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12 PCP<br />

23-2-2017<br />

Foto LUSA<br />

Centenário de Lino Lima<br />

Exemplo de combatividade e co<br />

Novo Banco<br />

e CGD<br />

O PCP respondeu a questões colocadas por diversos<br />

órgãos de comunicação social acerca da decisão do Banco<br />

de Portugal de seleccionar a Lone Star para uma fase<br />

definitiva de negociações, em condição de exclusividade,<br />

com vista à venda do Novo Banco, reafirmando<br />

desde logo aquela que é uma posição de fundo: «a venda<br />

do Novo Banco, um dos maiores bancos nacionais<br />

em actividade, constituirá, a concretizar-se, uma decisão<br />

contrária ao interesse nacional.»<br />

No caso concreto da Lone Star, o Partido lembra a sua<br />

associação a fundos de investimento e à actividade especulativa,<br />

o que é particularmente grave tendo em conta<br />

o facto de o Estado ter sido comprometido com «avultados<br />

recursos públicos no processo de Resolução (4,9<br />

mil milhões de euros)». A ir por diante, tal decisão deixaria<br />

caminho livre para uma «reestruturação» do banco<br />

com prejuízo dos seus trabalhadores e da sua actividade,<br />

bem como à preparação da sua venda pelos novos<br />

donos em condições favoráveis aos seus interesses e<br />

apenas a eles. O PCP aproveitou a ocasião para reafirmar<br />

a defesa da manutenção do Novo Banco sob controlo<br />

público, de forma a poder ser colocado «ao serviço<br />

do desenvolvimento económico do País».<br />

No mesmo dia 20, o Gabinete de Imprensa do PCP<br />

emitiu um esclarecimento sobre uma peça transmitida<br />

no espaço noticioso da Antena 1 que deturpava o sentido<br />

das declarações do Secretário-geral do PCP acerca<br />

da eventual entrada em funções de uma nova comissão<br />

parlamentar de inquérito à Caixa Geral de Depósitos.<br />

Ora, garante-se no comunicado, a atribuição a Jerónimo<br />

de Sousa da ideia de que o PCP «poderia impedir a entrada<br />

em funcionamento» da referida comissão é «abusiva<br />

e desprovida de fundamento». O que se retira das<br />

declarações do Secretário-geral do Partido, editadas na<br />

referida peça, é não só a referência à importância das<br />

comissões de inquérito como a ideia de que esta, «como<br />

quaisquer outras comissões, tem de ser avaliada pela<br />

conformação constitucional que cada uma deve assumir<br />

quanto a conteúdos e objectivos».<br />

S. Pedro da Cova<br />

Depois de a Procuradoria-Geral Distrital do Porto ter<br />

divulgado a acusação, pelo Ministério Público, de seis<br />

arguidos no processo de deposição dos resíduos perigosos<br />

em S. Pedro da Cova, o PCP emitiu uma nota na<br />

qual defende que o «apuramento total de responsabilidades<br />

neste processo não pode ser desligado de responsabilidade<br />

políticas». Para a Direcção da Organização<br />

Regional do Porto do Partido, a dimensão do problema<br />

e o prejuízo causado às populações exige que sejam responsabilizados<br />

todos quantos contribuíram para esta situação,<br />

nomeadamente a nível autárquico e governativo.<br />

O PCP, que há muito vem denunciando o «crime» e o<br />

«grave problema ambiental» em São Pedro da Cova, reafirma<br />

a exigência da remoção total dos resíduos perigosos<br />

e a compensação da população, ao mesmo tempo<br />

que saúda a intervenção da Junta de Freguesia de Fânzeres<br />

e São Pedro da Cova de avançar com um pedido<br />

de indemnização civil. Renovando o seu compromisso<br />

de continuar a intervir até que a remoção dos resíduos<br />

esteja concluída, a DORP realça que a decisão da Procuradoria<br />

confirma a «justeza» das reivindicações do PCP<br />

e da população.<br />

Cem anos passados sobre o seu nascimento, o<br />

Avante! recorda Lino Lima, destacado militante<br />

comunista do distrito de Braga, resistente<br />

antifascista e entusiástico construtor do Portugal<br />

democrático.<br />

Lino de Carvalho Lima<br />

nasceu a 21 de Fevereiro<br />

de 1917 no Porto e licenciou-se<br />

em Direito pela<br />

Universidade de Coimbra,<br />

mas foi no concelho de Vila<br />

Nova de Famalicão (onde<br />

se fixou como advogado)<br />

e, de modo mais geral,<br />

no distrito de Braga que se<br />

afirmou como um destacado<br />

activista da oposição democrática<br />

e um dedicado<br />

militante do Partido Comunista<br />

Português.<br />

Como muitos outros jovens<br />

da sua geração que<br />

despertaram para a vida<br />

adulta na década de 30 do<br />

século XX, em pleno período<br />

de consolidação do<br />

fascismo em Portugal, as<br />

esperanças criadas pela vitória<br />

da Frente Popular em<br />

Espanha e o repúdio pelo<br />

desencadeamento da Guerra<br />

Civil tiveram um forte<br />

impacto em Lino Lima, que<br />

cedo tomou uma firme posição<br />

face às exigências do<br />

seu tempo: é ainda enquanto<br />

estudante em Coimbra,<br />

onde foi um participante<br />

activo nos inúmeros<br />

e animados debates travados<br />

com alguns dos que seriam<br />

mais tarde consagrados<br />

intelectuais portugueses,<br />

que aceitou o convite<br />

que lhe foi dirigido para<br />

aderir ao PCP, no qual militou<br />

até ao fim da sua vida.<br />

As suas primeiras tarefas,<br />

clandestinas, foram em<br />

Vila do Conde e Póvoa do<br />

Varzim, no acompanhamento<br />

às respectivas organizações<br />

partidárias. Mas<br />

estas seriam interrompidas<br />

em Dezembro de 1944 por<br />

aquela que foi a primeira<br />

das suas quatro prisões.<br />

Após a sua libertação, em<br />

1945, abrangido pela amnistia<br />

concedida em sequência<br />

do fim da Segunda<br />

Guerra Mundial, Lino<br />

Lima destacou-se sobretudo<br />

em tarefas «legais» e<br />

«semilegais», participando<br />

até ao 25 de Abril de<br />

1974 nas diversas estruturas<br />

unitárias de oposição<br />

ao fascismo e defendendo,<br />

na qualidade de advogado,<br />

muitos presos políticos.<br />

Nesse ano de 1945, dada<br />

a situação em que o fascismo<br />

se encontrava fruto<br />

da derrota dos seus aliados<br />

ideológicos na guerra,<br />

havia condições inéditas<br />

para colocar abertamente<br />

Lino Lima<br />

aderiu ao PCP<br />

em 1941<br />

na ordem do dia a exigência<br />

de democracia e liberdade.<br />

Do clandestino MU-<br />

NAF, por onde Lino Limo<br />

fez uma breve passagem,<br />

nasceu o Movimento de Unidade<br />

Democrática (MUD),<br />

reclamando e aspirando à<br />

legalidade. Lino Lima integrou<br />

a Comissão Distrital<br />

de Braga e inseriu-se no<br />

esforço geral pelo efectivo<br />

reconhecimento da legalidade<br />

do movimento.<br />

Mas em 1948, já sustentado<br />

internacionalmente<br />

por norte-americanos e britânicos,<br />

que no ano seguinte<br />

colocariam Portugal no<br />

núcleo restrito de 12 países<br />

fundadores da NATO,<br />

Salazar ilegalizou o MUD,<br />

ao mesmo tempo que intensificava<br />

a repressão e a<br />

dirigia, uma vez mais, preferencialmente<br />

contra os<br />

comunistas.<br />

Pão, liberdade e paz<br />

Lino Lima permanece como um dos mais destacados<br />

militantes comunistas do distrito de Braga<br />

Ilegalizado o MUD, a<br />

oposição democrática reuniu-se<br />

em torno da candidatura<br />

presidencial do General<br />

Norton de Matos<br />

que, e à semelhança do<br />

que sucedia no MUNAF e<br />

no MUD (que lhe serviram<br />

de suporte) reunia comunistas,<br />

socialistas, republicanos,<br />

católicos, monárquicos<br />

liberais e muitos<br />

homens, mulheres e jovens<br />

sem partido. Em<br />

1948 e 1949, Lino Lima<br />

integrou a Comissão Distrital<br />

de Braga da candidatura<br />

do general, que acabou<br />

por não se apresentar<br />

a votos por falta de condições<br />

mínimas de legalidade<br />

e transparência. Os<br />

grandes comícios da candidatura,<br />

e especialmente<br />

o do Centro Hípico do<br />

Porto, expressaram o forte<br />

clamor popular de liberdade,<br />

democracia e independência<br />

nacional.<br />

Nos anos seguintes, Lino<br />

Lima esteve entre os dirigentes<br />

distritais do recémcriado<br />

Movimento Nacional<br />

Democrático (MND),<br />

que congregava os sectores<br />

mais combativos e coerentes<br />

da oposição ao fascismo<br />

e manteve acesa a luta<br />

pelas aspirações democráticas<br />

mais consequentes.<br />

Em 1951, integrou a Comissão<br />

Central da candidatura<br />

do dirigente do<br />

MND, Ruy Luís Gomes, à<br />

Presidência da República.<br />

Muito embora não tenha<br />

sido aceite pelas autoridades<br />

e tenha enfrentado<br />

desde o início a violência<br />

da repressão, a candidatura<br />

de Ruy Luís Gomes deu<br />

azo a importantes acções<br />

políticas em torno das exigências<br />

de «pão, liberdade<br />

e paz».<br />

Presença assídua nas<br />

comissões de candidatura<br />

ou em realizações da oposição<br />

democrática no distrito<br />

de Braga, Lino Lima<br />

escreveu, com Vítor de Sá,<br />

o manifesto dos candidatos<br />

bracarenses às «eleições»<br />

de 1957, para deputados<br />

à Assembleia Nacional,<br />

e o manifesto «Aos<br />

Portugueses», de 31 Janeiro<br />

de 1959, no qual defendia<br />

expressamente a<br />

demissão de Salazar.<br />

Autor de importantes artigos<br />

e relatórios sobre temas<br />

económicos e sociais<br />

e participante em colóquios<br />

e congressos vários,<br />

Lino Lima fez ainda parte,<br />

nos anos 70, da Comissão<br />

Regional de Braga de Socorro<br />

aos Preços Políticos,<br />

da Comissão Distrital do<br />

Movimento Democrático<br />

Português e da Comissão<br />

Nacional do III Congresso<br />

da Oposição Democrática,<br />

realizado em Abril de<br />

1973 na cidade de Aveiro.<br />

Este congresso, em<br />

que participaram 1500 democratas<br />

e foram apresentadas<br />

mais de 200 teses,<br />

culminou numa grande<br />

manifestação cujo impacto<br />

nem a mais feroz repressão<br />

conseguiu abafar.<br />

Revolução<br />

e contra-revolução<br />

Com a Revolução, Lino<br />

Lima esforçou-se de imediato<br />

por contribuir para a<br />

implantação do Partido em<br />

Vila Nova de Famalicão e<br />

no distrito de Braga nas<br />

novas condições de legalidade.<br />

Os primeiros centros<br />

de trabalho do Partido em<br />

Famalicão resultaram em<br />

grande medida do seu empenhamento.<br />

Na vaga terrorista<br />

de 1975, Lino Lima<br />

revelou uma vez mais<br />

toda a sua coragem e têmpera<br />

revolucionária – quer<br />

na resistência ao cerco imposto<br />

pelos reaccionários<br />

ao Centro de Trabalho de<br />

Famalicão, de 31 de Julho<br />

para 1 de Agosto de<br />

1975, quer na retirada organizada<br />

dos militantes do<br />

edifício, sob o comando<br />

do MFA. Tempos depois<br />

seria o seu próprio escritório<br />

de advocacia a ser vandalizado.<br />

Entretanto, tinha já sido<br />

nomeado pelo primeiro<br />

Governo Provisório para a<br />

Comissão que elaborou a<br />

lei eleitoral para a Assembleia<br />

Constituinte, para a<br />

qual foi ele próprio eleito<br />

pelas listas do PCP no distrito<br />

de Braga. Foi deputado<br />

do PCP sucessivamente<br />

até 1985.<br />

Em 1996, foi homenageado<br />

pela Câmara Municipal<br />

da sua terra de<br />

adopção, a já então cidade<br />

de Vila Nova de Famalicão,<br />

e pelo Presidente da<br />

República, que o agraciou<br />

com a Grã-Cruz da Ordem<br />

do Infante. Morreu em<br />

1999.

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