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público “é muito transversal” e<br />
que o grande desafio do Teatro<br />
Micaelense, como espaço formal,<br />
“é atrair novos públicos”, chegar<br />
aos mais novos, referindo-se<br />
à geração até aos 25 anos, não<br />
entregando a obra já “mastigada”,<br />
porque é possível chegar ao<br />
público mais novo se lhes for<br />
dado “aquilo que eles querem”,<br />
contudo Alexandre Pascoal<br />
alegou que esse trabalho não é<br />
seu, “é um trabalho formativo”<br />
que perde-se “quando olhamos a<br />
cultura como economia”.<br />
Alexandre Pascoal verificou<br />
que por vezes a assistência do<br />
Teatro pode variar de acordo<br />
com certos fenómenos sociais.<br />
Como exemplo, mencionou o<br />
quarteto de cordas de Borodin<br />
que, segundo o mesmo, é<br />
considerado o maior quarteto de<br />
cordas do mundo e foi o único a<br />
encher o Teatro Micaelense, no<br />
entanto “às tantas não foi tanto<br />
pelo conhecimento, mas pelo<br />
fenómeno de arrastamento social,<br />
ou seja, pelo ser visto e aparecer<br />
e ver quem foi, também existe<br />
isso”.<br />
Continuando com o seu exemplo<br />
profissional, Alexandre Pascoal<br />
caracterizou o universo que<br />
vivemos como “um bocado<br />
esquizofrénico”, dado que tem<br />
“um publico cuja exigência<br />
cultural é elevada e acha que<br />
o que nós oferecemos não lhe<br />
serve, um público mais elitista”,<br />
como também “tem o público<br />
que me diz que o que nós<br />
apresentamos é erudito, não é<br />
popular”, salientando que tenta “o<br />
equilíbrio desses ambos mundos”<br />
e que “hoje em dia o público sabe<br />
de antemão aquilo que quer ver”,<br />
concluiu.<br />
Nélia Alves-Guimarães lembrou<br />
que “em alturas de crise a<br />
cultura é quem mais sofre<br />
em termos financeiros e de<br />
investimento, infelizmente”.<br />
Como vereadora da CMVFC<br />
apercebe-se que por vezes<br />
existem outras prioridades como<br />
“pessoas a passarem necessidades<br />
em casa e com a saúde, nós temos<br />
que recorrer a essas pessoas, por<br />
isso nem sempre temos meios<br />
para fazer o que gostaríamos, mas<br />
vai se fazendo”.<br />
A autarca disse que “Vila<br />
Franca é um concelho onde a<br />
cultura popular está enraizada,<br />
é um dos concelhos onde mais<br />
se vive a cultura popular”,<br />
exemplificando com “o São<br />
João, os Santos Populares, o<br />
Espírito Santo”, e com “uma<br />
série de outras atividades que<br />
estão bem presentes no concelho”<br />
decorrentes destas festas.<br />
Para além de tais festividades,<br />
Nélia Alves-Guimarães<br />
mencionou, também, várias<br />
iniciativas da CMVFC como<br />
debates, palestras e saraus,<br />
salientando que, apesar do<br />
concelho ser pequeno e de não<br />
ter pessoas em particular a criar<br />
cultura, é “um concelho aberto e<br />
temos as nossas infraestruturas à<br />
disposição para trazer cultura”.<br />
A vereadora da CMVFC destacou<br />
que o facto de sermos “um povo<br />
que não lê muito” tem de ser<br />
mudado “através da educação das<br />
crianças”. A mesma deu outro<br />
exemplo do que se faz na sua<br />
autarquia para colmatar a falta<br />
de leitura: “este verão levamos<br />
a biblioteca à rua, contruímos as<br />
gaiolas de leitura, e, para grande<br />
espanto nosso, verificamos que<br />
as pessoas até leem mais do que<br />
parece, porque os livros eram<br />
sempre renovados. A ideia era<br />
trazerem um livro levarem outro e<br />
assim sucessivamente e, segundo<br />
os nossos funcionários da<br />
biblioteca, todos os dias haviam<br />
livros novos lá e outros que<br />
tinham saído. Às vezes é preciso<br />
estimular para que isso aconteça”,<br />
constatou.<br />
A oradora disse que o facto<br />
de o Açoriano não procurar<br />
cultura prende-se com a “nossa<br />
educação”, lembrando que os<br />
jovens açorianos que estão<br />
a estudar “cursos de arte no<br />
continente”, vão trazer retorno,<br />
aquando do seu regresso à ilha.<br />
Prosseguindo com o caso<br />
específico da CMVFC, da qual<br />
tutela a cultura, Nélia deu outro<br />
exemplo de estimular para que<br />
aconteça, nesse caso em relação<br />
à educação musical, onde a<br />
CMVFC pagou “a propina para<br />
os alunos frequentarem as aulas<br />
da associação Quadrivuim, e<br />
teve bastantes alunos e fizeram<br />
um bom trabalho”, mas, no ano<br />
posterior a Câmara teve “de olhar<br />
para o agregado familiar e para<br />
o seu orçamento” infringindo<br />
um valor simbólico à inscrição<br />
nas aulas e, a partir daí, não<br />
houve adesão. A vereadora<br />
lamentou por vezes não puder<br />
“dar continuidade (a esse tipo de<br />
iniciativas) porque o orçamento<br />
torna-se mais pesado”.<br />
Já Pedro Gomes iniciou com a<br />
frase: “fazer cultura nos Açores<br />
é defender a nossa identidade<br />
enquanto povo Açoriano.”<br />
O advogado disse que “ser<br />
açoriano hoje não é interpretado<br />
pela minha geração, ou pela<br />
geração dos mais novos ou mais<br />
velhos, do mesmo modo que era<br />
interpretado à 50 ou 100 anos<br />
atrás”, mas que, apesar disso,<br />
há sempre um traço em comum,<br />
citando o professor Machado<br />
Pires, “o traço mais marcante da<br />
nossa açorianiedade é sempre a<br />
geografia”. Contudo considerou<br />
que “até esta tem interpretações<br />
diferentes ao longo da história.<br />
Nós hoje não interpretamos as<br />
limitações que a geografia nos<br />
impõe do mesmo modo que as<br />
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