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Chicos 57 - 21.06.2019

Chicos é uma e-zine que circula apenas pelos meios digitais. A linha editorial é fundamentalmente voltada para a literatura dos cataguasenses, mas aberta ao seu entorno e ao mundo. Procura manter, em cada um dos seus números, uma diversidade temática.

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<strong>Chicos</strong><br />

best-seller; vestir-se com calças e camisolas<br />

prepotentemente na moda; ter relações obsessivas<br />

com mulheres postas de lado como<br />

meros adornos, mas, ao mesmo tempo, com<br />

a pretensão de que são «livres» etc. etc. etc.:<br />

tudo isto são actos culturais. Hoje, todos os<br />

jovens italianos cumprem estes mesmo actos,<br />

têm a mesma linguagem física, são permutáveis;<br />

uma coisa velha como o mundo, se estiver<br />

limitada a uma classe social, a uma categoria:<br />

mas o facto é que estes actos culturais<br />

e esta linguagem somática são interclassistas.<br />

Numa praça repleta de jovens, já<br />

ninguém poderá distinguir, pelo corpo, um<br />

operário de um estudante, um fascista de um<br />

antifascista; algo que ainda era possível em<br />

1968.<br />

Os problemas de um intelectual pertencente<br />

à intelligentsia são diferentes dos de um<br />

partido e de um homem político, ainda que a<br />

ideologia seja a mesma. Gostaria que os<br />

meus actuais opositores de esquerda compreendessem<br />

que estou em condições de dar-me<br />

conta que, caso o Progresso sofresse detenção<br />

e tivesse uma recessão, se os Partidos de<br />

Esquerda não apoiassem o Poder vigente, a<br />

Itália simplesmente se desmantelaria; se pelo<br />

contrário, o Progresso continuasse tal como<br />

começou, seria indubitavelmente realista o<br />

chamado «compromisso histórico», o único<br />

modo para tentar corrigir esse Progresso no<br />

sentido indicado por Berlinguer na sua relação<br />

com o CC do partido comunista (cfr.<br />

«l’Unità », 4-6-1974). Todavia, como a Maurizio<br />

Ferrara não competem as «caras», a<br />

mim não compete esta manobra de prática<br />

política. Aliás, eu tenho, quando muito, o<br />

dever de exercitar sobre ela a minha crítica,<br />

quixotescamente e talvez de maneira extrema.<br />

Quais são, então, os meus problemas?<br />

Eis um, por exemplo. No artigo que suscitou<br />

esta polémica («Corriere della sera», 10-6-<br />

1974) lia-se que os reais responsáveis pelos<br />

atentados de Milão e de Brescia (3) são o<br />

governo e a polícia italiana: porque se o governo<br />

e a polícia tivessem querido, estes<br />

atentados não teriam tomado lugar. É um<br />

lugar comum. Pois bem, por esta altura vão<br />

fazer pouco de mim se disser que os responsáveis<br />

destes atentados somos também nós<br />

progressistas, antifascistas, homens de esquerda.<br />

De facto, em todos estes anos não<br />

fizemos nada:<br />

1) para que falar de «atentados de Estado»<br />

não se tornasse num lugar comum e que ficasse<br />

por ali;<br />

2) (e mais grave) não fizemos nada para que<br />

os fascistas não existissem. Apenas os condenámos<br />

gratificando a nossa consciência com<br />

a nossa indignação; e quanto mais forte e<br />

petulante era a indignação, mais tranquila<br />

estava a nossa consciência.<br />

Na verdade, comportámo-nos com os fascistas<br />

(falo sobretudo dos jovens) de maneira<br />

racista: quisemos apressada e impiedosamente<br />

acreditar que eles estavam predestinados<br />

racialmente a serem fascistas e, perante esta<br />

decisão do destino deles, não havia nada a<br />

fazer. E não o escondamos: todos sabíamos,<br />

no fundo da nossa consciência, que quando<br />

um daqueles jovens tomava a decisão de tornar-se<br />

fascista, era puramente casual, não era<br />

um gesto desmotivado ou irracional: talvez<br />

tivesse bastado uma só palavra para que isso<br />

não tivesse acontecido. Mas nenhum de nós<br />

falou com eles ou a eles. Aceitámo-los imediatamente<br />

como representantes inevitáveis<br />

do mal. E talvez fossem rapazes e raparigas<br />

adolescentes nos seus dezoito anos, que não<br />

sabiam nada de nada, e atiraram-se de cabeça<br />

nesta horrenda aventura por simples desespero.<br />

Mas não conseguíamos distingui-los dos outros<br />

(não digo dos outros extremistas: mas de<br />

todos os outros). É esta a nossa aterradora<br />

justificação.<br />

O padre Zósima (a literatura pela literatura!)<br />

soube de imediato distinguir, entre todos<br />

aqueles que se amontoavam na sua cela,<br />

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