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26 INTERNACIONAL<br />
23-2-2016<br />
Foto LUSA<br />
Em bombardeamentos efectuados na Síria<br />
Pentágono usou urânio<br />
Terrorismo de classe<br />
Depois de uma fuga<br />
de informações, na<br />
semana passada,<br />
ter revelado planos da<br />
administração para recorrer às<br />
forças armadas para deportar até<br />
seis milhões de imigrantes, dois<br />
memorandos da Casa Branca<br />
confirmaram, esta terça-feira, a<br />
gravidade das suspeitas: de agora<br />
em diante, qualquer imigrante não<br />
documentado pode ser<br />
sumariamente deportado desde<br />
que seja considerado «suspeito».<br />
A promessa de redadas iminentes<br />
e o apelo presidencial à delação<br />
de «imigrantes ilegais»<br />
aprofundaram o clima de terror<br />
racista.<br />
Miguel Guerrero, membro da La<br />
Unión del Pueblo Entero (LUPE),<br />
uma associação texana que presta<br />
ajuda humanitária aos imigrantes<br />
que arriscam a perigosa travessia<br />
através da fronteira mexicana,<br />
descreve uma caça às bruxas: «O<br />
presidente anunciou a contratação<br />
de milhares de polícias para o<br />
Serviço de Segurança Interna, deu<br />
ordem para os centros de<br />
detenção de imigrantes<br />
aumentarem a capacidade ao<br />
máximo, tornou todo o processo<br />
de detenção e deportação mais<br />
rápido... toda a gente já entendeu<br />
o que é que vem aí. E não só os<br />
imigrantes: nas últimas duas<br />
semanas têm-se multiplicado os<br />
roubos, as agressões e mesmo as<br />
violações contra imigrantes.<br />
Trump diz claramente que os<br />
imigrantes não documentados não<br />
merecem o mesmo respeito que as<br />
outras pessoas. Há cada vez mais<br />
gente que acredita mesmo que<br />
não é crime se a vítima não estiver<br />
legal».<br />
O Serviço de Segurança Interna<br />
está agora dotado de poderes<br />
discricionários para deportar<br />
suspeitos de infracções ao código<br />
da estada, todos os imigrantes não<br />
documentados com cadastro, ou,<br />
simplesmente, «suspeitos». É a<br />
própria imigração, distinguível<br />
pela cor da pele, que está a ser<br />
criminalizada. Os pais que<br />
paguem para trazer os filhos<br />
ilegalmente para os EUA são<br />
agora acusados de tráfico de seres<br />
humanos. Imigrantes como Miguel<br />
Guerrero, que todos os dias<br />
salvam vidas no deserto, podem<br />
ser acusados do mesmo crime.<br />
Explorados<br />
contra exploradores<br />
António Santos<br />
A resistência ao terror está,<br />
contudo, a crescer. Nick<br />
Giannone, dirigente do Sindicato<br />
dos Caldeireiros – Local 29, de<br />
Boston, sustenta que, de costa a<br />
costa, está a decorrer uma<br />
discussão no movimento sindical<br />
sobre os perigos da nova<br />
administração. «(...) alguns<br />
dirigentes sindicais conservadores<br />
parecem dar-se bem com Trump,<br />
mas as bases dos sindicatos não.<br />
As ideias mais reaccionárias<br />
tornaram-se mais vocais desde as<br />
eleições, mas até agora a luta tem<br />
conseguido impedir que essas<br />
ideias se transformem num<br />
movimento de massas com<br />
presença nas ruas.»<br />
Opinião semelhante tem Claire<br />
Dubois, ex-dirigente do Sindicato<br />
dos Professores de Chicago: «a<br />
resposta ao racismo [de Trump]<br />
tem de ser uma resposta de<br />
classe. Nós temos de lhe dizer que<br />
somos todos trabalhadores, não<br />
interessa onde nascemos. A luta<br />
contra Trump não pode ser uma<br />
luta de liberais contra<br />
conservadores e democratas<br />
contra republicanos, tem de ser<br />
uma luta de explorados contra<br />
exploradores. Para isso<br />
precisamos de sindicatos.<br />
Sindicatos a sério», conclui.<br />
Vários «sindicatos a sério»,<br />
organizações de imigrantes,<br />
partidos políticos e outros<br />
movimentos estão a organizar uma<br />
greve geral no 1.º de Maio, Dia<br />
Internacional dos Trabalhadores,<br />
que nos EUA não é feriado mas<br />
que os trabalhadores imigrantes<br />
transportaram para os nossos dias.<br />
Poderá ser o maior 1.º de Maio<br />
nos EUA em quase um século.<br />
Em pelo menos em dois bombardeamentos na<br />
Síria, a aviação norte-americana usou munições<br />
com urânio empobrecido. E vai voltar a<br />
fazê-lo, garante o Pentágono.<br />
Depois de terem procurado<br />
ocultar o facto, as forças<br />
armadas dos EUA acabaram<br />
por admitir que ataques<br />
da sua aviação na Síria<br />
usaram munições com<br />
urânio empobrecido. Os<br />
dois bombardeamentos que<br />
um alto funcionário do Pentágono<br />
confirmou, em entrevista,<br />
a semana passada,<br />
à revista Foreign Policy,<br />
ocorreram em Novembro<br />
de 2015 e terão tido<br />
como alvos camiões cisterna<br />
carregados de petróleo<br />
traficado pelo Estado Islâmico<br />
(EI). Mas as revelações<br />
não ficaram por aqui<br />
e de acordo com o porta-<br />
-voz do comando central<br />
militar norte-americano, citado<br />
pela Lusa, aquele tipo<br />
de armamento vai novamente<br />
ser usado em operações<br />
contra o EI.<br />
Ignora-se se os raides aéreos<br />
foram efectuados em<br />
zonas povoadas, o que não<br />
é um detalhe, sabendo-se<br />
que a exposição a urânio<br />
empobrecido tem consequências<br />
devastadoras<br />
para os seres humanos e<br />
perdura por gerações. Mas<br />
mesmo que a zona dos<br />
bombardeamentos agora<br />
admitidos seja desértica ou<br />
semi-desértica, subsiste o<br />
perigo de contaminação se<br />
os destroços dos camiões<br />
forem levados para outras<br />
A exposição<br />
a urânio<br />
empobrecido tem<br />
consequências<br />
devastadoras<br />
paragens, como não raramente<br />
sucede em cenários<br />
de guerra, em que os povos<br />
deitam mão a tudo o<br />
que seja passível de permutar<br />
por bens essenciais<br />
à subsistência.<br />
Veneno<br />
Reputados investigadores<br />
e estudos sérios atribuem<br />
ao uso de munições<br />
com urânio empobrecido<br />
por parte da NATO e dos<br />
EUA na ex-Jugoslávia e nas<br />
campanhas contra o Iraque,<br />
bem como por parte<br />
de Israel nas agressões<br />
contra a Faixa de Gaza, o<br />
aumento exponencial de<br />
mal-formações congénitas,<br />
doenças oncológicas ou autoimunes.<br />
Entre os soldados<br />
norte-americanos que<br />
têm servido as ofensivas<br />
imperialistas no Médio<br />
Oriente, milhares sofrem<br />
de uma síndrome com manifestações<br />
agudas ou crónicas.<br />
Os EUA admitiram o uso<br />
de milhares de projécteis<br />
com urânio empobrecido<br />
na Síria, depois de em<br />
2015 o terem negado oficialmente.<br />
Recentemente<br />
uma publicação militar norte-americana<br />
reportou que<br />
o Pentágono não contabilizou,<br />
só em 2016, centenas<br />
de ataques aéreos efectuados<br />
na Síria, no Iraque<br />
e no Afeganistão. Uma e<br />
outra coisa conjugadas sugerem<br />
a necessidade de<br />
apurar com rigor o sucedido<br />
e impedir que se repita.<br />
PAICV reuniu Congresso<br />
«Por um PAICV mais forte, por um Cabo<br />
Verde mais justo», foi o lema do XV<br />
Congresso do Partido Africano da Independência<br />
de Cabo Verde, realizado no<br />
passado fim-de-semana, na Cidade da<br />
Praia.<br />
Durante três dias, mais de 400 delegados<br />
vindos de todas as ilhas e de vários<br />
países da diáspora em África, na Europa<br />
e nos Estados Unidos debateram a situação<br />
partidária e a situação política do país,<br />
marcada por um novo quadro decorrente<br />
das derrotas eleitorais do partido em 2016,<br />
de que resultou a saída do PAICV, ao fim<br />
Mais de 400 delegados elegeram a direcção<br />
e aprovaram a Resolução Política<br />
Os veteranos das guerras do Iraque são algumas das<br />
vítimas do uso de armamento não-convencional<br />
de quinze anos, do governo de Cabo Verde.<br />
Estiveram presentes no Congresso os<br />
partidos irmãos africanos MPLA, de Angola,<br />
FRELIMO, de Moçambique, PAIGC,<br />
da Guiné-Bissau, e MLSTP, de São Tomé<br />
e Príncipe, bem como vários ex-combatentes<br />
pela liberdade da pátria. Também<br />
convidado, o PCP marcou presença através<br />
de José Neto.<br />
Na mensagem do Comité Central do PCP<br />
dirigida ao Congresso, foram, como sempre,<br />
valorizados os laços históricos que<br />
unem os nossos dois povos e países e manifestada<br />
a solidariedade para com o povo<br />
cabo-verdiano face aos desafios que se<br />
colocam na concretização do seu direito<br />
ao desenvolvimento económico e social.<br />
Foi também expressa a vontade de prosseguir<br />
e estreitar as relações de amizade<br />
e cooperação que ligam o PCP e o PAICV.<br />
No último dia, o Congresso elegeu o novo<br />
Conselho Nacional, com cerca de setenta<br />
membros, dos quais quarenta por<br />
cento são mulheres. O conclave confirmou<br />
ainda Janira Hopffer Almada como presidente<br />
do PAICV e aprovou por unanimidade<br />
a Resolução Política «Por uma nova<br />
caminhada».