prehender desse movimento renovador, à Marinetti, que vae avassalando a geração<br />
dos novos máxime neste nosso querido Brasil, afigura-se-nos que a tendencia dos<br />
creadores da nova arte é para a synthese, quebrados todos os élos que nos prendem<br />
ao passado, eliminados todos os rythmos, metodos, predominâncias syllabicas, rimas,<br />
etc.<br />
Liberdade absoluta de dizer, sem peias, sem obediencia a quaisquer regras<br />
preestabelecidas, sem formulas de expressão, sem escolas, sem preconceitos, sem<br />
ligamentos a notoriedades autoraes, tal parece ser o escopo na nova arte na prosa, na<br />
poesia, e em todas as modalidades de exteriorização da ideia.<br />
Não sabemos si é bem isto o que querem os novos, mas é isto, pelo menos, o<br />
que inferimos do pouco que temos lido oriundo da nova legião libertaria que vem<br />
surgindo. É boa a nova orientação? Será vencedora? Conseguirá ella fazer epocha,<br />
implantando o Novo Modo na litteratura? Não há como silenciar, por enquanto, a tal<br />
respeito, mesmo porque o nosso escopo, neste momento, não é, de forma alguma,<br />
fazer juízo crítico da Nova Arte.<br />
O nosso intuito, único, exclusivo, é noticiar o apparecimento da Revista, –<br />
cujo nome serve de título a estas linhas, – nesta cidade, no domingo passado, da qual<br />
é director o dr. Henrique de Rezende e redactores o academico Antonio Martins<br />
Mendes e o gimnasiano Rosario Fusco.<br />
Ao fazel-o, temos grande satisfação em saudar a “Verde” com seus collaboradores,<br />
suas ideias, suas audacias, suas irreverências, suas novas formas de estylo,<br />
seus novos motivos, seus novos anseios, desejando-lhe sinceramente que colha<br />
muitos fructos na seara innovadora que a esperançosa novidade está semeando no<br />
terreno cheio de seiva do presente e do futuro.<br />
O trabalho dos novos deve ser sempre bem recebido pelos velhos, porque,<br />
para compensar os muitos senões oriundos da falta de um senso amadurecido pela<br />
experiência, elles tem a seu favor a sinceridade expontania com que orientam todos<br />
os seus actos, e isto os absolve das pequenas culpas veniaes.<br />
Que “Verde” vença são os nossos votos, aqui consignando applausos a esta<br />
pleiade de moços que tão galhardamente affirmam e simulam seus ideaes.
Cataguases e Rio: amizade antiga<br />
O contato entre nossa cidade e a então capital do Império passou a ser<br />
diário a partir de 1877, quando as duas cidades foram ligadas pela estrada de<br />
ferro. Também a data em que Cataguases foi elevada à condição de município,<br />
por ordem d’el rei Dom Pedro II, que cá esteve, com sua comitiva, viajando<br />
pela região. Não saltou do trem por causa de uma epidemia de febre.<br />
O trem deu um grande impulso à economia, escoando a produção, principalmente,<br />
de café. Tanto que o coronel João Duarte mantinha um armazém<br />
exclusivo no Cais do Porto do Rio de Janeiro, para exportação. E, numa viagem<br />
à Itália, conheceu uma beldade e a trouxe para compartilhar consigo uma<br />
casa que ainda existe, a Chácara Dona Catarina. E ela trouxe quatro amigas.<br />
Outro grande impulso foi dado pela eletricidade, que permitiu a instalação<br />
de fábricas de tecidos e outras, até duas de cerveja. De lá pra cá, foi um<br />
constante progredir, como diz o nosso hino. O tempo todo, Cataguases lia jornais<br />
e revistas do Rio, ouvia rádios do Rio, seguia a moda carioca e, acima de<br />
tudo, torce até hoje pelos times de lá, salvo uns cruzeirenses e corintianos.<br />
Em 1925, Humberto Mauro e Pedro Comello inventaram de fazer filmes<br />
aqui, e deu certo. Eva Nil era chamada pelas revistas de “a estrellinha de Cataguazes”<br />
e Mauro, por sua vez, tornou-se referência obrigatória na história do<br />
cinema brasileiro. Pela mesma época, uns rapazes editaram a revista Verde, na<br />
qual colaboraram alguns dos maiores poetas brasileiros e até do exterior.<br />
Nos anos 40, um dos rapazes da Verde, Francisco Inácio Peixoto, introduziu<br />
aqui a arte moderna, trazendo nomes do peso de Oscar Niemeyer, Cândido<br />
Portinari e Roberto Burle Marx pra dar um toque de classe em sua residência<br />
e no Colégio Cataguases, desencadeando uma onda modernista que<br />
resultou numa série de edificações hoje tombadas pelo Iphan (Instituto do Patrimônio<br />
Histórico e Artístico Nacional). Também obras modernosas.<br />
Na virada do século vieram os centros culturais, que mantinham acesa<br />
aquela chama que fez de Cataguases uma cidade diferente, no interior do Brasil.<br />
Durou pouco, mas continua sendo cenário de filmes, que todo ano são<br />
rodados aqui, com atores vindos do Rio e locais, tendo se tornado polo<br />
cinematográfico, um tributo à memória de Humberto Mauro.<br />
Cataguases tem também o seu Flamengo, tradicional clube esportivo,<br />
uma Escola de Samba Portela, uma Mercearia Cinelândia e por muito tempo<br />
teve um bar chamado Café Carioca, no centro, agora na rodoviária.<br />
Texto prum restaurante de comida carioca que não deu certo aqui.
Para bom entendedor<br />
Quando Ziraldo apareceu, pensaram que fosse Geraldo e ele esclareceu<br />
na TV que é assim mesmo, com Zi em vez de Ge. E acrescentou: ‘Meu<br />
nome é Ziraldo Alves Pinto. Minha mãe entrou com o Alves’.<br />
Turma de estudantes de Milão. Entre eles, filho de sobrinha minha que<br />
mora lá. Crianças crescem e, como não o vejo há seis anos, não sei quem é, na<br />
foto. Pela semelhança com um tio dele, também sobrinho meu, deve ser o último,<br />
à direita, com um canudo dentro da calça, ali onde mora o perigo. A família<br />
(pai, mãe, dois moleques) se preparou antes, aprendendo a língua e obtendo<br />
cidadania italiana. Espero que o capetinha venha a ser um gran dottore,<br />
assim como duas filhas de outro sobrinho que também estudam lá perto, uma<br />
tendo começado nos States. E nos States sempre tem algum, agora os Soares<br />
estão ‘invadindo’ o território dos Sforza, Visconti e outras gangues milanesas,<br />
sendo que outra, bióloga, fez doutorado na Austrália, é a tal da Globalização.<br />
Na Austrália, disse ela, as coisas funcionam. Porque é país protestante,<br />
acrescentei. Adorou tudo e teve um filho lá, com seu amado brasileiro, que foi<br />
junto. Chato foi almoçar sanduíche na faculdade mas, em casa, fazia a janta.
Chita, chimpanzé<br />
dos<br />
filmes de<br />
Tarzan, morre<br />
aos 80 anos<br />
‘É com grande pesar que comunicamos a perda de um querido amigo e um membro<br />
da família em 24 de dezembro de 2011’, afirma o site do Santuário Suncoast<br />
Primate de Palm Harbor, na Flórida. Chita participou, entre outros, dos filmes<br />
Tarzan, o Homem Macaco (1932) e Tarzan e sua Companheira (1934), filmes<br />
clássicos que relatam as aventuras de um homem criado na selva e sua namorada<br />
Jane, protagonizados por Johnny Weissmuller e Maureen O'Sullivan. O chimpanzé,<br />
que chegou ao santuário em 1960, amava pintar com os dedos e assistir<br />
jogos de futebol americano. Ficava calmo ao ouvir músicas cristãs, afirmou ao<br />
jornal Tampa Tribune Debbie Cobb, diretor do Suncoast: ‘Ele sabia quando eu<br />
tinha um dia bom ou ruim. Sempre tentava fazer com que eu sorrisse se estivesse<br />
em um dia ruim. Era muito sintonizado com os sentimentos humanos’, comentou<br />
Cobb. Ron Priest, um voluntário que trabalha no santuário Suncoast, afirmou que<br />
Chita se destacava porque conseguia parar com as costas erguidas, como um<br />
humano, além de ter outros talentos. ‘Quando não gostava de alguém ou algo<br />
ruim acontecia, pegava parte de seus excrementos e lançava. Podia arremessar a<br />
quase nove metros através das barras de sua jaula’, recordou Priest.<br />
Outro macaco famoso foi Bonzo, que fazia dupla com Ronald Reagan, mais tarde<br />
presidente dos Estados Unidos por dois mandatos. Como ator, diziam que o macaco<br />
trabalhava melhor do que ele e, como presidente, o país cresceu a uma taxa média<br />
anual de 7,93%, mas a dívida pública quase triplicou. Comportou-se como o típico<br />
representante do Partido Republicano, de ultradireita, como o atual, Donald Trump.
Uma pobre-coitada<br />
Menino, eu a via saltar do trem com as irmãs, lá na roça, em visita a parentes.<br />
Décadas depois, aconteceu de a gente trabalhar na Assistência Social,<br />
eu, organizando uma biblioteca, ela, nos ‘serviços gerais’. Chegava às seis da<br />
manhã, a limpar todas as salas antes do pessoal ‘mais importante’ dar as caras,<br />
água fervendo na cozinha, pra ganhar tempo e o café sair na hora.<br />
Depois, a faxina externa, uma área cagada de pombos, outra, já cheia de<br />
assistidos que usavam um sanitário em que nem sempre davam descarga, chegando<br />
a fazer suas necessidades no chão, que ela limpava com nojo, até vomitou<br />
uma vez. Pausa de dez ao meio-dia, em casa, mas não almoçava, dizendo<br />
que preferia jantar. Na verdade, por falta de dinheiro. Sempre humilhada pelos<br />
colegas, até foi chamada de ‘perereca do brejo’ por um dos ‘importantes’. Já<br />
eu, dei umas coisas de casa que não me faziam falta e ela ficou contente.<br />
Não era mais pobre, por morar com irmãs em casa própria, herdada dos<br />
pais, e tinha um carro que bebia muita gasolina, trocado por moto, também<br />
antiga. O salário ia todo pra faculdade do filho, na área de saúde, razão por<br />
que à noite cuidava de um velho paralítico. Aos domingos, gostava de pescar.<br />
O carro, herdou do marido, não a pensão, que deve ter ido pra outra.<br />
Marido que batia nela, quando bêbado, num tempo em que algumas<br />
aceitavam isso passivamente. Antes, a mãe também batia, pelo hábito da moça<br />
ter mais de um namorado – isso ela contava rindo. Aquele emprego, conseguiu<br />
por intermédio de algum político e fez o concurso da prefeitura, sem passar.<br />
Se passasse ou aquela equipe continuasse por mais um mandato, o filho formado,<br />
ela teria finalmente uma vida tranquila. Não deu, pois é. Caiu na rua e<br />
quebrou um braço, voltou da licença e logo foi impedida por um AVC fatal.<br />
Os que a humilhavam devem estar bem colocados.<br />
Criança, eu soube de praia fluvial<br />
em Belzonte e queria uma aqui.<br />
Aí soube que deu caramujo e foi fechada.<br />
E Teresina tem a sua, que<br />
atende pelo nome de Potycabana.<br />
Se tem caramujo, não sei, só que<br />
deu merda, como se vê na foto.<br />
● ● ●
Urnas & outras<br />
Bismarck disse que política é a arte do possível. No Brasil, do tudo é possível,<br />
até candidato cheio de processos ocupar o poder.<br />
Problema de segurança nacional é quando o presidente agarra sua secretária.<br />
Kennedy e Clinton passaram por isso.<br />
<br />
No que a Coca-Cola foi lançada em Portugal, pediram a Fernando Pessoa<br />
pra anunciar o produto. E o poeta sintetizou:<br />
Primeiro, estranha-se; depois, entranha-se.<br />
Mensagem perfeitamente inteligível num país que lê vinte vezes mais<br />
que sua ex (hoje dos States) colônia. Pra começo de conversa, basta dizer que<br />
aqui a maioria da população deve estranhar o verbo ‘entranhar’.<br />
<br />
Duas boas, contadas por Eric Nepomuceno.<br />
Certa vez, estava ele nos Estados Unidos e resolveu visitar a casamuseu<br />
de Walt Witman. O guia ficou satisfeito, até porque quase ninguém ia<br />
mais lá, acrescentando que na véspera estivera apenas um casal sul-americano,<br />
que Eric identificou no livro de presença: María Kodama e Jorge Luis Borges.<br />
Confere: Borges era fã de Witman.<br />
Num congresso ou coisa assim, em Barcelona, estava Joan Miró, o pintor<br />
mais conhecido e conceituado nascido na cidade. Enquanto ouvia o falatório,<br />
rabiscava num bloco de notas (também confere: trabalhei com desenhistas<br />
no Rio e alguns tinham o hábito de rabiscar papel, até pra explicar o que não<br />
conseguiam expressar com palavras). Ao final da sessão, o secretário do pintor<br />
rasgou os rabiscos um por um e jogou na lixeira. Poderiam despertar a cobiça<br />
de algum aventureiro (eu, inclusive, estivesse lá), melhor se precaver.<br />
<br />
Sobre Borges, Paulo Fialho disse que o viu numa livraria de<br />
Buenos Aires, cego, guiado por um negrinho. A propósito, Paulo me<br />
deu a obra poética completa dele, que li, mas tem um porém: durante a<br />
leitura, vez ou outra um tango ou bolero se apossavam das palavras,<br />
azar de quem os ouviu antes. João Cabral (amigo de Miró) tinha em<br />
alta conta a poesia espanhola, mas João não ouvia música.
Poemeu política e sexualmente incorreto<br />
Millôr Fernandes<br />
Tá bem, querida,<br />
eu não te paquero<br />
porque paquerar agora é crime,<br />
é assédio, que palavra.<br />
Mas se teu pai não paquerasse,<br />
com licença da expressão,<br />
a tua mãe,<br />
você não ia se queixar<br />
porque, olha aqui,<br />
você nem era.<br />
◄ O Manequinho na Cinelândia,<br />
RJ, de onde foi retirado em<br />
1910 por atentado ao pudor.<br />
Mandaram-no lá pros cafundós<br />
de Botafogo, área ainda pouco<br />
habitada, e mais tarde virou<br />
mascote do time (que construiu<br />
seu estádio no pedaço), no qual<br />
vestiam a camisa alvinegra,<br />
sempre que ganhava um título.<br />
Nessas ocasiões, seus torcedores<br />
ofereciam churrasco aos passantes<br />
a semana inteira. Simpáticos.
Frases de autoajuda<br />
Cada um se autoajuda como gosta e aí vão algumas dicas de George<br />
Bernard Shaw (1856-1950) que podem ajudar a quem tem mentalidade acima<br />
do padrão TV Globo. Shaw nasceu quando ainda não se conhecia a dinamite e<br />
morreu quando já se conhecia a bomba atômica. Ou seja, entrou no mundo no<br />
tempo das diligências e saiu na era do avião a jato. Como bom irlandês, suas<br />
ideias também eram explosivas, sempre combatendo a injustiça, a mediocridade,<br />
a estupidez. Millôr o respeitava como se respeita um mestre. Li peças de<br />
teatro e outros escritos seus, tudo muito bom. Antes das frases que selecionei,<br />
lembro que, sobre Estados Unidos e Inglaterra, ele disse que são dois países<br />
separados pela mesma língua. Vale dizer igual sobre Portugal e Brasil.<br />
E outras, como quando uma dama casada lhe cantou, por telegrama:<br />
‘Mistress fulana de tal avisa que estará em casa, certo dia, hora tal’. Resposta:<br />
‘Mister George Bernard Shaw também’. E a famosa dançarina Isadora Duncan<br />
lhe pediu um filho, dizendo que seria ideal uma criança dotada da beleza dela<br />
e da inteligência dele. Resposta: ‘O problema é que a criança pode nascer com<br />
a minha beleza e a sua inteligência’. Abaixo, a dita seleção:<br />
▪ Inocente é aquele que não foi apanhado em flagrante.<br />
▪ O especialista é um homem que sabe cada vez mais sobre cada vez menos, e<br />
por fim acaba sabendo tudo sobre nada.<br />
▪ O homem razoável se adapta ao mundo; o irascível tenta adaptar o mundo a<br />
si próprio. Assim, o progresso depende do homem irascível.<br />
▪ A reputação de um médico se faz pelo número de pessoas famosas que morrem<br />
sob seus cuidados.<br />
▪ A minha maneira de brincar é dizer a verdade.<br />
▪ Uma boa esposa é um grande consolo para o homem em todos os contratempos<br />
e dificuldades, que ele nunca haveria de ter se tivesse continuado solteiro.<br />
▪ O silêncio é a mais perfeita expressão do desprezo.<br />
▪ Presume-se que a mulher deve esperar, imóvel, até ser cortejada. Mais ou<br />
menos como a aranha espera a mosca.<br />
▪ A dança: uma expressão perpendicular de um desejo horizontal.<br />
▪ Todas as grandes verdades começam como blasfêmias.<br />
▪ Quem sabe faz. Quem não sabe ensina.
Orson Welles no Brasil, um episódio<br />
Nove horas do dia <strong>14</strong> de setembro de 1941. Quatro jangadeiros, Jacaré,<br />
Jerônimo, Tatá e Mané Preto, partem da Praia do Peixe, em Fortaleza, para<br />
realizar um dos maiores feitos da náutica brasileira: navegar em uma jangada<br />
até o Rio de Janeiro, então capital federal, para pedir ao presidente Getúlio<br />
Vargas direitos sociais para os 35 mil jangadeiros do Ceará.<br />
A bordo da jangada São Pedro, não levavam consigo nada que não fosse<br />
o próprio conhecimento, nenhum instrumento de navegação, bússola ou<br />
carta náutica. Eram apenas quatro homens e uma jangada. Como numa novela,<br />
o país acompanhou pelas rádios e jornais todo o desenrolar da aventura dos<br />
jangadeiros. Pouco mais de dois meses e 1650 milhas náuticas depois, navegando<br />
predominantemente com ventos e correntes contrários, chegaram triunfantes<br />
à Baía de Guanabara, a população aglomerada para recebê-los.<br />
Getúlio não poderia deixar de fazer o mesmo, dada a popularidade alcançada<br />
pelos jangadeiros. Já o almejado direito à aposentadoria só viria 30<br />
anos depois. Na rota da São Pedro, contudo, cruzou-se uma outra: a do cineasta<br />
Orson Welles, um dos maiores nomes do cinema mundial. Hollywood<br />
havia encomendado a Welles um documentário sobre o Brasil, como parte do<br />
esforço norte-americano de atrair Getúlio à esfera aliada na Segunda Guerra.<br />
Welles havia lido uma reportagem a respeito da travessia dos jangadeiros<br />
na revista Time e se encantou com o assunto, que virou um dos episódios<br />
do seu célebre e inacabado documentário É Tudo Verdade. Sua vinda para o<br />
Brasil, a temporada no Ceará, o temperamento expansivo e despojado do ‘galegão’<br />
foram marcantes e resultaram num dos mais belos registros visuais do<br />
cotidiano dos jangadeiros do Nordeste: o episódio Four Men on a Raft, uma<br />
montagem post-mortem das cenas filmadas por Welles, disponível no YouTube,<br />
um filme que vale a pena assistir. São 46 minutos de pura poesia visual.
O filme inacabado de Welles conferiu notoriedade e repercussão à travessia<br />
da São Pedro e à causa dos jangadeiros, mas cobrou um alto preço. Nas<br />
refilmagens da chegada ao Rio de Janeiro, em maio de 1942, um acidente<br />
com a jangada derruba os homens ao mar. Apesar de exímio nadador, Jacaré<br />
desaparece nas águas revoltas. Seu corpo jamais foi encontrado. (do Google)<br />
•<br />
Mais uma disparada gay tomou conta de São Paulo, com ares de ser a maior<br />
do mundo. Tudo bem, São Paulo é maior em tudo. E isso tudo me lembrou<br />
uma edição do Pasquim de 1971, eis a capa, pra quem não conhece:<br />
As vendas iam mal em São Paulo, alguém teve a ideia dessa capa e o Pasquim<br />
bombou (pra usar gíria atual) nas bancas de lá. Tem uma entrelinha aí,<br />
de forma que a frase completa é TODO PAULISTA QUE NÃO GOSTA<br />
DE MULHER É BICHA. Uma aula de marketing bem-humorada, como<br />
todas as aulas deveriam ser. E o Pasquim era mais que humor, também um<br />
guia seguro até de alta cultura, sem o ranço acadêmico dos suplementos<br />
literários, que incluem o despreparo intelectual de jornalistas inaptos.