Sapeca 17

No rastro de Catarina Zauza
Parece título de romance e, se alguém quiser se habilitar, boa escrita.
O caso é que, de posse da data do falecimento da dita senhora, Fernando
Moreira foi ao arquivo público procurar em jornal da época a nota relativa
ao infausto desfecho. Achou e copiou ali mesmo, à mão, uma notinha
de poucas linhas, afinal, tratava-se de uma teúda e manteúda e, como diria
Stanislaw Ponte Preta, ‘por uma perereca o mangue não põe luto’.
Com o tempo, ela ganhou importância, sendo hoje o nome de mulher
mais pronunciado no cotidiano cataguasense, ao lado de Haidée Fajardo,
Imê Farage, Isabel Tavares, Ana Carrara, e por aí vai. O nome: Chácara
Dona Catarina, que o povo chama de Praça da Catarina, até da Catarina
Couto. Ali ela reinou durante décadas, segundo Francisco Marcelo Cabral,
em meio a um luxo nunca visto por estas bandas. Em termos locais, algo
como o parque e palácio construídos no Rio pelo armador (‘peguei um Ita
no Norte’) Henrique Lage, pra cantora lírica Gabriela Bezanzoni, italiana
como a outra. E fez mais: deu a ela também a Ilha do Sol, onde, mais tarde,
Luz del Fuego andaria pelada feito Eva no paraíso, enrolada em serpentes.
O óbito da Catarina ocorreu em 1961 e me lembro vagamente de ter
visto uma velha senhora admirando o antigo jardim. No papo, Fernando me
disse que, ao ser trazida pelo coronel João Duarte, Catarina trouxe em seu
séquito quatro italianas, uma delas, mãe de Isidro, o do Hotel Villas. Outra
casou-se com milionário e deixou uma fortuna em ações que muito ajudaram
na construção do novo hospital. Das outras, não tive notícia.
Em contrapartida, informei a Fernando a existência de uma família
Zauza na Vila Domingos Lopes, sendo que um dos netos se casou com minha
sobrinha Luciana. Fomos lá e ficamos sabendo que são outros Zauza e
tem mais descendentes em Rodeiro, nada tendo a ver com a dita cuja. Assim
como eu tenho nada a ver com a cantora Elza Soares, embora tenha
uma irmã com o mesmo nome. Coincidências, apenas.
Resumo da ópera: já não se produzem amores arrebatados como os de
antigamente, que incluíam mansões, ilha, joias, pedras preciosas, que podiam
terminar em páginas de romances. E fortunas destinadas a hospitais.