É DESSE JEITO MULHERES COBRAM TAXA DO SEXO DE MARIDOS PREGUIÇOSOS MAIS DE 30 MIL MULHERES UGANDESAS EXIGEM QUE OS HOMENS IRRESPONSÁVEIS – QUE NÃO CONTRIBUEM PARA AS DESPESAS – PAGUEM SE QUISEREM TER RELAÇÕES SEXUAIS 38 AGOSTO DE 2018 • MATERIAPRIMAREVISTA.COM.BR
DULCE NETO O movimento da “taxa do sexo” está dividindo Uganda, onde não há sexo grátis Pode uma mulher exigir do marido que lhe pague se ele quiser ter sexo com ela? “Não”, diz o ministro da Ética e da Integridade do Uganda, o reverendo Simon Lokodo: “Ter sexo com a esposa é um direito do homem”. O governante, citado pelo jornal nigeriano Pulse, argumenta que “negar sexo a um marido é injusto. Porque é que as mulheres terão que cobrar pelo sexo para ter benefícios econômicos? Essa prática mostra como a moral tem descido tanto”. “Sim”, diz Tina Musuya, diretora executiva do Centro de Prevenção da Violência Doméstica no mesmo país. A ativista pelos direitos das mulheres sustenta, em declarações à revista digital norte-americana OZY: “Se os homens são irresponsáveis e se é a única maneira de as mulheres conseguirem ter dinheiro deles para gerir a casa, então deixem que elas cobrem pelo sexo. Injusto é pensar que uma mulher pode gostar de ter sexo com o marido que não paga as contas”. A verdade é que mais de 30 mil mulheres ugandesas viram na “taxa do sexo” uma solução para um problema que as atinge: o de os maridos serem preguiçosos, não trabalharem ou então gastarem tudo o que ganham em álcool e com outras mulheres sem contribuírem para as despesas da casa e da família. GRANA OU ABSTINÊNCIA. 150 mulheres exigiram dinheiro – cerca de R$ 30 – para terem relações sexuais com os maridos. O número de mulheres cresceu para cinco mil em 2016 e tornou-se numa estratégia que alastrou e dividiu o país. Se as mulheres e as organizações de direitos humanos a defendem, o mesmo não se pode dizer dos ministros e dos líderes religiosos que a consideram “imoral” e “nada religiosa”. Só que o gesto parece estar contribuindo para o aumento da violência doméstica, galopante em Uganda, tendo já havido registro de mortes. Os homens que não querem pagar para ter sexo com as mulheres, simplesmente as espancam. Foi o que aconteceu com Philipe Byabasaija, empregado de loja, citado pela OZY: “Isso é estúpido. Como é que a minha mulher me pode exigir dinheiro?” Quando a mulher exigiu, ele agrediu a esposa e ela desistiu da ideia. GRANA E COLABORAÇÃO. Outros homens tiveram atitudes diferentes, não só pagando como aceitando partilhar tarefas domésticas. O marido de Beatrice Atim, vendedora no mercado, que saía para o trabalho sem lhe deixar dinheiro para as despesas, aceitou pagar R$10 para transar com ela. “Ele não discute porque sabe que o dinheiro é para ser usado na casa”, diz Beatrice. Já a professora de 34 anos, Annet Nanozi, zangada com o marido, um mecânico de automóveis que deixara de pagar a comida da família e gastava o salário em álcool e para dormir com garçonetes, decidiu seguir o mesmo caminho. Agora o marido Tem que soltar a granao se quer ter relações sexuais com ela. Thomas Owori, taxista, seguiu um processo mais lento. Primeiro recusou-se a pagar à mulher e até a esbofeteou quando ela o exigiu. Mas aos poucos acabou por entender suas razões e cedeu. Agora, paga R$ 20 sempre que quer ter sexo com ela. ECONOMIA │ POLÍTICA │ ESPORTES │ HUMOR │ CULTURA 39