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as de arcar com as passagens (de ida e<br />
volta) e a estada, fazendo o percurso que<br />
fizemos. Saímos – eu e Sílvia Batista – de<br />
Belo Horizonte a São Paulo, onde embarcamos<br />
para Madri. Tomamos outro avião e<br />
fomos para Pamplona. Lá alugamos um<br />
táxi rumo a Saint-Jean, de onde iniciamos<br />
a caminhada no dia seguinte.<br />
Não há um dia sequer<br />
em que não recordamos<br />
algo relativo<br />
à trilha de<br />
Santiago. A gente sai<br />
do Caminho, mas o<br />
Caminho nunca<br />
mais sai da gente.<br />
Para quem gosta<br />
desse tipo de experiência,<br />
imagina estar<br />
hoje em um lugar<br />
e no dia seguinte<br />
UM BOM LUGAR PARA REZAR<br />
noutro e assim por diante, conhecendo<br />
paisagens novas, gentes diferentes, curtindo<br />
passo a passo, respirando ares do<br />
campo e ouvindo o canto melodioso de<br />
passarinhos.<br />
Imagina a possibilidade de ouvir o silêncio<br />
pelas trilhas e de estar sozinho consigo<br />
mesmo tendo a oportunidade de refletir,<br />
penetrar o recôndito do seu imo.<br />
Tendo o cuidado de sempre seguir as setas<br />
amarelas. O Caminho é comparável a<br />
um curso superior com aulas ao vivo, lições<br />
carregadas de emoção, aventura, espiritualidade,<br />
misticismo, magia, filosofia,<br />
poesia, que nenhuma escola convencional<br />
seria capaz de ministrar.<br />
Evidentemente, o peregrino, pois esta é<br />
a denominação de quem inicia o Caminho,<br />
já sai do Brasil com uma credencial própria<br />
e um roteiro. Os caminhos são vários.<br />
Fizemos a primeira vez em 2001, o Aragonês,<br />
saindo de Burgos, antiga capital<br />
espanhola, e andamos 500 quilômetros<br />
em 17 dias. Nosso tempo era curto. No<br />
ano seguinte voltamos para fazer o Caminho<br />
Francês todo, mais de 800 quilômetros,<br />
em 25 dias.<br />
O mais caro da viagem são as passagens<br />
de ida e volta. Durante o percurso, o<br />
peregrino poderá gastar o dinheiro que tiver<br />
optando por ficar em hotéis ou senão<br />
em albergues públicos<br />
e privados pagos,<br />
além de hosteis. No<br />
nosso caso, ficamos<br />
em hotéis e albergues.<br />
A concepção de<br />
albergue lá é bem diferente<br />
da que temos<br />
por aqui. Os albergues<br />
espanhóis são<br />
confortáveis e relativamente<br />
baratos.<br />
Tanto é que há quem<br />
busque o Caminho até para “fazer turismo<br />
barato”.<br />
Passaram-se 16 anos quando fizemos<br />
o Caminho todo, mas posso assegurar, no<br />
trajeto de tradição milenar nada mudou.<br />
Ao que sabemos, a infraestrutura melhorou<br />
ainda mais. A estabilidade do euro<br />
garante os preços. Gastamos ao todo R$<br />
12 mil – passagens, comida, bebida (vinho<br />
tinto seco), hospedagem – em cada viagem,<br />
vivendo com razoável conforto. Mas<br />
não sabíamos o que nos aguardava logo<br />
no início, subindo os Pirineus, resumidamente<br />
será contado mais adiante.<br />
Antes de empreender a caminhada,<br />
convém o interessado pesquisar bem,<br />
agora com as facilidades da internet, e<br />
passar por uma preparação física. E a melhor<br />
delas é caminhar. Academia ajuda,<br />
mas não é a melhor opção. Nós descobrimos<br />
isso depois de fazermos a primeira<br />
experiência. Entramos para uma academia.<br />
Mas, devíamos ter feito o que fizemos<br />
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AGOSTO DE 2018 • MATERIAPRIMAREVISTA.COM.BR