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SCMedia News | Revista | Dezembro 2019

A revista dos profissionais de logística e supply chain.

A revista dos profissionais de logística e supply chain.

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Dez’ <strong>2019</strong><br />

4,60€<br />

Mensal<br />

6CTT<br />

AINDA HÁ ESPAÇO<br />

PARA CRESCER<br />

O FUTURO<br />

DAS MEGA CIDADES<br />

COMO EVITAR<br />

DANOS E PERDAS<br />

NA SUPPLY CHAIN<br />

DESENVOLVIMENTO<br />

PESSOAL<br />

E PROFISSIONAL<br />

EM PROCUREMENT<br />

“One belt, one road”<br />

A rota da seda do Séc. XXI


Formação IN-HOUSE<br />

Gestão de Stocks<br />

Negociação na Logística<br />

Gestão do Armazém<br />

Auditoria Logística<br />

Gestão de Compras<br />

Workshops/Cursos<br />

Intra-Empresas<br />

estruturados e<br />

construídos à medida,<br />

realizados nas<br />

instalações da<br />

empresa, nos horários<br />

que forem mais<br />

convenientes.<br />

Procurement eficiente<br />

Seleção e avaliação de fornecedores<br />

O essencial da Gestão Logística e da Cadeia de Abastecimento<br />

Libertar e maximizar o potencial das equipas logísticas<br />

através da liderança eficaz<br />

Lean Logistics<br />

Gestão de Processos<br />

Facility Management<br />

Esta é uma oportunidade<br />

para reciclar<br />

conhecimentos, ampliar<br />

outros e alargar horizontes<br />

profissionais.<br />

SAIBA MAIS EM:<br />

www.supplychainmagazine.pt/flow/<br />

flow@supplychainmagazine.pt<br />

Gestão de Rotas<br />

Gerir com sucesso a sua frota<br />

Como minimizar os custos de transporte<br />

Ferramentas de gestão logística para transitários<br />

Marcação de reuniões no Sector Transitário<br />

Sector Transitário - Formação em Vendas<br />

Formação Air & Sea - Vertente Comercial<br />

Formação em Transporte Aéreo - Vertente Comercial<br />

Formação em Transporte Marítimo - Vertente Comercial<br />

Formação em Supply Chain<br />

Powered by


dora.assis@supplychainmagazine.pt<br />

Dora Assis<br />

EDITORIAL<br />

1, 2, 3... VAMOS LÁ OUTRA VEZ<br />

“A vida é como pedra de amolar, podemos desgastar-nos como podemos afiar-nos,<br />

depende de como deslizamos por ela.”<br />

Bernard Shaw<br />

Continua tudo num virote. As festas passaram,<br />

entrámos no ano novo e estamos todos de<br />

olhos postos na década de 20... mas do século<br />

passado. Só daqui por uns anos saberemos<br />

se estes, os nossos anos 20, foram tão loucos<br />

quanto os outros de que por aí se fala e que há<br />

cem anos culminaram na Grande Depressão.<br />

Ir, voltar, abrir, fechar, começar, acabar mas,<br />

sobretudo, Recomeçar. É assim a imparável<br />

roda da vida e a logística.<br />

Imparável é igualmente a actividade dos<br />

CTT, especialmente em <strong>Dezembro</strong>, um dos<br />

mais agitados meses do ano para a empresa,<br />

como nos dá conta Alberto Pimenta, o gestor<br />

também acha que “ainda há muito espaço de<br />

crescimento no e-commerce”.<br />

Numa roda viva anda o debate em torno<br />

das mega cidades, cuja gestão é tarefa nada<br />

fácil pois estamos a falar de dar resposta às<br />

necessidades de mais de, ou equivalente a,<br />

10 milhões de habitantes. Grandes desafios<br />

globais e logísticos que pode ficar a conhecer<br />

numa reportagem desta edição.<br />

Que a tecnologia está a mudar a nossa<br />

vida, já todos sabemos. Apesar das enormes<br />

vantagens e melhorias que traz à forma como<br />

nos relacionamos e trabalhamos, também<br />

levanta algumas questões. Nesta revolução 4.0,<br />

será que o sector se encontra preparado para<br />

absorver e tirar partido de tanta e tamanha<br />

tecnologia? Como vai perceber, temos meia<br />

dúzia de certezas e um mundo de incertezas,<br />

essa é que é essa.<br />

Alguma vez alguém supôs que em pleno<br />

século XXI pudesse fazer sentido recriar a Rota<br />

da Seda? Mas a verdade é que “One belt, one<br />

road” é uma realidade cada vez mais próxima:<br />

empresas que já têm planos em curso para esta<br />

iniciativa, países que se estão a integrar, outros<br />

que estão a retrair-se... É uma história que volta<br />

agora à tona, mas que está ainda incompleta,<br />

como verificará se ler o nosso artigo sobre o<br />

tema. Esperar para ver o que nos espera já que<br />

de futurologias está o inferno cheio.<br />

Sem medos nem angústias o 2020 aí está e<br />

pede de nós o melhor. Vamos a isto?


4<br />

DEZEMBRO <strong>2019</strong><br />

#8 #36 #50<br />

ÍNDICE<br />

FACTOS & NÚMEROS<br />

Exportações com crescimento<br />

de 8,6% 6<br />

LOGÍSTICA<br />

“Ainda há muito espaço de crescimento<br />

no e-commerce” 8<br />

O Futuro das Mega Cidades 11<br />

A Logística do Pólo Norte 16<br />

Um compromisso de todos<br />

para com o planeta 18<br />

Como evitar danos na cadeia<br />

de abastecimento 24<br />

PROCUREMENT<br />

Desenvolvimento pessoal<br />

e profissional em procurement<br />

“estão muito ligados” 30<br />

Como gerir os desafios do procurement<br />

de projetos? 36<br />

INTRALOGÍSTICA<br />

Menu primavera:<br />

sobremesa eye peak 40<br />

A logística tem uma carta<br />

na Mango 46<br />

Estrutura end-to-end para expedir<br />

em duas horas 50


SCM Supply Chain Magazine 5<br />

TECNOLOGIAS<br />

As novas tecnologias dão “4 a 0”<br />

às antigas 54<br />

10 previsões para as supply chain<br />

mundiais a partir de 2020 58<br />

TRANSPORTES<br />

CARREIRA<br />

#58 #64<br />

A Rota da Seda do século XXI 64<br />

Uma carreira em logística…<br />

Porquê? 70<br />

O MUNDO É REDONDO<br />

Crítica do livro Factfulness,<br />

Hans Rosling 72<br />

FICHA TÉCNICA<br />

Propriedade_<br />

SC Media Unipessoal, Lda.<br />

Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />

2890-307 Alcochete<br />

T: 210 499 074<br />

Capital Social_<br />

100,00€<br />

Participações sociais_<br />

Susana Silva<br />

Administração_<br />

Filipe Barros<br />

Sede, Administração e Redacção_<br />

Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />

2890-307 Alcochete<br />

T: 210 499 074<br />

Registo na ERC n.º _<br />

127322<br />

Depósito Legal n.º _<br />

458604/19<br />

Directora_<br />

Dora Assis<br />

Redacção_<br />

Ana Paiva, Fábio Santos<br />

Colaboraram nesta edição_<br />

Cláudia Brito, Manuel Gomes<br />

Projecto gráfico_<br />

Maria João Carvalho<br />

Paginação _<br />

Maria João Carvalho<br />

Circulação & Eventos _<br />

Inês Ferreira<br />

Direcção Comercial _<br />

Filipe Barros<br />

Sales & Marketing _<br />

Margarida Matildes<br />

Impressão _<br />

VASP DPS<br />

MLP – Quinta do Grajal,<br />

Venda Seca<br />

2739-511 Agualva Cacém<br />

Tiragem _<br />

3 mil exemplares<br />

Os artigos assinados apenas veiculam<br />

a posição dos seus autores.<br />

Interdita a reprodução de textos e<br />

imagens sem autorização expressa.


6 DEZEMBRO <strong>2019</strong><br />

FACTOS<br />

& NÚMEROS<br />

Balança comercial<br />

com saldo negativo<br />

EXPORTAÇÕES COM CRESCIMENTO DE 8,6%<br />

A<br />

s exportações aumentaram 8,6% em<br />

Novembro de <strong>2019</strong>, na comparação<br />

homóloga com igual mês de 2018.<br />

As importações, por seu turno, subiram 1,3%,<br />

de acordo com números divulgados pelo<br />

Instituto Nacional de Estatística (INE).<br />

O crescimento das exportações, em termos<br />

homólogos, é ligeiramente superior à subida de<br />

8,4% registada em Outubro. Nas importações,<br />

o crescimento abrandou significativamente em<br />

relação ao mês anterior, quando se verificou<br />

uma subida de 6,9%.<br />

Ainda assim, a balança comercial continua<br />

com um saldo negativo de 1.735 milhões de<br />

euros em Novembro de <strong>2019</strong>, uma diminuição<br />

de 329 milhões de euros face ao mês<br />

homólogo de 2018.<br />

“Excluindo os combustíveis e lubrificantes,<br />

a balança comercial atingiu um saldo negativo<br />

de 1.374 milhões de euros, registando uma<br />

diminuição do défice de 137 milhões de euros<br />

em relação a Novembro de 2018”, refere o<br />

documento do INE. •


AÉREO MARÍTIMO TERRESTRE


8<br />

DEZEMBRO <strong>2019</strong><br />

LOGÍSTICA<br />

E-commerce<br />

soma e segue<br />

Texto: Fábio Santos<br />

Fotos: CTT<br />

“AINDA HÁ MUITO ESPAÇO DE CRESCIMENTO<br />

NO E-COMMERCE”<br />

Em Portugal, a distribuição porta-a-porta ainda é tradição. Em <strong>Dezembro</strong> atinge-se um dos<br />

momentos altos de actividade mas a verdade é que, ao longo de todo o ano, o vermelho e branco<br />

permanecem no dia-a-dia das nossas cidades. Não, não são os duendes do Pai Natal mas os CTT<br />

na sua distribuição de pacotes e encomendas.<br />

O<br />

e-commerce tem vindo a ganhar um espaço<br />

cada vez maior no mercado português e<br />

o aparecimento de novos dias dedicados<br />

às compras como o Black Friday, o Singles Day<br />

ou a Cyber Monday tornam-se hoje picos de<br />

actividade no sector de comércio electrónico a<br />

nível nacional, ainda que seja no Natal que se<br />

atinge um dos maiores picos de actividade.<br />

Mais de um mês antes do Natal, começa<br />

a preparação dos CTT, explica-nos Alberto<br />

Pimenta, director de e-commerce da<br />

empresa, com iniciativas como o Singles<br />

Day, Black Friday e Cyber Monday, seguindo<br />

um planeamento próprio, que antevê vários<br />

cenários para que possam prever o que<br />

fazer em cada dia, consoante o tráfego para<br />

distribuição. Explica que “as operações têm<br />

de ser adaptadas, de forma a minimizar os<br />

potenciais constrangimentos na rede devido<br />

ao elevado tráfego”, e como tal, procuram<br />

perceber através de estudos como irá ser a<br />

movimentação na época natalícia.


SCM Supply Chain Magazine 9<br />

Segundo o responsável, baseiam-se no<br />

“barómetro de e-commerce dos CTT”, um<br />

estudo que realizam junto de 40 retalhistas a<br />

nível nacional e que procuram perspectivar os<br />

crescimentos indicados para a época natalícia,<br />

ou a “peak season”, como a apelida, devido aos<br />

grandes fluxos. “Cerca de 60% dos e-sellers<br />

inquiridos prevê um crescimento entre 20%<br />

e 50%, em relação aos valores médios do<br />

resto do ano”, comenta Alberto Pimenta,<br />

acrescentando que “os outros 40% apontam<br />

para crescimentos de vendas ainda superiores”.<br />

COMO ENTREGAR TANTO?<br />

Em época de maiores fluxos de encomendas,<br />

os CTT sentem maiores dificuldades em gerir<br />

a grande movimentação, mas devido ao seu<br />

planeamento e redobro de esforços, conseguem<br />

manter o nível de qualidade do serviço de<br />

entregas contratualizado com os clientes.<br />

Alberto Pimenta revela ainda que<br />

“em determinados dias [as épocas de pico]<br />

chegam a duplicar o seu volume [de tráfego]<br />

face a períodos homólogos do ano anterior”.<br />

Questionado relativamente aos desafios<br />

impostos ao comércio electrónico e ao<br />

transporte de mercadorias, o responsável<br />

dos CTT considera que a principal diferença<br />

se encontra no impacto que a entrega tem<br />

na experiência do cliente comprador, que<br />

neste caso passa a ser o cliente final. “Uma<br />

má experiência de entrega observada por um<br />

consumidor online pode afastar definitivamente<br />

esse consumidor da plataforma ou loja online<br />

onde realizou a compra e, consequentemente,<br />

comprometer a relação de parceria que existe<br />

entre essa loja e o operador de logística”,<br />

explica, acrescentando que devido a isso, todo<br />

o foco dos CTT no desenho de soluções de<br />

entrega assenta na experiência do comprador.<br />

Através do desenho de diferentes cenários<br />

de crescimento de tráfego e planeamento dos<br />

recursos adequados e do reforço de meios na<br />

sua cadeia logística (tanto em sorting como<br />

na rede de transportes ou de distribuição),<br />

os CTT preparam-se para a crescente vaga<br />

de encomendas da época, graças à sua<br />

elasticidade de processos operacionais e<br />

do nível de automatização.<br />

“Na época de ‘peak season’, os CTT reforçam<br />

as suas equipas no final/princípio do ano, dado<br />

que existe um aumento sazonal, face ao tráfego<br />

médio anual apurados nos restantes meses do<br />

ano, que decorre principalmente do incremento<br />

do correio extracomunitário e do expresso”,<br />

explica-nos Alberto Pimenta, revelando que<br />

também conseguem responder a esta maior<br />

procura pelos serviços postais através do<br />

alargamento do período de funcionamento<br />

de determinadas áreas, o que lhes permite<br />

aumentar a capacidade de processamento.<br />

CERCA DE 60% DOS E-SELLERS<br />

INQUIRIDOS PREVÊ UM<br />

CRESCIMENTO ENTRE 20%<br />

E 50%, EM RELAÇÃO AOS VALORES<br />

MÉDIOS DO RESTO DO ANO<br />

“<br />


10<br />

DEZEMBRO <strong>2019</strong><br />

DOTT: UM MILHÃO DE REFERÊNCIAS<br />

Recentemente, os CTT lançaram uma plataforma<br />

que já têm vindo a anunciar há algum tempo,<br />

criada em parceria com a Sonae para servir<br />

de suporte para as vendas online, o Dott. O<br />

investimento de 10 milhões de euros concilia<br />

num espaço digital as competências de retalho<br />

e logística das empresas, procurando que este<br />

se torne um “campeão nacional” de referência,<br />

tanto para as marcas que actuam em Portugal<br />

como para os consumidores portugueses,<br />

contribuindo assim para o desenvolvimento da<br />

vertente e-commerce do país.<br />

O responsável pelo sector de e-commerce<br />

dos CTT explica-nos que o balanço tem sido<br />

positivo, e que este marketplace já conta com<br />

mais de 600 retalhistas, um milhão de produtos<br />

ou referências, e cerca de 450 mil unique users<br />

mensais. “Todos os indicadores relativos ao<br />

crescimento de transacções, taxas de conversão<br />

e feedback por parte dos consumidores<br />

relativamente à sua user experience, ao nível<br />

quer da navegação e experiência de compra<br />

quer da performance da entrega das suas<br />

encomendas, revelam-se muito promissores e<br />

em crescendo”, revela.<br />

Ainda sem números concretos, Alberto<br />

Pimenta conta que o tráfego do Dott nas peak<br />

seasons acelerou “de forma muito significativa”,<br />

“EM DETERMINADOS DIAS<br />

[AS ÉPOCAS DE PICO] CHEGAM<br />

A DUPLICAR O SEU VOLUME<br />

[DE TRÁFEGO] FACE A PERÍODOS<br />

HOMÓLOGOS DO ANO<br />

ANTERIOR”<br />

tendo em conta as médias dos meses<br />

anteriores.<br />

Estávamos no início de Novembro<br />

quando foi lançada a solução CTT Logística,<br />

desenvolvida tendo em vista a logística<br />

integrada, direccionada para as Pequenas e<br />

Médias Empresas (PME) e startups, que não<br />

têm tanta capacidade como os grandes players<br />

de mercado, mas que pretendem igualmente<br />

lançar-se na vertente de e-commerce,<br />

vendendo os seus produtos online.<br />

Através desta solução, as empresas<br />

conseguem conciliar o controlo e a gestão do<br />

processo logístico do seu negócio numa única<br />

plataforma online, usufruindo do conhecimento<br />

e experiência dos CTT na actividade logística,<br />

desde a recepção e recolha, armazenagem,<br />

preparação, expedição e entrega, bem como<br />

na logística inversa, no processo de devolução.<br />

“Encontra-se ainda em fase piloto no mercado,<br />

pelo que é prematuro fazer ainda um balanço”,<br />

explica o responsável.<br />

SEMPRE A CRESCER<br />

O crescimento do e-commerce tem vindo a<br />

acentuar-se, encontrando-se agora acima da<br />

média europeia. Alberto Pimenta sustenta<br />

a ideia de que “em Portugal ainda há muito<br />

espaço de crescimento no e-commerce”, tendo<br />

por base o último “E-Commerce Report dos<br />

CTT” e outros estudos a que os CTT têm acesso.<br />

“Nós apontamos que o crescimento do<br />

mercado continue a situar-se nos dois dígitos<br />

seguindo a trajectória de 2017 e 2018, cujos<br />

crescimentos foram respectivamente de<br />

12,5% e 17%. A nossa expectativa é que esse<br />

tipo de crescimento continue a acontecer,<br />

e que os CTT continuem a liderar a captura<br />

desse mesmo crescimento do mercado”,<br />

conclui o responsável. •


SCM Supply Chain Magazine 11<br />

LOGÍSTICA<br />

Em 2050 2/3 da população<br />

serão moradores das<br />

Mega Cidades<br />

O FUTURO DAS MEGA CIDADES Texto: Ana Paiva<br />

Hoje em dia a realidade não é a mesma que em 2050. A tendência será para aumentar<br />

cada vez mais a população e, supostamente, melhorar as cidades para acolher e dar boas<br />

condições de vida aos moradores. Num futuro próximo as Mega Cidades irão crescer e terão<br />

de enfrentar vários desafios globais e também logísticos.


12<br />

DEZEMBRO <strong>2019</strong><br />

O<br />

que tem em comum Xangai, Moscovo,<br />

São Paulo, Pequim ou Deli? O número<br />

da sua população. Apesar de não ser<br />

idêntico ultrapassa os 10 milhões<br />

de habitantes, chamando-se, assim,<br />

uma Mega Cidade.<br />

A gestão de uma Mega Cidade não é tarefa<br />

fácil, visto que deve ser capaz de dar resposta<br />

às necessidades de mais de, ou equivalente,<br />

a 10 milhões de habitantes. A tendência será<br />

que a população alojada nos centros da cidade<br />

aumente significativamente. Em 2015, 54% da<br />

população vivia nas cidades e espera-se que<br />

até 2050, 2/3 da população sejam moradores.<br />

Este princípio gera grandes desafios globais<br />

e logísticos que, de certa forma, estão<br />

interligados.<br />

De um modo geral, as necessidades elevadas<br />

de serviços básicos e infraestruturas mínimas,<br />

bem como a sua lenta construção em relação<br />

ao ritmo do crescimento populacional,<br />

as alterações climáticas e as mudanças<br />

nos padrões de produção e consumo que<br />

começarão a colidir com a falta de recursos<br />

naturais, são os constrangimentos globais<br />

apontados por Ana Carvalho, professora<br />

associada do Departamento de Engenharia e<br />

Gestão do Instituto Superior Técnico (IST), no<br />

que diz respeito a estas grandes cidades.<br />

Por sua vez, do ponto de vista logístico,<br />

registam-se desafios como o tráfego intenso,<br />

a sustentabilidade ambiental e social, os<br />

hábitos de consumo dos moradores urbanos<br />

que serão mais exigentes, as infraestruturas de<br />

dimensões limitadas, o mercado em torno das<br />

soluções logísticas que será mais competitivo<br />

e, o processo de mover pessoas e produtos de<br />

maneira eficaz tornar-se-á mais complexo.<br />

No entanto, a professora considera a falta de<br />

Infra-estruturas e a sustentabilidade como os<br />

desafios mais críticos numa grande cidade.<br />

TENDÊNCIAS<br />

Com o crescimento das Mega Cidades<br />

há tendências que irão intensificar-se.<br />

Questões relacionadas com o e-commerce,<br />

que actualmente já se mostra como uma<br />

tendência, poderão ser tidas em conta pelo<br />

consumidor de forma a reduzir a pegada<br />

carbónica, tal como: “será que preciso<br />

urgentemente da minha encomenda?”.<br />

Todo este imediatismo faz o ambiente pagar<br />

um preço muito mais elevado. O que fazer?<br />

Os consumidores terão exigências cada<br />

vez maiores em relação à qualidade do<br />

produto, à flexibilidade no tempo e local<br />

de entrega e à preferência por produtos<br />

personalizados e com um menor ciclo de vida.<br />

Um dos grandes desafios será educá-los,<br />

como refere Ana Carvalho “temos nós<br />

que educá-los a perceber que se querem<br />

alternativas mais flexíveis têm de pagar um<br />

preço mais elevado e ser responsabilizados<br />

por isso”. Para isso, é a favor de criar<br />

mais legislação que proíba certo tipo de<br />

alternativas, ou que existam taxas adicionais.<br />

TEMOS NÓS QUE<br />

EDUCÁ-LOS A<br />

PERCEBER QUE SE<br />

QUEREM OUTRO TIPO<br />

DE ALTERNATIVAS<br />

TÊM DE PAGAR E SER<br />

RESPONSABILIZADOS<br />

POR ISSO<br />

“<br />


SCM Supply Chain Magazine 13<br />

Outra das tendências que se consolidará<br />

através dos grandes centros urbanos são as<br />

cidades inteligentes.<br />

Digitalização da informação, sensores<br />

enquanto base de obtenção de informação<br />

de forma imediata e redes de informação<br />

que ligam stakeholders em tempo real, são<br />

algumas das tendências apontadas pela<br />

professora do IST.<br />

As cidades inteligentes criarão boas<br />

oportunidades do ponto de vista logístico<br />

passando por “saber aproveitar os seus dados,<br />

conseguir ter medidas real time que nos<br />

permitam agilizar facilmente a distribuição,<br />

planeamento e previsão da procura”, reforça.<br />

Outras das tendências que irão surgir na<br />

área da logística serão a desintermediação e<br />

descentralização da cadeia de abastecimento,<br />

favorecendo a compra online directa<br />

e o mercado da proximidade,<br />

respectivamente, plataformas digitais<br />

em que se cria um ‘match’ entre a procura<br />

e a oferta, e a cadeia logística operando<br />

em ‘pull’.<br />

Além de tudo isto, é ainda importante<br />

ter uma cadeia logística integrada na<br />

perspectiva da indústria 4.0 com robôs<br />

que agilizem todo o procedimento logístico.<br />

Tendo em conta que a tecnologia e<br />

a sustentabilidade são temas-chave e<br />

sinérgicos no que diz respeito às<br />

Mega Cidades, irá também registar-se<br />

um aumento de soluções tecnológicas mais<br />

verdes, como é o caso de carros eléctricos<br />

ou movidos a painéis solares, como afirma<br />

Ana Carvalho.


14<br />

SOLUÇÕES<br />

A verdade é que estes problemas podem ser<br />

resolvidos, ou parcialmente, se houver um<br />

grande esforço por parte dos governos, das<br />

empresas e, claro, dos consumidores.<br />

Soluções de entrega quando o cliente não<br />

está fisicamente presente é uma delas, que já é<br />

praticada por empresas como a DPD que criou<br />

as lojas pick-up, que faz com que os clientes<br />

possam levantar as suas encomendas neste<br />

espaço sem que haja constrangimentos com<br />

o horário do distribuidor e do cliente. Desta<br />

forma, não será necessário fazer a mesma rota<br />

mais que uma vez.<br />

Por sua vez, as entregas nocturnas também<br />

se apresentam como uma solução viável,<br />

uma vez que evitam o tráfego intenso nos<br />

grandes centros urbanos. Esta alternativa<br />

já foi adoptada por algumas empresas,<br />

como é o caso da Auchan, que abastece<br />

os hipermercados à noite.<br />

Na parte logística, Ana Carvalho destaca<br />

algumas das possíveis soluções, como a<br />

partilha de activos na cadeia (armazéns,<br />

frotas, etc.), a forte colaboração entre<br />

stakeholders, e logística inversa<br />

colaborativa com backhauling e informação<br />

em tempo real.<br />

Todos já percebemos que neste tema das<br />

Mega Cidades, a tecnologia não vai tão<br />

pouco ficar de fora, como terá um papel<br />

essencial. Começando pelas entregas que<br />

podem ser realizadas através de meios<br />

tecnológicos inovadores, passando pela<br />

criação de softwares inteligentes para a<br />

gestão da cadeia de abastecimento até à<br />

cidade e para a consolidação de encomendas<br />

e rotas de distribuição, e ainda de centros<br />

de distribuição robotizados para agilização e<br />

flexibilidade de entrega.<br />

Deve-se ainda considerar a impressão<br />

3D para produção local e a utilização da


SCM Supply Chain Magazine 15<br />

Inteligência Artificial para analisar, prever e<br />

optimizar fluxos de trânsito, distribuição e<br />

procura.<br />

A professora refere que a primeira questão<br />

a ser tida em conta deve ser a das proporções<br />

das Infra-estruturas nas cidades, tais como<br />

dimensão e acesso das rodovias, ou seja,<br />

são necessárias soluções que “eliminem o<br />

tráfego adicional que se fará sentir devido<br />

ao aumento do transporte de bens”. Depois<br />

é, obviamente, providenciar boas condições<br />

de vida às pessoas para viverem nas cidades,<br />

pois é isso que promoverá a economia<br />

“não podemos parar de providenciar essas<br />

infraestruturas e dar essa logística (…)<br />

temos de tentar relocar a centralização<br />

da logística fora das cidades”.<br />

Ainda não é possível prever o futuro, mas<br />

em relação ao cenário traçado, segundo Ana<br />

Carvalho, “temos de promovê-lo de uma forma<br />

sustentável, não conseguimos evitá-lo (…) vai<br />

ser uma tendência, vai ser a realidade”. •<br />

NÃO PODEMOS PARAR DE DAR<br />

ESSAS INFRA-ESTRUTURAS E DAR<br />

ESSA LOGÍSTICA (…) TEMOS DE TENTAR<br />

EXTERNALIZAR TUDO AQUILO QUE<br />

CONSEGUIRMOS, OU SEJA, PÔR TUDO<br />

PARA FORA DAS CIDADES EM TERMOS<br />

LOGÍSTICOS (…) E DEPOIS MAIS LOCAL,<br />

PARA NÃO INTENSIFICAR.


16<br />

DEZEMBRO <strong>2019</strong><br />

LOGÍSTICA<br />

Manuel José Gomes<br />

Manuel José Gomes Consultoria Logística e distribuição<br />

A LOGÍSTICA<br />

DO PÓLO NORTE<br />

O Pai Natal percorre milhões de km<br />

em 24h enfrentando enormes desafios<br />

logísticos, mas felizmente a sua Supply<br />

Chain tem ajudantes altamente<br />

motivados e que controlam e prestam<br />

atenção aos detalhes.<br />

A<br />

época do Natal coloca uma enorme<br />

pressão adicional na logística das<br />

Organizações do Retalho Alimentar<br />

e segmento Especializado, que esperam<br />

dispor de uma Cadeia de Abastecimento<br />

suficientemente ágil para dar resposta aos<br />

“picos” de procura do mercado, satisfazer as<br />

expectativas dos clientes e terem previsões<br />

as mais acertadas para evitar uma devolução<br />

em massa de stock, no final do período.<br />

Todos os intervenientes de cada uma das<br />

Supply Chain, desde fabricantes, fornecedores,<br />

retalhistas e operadores logísticos, irão<br />

assegurar-se que têm o nível apropriado de<br />

stock e que anteciparam corretamente todos<br />

os desafios, pelo planeamento e investimentos<br />

realizados, de modo a suportarem o incremento<br />

drástico de volume de trabalho.<br />

Mas estas reflexões aplicavam-se de igual<br />

forma há muitos anos, desde o aparecimento<br />

das redes logísticas centralizadas. Hoje<br />

a realidade deste período, impõe novos<br />

e importantes desafios a juntar à gestão<br />

tradicional do “pico” de vendas.<br />

Em primeiro lugar, a dimensão temporal<br />

e o número de eventos comerciais da época<br />

natalícia de hoje, que começa com o Black<br />

Friday e segue até à véspera de Natal, levam<br />

as empresas a enfrentar “picos” de diferentes<br />

amplitudes e gestão de diferentes categorias,<br />

ao longo do mês.<br />

Para termos ideia deste impacto da nossa<br />

Holiday Shopping Season, o aumento de<br />

vendas do Black Friday em Portugal em 2018<br />

comparado com um dia comum foi de 792%, já<br />

superior ao de Espanha (706%) e as categorias<br />

de maior projeção foram o Vestuário, Calçado,<br />

Cosmética e Artigos Eletrónicos, o que coloca<br />

os maiores desafios no Retalho Especializado.<br />

Neste dia o consumidor português compra em<br />

média 3,2 produtos com um gasto de 216€ no<br />

total das compras online e lojas físicas, mas<br />

14% fazem já compras exclusivamente no<br />

canal online e 45% em ambos os formatos<br />

(dados Black Friday Global).<br />

A acrescer a este desafio da multiplicidade<br />

de eventos, a estratégia da Omnicanalidade<br />

(integração de múltiplos canais tais como


SCM Supply Chain Magazine 17<br />

as lojas tradicionais, e a compra online,<br />

principalmente através de smartphone), leva a<br />

que a rede de distribuição hoje, seja muito mais<br />

do que a rede de lojas físicas (brick-and-mortar).<br />

O Cyber-Monday (a 2ª feira a seguir ao Black-<br />

Friday como dia exclusivo de promoções online)<br />

tem sido aproveitado também em Portugal<br />

pelo Retalho Especializado para oferecer<br />

descontos consideráveis em Artigos Eletrónicos<br />

como boa oportunidade de compra. Toda<br />

esta realidade e crescente evolução na época<br />

natalícia, obriga também ao planeamento e<br />

reforço da sua própria rede logística. Como os<br />

retalhistas dispõem de importantes cadeias de<br />

lojas físicas, será importante, como reforço da<br />

distribuição da venda online, a maior utilização<br />

das mesmas como pontos de recolha (pick-up<br />

points), preparação in-store da encomenda, ou<br />

uso destas como ponto intermédio desde o<br />

centro regional até à entrega ao domicílio do<br />

cliente final.<br />

A gestão da cadeia logística terá ainda de<br />

planear as mais variadas situações, das quais<br />

sintetizo algumas:<br />

» Gestão dos RH: o planeamento das equipas<br />

produtivas e “staff” de controlo em cada<br />

uma das áreas do Centros de Distribuição,<br />

mas mais do que isso. A motivação e<br />

identificação com a Organização destas<br />

equipas para enfrentarem os volumes<br />

de trabalho e atenção ao detalhe das<br />

operações, será de vital importância para a<br />

fluidez e resposta da cadeia logística.<br />

» Operação de novas categorias nas<br />

operações inbound: os armazéns terão<br />

de enquadrar diferentes situações com<br />

particular impacto no layout do centro:<br />

– Categorias com dezenas de referências<br />

mas largas centenas (ou mais) de paletes<br />

de stock, cuja entrada no armazém<br />

é concentrada num curto espaço de<br />

tempo e saídas programadas para as<br />

lojas físicas em modelos de preparação<br />

mais específicos (exemplo famílias de<br />

brinquedos no retalho alimentar); isto<br />

obriga a um trade-off entre a decisão<br />

de atribuir esta operação a um operador<br />

logístico ou implementá-la no próprio<br />

Centro de Distribuição.<br />

– Outras secções que irão estar presentes<br />

no sortido durante toda a época natalícia,<br />

e que devem ser incorporadas no layout<br />

e formatos de preparação do Centro<br />

durante várias semanas, com reposição<br />

contínua às lojas (chocolates, perfumaria,<br />

destilados e outros).<br />

» Opções de back-up: a Logística,<br />

principalmente nesta altura, irá enfrentar<br />

as mais variadas situações inesperadas, que<br />

saiam do controlo da operação e que sejam<br />

um impedimento ou bottleneck à fluidez do<br />

abastecimento. É assim importante registar<br />

o histórico destas situações e a forma como<br />

foram solucionadas, para estarem presentes<br />

no planeamento da época.<br />

» Planeamento com parceiros: tal como o<br />

próprio retalhista, os diferentes parceiros<br />

que englobam a operação (transportes logo<br />

à partida), têm também os seus recursos<br />

limitados, e solicitados por vários clientes,<br />

logo será vital um planeamento conjunto<br />

desta distribuição.<br />

A Supply Chain do Pólo Norte, na realidade<br />

não entrega paletes monoproduto, mas sim<br />

aliciantes pacotes individuais de acordo com o<br />

desejo de cada criança e gerindo um número<br />

inimaginável de SKU. •


18<br />

DEZEMBRO <strong>2019</strong><br />

Texto: Ana Paiva<br />

UM COMPROMISSO<br />

DE TODOS<br />

PARA COM O PLANETA<br />

Há várias ameaças que o nosso planeta<br />

enfrenta actualmente, como o aquecimento<br />

global, a poluição e o consequente uso<br />

desmedido do plástico. A população mundial<br />

é de 7,5 mil milhões. Somos mais do que os<br />

problemas que a Terra encara e, ainda assim,<br />

estamos em desvantagem. O cenário do<br />

futuro não é apaziguador, mas já começam<br />

a surgir soluções que trazem a esperança de<br />

tornar o mundo num sítio melhor.<br />

LOGÍSTICA<br />

Prevê-se um aumento<br />

do plástico nos<br />

oceanos até 2050<br />

O<br />

problema do plástico é, hoje em dia, uma<br />

realidade. Exemplo disso são os oceanos<br />

que, cada vez mais, têm plástico em vez de<br />

água, comprometendo o habitat e as próprias<br />

espécies marinhas que lá se encontram. Assim,<br />

é mais que imperativo mudar mentalidades,<br />

hábitos e consciencializar para este problema.<br />

Se o mundo é um local para todos, temos de<br />

cuidar dele. Todos.<br />

Anualmente produzimos mais plástico do que<br />

o peso conjunto da população global e até 2050<br />

estima-se que haja mais plástico nos oceanos<br />

do que peixes. Esta é uma conclusão do<br />

relatório ‘Evolving Sustainability’, da Nielsen,<br />

que delineia o impacto das preocupações em<br />

torno da sustentabilidade para o consumo na<br />

Europa Ocidental.<br />

O cenário não é muito positivo, mas o<br />

meio ambiente já é tido em consideração por<br />

praticamente todas as gerações. 81% dos<br />

consumidores europeus abordados neste<br />

estudo referem que é muito importante que as<br />

marcas apostem em programas em torno<br />

da sustentabilidade ambiental.<br />

Em relação ao grau de preocupação, a idade<br />

é um factor dominante. 85% dos millenials<br />

(21-34 anos) afirmam que as empresas deviam<br />

empenhar-se em práticas sustentáveis,<br />

seguido de 80% da geração Z (15-20),<br />

79% da geração X (35-49), 72%<br />

dos baby boomers (50-64) e 65% da silent<br />

generation (65+).


SCM Supply Chain Magazine 19<br />

Nos hábitos de consumo, as exigências são<br />

cada vez maiores. Na Europa, variáveis como<br />

responsabilidade social de uma marca, o<br />

carácter reutilizável/reciclável das embalagens<br />

e a transparência da informação têm impacto<br />

na decisão de compra ou experimentação dos<br />

consumidores, apelando também à inovação.<br />

Além disso, 30% a 40% dos consumidores<br />

europeus afirmam estar dispostos a pagar um<br />

preço mais elevado por produtos que respeitem<br />

determinadas normas sustentáveis.<br />

Ana Paula Barbosa, retailer vertical director<br />

da Nielsen Portugal, refere que, no nosso<br />

81%<br />

DOS CONSUMIDORES EUROPEUS<br />

ABORDADOS NESTE ESTUDO<br />

REFEREM QUE É MUITO<br />

IMPORTANTE QUE AS MARCAS<br />

APOSTEM EM PROGRAMAS<br />

EM TORNO DA<br />

SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL


20<br />

DEZEMBRO <strong>2019</strong><br />

Além disso, 30% a 40% dos<br />

consumidores europeus afirmam<br />

estar dispostos a pagar um preço mais<br />

elevado por produtos que respeitem<br />

determinadas normas sustentáveis<br />

país, o cenário é bastante semelhante e<br />

acompanha as tendências globais, tendo em<br />

conta que 85% dos portugueses assumem que<br />

a relação entre a marca e a sustentabilidade<br />

ambiental impacta a sua decisão de compra.<br />

Neste sentido, várias oportunidades se<br />

abrem perante as marcas “a capacidade para<br />

implementar iniciativas sustentáveis vai<br />

impulsionar o crescimento de vários mercados,<br />

à medida que cresce a procura por uma oferta<br />

que responda a este tipo de preocupações,<br />

e que as marcas locais fazem uso desta<br />

tendência para potenciar as suas vendas.<br />

Esta é também uma oportunidade única para<br />

a inovação, visto que constitui um enorme<br />

factor de experimentação de novas marcas ou<br />

produtos”, sublinha. Desta forma, a influência<br />

das marcas sustentáveis irá aumentar e os<br />

consumidores optarão pelo que lhes trará<br />

mais segurança.<br />

MENOS PLÁSTICO E MAIS<br />

SOLUÇÕES SUSTENTÁVEIS<br />

Este não é um tema sem eco. Estão a surgir<br />

novas práticas, soluções inovadoras, e uma<br />

panóplia de opções que os consumidores<br />

podem adoptar para reduzir a sua pegada<br />

ecológica. E isso começa nos hábitos<br />

diários como, por exemplo, fazer compras.<br />

Já considerou comprar alimentos no<br />

supermercado sem ter de os colocar num<br />

saco de plástico, como é o caso da fruta?<br />

Agora é possível.<br />

O SpraySafe é um spray criado por<br />

portugueses para substituir o plástico na<br />

conservação dos alimentos e reduzir as<br />

embalagens, baseado em ingredientes naturais,<br />

sustentáveis e comestíveis que mantêm<br />

a característica da comida e evita a oxidação<br />

e contaminação.


22<br />

DEZEMBRO <strong>2019</strong><br />

Esta ideia inovadora foi premiada no<br />

concurso Social da Comissão Europeia,<br />

em Bruxelas, onde recebeu uma bolsa<br />

de 50 mil euros, e é uma das três vencedoras<br />

do Concurso Europeu de Inovação Social, que<br />

se destina ao combate do uso do plástico.<br />

Além desta foram ainda distinguidas<br />

iniciativas empreendedoras da República<br />

Checa, que criaram um sistema de<br />

distribuição e comercialização circular<br />

de produtos alimentares e não-alimentares<br />

com embalagens reutilizáveis, e de Espanha,<br />

uma startup que transforma resíduos<br />

orgânicos em plásticos biodegradáveis<br />

através da acção de bactérias.<br />

Foi ainda divulgado um projecto-piloto,<br />

a iniciar-se em Janeiro de 2020, em que<br />

a devolução de garrafas de plástico nos<br />

supermercados e grandes superfícies<br />

comerciais, dá direito a vales de desconto<br />

em compras, de acordo com o jornal Correio<br />

da Manhã. O Ministério do Ambiente<br />

confirmou que serão instaladas em Portugal<br />

23 máquinas para depositar as embalagens<br />

de plástico, como garrafas de água e<br />

refrigerantes.<br />

O projecto, financiado pelo Fundo Ambiental<br />

em 1,7 milhões de euros, estará disponível em<br />

algumas áreas comerciais até ao final do mês<br />

de Junho de 2021. Após essa data, os dados<br />

serão avaliados para decidir se se poderá<br />

apostar num sistema de recolha permanente.<br />

Estes tipos de iniciativas são importantes<br />

para alertar em relação ao uso excessivo<br />

do plástico, que tantos danos está a causar<br />

ao nosso planeta. Todas as acções têm<br />

consequências e se as nossas forem em prole<br />

do ambiente, o resultado será sempre<br />

positivo. Cuidar do que é nosso é um dever,<br />

pois, no fim de contas, não há planeta B. •


“A CAPACIDADE<br />

PARA IMPLEMENTAR<br />

INICIATIVAS<br />

SUSTENTÁVEIS VAI<br />

IMPULSIONAR O<br />

CRESCIMENTO DE<br />

VÁRIOS MERCADOS,<br />

À MEDIDA QUE CRESCE<br />

A PROCURA POR<br />

UMA OFERTA QUE<br />

RESPONDA A ESTE<br />

TIPO DE<br />

PREOCUPAÇÕES,<br />

E QUE AS MARCAS<br />

LOCAIS FAZEM USO<br />

DESTA TENDÊNCIA<br />

PARA POTENCIAR<br />

AS SUAS VENDAS.<br />

ESTA É TAMBÉM UMA<br />

OPORTUNIDADE ÚNICA<br />

PARA A INOVAÇÃO,<br />

VISTO QUE CONSTITUI<br />

UM ENORME FACTOR<br />

DE EXPERIMENTAÇÃO<br />

DE NOVAS MARCAS<br />

OU PRODUTOS”<br />

SCM Supply Chain Magazine 23


24<br />

DEZEMBRO <strong>2019</strong><br />

Fonte: Angela Kerr, no site Material Handling & Logistics<br />

LOGÍSTICA<br />

Danos na cadeia de<br />

abastecimento resultam<br />

em grandes perdas<br />

COMO EVITAR DANOS<br />

NA CADEIA DE ABASTECIMENTO<br />

Para os produtos chegaram ao destino final intactos e dentro da sua integridade, é necessário<br />

ter algumas precauções, de forma a evitar danos materiais causado pelo transporte ou pela<br />

temperatura. Estes imprevistos acabam por resultar em grandes perdas para empresas ou<br />

consumidores finais. No entanto, há formas de prevenção que podem ser adoptadas pelas<br />

cadeias de abastecimento e de frio.


SCM Supply Chain Magazine 25<br />

Os imprevistos e desafios existem.<br />

Se o sabemos é porque já aconteceu,<br />

infelizmente porque não é um ponto<br />

positivo na actividade de cada um, mas<br />

felizmente para aprendermos a lidar com eles<br />

e corrigi-los. No que diz respeito à cadeia<br />

de abastecimento, há vários obstáculos a<br />

ultrapassar, como é o caso dos danos materiais<br />

nos produtos. Mas não é o fim do mundo. Há<br />

etapas que todos os elos na cadeia podem<br />

executar para garantir a melhor qualidade<br />

possível do produto.<br />

Produtos danificados ou que já não<br />

funcionam são regularmente entregues aos<br />

consumidores finais. Enquanto esta norma<br />

põe os consumidores numa situação pouco<br />

favorável, pois investem tempo e dinheiro e<br />

acabam sem produto, pode ser um problema<br />

ainda maior para as empresas envolvidas.<br />

O processo das cadeias de abastecimento e de<br />

frio pode ser longo, com várias oportunidades<br />

para danos ou desvio de temperatura, levando<br />

à potencial quebra de peças ou, por exemplo,<br />

tornar produtos químicos não viáveis. A parte do<br />

transporte requer várias trocas, normalmente.<br />

Esse processo varia de produto para produto e<br />

de empresa para empresa, o que se mantém é a<br />

probabilidade de surgirem problemas, algo que<br />

as empresas, especialmente aquelas com longas<br />

cadeias de abastecimento, não podem pagar.<br />

Muitos problemas surgem durante as etapas<br />

com ‘ângulos mortos’, que são momentos na<br />

cadeia de abastecimento em que a segurança<br />

do produto e o seu status são desconhecidos.


26<br />

DEZEMBRO <strong>2019</strong><br />

A CADEIA DE<br />

ABASTECIMENTO<br />

ENFRENTA MUITO<br />

DESAFIOS, SENDO<br />

UM DOS MAIORES<br />

O DANO MATERIAL<br />

Estes ‘ângulos mortos’ são perigosos, mas<br />

existem métodos que podem ser adoptados<br />

pelos envolvidos para garantir transparência<br />

e um serviço de melhor qualidade. Adicionar<br />

monitores ou indicadores a produtos e<br />

remessas pode simplificar o rastreamento e a<br />

colecta de dados, alertar os usuários se, quando<br />

e onde na cadeia de abastecimento ocorre<br />

um problema, e avisar operadores para serem<br />

cautelosos e terem extra atenção.<br />

A cadeia de abastecimento enfrenta muitos<br />

desafios, sendo um dos maiores o dano<br />

material. Durante a fase de armazenamento,<br />

os produtos são empacotados, relocados,<br />

empilhados e movidos. Quando os produtos<br />

são movidos do armazém para um camião<br />

ou para outros modos de transporte, são<br />

elevados, transportados e reposicionados.<br />

Assim, o manuseio inadequado é uma causa<br />

significativamente de dano. Por sua vez,<br />

durante o transporte as caixas ou pacotes<br />

podem mover-se, deslizar, tombar ou bater<br />

entre si.<br />

Nestes passos, uma encomenda pode<br />

acumular eventuais danos, que até podem não<br />

ser visíveis à primeira vista. Sem a visibilidade<br />

do produto dentro de uma embalagem,<br />

pequenos impactos aumentam com o tempo,<br />

criando, por vezes, um problema maior<br />

com o artigo.<br />

MONITORES DE IMPACTO<br />

Monitores criados para medir impactos,<br />

mesmo que pequenos, podem economizar<br />

dinheiro, produtos e tempo a longo-prazo,<br />

chamando à atenção para um problema e<br />

dando aos fornecedores uma oportunidade de<br />

corrigi-lo rapidamente. Os dispositivos podem<br />

rastrear e monitorizar remessas em tempo real


SCM Supply Chain Magazine 27<br />

para identificar e fortalecer áreas de fraqueza<br />

na cadeia de abastecimento, reduzindo<br />

problemas.<br />

Saber onde estava um produto quando foi<br />

danificado, em que circunstâncias e a que<br />

cuidados, permite reduzir ineficiências e evitar<br />

custos adicionais. Os monitores também podem<br />

ajudar a identificar danos contínuos, o local<br />

específico onde ocorrem ou sob os cuidados<br />

de uma determinada empresa. Possuir estas<br />

informações faz com que os problemas deixem<br />

de existir e não se repitam, permitindo à<br />

empresa identificar o responsável pelos danos.<br />

Os dados dos impactos registados são a prova<br />

de que ocorreram danos ao cuidado de alguém<br />

em específico. Isso poderia economizar uma<br />

quantia avultada para uma empresa, provando<br />

que não são culpados se um produto lhes for<br />

entregue danificado.<br />

Os danos, quer sejam grandes ou pequenos,<br />

podem tornar um produto inutilizável<br />

ou inseguro. Se várias peças ficarem<br />

comprometidas por estarem danificadas,<br />

poderá resultar em perdas significativas.<br />

Prazos atrasados devido a danos pode ainda<br />

custar semanas de tempo de produção,<br />

aumentando ainda mais os custos. Essas<br />

despesas extra e imprevistos têm um efeito<br />

adverso sobre os resultados, traduzindo-se<br />

em desperdício de produtos e oportunidades<br />

perdidas de rendimento.<br />

PRODUTOS DESTE TIPO TÊM, POR NORMA, REQUISITOS<br />

DE TEMPERATURA PARA TRANSPORTE E ARMAZENAMENTO, POR EXEMPLO,<br />

SE A CARNE ESTIVER CONSERVADA A UMA TEMPERATURA SUPERIOR À<br />

QUE DEVERIA, JÁ NÃO PODE SER DISTRIBUÍDA, OU SE AS VACINAS FOREM<br />

EXPOSTAS A TEMPERATURAS INADEQUADAS, PODEM PERDER A EFICÁCIA


28<br />

DEZEMBRO <strong>2019</strong><br />

DANOS RELACIONADOS<br />

COM TEMPERATURA<br />

Outro dos problemas, que ocorre com mais<br />

frequência ao lidar com alimentos ou produtos<br />

farmacêuticos, é o dano relacionado com<br />

a temperatura. Produtos deste tipo têm,<br />

por norma, requisitos de temperatura para<br />

transporte e armazenamento, por exemplo, se<br />

a carne estiver conservada a uma temperatura<br />

superior à que deveria, já não pode ser<br />

distribuída, ou se as vacinas forem expostas<br />

a temperaturas inadequadas, podem perder<br />

a eficácia. A discrepância de temperatura<br />

na cadeia de frio pode resultar em produtos<br />

perdidos, bem como lucro.<br />

Os indicadores de uso único podem<br />

notificar o próximo elo da cadeia de frio se um<br />

produto estiver conservado na temperatura<br />

apropriada, ou não. Operadores de armazém<br />

e de transporte, bem como os consumidores,<br />

podem utilizar essas informações para tomar<br />

uma decisão rápida e informada sobre o<br />

status de um produto. Os clientes finais, como<br />

médicos, pacientes e fornecedores de alimentos<br />

estão mais preocupados em reconhecer<br />

imediactamente se um produto está pronto<br />

para uso ou não. Nestes casos, os indicadores<br />

de uso único seriam mais benéficos. Contudo,<br />

os dados registados da temperatura podem<br />

fornecer mais informações, se necessário.<br />

Vários factores podem levar às mudanças<br />

de temperatura. Se não forem bem testados


SCM Supply Chain Magazine 29<br />

nos requisitos da manutenção da cadeia de<br />

frio, os funcionários do armazém correm<br />

o risco de seguir métodos inadequados de<br />

armazenamento. Os produtos podem ficar<br />

sem vigilância, permanecendo conservados<br />

a uma temperatura inadequada por longos<br />

períodos. Alguns pontos num armazém podem<br />

ter variações de temperatura, ou os produtos<br />

também podem ficar em prateleiras ou caixas<br />

por dias ou semanas mais do que esperado.<br />

Estas duas variáveis combinadas podem<br />

levar a stocks estragados e ineficazes.<br />

No entanto, através de indicadores<br />

visíveis e facilmente discerníveis, é provável<br />

que os operadores sejam mais vigilantes,<br />

trabalhando mais para monitorizar e manter as<br />

temperaturas por muito tempo. Os funcionários<br />

AS CADEIAS DE ABASTECIMENTO<br />

PODEM VARIAR EM ETAPAS<br />

E PROCESSOS, MAS MUITAS<br />

ENFRENTAM DESAFIOS<br />

SEMELHANTES<br />

saberão não forçar um produto, potencialmente<br />

comprometido, se os indicadores alertarem<br />

contra ele.<br />

No transporte é onde também podem ocorrer<br />

estas variações, se os camiões ou veículos<br />

refrigerados pararem de funcionar ou não<br />

estiverem regulados à temperatura certa.<br />

Os indicadores revelam se a temperatura de<br />

um produto ultrapassou o limite. O passo<br />

final, conhecido como a última milha, é<br />

onde ocorre a maioria das diferenças de<br />

temperatura. Os produtos nem sempre são<br />

entregues directamente ao consumidor, às<br />

vezes são deixados de fora por várias horas.<br />

Os indicadores informam o receptor sobre<br />

qualquer diferença de temperatura.<br />

As cadeias de abastecimento podem variar<br />

em etapas e processos, mas muitas enfrentam<br />

desafios semelhantes. Os danos, quer ocorram<br />

numa cadeia de abastecimento típica ou numa<br />

cadeia de frio, podem afectar a linha do tempo<br />

de uma empresa, reduzir o lucro e adicionar<br />

recursos adicionais.<br />

Há passos que todos os elos da cadeia de<br />

abastecimento podem adoptar para garantir<br />

a melhor qualidade possível do produto. Não<br />

basta que o produtor e o consumidor tratem<br />

os produtos adequadamente, pois aqueles<br />

que se encontram no meio da cadeia têm<br />

maior probabilidade para a manter ou destruir.<br />

Felizmente existem soluções para minimizar<br />

estes obstáculos, tornar o processo mais<br />

transparente e atenuar a perda. •


30<br />

DEZEMBRO <strong>2019</strong><br />

PROCUREMENT<br />

Pedro Hugo Rocha<br />

Texto: Fábio Santos<br />

Fotos: Alexandra Santos<br />

DESENVOLVIMENTO PESSOAL<br />

E PROFISSIONAL EM PROCUREMENT<br />

“ESTÃO MUITO LIGADOS”<br />

Pedro Hugo Rocha começou o seu percurso na área do procurement, até à data desconhecida<br />

e pouco explorada, em 1999. 20 anos depois, mais de metade passados no estrangeiro, é agora<br />

o global procurement director center of excellence and contract manufacturing do Grupo Campari, e<br />

destaca a vantagem que foi ter a oportunidade de partir para fora do país.


SCM Supply Chain Magazine 31<br />

De volta a Portugal, temporariamente,<br />

encontrámos Pedro Hugo Rocha, o<br />

responsável pelo center of excellence das<br />

Compras da Campari a nível mundial. Pela<br />

sua vasta experiência na área, tanto a nível<br />

nacional como internacional, e ao modelo<br />

global com que trabalha no seu dia-a-dia,<br />

procurámos conhecer um pouco mais sobre o<br />

seu percurso.<br />

Com um olhar bastante abrangente em<br />

procurement, o responsável traça-nos uma<br />

linha desde o seu primeiro contacto com esta<br />

área, explicando como foi o desenvolvimento<br />

profissional e pessoal da sua experiência de<br />

mais de duas décadas, e compara as realidades<br />

existentes dentro e fora de Portugal.<br />

O INÍCIO DE UMA JORNADA<br />

Foi no final do milénio que a sua carreira<br />

tomou um novo rumo. Até então, engenheiro<br />

de formação, Pedro Hugo Rocha explica-nos<br />

que teve o seu primeiro contacto com a área<br />

de procurement na UNICER, em 1999. “O<br />

desafio na altura era imenso, porque nessa<br />

época não havia praticamente nada feito na<br />

área das compras”, explica-nos, “não tinha tido<br />

propriamente formação de Procurement,<br />

e nem sei se existia na altura”, pelo que foi<br />

necessário escalar do zero, por vezes de forma<br />

auto-didacta, outras, a observar quem melhor<br />

sabia fazer.<br />

Sem experiência na área, foi necessário<br />

avançar com as armas de que dispunha.<br />

Defende que existem determinadas áreas<br />

que podem auxiliar os profissionais em<br />

início de carreira. “Acho que há um grupo<br />

de competências, as soft skills, e outras<br />

competências mais científicas, que se<br />

desenvolvem quando estamos a estudar<br />

e que ajudam imenso quando se trabalha<br />

em procurement”, explica o responsável<br />

da Campari, exemplificando com o seu<br />

caso pessoal, em que a sua formação em<br />

engenharia o ajudou em componentes mais<br />

científicas que conseguiu aplicar na prática,<br />

como a capacidade de criar cenários e opções<br />

alternativas ou a capacidade analítica. “Isso é<br />

algo que se desenvolve um pouco sem precisar<br />

de estudar procurement especificamente.<br />

O resto foi desenvolvido fazendo”, comenta.<br />

ACHO QUE HÁ UM GRUPO DE<br />

COMPETÊNCIAS, AS SOFT SKILLS,<br />

E OUTRAS COMPETÊNCIAS<br />

MAIS CIENTÍFICAS, QUE SE<br />

DESENVOLVEM QUANDO<br />

ESTAMOS A ESTUDAR E QUE<br />

AJUDAM IMENSO QUANDO SE<br />

TRABALHA EM PROCUREMENT<br />

DA REGIÃO PARA O MUNDO<br />

Nove anos depois, em 2008, Pedro Hugo<br />

Rocha partiu para a Suíça, para ter uma função<br />

global de gestão de categoria na Carlsberg.<br />

Considerou esta alteração de cargo “o grande<br />

salto em termos de crescimento”, pois foi para<br />

uma realidade à qual não estava habituado.<br />

“Muitas viagens intercontinentais, muitas<br />

culturas e stakeholders envolvidos, pessoas<br />

ao alto nível da organização”, explica, “foi uma<br />

grande abertura da perspectiva e da ambição<br />

em termos do que queria fazer no futuro”.<br />

Destaca a importância de passar para uma<br />

realidade internacional, que ainda hoje


32<br />

DEZEMBRO <strong>2019</strong><br />

aprecia: trabalhar com equipas internacionais.<br />

“Eu sou talvez o exemplo de uma pessoa<br />

que começou numa realidade local e se<br />

desenvolveu para uma global, mas sempre<br />

aprendendo a fazer”, revela o responsável da<br />

Campari, e explica que foi com a sua chegada<br />

ao mercado estrangeiro que foram aparecendo<br />

treinos específicos na área. Em 2015 troca a<br />

Suíça por Itália, para a Campari, onde ainda<br />

hoje se encontra.<br />

Pedro Hugo Rocha admite que o percurso<br />

internacional lhe trouxe uma evolução tanto<br />

a nível pessoal como profissional, e que não<br />

consegue estabelecer uma linha diferenciadora<br />

entre estas vertentes. “Eu não consigo<br />

distinguir o que foi o meu desenvolvimento<br />

profissional em procurement do que<br />

foi o meu desenvolvimento pessoal<br />

enquanto pessoa a morar fora do país<br />

e a viajar e conhecer outras culturas…<br />

Penso que estão muitos ligados”, defende.<br />

“Sair de Portugal e trabalhar numa função<br />

mais global permitiu-me desenvolver soft<br />

skills que até então eu não tinha valorizado,<br />

e descobrir algumas que nem sabia que tinha,<br />

relacionadas com comunicação, criatividade<br />

ou diplomacia, que são extremamente<br />

importantes em procurement, e que vão sêlo<br />

ainda mais, especialmente em contextos<br />

internacionais”.<br />

Ao trabalhar com equipas internacionais<br />

contactou com diversas culturas e modos de<br />

trabalhar. Explica que é importante “levar<br />

as pessoas connosco” quando estamos a<br />

implementar uma estratégia ou a executar um<br />

plano de acção. “Se nós não compreendermos<br />

toda esta panóplia de percepções e de culturas<br />

que o mundo tem, não vamos conseguir<br />

ser eficazes na implementação da nossa<br />

estratégia”, defende.<br />

“Eu sou talvez<br />

o exemplo de<br />

uma pessoa que<br />

começou numa<br />

realidade local<br />

e se desenvolveu<br />

para uma global,<br />

mas sempre<br />

aprendendo<br />

a fazer”


SCM Supply Chain Magazine 33<br />

MAS AFINAL…<br />

O QUE É ‘PROCUREMENT’?<br />

“Vejo muitas pessoas no procurement a discutir<br />

sobre definições, o que é procurement, o que<br />

é purchasing, o que é sourcing… Eu não perco<br />

tempo com isso. Não acho que seja assim<br />

tão importante. O que eu acho importante é<br />

posicionar a função procurement para o futuro<br />

no nível estratégico em que merece estar, mas<br />

há uma responsabilidade grande de comunicar<br />

de forma eficaz o valor que podemos criar<br />

para a empresa, caso contrário perdemos<br />

relevância”, explica-nos Pedro Hugo Rocha.<br />

Relativamente à criação de valor, explica que<br />

existem diferentes dimensões de procurement:<br />

cost management (bottom line savings); top<br />

line growth, através da contribuição dos<br />

fornecedores para as inovações da empresa;<br />

gestão de risco, que o negócio nem sempre<br />

mede, estando relacionada com a protecção<br />

da empresa de riscos externos; optimização<br />

de processos, a parte mais operacional e<br />

transaccional do procurement, “tudo o que<br />

possamos fazer para simplificar o processo,<br />

para o automatizar e gerar eficiências”, criando<br />

valor para a empresa; e sustentabilidade, que<br />

vem “não só ao nível de garantir compliance<br />

de fornecedores relativamente a questões<br />

ambientais e de responsabilidade social,<br />

mas também ao nível das iniciativas de<br />

sustentabilidade que podemos fazer com os<br />

fornecedores”, explica.<br />

Neste sentido, Pedro Hugo Rocha revela que<br />

tem visto estas cinco dimensões de valor<br />

procurement<br />

6 Março 2020<br />

Nova School of Business & Economics<br />

Carcavelos . Lisboa<br />

Saiba mais em<br />

www.supplychainmagazine.pt/12horasprocurement/<br />

Parceiros


34<br />

DEZEMBRO <strong>2019</strong><br />

“muito bem trabalhadas e comunicadas em<br />

empresas que estão com níveis de maturidade<br />

de procurement mais avançados”, mas<br />

explica que “quando a maturidade não está<br />

nesses níveis, normalmente fala-se do cost<br />

management, e às vezes da contribuição para o<br />

top line growth”.<br />

VAMOS TER A NECESSIDADE<br />

DE TRABALHAR MAIS COM<br />

STARTUPS E COM PEQUENOS<br />

FORNECEDORES QUE MERECEM<br />

UM TRATAMENTO MUITO<br />

MAIS ÁGIL E FLEXÍVEL, MENOS<br />

BUROCRÁTICO, DE FORMA<br />

A AJUDÁ-LOS A TRABALHAR<br />

CONNOSCO<br />

FUTURO DA FUNÇÃO<br />

PROCUREMENT<br />

“Gosto de trabalhar no sentido de olhar para<br />

a minha bola de cristal e prever o que vai ser<br />

o futuro daqui a um… dois… cinco anos…”,<br />

e antecipa que muitas das tarefas que hoje<br />

são feitas pelas suas equipas de procurement<br />

deixarão de ser feitas por pessoas: “o mundo de<br />

procurement está em grande transformação.<br />

Por via das tecnologias, muitas das tarefas<br />

que são repetitivas vão ser automatizadas<br />

e tratadas por máquinas. Repetição leva a<br />

automatização, e as máquinas vão fazer melhor<br />

essas tarefas que o humano. Estamos numa<br />

altura crítica para assumir o mandato e para<br />

redefinir e reposicionar a função procurement<br />

dentro da empresa”.<br />

“Temos de ter a astúcia e a coragem para<br />

assumirmos a responsabilidade de reinventar<br />

a nossa proposta de valor para o negócio,<br />

de entrarmos em áreas que se calhar não<br />

tínhamos explorado antes, no sentido de<br />

continuarmos a ser relevantes para o negócio,<br />

porque se o procurement deixar de ser<br />

relevante para o negócio, encontra-se em<br />

risco de desaparecer”, comenta, pintando um<br />

cenário de transformação acelerada para o<br />

procurement, “temos de nos elevar para uma<br />

ambição de nível estratégico, entregando<br />

valor ao negócio, mas temos de redefinir esse<br />

valor”.<br />

Pedro Hugo Rocha considera que a gestão<br />

de categoria (category management) e<br />

de fornecedores (supplier relationship<br />

management) são o coração do procurement,<br />

e que deve ser neles que devemos continuar<br />

a investir. “Ao mesmo tempo, devemos tirar<br />

partido das tecnologias para encontrar<br />

novas formas de perceber os mercados de<br />

fornecimento e as necessidades de compra das<br />

nossas empresas”, explica, recomendando o<br />

uso de Inteligência Artificial ou de Advanced<br />

Analytics para ajudar as empresas a “perceber,<br />

avaliar e interpretar toda a informação<br />

existente, e desta forma adaptar regularmente<br />

as nossas estratégias de compras”.<br />

Por outro lado, o profissional de<br />

procurement defende que dada a aceleração<br />

tecnológica iremos lidar com um novo tipo<br />

de fornecedores. “Hoje temos uma rede de<br />

fornecedores relativamente estável nas nossas<br />

empresas”, explica, mas que “com o advento<br />

da tecnologia e do digital nos sectores em<br />

que trabalhamos, vamos ter necessidade de<br />

trabalhar mais com startups e com pequenos<br />

fornecedores que merecem um tratamento<br />

muito mais ágil e flexível. Em suma, focar<br />

menos nas questões contratuais e legais e<br />

mais em ajudar a financiar esses pequenos<br />

fornecedores a que se tornem maiores”.


SCM Supply Chain Magazine 35<br />

APRENDER COM QUEM JÁ SE<br />

ENCONTRA DENTRO DO SECTOR<br />

Quando questionado sobre quais as<br />

recomendações que daria aos novos<br />

profissionais de procurement, tendo em conta<br />

as suas premunições, Pedro Hugo Rocha<br />

indica que há sempre muito a falar, mas que<br />

destacaria três delas. “Uma das recomendações<br />

que daria aos novos profissionais tem que ver<br />

com a questão tecnológica”, comentando que<br />

existem tecnologias que já estão disponíveis há<br />

muito tempo, e outras que são novas, mas que<br />

estão a mudar a forma como é trabalhado o<br />

procurement nos dias de hoje.<br />

Destaca a importância da transformação, e<br />

que não podemos “lutar contra as máquinas<br />

para fazermos coisas que elas fazem melhor”.<br />

É necessário existirem estes dois ambientes,<br />

e sem a aposta na tecnologia as empresas<br />

perdem competitividade e serão empurradas<br />

para fora do mercado. “É preciso abraçar<br />

esse desafio da tecnologia, tentar escolher<br />

as tecnologias que estão disponíveis hoje e<br />

que são relevantes para a nossa empresa, que<br />

resolvam problemas que nós temos na nossa<br />

empresa e avançar”.<br />

De seguida, fala no core do negócio: as<br />

pessoas. “Nós vamos evoluir de uma função<br />

com equipas que têm uma combinação<br />

de pessoas mais estratégicas com mais<br />

transaccionais, para uma função em que<br />

vamos ter menos pessoas a fazer tarefas<br />

transaccionais e mais pessoas a fazer coisas<br />

mais estratégicas para o negócio”, comenta,<br />

prevendo que as equipas de procurement vão<br />

encolher, em tamanho, mas que se vão tornar<br />

aos poucos “mais estratégicas e mais capazes”.<br />

Em termos de conclusão, finaliza com<br />

um conselho bastante actual e ao qual as<br />

empresas têm de estar muito alerta, a aposta<br />

na sustentabilidade, e particularmente na<br />

economia circular. “Enquanto profissionais<br />

de procurement temos uma responsabilidade<br />

de encontrar modelos de negócio e outras<br />

formas de comprar, sejam bens ou serviços, que<br />

respeitem cada vez mais a economia circular,<br />

e isso pode passar inclusive pela criação de<br />

novas supply chains”, ou seja, estabelecer novos<br />

modelos de negócio, novas formas de satisfazer<br />

as necessidades do negócio, mas “tendo sempre<br />

em conta a questão da economia circular,<br />

porque é algo que está a ser muito falado,<br />

e cada vez mais os nossos consumidores e<br />

clientes querem saber o que nós fazemos<br />

quanto a isso”. •<br />

“Estamos numa<br />

altura crítica para<br />

assumir o mandato<br />

e para redefinir e<br />

reposicionar a função<br />

procurement dentro<br />

da empresa”


36<br />

DEZEMBRO <strong>2019</strong><br />

PROCUREMENT<br />

O cliente não é<br />

nosso inimigo<br />

Peep Tomingas<br />

Partner Relationship Manager |<br />

Procurement Flow<br />

COMO GERIR OS DESAFIOS<br />

DO PROCUREMENT DE PROJETOS?<br />

‘A<br />

aquisição de projetos é como qualquer<br />

outra aquisição’, diria alguém que nunca<br />

esteve no negócio de projetos. Essa<br />

citação tem a sua verdade, mas, por outro<br />

lado, é enganosa. Sim, realizam-se as mesmas<br />

atividades de compras, mas, na realidade, o<br />

trabalho do projeto é muito mais complexo.<br />

Na produção em série, há uma lista de<br />

materiais (BOM) e sabe-se exatamente o<br />

que é preciso comprar. Além disso, tem um<br />

plano de produção onde obtém informações<br />

sobre prazos de entrega. Sistemas, como o<br />

Sistema Integrado de Gestão Empresarial<br />

(ERP) e o Planeamento de Necessidades de<br />

Materiais (MRP) , mantêm as suas atividades<br />

de compras bem organizadas.<br />

Eu não diria que a compra de produção<br />

é um ‘passeio no parque’, mas quando<br />

comparada com a compra de projeto, pode<br />

ser assim.<br />

A gestão de projetos é como uma<br />

batalha, em que o gestor de projetos é um<br />

comandante de pelotão, que possui recursos<br />

limitados (tempo, orçamento e equipa) e<br />

ainda assim precisam de executar o âmbito<br />

do projeto. Se um projeto é uma batalha,<br />

o cliente é nosso inimigo? Não, o cliente<br />

não é nosso inimigo. O inimigo do gestor<br />

de projetos é a incerteza e o inesperado.<br />

Parte disso pode vir do cliente, mas parte<br />

vem de fatores externos e até da equipa<br />

do projeto.<br />

O principal objetivo da gestão de projetos<br />

é, sem desculpas, executar um projeto dentro<br />

do prazo, do âmbito, da qualidade e do<br />

orçamento.


SCM Supply Chain Magazine 37<br />

Falta de planeamento<br />

A importância do planeamento é<br />

frequentemente subestimada. Mau, ou nenhum<br />

planeamento, é a mãe do fracasso épico.<br />

Por mais que planeie, há sempre uma taxa<br />

superior de situações inesperadas em projetos<br />

do que em compras para produção. Por que<br />

motivo não podemos eliminar a incerteza?<br />

Existem três etapas de planeamento: âmbito,<br />

cronograma & planeamento orçamental.<br />

No estágio de planeamento do âmbito,<br />

um papel importante é o da engenharia e<br />

gestão de projetos. O engenheiro do projeto,<br />

juntamente com o cliente e o gestor do projeto,<br />

define o âmbito do projeto. Frequentemente,<br />

o cliente conhece apenas um nível superior,<br />

o que espera do projeto, mas não sabem<br />

detalhes e como será realizado. O período<br />

de engenharia de projeto pode estender-se<br />

por um longo período de tempo, criando<br />

muita discussão entre engenheiro, cliente e<br />

gestor de projeto. O engenheiro propõe uma<br />

solução e, com base nisso, o gestor do projeto<br />

concorda com o âmbito final e o cronograma<br />

do projeto. A oferta do projeto<br />

e o orçamento de custos<br />

ainda estão abertos e<br />

é o momento em<br />

que as compras<br />

devem entrar<br />

em cena.<br />

Orçamento<br />

Idealmente, o departamento de Procurement<br />

deve estar envolvido em todos os projetos<br />

desde o início, fornecendo a contribuição<br />

dos fornecedores. Colaboração em compras<br />

e vendas traz benefícios comerciais e explica<br />

por que é importante envolver o Procurement<br />

desde o início. No entanto, esse ideal nem<br />

sempre é cumprido, e alguns projetos podem<br />

estar em andamento antes de decidir contratar<br />

um especialista de compras. Nesses casos, o<br />

Procurement descobre que foram convocadas<br />

para corrigir problemas de orçamento, em<br />

vez de impedir que eles aconteçam em<br />

primeiro lugar. Já na fase de orçamento, as<br />

compras começam a comunicar com potenciais<br />

fornecedores e iniciam o processo de RFI,<br />

reunindo informações de produtos e custos<br />

de fornecedores e inserindo informações<br />

de custos na lista técnica do projeto. Sem<br />

uma ferramenta adequada que combine a<br />

comunicação com o fornecedor e as tarefas de<br />

compras baseadas na BOM,<br />

é difícil controlar o<br />

fluxo de compras.<br />

Agora, a oferta final do<br />

projeto com âmbito,<br />

cronograma e preço de<br />

venda será oferecida ao<br />

cliente para aprovação.


38<br />

DEZEMBRO <strong>2019</strong><br />

Alterações de âmbito durante<br />

a execução<br />

Mudanças na fase de execução são caras;<br />

a única pergunta é: quem as pagará? Em alguns<br />

casos, um cliente altera as suas decisões<br />

anteriores e deseja fazer alterações no projeto<br />

Quanto mais um projeto for desenvolvido,<br />

maior será o risco de falha. As mudanças criarão<br />

um efeito dominó: as mudanças no âmbito<br />

causarão mudanças no cronograma, as quais,<br />

por sua vez, causarão mudanças no orçamento.<br />

As alterações feitas durante a fase de<br />

implementação pressionarão o relacionamento<br />

com o cliente e toda a equipa do projeto.<br />

Geralmente, em primeiro lugar, um cliente<br />

não está disposto a aceitar alterações no<br />

cronograma e no orçamento. Todos os tópicos<br />

de comunicação registados e acordos feitos<br />

com o cliente na fase inicial do projeto podem<br />

ser muito valiosos durante a fase de execução<br />

do projeto. Se você registou discussões<br />

anteriores e decisões comuns, possui evidências<br />

e é muito mais fácil negociar com o cliente.<br />

Colaboração em equipa<br />

(e-mails e Excel)<br />

Dependendo da complexidade do projeto,<br />

as equipas de execução podem ser diversas.<br />

Por vezes, os membros da equipa podem<br />

estar localizados em países e fusos horários<br />

diferentes. Se gerir um projeto destes usando<br />

apenas email e Excel está condenado.<br />

Em grandes equipas de projeto, deve<br />

haver uma sub-equipa com competências e<br />

tarefas especiais. O gestor de projeto verifica<br />

regularmente o desempenho da sub-equipa.<br />

O responsável de compras é um dos líderes<br />

da sub-equipa que deve ter, a todo momento,<br />

uma visão geral do status das compras. Em<br />

grandes projetos, a lista de materiais (BOM)<br />

pode ser extensa e com muitos itens. O gestor<br />

de compras deve atribuir itens a diferentes<br />

especialistas de compras e acompanhar o<br />

desempenho de todos.


SCM Supply Chain Magazine 39<br />

Falta de ferramentas<br />

de gestão adequadas<br />

Antes, comparei um gestor de projeto com<br />

um comandante de pelotão. Alguns dizem<br />

que são bombeiros, mas compará-los com<br />

um malabarista do circo também não está<br />

errado. Têm muitas tarefas paralelas que<br />

precisam de seguir. Compras é uma das<br />

bolas que devem manter sob controlo. Na<br />

aquisição de produção, o ERP e o MRP farão<br />

metade do trabalho de aquisição, criando<br />

requisitos, transformando-os em pedidos e<br />

seguindo os status dos pedidos. As atividades<br />

relacionadas a compras anteriores ao ERP são<br />

principalmente a comunicação com as partes<br />

interessadas internas e externas. Nem mesmo<br />

um gestor de projeto parecido com um superherói<br />

pode lidar com projetos complicados<br />

apenas com email e Excel.<br />

Já estivemos nessa posição de diretor de<br />

compras e estamos familiarizados com esse<br />

tipo de stress. Há algum tempo, analisámos<br />

a nossa caixa de correio e agrupámos<br />

as mensagens em classes de atividade.<br />

Surpreendentemente, descobrimos que metade<br />

dos emails na caixa de correio são informações<br />

simples que saltam entre nós e o fornecedor<br />

ou entre nós e as partes interessadas internas.<br />

A maioria dos ERP não possui módulos de<br />

comunicação com partes interessadas externas.<br />

Além disso, considerando que a maioria dos<br />

problemas de comunicação, extração de BOM,<br />

gestão de tarefas e funcionalidade de licitação<br />

ocorre antes do envolvimento do ERP, vimos<br />

que havia uma grande parte das atividades<br />

de compras desorganizadas e sem uma<br />

ferramenta útil. •<br />

ORÇAMENTO<br />

RECURSOS<br />

ÂMBITO<br />

PLANEAMENTO


40<br />

DEZEMBRO <strong>2019</strong><br />

INTRALOGÍSTICA<br />

Texto: Fábio Santos<br />

MENU PRIMAVERA:<br />

SOBREMESA EYE PEAK<br />

Condi<br />

A Condi Alimentar está a crescer e a lançar-se em novas áreas de negócio, mas o espaço<br />

disponível ainda terá de esperar um pouco mais para ser ampliado. Como forma de melhorar<br />

as suas operações em armazém, a portuguesa implementou o sistema de gestão de armazém<br />

Eye Peak, da Primavera BSS, que lhes está a permitir gerir melhor as suas movimentações e<br />

responder às suas necessidades operacionais e às dos seus clientes.


SCM Supply Chain Magazine 41<br />

MAIS TEMPO<br />

PARA O SEU


42<br />

DEZEMBRO <strong>2019</strong><br />

Associado ao crescimento de uma empresa<br />

encontramos algumas palavras como<br />

“actualização”, e foi precisamente isso<br />

que se verificou com a Condi. A empresa<br />

portuguesa da indústria alimentar dedica-se<br />

à produção de sobremesas, e ao longo dos<br />

seus mais de 25 anos de existência tem vindo<br />

a crescer, estando agora a lançar-se numa<br />

nova área de negócio que ainda não tinham<br />

explorado anteriormente: as gelatinas<br />

prontas a comer.<br />

Devido a este crescimento, a empresa<br />

admite que será necessária uma expansão,<br />

que ainda não está nos planos, mas que se<br />

prevê que aconteça nos próximos cinco anos.<br />

Em vez disso, apostaram na terceirização<br />

destas novas operações de logística de<br />

frio, através da Carreras, e procuraram uma<br />

tecnologia para gerir toda a operação e<br />

maximizar a rentabilidade em armazém,<br />

tendo optado pelo Eye Peak.<br />

QUAIS ERAM ENTÃO<br />

OS INGREDIENTES QUE ESTAVAM<br />

EM FALTA?<br />

Segundo nos conta António Tavares, director<br />

de Logística da Condi Alimentar, o sistema que<br />

tinham não era completamente compatível com<br />

os produtos que movimentavam em armazém,<br />

nomeadamente da área alimentar, com lotes e<br />

validades, e que obrigam a que seja cumprido<br />

o FEFO (First Expire, First Out). “Quando<br />

enviamos os produtos temos de ir de acordo<br />

com o FEFO, por ordem de validades”, explica<br />

o responsável, acrescentando que tudo isto<br />

requer um controlo ainda maior quando lidam<br />

com clientes que necessitam que se cumpra<br />

com a regra dos dois terços da validade, na<br />

área da grande distribuição. “Era necessário<br />

Por vezes as pessoas andavam a<br />

preparar as encomendas e não se<br />

sabia onde é que o produto estava,<br />

tinham de andar à procura, e isso<br />

representava tempo que se perdia.<br />

Neste momento o terminal diz<br />

exactamente onde é que tem de<br />

ir, e sabe que o produto está ali.<br />

António Tavares<br />

adquirirmos um sistema que nos permitisse<br />

fazer isso”, acrescenta.<br />

Sentia-se também a necessidade de obter<br />

rastreabilidade nos seus produtos, o que<br />

não acontecia antes de implementarem a<br />

solução. Explica que era necessário saber que<br />

tinha sido enviado um determinado produto,<br />

para quem, quando, de que lote e com que<br />

validade, pois “se acontecer alguma coisa com<br />

este produto nós temos de saber toda essa<br />

informação para podermos agir”, podendo<br />

mesmo ser necessária a recolha desse produto.<br />

Além disso, também sentiam necessidades<br />

ao nível da organização do armazém e da<br />

gestão de stocks, e António Tavares explica<br />

que “por vezes as pessoas andavam a preparar<br />

as encomendas e não se sabia onde é que o<br />

produto estava, tinham de andar à procura, e<br />

isso representava tempo que se perdia. Neste<br />

momento o terminal diz exactamente onde é<br />

que tem de ir, e sabe que o produto está ali”.<br />

O responsável também comenta que “é<br />

muito diferente o sistema saber onde estão<br />

localizados todos os artigos do que andarmos<br />

à procura de determinado produto, ou palete,<br />

e muitas vezes acontece o caso de se assumir


SCM Supply Chain Magazine 43<br />

que já não existe em stock, quando não é<br />

verdade”.<br />

Explica ainda que sentiam dificuldades<br />

em termos de espaços mortos, e que isso<br />

implicava quase trabalhar no Just In Time.<br />

“Se todos os fluxos se interligarem entre eles<br />

e se não houver desperdício pelo meio, nós<br />

ganhamos um nível de produtividade enorme.<br />

Este sistema é crucial para isso, para nós<br />

completarmos todo o ciclo, desde a recepção<br />

até à expedição sem falhas”, e era uma das<br />

necessidades anteriores, que foi também<br />

respondida pelo WMS.<br />

Carlos Machado, responsável operacional da<br />

Remarkable Field, foi quem ficou encarregue<br />

pela implementação do sistema de gestão na<br />

Condi. Explica que este crescimento levou a<br />

que o processo passasse a ter mais erros no<br />

circuito, e isso fez com que eles sentissem a<br />

necessidade de fazer mais para além de ter o<br />

ERP Primavera, procurando algo mais técnico<br />

relacionado com a área da logística.<br />

“SE TODOS OS FLUXOS<br />

SE INTERLIGAREM ENTRE<br />

ELES E SE NÃO HOUVER<br />

DESPERDÍCIO PELO MEIO,<br />

NÓS GANHAMOS<br />

UM NÍVEL DE<br />

PRODUTIVIDADE ENORME”<br />

ANTÓNIO TAVARES


44<br />

DEZEMBRO <strong>2019</strong><br />

PREPARAR E ENFORMAR<br />

A SOLUÇÃO<br />

O responsável da Remarkable Field explica que<br />

no início tratou-se de identificar áreas da cadeia<br />

logística da Condi onde poderiam melhorar o<br />

desempenho, que foram essencialmente três<br />

áreas:<br />

Layout<br />

Houve uma aposta no layout do armazém,<br />

de modo a que este fosse mais adequado<br />

ao crescimento. “Nem sempre é possível,<br />

nas condições que existem, fazermos o<br />

que nós queremos, ou seja, fazer a solução<br />

ideal”, explica Carlos Machado, e conta que<br />

procuraram que o novo layout fosse mais<br />

adequado ao crescimento. “Incrementámos aqui<br />

posições de armazenagem”, sintetiza.<br />

Equipamentos de movimentação<br />

Com um layout novo houve uma necessidade<br />

de modificar a forma como as pessoas<br />

funcionavam em ambiente de armazém.<br />

O responsável explica que foi necessário<br />

colocar novos equipamentos para fazer<br />

face ao espaço e de optimizar o circuito de<br />

movimentação dos mesmos.<br />

WMS<br />

“O ERP, de facto, dava alguma ajuda em<br />

diferentes momentos de gestão, mas quando<br />

chegava à parte mais técnica não chegava lá”,<br />

comenta Carlos Machado, e que chegaram<br />

assim a esta terceira fase, que foi da escolha de<br />

um sistema que os apoiasse mais tecnicamente.<br />

Houve um estudo de mercado junto de três<br />

players, um dos quais a Primavera, de modo a<br />

avaliar os sistemas, tendo a escolha sido feita<br />

“de forma fácil”.<br />

Todo o processo de implementação<br />

demorou um ano e meio. No entanto,<br />

este processo envolveu momentos<br />

como o tempo de decisão, novo layout,<br />

implementação do sistema, entre outros,<br />

e que por essa razão houve essa<br />

demora. Carlos Machado destaca que a<br />

implementação da tecnologia foi a parte mais<br />

rápida, e que demorou cerca de meio ano,<br />

estando já em funcionamento desde Janeiro.<br />

“Há um processo de transformação<br />

contínua”, explica Hernâni Andrés, manager<br />

corporate business da Primavera BSS,<br />

“há aqui um processo de acompanhamento<br />

de manutenção evolutiva do sistema”,<br />

relacionado tanto com o nível dos processos<br />

como dos sistemas de informação.<br />

Carlos Machado refere que na nova área<br />

de negócio, embora seja logística de frio,<br />

o sistema utilizado também será Eye Peak,<br />

mas que o próximo passo terá mesmo de ser<br />

a expansão do espaço de armazenagem da<br />

empresa.<br />

Hernâni Andrés comenta que esta<br />

C<br />

M<br />

Y<br />

CM<br />

MY<br />

CY<br />

CMY<br />

K


SCM Supply Chain Magazine 45<br />

implementação “começou muito bem porque<br />

se começou por pensar nos processos, e<br />

isto é fundamental”, realçando que foi feito<br />

um trabalho em conjunto entre ambas as<br />

partes, com a grande preocupação que é<br />

perceber qual é a realidade, seja em termos<br />

de estrutura, de condicionantes, pessoas,<br />

negócio; quais as exigências necessárias ao<br />

nível da gestão, perceber o que é crítico e<br />

conseguir-se prever, através do que existe, o<br />

que é possível fazer ao nível dos processos<br />

e o que o sistema pode fazer para melhorar<br />

toda a operação.<br />

PRONTO A SERVIR<br />

Questionado acerca dos resultados obtidos<br />

com a implementação, António Tavares explica<br />

SupplyChain__Expositores_17X115mm_<strong>2019</strong>.pdf 2 15/10/<strong>2019</strong> 17:48:36<br />

que “o que nós conseguimos com este<br />

sistema é, com o mesmo número de recursos,<br />

fazer muito mais”, destaca, referindo-se<br />

às vantagens observadas nestes primeiros<br />

meses no activo.<br />

Para além disso, a implementação deste<br />

sistema também já antevê o crescimento da<br />

empresa e do espaço de armazenagem, bem<br />

como as necessidades futuras da Condi. Sobre<br />

antecipação dessas necessidades, bem como<br />

dos resultados obtidos face às anteriores,<br />

Hernâni Andrés comenta que “conseguiuse<br />

construir aquilo que é o essencial para<br />

responder aos desafios de hoje, projectandose<br />

já uma evolução futura”.<br />

“A parte operacional neste momento está<br />

toda em curso, e já estamos a evoluir para a<br />

fase seguinte”, conclui António Tavares. •<br />

SMART<br />

LOGISTICS &<br />

PACKAGING<br />

12-14<br />

FEBRUARY<br />

2020<br />

BARCELONA<br />

European Intralogistics Summit 2020 National Congress of Packaging 4.0<br />

LOGISTIC<br />

ROBOTICS<br />

FORKLIFTS<br />

& ACCESORIES<br />

STORAGE<br />

PALLETS<br />

& CONTAINERS<br />

MACHINERY<br />

& COMPONENTS<br />

PACKAGING<br />

& MATERIALS<br />

LABELING<br />

& CODING<br />

FINAL<br />

PACKAGING<br />

SECTORS REPRESENTED<br />

FOOD INDUSTRY, BEVERAGES, DISTRIBUTION, PHARMA & COSMETICS, AUTOMOTIVE, TEXTILE, ELECTRONICS, TRANSPORT, RETAIL/NOON-FOOD.<br />

EXHIBIT AT PICK&PACK<br />

www.pickpackexpo.com<br />

Supporting Partner:<br />

An event of:


46<br />

INTRALOGÍSTICA<br />

Novo centro logístico<br />

da Mango<br />

Texto: Fábio Santos<br />

A LOGÍSTICA TEM UMA CARTA NA MANGO<br />

A Mango inaugurou recentemente o seu novo centro logístico, o maior da cadeia, e um dos<br />

maiores da Europa. Localizado no município de Lliçà d’Amunt (Barcelona), este “armário<br />

gigante” de 190 mil metros quadrados foi o resultado de um investimento de 230 milhões de<br />

euros, e irão ser investidos mais 35 milhões para que este seja expandido em mais 90 mil metros<br />

quadrados até 2023.


SCM Supply Chain Magazine 47<br />

com uma capacidade para processar 75 mil<br />

peças de vestuário por hora, ou cerca de 600<br />

mil por dia.<br />

A zona de armazenagem está dividida entre<br />

a roupa pendurada e dobrada, tendo estas<br />

capacidades para 7 e 20 milhões de peças,<br />

respectivamente.<br />

Embora a sua actividade tenha sido iniciada<br />

em 2016, tem sido intensificada gradualmente,<br />

atingindo a sua capacidade total apenas este<br />

Verão, e desde então que trabalha com ela.<br />

Desde que iniciou actividade reduziu os custos<br />

operacionais em 25%.<br />

“O cliente é dono do stock da<br />

Mango”, comenta Antonio Pascual,<br />

responsável de logística da Mango,<br />

“acreditamos que isso nos permite<br />

tomar as decisões no último<br />

minuto, o que nos permite gerir<br />

melhor o stock”.<br />

MELHORAR A EXPERIÊNCIA<br />

DE COMPRA<br />

Parece um truque de magia, como aquele<br />

em que os mágicos tiram dezenas e<br />

dezenas de lenços, mas não é. Embora<br />

se trate igualmente de produtos têxteis,<br />

é um pouco diferente, pois a Mango elevou<br />

ainda mais um pouco a fasquia. O novo<br />

centro logístico da espanhola tem espaços de<br />

armazenagem que vão até 35 metros de altura<br />

e pode armazenar até 27 milhões de itens,<br />

Toni Ruiz, director-geral da Mango, considera<br />

que este novo armazém é um dos principais<br />

activos da espanhola. O responsável, que foi<br />

nomeado para o cargo em 2018, investiu neste<br />

modelo, recomeçando a escalada que ficou<br />

pelo caminho há três anos, quando a empresa<br />

entrou em perdas, em parte por causa dos<br />

investimentos feitos para melhorar a rede de<br />

lojas, cujos espaços aumentaram, em média,<br />

mais de 50%.


48<br />

DEZEMBRO <strong>2019</strong><br />

“Com uma melhor experiência<br />

de compra, melhorámos a oferta<br />

comercial e melhorámos os<br />

processos tecnológicos”,<br />

destaca Toni Ruiz.<br />

Este local recebe os produtos que vêm<br />

das fábricas, prepara-os e expede-os para as<br />

lojas… Sempre a grande velocidade. As docas<br />

têm capacidade para descarregar 3.000 peças<br />

por hora, e conseguem preparar até 20 mil<br />

encomendas nesse mesmo tempo.<br />

Os pedidos são agrupados consoante as<br />

zonas geográficas a que se destinam. Este<br />

processo está automatizado e através dele<br />

podem ser feitas entregas entre uma e seis<br />

vezes por semana, dependendo da loja e das<br />

suas necessidades, estando a média nos cinco<br />

envios semanais.<br />

A partir dali enviam-se os produtos novos, as<br />

novidades, os produtos de reposição ou peças<br />

que foram saindo porque tiveram êxito.<br />

É um envio calculado, tendo por base analíticas<br />

comparáveis, mas Antonio Pascual comenta<br />

que “a participação das lojas é escassa”,<br />

e as decisões são tomadas no centro.<br />

ONLINE REPRESENTA 20%<br />

DA FACTURAÇÃO<br />

Dentro das melhorias que a Mango se encontra<br />

a incorporar está a implantação de um sistema<br />

RFID, tendo já a decorrer um projecto piloto<br />

em quatro das suas lojas, número que procura<br />

alargar para 20. Através destes testes com<br />

leitura por radiofrequência, a empresa procura<br />

conhecer o stock de cada loja, como se de um<br />

GPS para cada peça se tratasse, permitindo à<br />

Mango saber a sua localização até à sua saída<br />

do estabelecimento, nas mãos do cliente.<br />

Este sistema também está a ser utilizado pela<br />

Inditex, nas suas lojas da Zara, e espera tê-lo<br />

em todas as suas marcas em 2020.<br />

Este sistema permite fornecer pedidos online<br />

através da loja, e não desde o armazém, algo<br />

em que a Mango se encontra a trabalhar, e<br />

Antonio Pascual afirma que é necessário “ter a<br />

certeza absoluta do que temos em cada loja”.<br />

Nos dias que antecedem o Natal existe<br />

um pico de vendas, que começa na altura da<br />

chamada Black Friday. Segundo a Mango,<br />

alguns dias antes desta data o nível de


49<br />

capacidade aumenta, e embora<br />

as lojas já se encontrem<br />

abastecidas, é necessário<br />

reforçar o fornecimento para os<br />

armazéns, de forma a responder<br />

aos pedidos online.<br />

É que é uma época em que<br />

os pedidos pela internet<br />

quadruplicam. Estamos<br />

perante as cinco semanas mais<br />

importantes do ano em termos<br />

de vendas. Em 2018, as vendas<br />

através do canal online atingiram<br />

20% da facturação total e<br />

espera-se que em 2020<br />

já represente 30%. •<br />

“TER A CERTEZA<br />

ABSOLUTA<br />

DO QUE TEMOS<br />

EM CADA LOJA”.<br />

Antonio Pascual


50<br />

DEZEMBRO <strong>2019</strong><br />

INTRALOGÍSTICA<br />

Texto: Fábio Santos<br />

ESTRUTURA<br />

END-TO-END<br />

PARA EXPEDIR<br />

EM DUAS HORAS<br />

A La Redoute tem em curso um plano de<br />

transformação à volta da sua logística<br />

e renovação de armazéns. Como forma<br />

de optimizar a gestão de armazém e de<br />

encomendas, a francesa convergiu as suas<br />

operações em duas novas infraestruturas,<br />

uma mais pequena, dedicada ao vestuário,<br />

e outra maior, para móveis, uma nova<br />

área de negócio.<br />

La Redoute<br />

E<br />

m termos de digitalização, agilidade nos<br />

processos é crucial para o negócio, e a La<br />

Redoute procura estar à frente.<br />

O seu processo de modernização passou pela<br />

construção de dois armazéns automatizados,<br />

dedicados a dois tipos diferentes de materiais.<br />

Estas infraestruturas dispõem de uma<br />

avançada digitalização que permite à empresa<br />

obter ganhos consideráveis, especialmente em<br />

termos de tempo, mas não só.<br />

A ambição da La Redoute estava em<br />

proporcionar uma melhor experiência ao<br />

cliente final, mas percebeu que para atingir um<br />

determinado nível de agilidade era necessário<br />

apostar na automatização, investindo em<br />

edifícios dedicados a certos produtos, com um<br />

nível elevado de robotização, onde convergiam<br />

as informações de gestão dos restantes<br />

armazéns.


SCM Supply Chain Magazine 51<br />

UM NEGÓCIO, DOIS CORAÇÕES<br />

Um dos novos espaços criados pela La Redoute<br />

foi o Quai 30, um armazém automatizado<br />

com mais de 42 mil metros quadrados situado<br />

na cidade francesa de Wattrelos, próximo à<br />

fronteira com a Bélgica, e tem uma capacidade<br />

de processar mais de 3.500 pedidos por hora,<br />

enviando mais de 15 milhões por ano. Apesar<br />

do seu tamanho, este é o mais pequeno dos<br />

dois, dedicado às peças de vestuário, o core<br />

do negócio da empresa.<br />

A necessidade de acelerar os processos<br />

na área do vestuário levou a La Redoute a<br />

reformular a sua estrutura, e foi através deste<br />

armazém automatizado que atingiu o seu<br />

objectivo de preparar uma encomenda em<br />

apenas duas horas (em vez de um dia e meio),<br />

e caso o cliente a faça antes das 20h, recebe-a<br />

na manhã seguinte. Patrice Fitzner, director<br />

de logística da La Redoute, comenta mesmo<br />

que “um quarto de hora<br />

após o cliente validar a sua encomenda,<br />

começamos a processá-la aqui”.<br />

Pouco distante, a cerca de 60km deste<br />

armazém, fica Anzin, onde está o segundo<br />

armazém automatizado, com 70 mil metros<br />

quadrados dedicados aos produtos para o lar.<br />

É no Quai de l’Escaut que a La Redoute armazena<br />

quase um milhão de produtos de mobiliário,<br />

e de onde prepara e envia, anualmente, mais de<br />

um milhão de produtos para toda a França,<br />

bem como para as suas subsidiárias.<br />

“CAPACIDADE DE PROCESSAR<br />

MAIS DE 3.500 PEDIDOS<br />

POR HORA, ENVIANDO<br />

MAIS DE 15 MILHÕES<br />

POR ANO”<br />

TRANSFORMAÇÃO<br />

Anteriormente, o sistema era baseado na<br />

“tecnologia Mainframe”, com lotes inerentes…<br />

Um “legado puro”, segundo caracteriza a<br />

empresa. A nova arquitectura foi baseada<br />

em vários sistemas, distribuídos entre stock<br />

comercial, gestão de transporte, referências<br />

de produtos, processamento de pedidos,<br />

atendimento e WMS. “Também tínhamos os<br />

requisitos para gerir a actividade dos vários<br />

países e entidades, com diferentes modelos<br />

B2B e B2C, aumentando assim a complexidade<br />

dos requisitos”, pode-ser ler no site da empresa.<br />

Primeiramente, traçaram os limites e<br />

funções para cada sistema, de modo a<br />

clarificar as funções de cada um e esclarecer as<br />

responsabilidades a eles inerentes, e de seguida<br />

mapearam os fluxos de dados e interações<br />

necessárias entre os sistemas. “Cada interacção<br />

deve identificar suas trocas de eventos de<br />

negócios, modelo de solicitação / resposta<br />

e cenários, além de definir seus requisitos<br />

funcionais e não funcionais”, explica a<br />

La Redoute.


52<br />

DEZEMBRO <strong>2019</strong><br />

Segundo a fonte, o grande desafio que<br />

enfrentam é limitar, as trocas sincronizadas<br />

onde elas não são precisas, implementando<br />

fluxos quase em tempo real.<br />

Por fim, terminaram com a lista de<br />

eventos “em cascata” no sistema, de modo a<br />

conseguirem definir o caminho crítico entre<br />

o pedido e a encomenda. “Isto deu-nos uma<br />

imagem clara da implementação do negócio<br />

através das aplicações, e a necessidade de<br />

proteger esses fluxos de informação”, comenta.<br />

A INTEGRAÇÃO E TESTE<br />

Paralelamente à implementação de<br />

cada sistema, a La Redoute focou-se nos<br />

pedidos end-to-end e no processamento de<br />

encomendas, e explicam que “com a construção<br />

de uma arquitectura em paralelo, tivemos<br />

muito trabalho a refazer, surpresas e erros com<br />

os quais aprender e repetir”.<br />

A integração de ponta-a-ponta e fazer os<br />

testes foram os esforços mais significantes ao<br />

longo da implementação, mas consideraram<br />

que seria “a única maneira de garantir o<br />

comportamento esperado, integração de dados<br />

e compatibilidade com sistemas mais antigos,<br />

maioritariamente nas áreas da contabilidade,<br />

finanças e reconciliação”.<br />

ALINHAR O COMPORTAMENTO DO<br />

NEGÓCIO AO DESIGN DO SISTEMA<br />

Os princípios aplicados no design para<br />

satisfazer os requisitos e as restrições foram<br />

maioritariamente baseados em “Event Driven<br />

Architecture” (EDA), permitindo processar<br />

eventos em paralelo, escalar mais facilmente<br />

e de forma mais resiliente aos erros, gerindo<br />

repetições num sistema distribuído.<br />

A implementação final resultou em cerca de<br />

30 ocorrências que representavam as principais<br />

interacções entre todos os sistemas, de modo<br />

a poderem processar um pedido para uma<br />

encomenda, apenas nas interfaces entre os<br />

sistemas, não contando, portanto, com o estado<br />

interno e as incidências para cada aplicação.<br />

“Representou um grande esforço de<br />

integração, coordenação enquanto movíamos<br />

as partes em paralelo e uma complexidade<br />

de use-cases funcionais”, explica a empresa.<br />

“Adicionalmente, estando atrasados na<br />

abordagem aos tópicos de monitorização e<br />

visibilidade, passámos um tempo significativo<br />

em garantir o comportamento correcto do<br />

sistema, e detecção de anomalias”, acrescenta,<br />

comentando que primeiro essa abordagem<br />

foi feita manualmente, de forma reactiva,<br />

Business Interactions & Events Design Alignment<br />

Preparação do pedido<br />

Reconhecimento da preparação<br />

SISTEMA<br />

DE GESTÃO<br />

DA ENCOMENDA<br />

Divisão do pedido<br />

Actualizar preparação<br />

Encomenda a caminho<br />

SISTEMA DE<br />

GESTÃO DO<br />

ARMAZÉM<br />

Encomenda enviada


SCM Supply Chain Magazine 53<br />

antecedendo a implementação da visibilidade<br />

end-to-end adequada.<br />

Em termos de testes, a La Redoute explica<br />

que a sua abordagem foi feita através da<br />

integração de testes por parte de cada equipa,<br />

inserindo os seus componentes individuais<br />

baseados nos comportamentos das ocorrências,<br />

e tiveram de investir uma grande parte dos<br />

esforços nos testes end-to-end, de um pedido<br />

de um cliente até à expedição e facturação.<br />

“ATINGIU O SEU OBJECTIVO DE<br />

PREPARAR UMA ENCOMENDA<br />

EM APENAS DUAS HORAS (EM<br />

VEZ DE UM DIA E MEIO),<br />

E CASO O CLIENTE A FAÇA<br />

ANTES DAS 20H, RECEBE-A<br />

NA MANHÃ SEGUINTE”<br />

“UM QUARTO DE HORA APÓS<br />

O CLIENTE VALIDAR A SUA<br />

ENCOMENDA, COMEÇAMOS<br />

A PROCESSÁ-LA AQUI”<br />

TRANSFORMAÇÃO<br />

TRAZ APRENDIZAGENS<br />

A La Redoute destaca ainda que através desta<br />

transformação obtiveram várias aprendizagens,<br />

nomeadamente a nível das práticas culturais,<br />

organizacionais e técnicas. Durante o processo,<br />

admitem que erraram algumas vezes, e que<br />

devido à pressa e à ambição não conseguiram<br />

reconhecer a necessidade de atrasar, projectar e<br />

alocar mais recursos para determinados tópicos,<br />

nomeadamente em termos de agilidade,<br />

arquitectura e tecnologia. •


54<br />

DEZEMBRO <strong>2019</strong><br />

Texto: Fábio Santos<br />

Fontes: Jornal de Negócios e SAP<br />

TECNOLOGIAS<br />

Logística 4.0<br />

AS NOVAS<br />

TECNOLOGIAS<br />

DÃO “4 A 0”<br />

ÀS ANTIGAS<br />

Chama-se indústria 4.0 por ser a ser a quarta<br />

revolução industrial, e com ela entramos em<br />

temas como automação e robotização, Machine<br />

Learning, Internet of Things, Inteligência<br />

Artificial, Realidade Aumentada, Impressão<br />

3D… Em suma, toda uma logística 4.0 que em<br />

muito melhorou a forma como as empresas<br />

actuam no mercado, e que trouxe novas<br />

oportunidades para as mais pequenas, que<br />

agora têm mais oportunidades de actuar com<br />

os grandes, seja em termos de cooperação ou<br />

de competitividade.


SCM Supply Chain Magazine 55<br />

A<br />

tecnologia tem-se desenvolvido a<br />

um ritmo impressionante. Em poucas<br />

décadas grande parte dos processos já<br />

se encontram automatizados, e as empresas<br />

vêem-na como uma grande oportunidade para<br />

criar valor para o seu negócio… Mas será que<br />

o sector se encontra preparado para tamanha<br />

tecnologia?<br />

Para responder a essa e a outras questões,<br />

a SAP publicou um estudo chamado<br />

“Digital Supply Chain Management 2020<br />

Vision”, que contou com a resposta de<br />

21 líderes de indústria sobre os desafios,<br />

90%<br />

dos CEO acreditam<br />

que a economia<br />

digital terá um<br />

grande impacto<br />

na sua indústria<br />

tendências e objectivos do sector, mostrando<br />

ainda os diferentes pontos de vista<br />

relativamente à aplicabilidade de determinados<br />

casos de estudo inovadores às suas realidades.<br />

Segundo o estudo, 90% dos CEO acreditam<br />

que a economia digital terá um grande<br />

impacto na sua indústria, no entanto, apenas<br />

25% dispõem de um plano de digitalização,<br />

desenhado e pronto a colocar em prática.<br />

Enquanto isso, os clientes começam a estar<br />

cada vez mais habituados a estas tecnologias e<br />

a níveis de serviço premium, sendo que as suas<br />

exigências são cada vez maiores.<br />

25%<br />

dos inquiridos<br />

têm um plano<br />

de digitalização<br />

elaborado<br />

6 BENEFÍCIOS DA INDÚSTRIA 4.0<br />

Custos<br />

Receitas<br />

Eficiência<br />

Fábrica<br />

inteligente<br />

Agilidade<br />

Inovação<br />

Experiência<br />

do cliente


56<br />

DEZEMBRO <strong>2019</strong><br />

BENEFÍCIOS 4.0<br />

De acordo com a PwC, mais de metade das<br />

empresas líderes do sector industrial (56%)<br />

já se encontram a utilizar práticas 4.0 para<br />

minimizar os seus custos e apostar uma maior<br />

eficiência aos transportes e à logística.<br />

Falamos de tecnologias que permitem<br />

às empresas obter ganhos em termos<br />

de gestão e rastreamento dos produtos,<br />

mas com grandes vantagens mesmo no<br />

caso dos transportes, com tecnologias de<br />

monitorização do seu percurso e de gestão<br />

de rotas, que tornam o movimento de cargas<br />

mais eficiente.<br />

Mantendo o foco no transporte, também<br />

autómatos e drones têm sido apostas<br />

recentes por parte de multinacionais, como<br />

a Amazon e a Domino’s, para a entrega de<br />

produtos, conseguindo economizar custos<br />

com a contratação de pessoas. Esta realidade<br />

era impensável até há pouco tempo,<br />

e rapidamente se tornou possível.<br />

Mas não só. Os veículos hoje já dispõem<br />

de tecnologia que optimiza a sua utilização,<br />

melhorando a condução, diminuindo os<br />

tempos de entrega, possibilidade de acidentes<br />

e melhorando a qualidade de serviço e do<br />

quotidiano dos motoristas, e tudo isto em<br />

tempo real e com ligações em rede.<br />

As possibilidades são imensas e<br />

abrangem a mais diversas áreas, cabe<br />

apenas às empresas traçar o seu plano de<br />

desenvolvimento tecnológico e procurar<br />

o caminho correcto para atingir os seus<br />

objectivos futuro. Poderá aceder ao Digital<br />

Supply Chain Management 2020 Vision e ver<br />

com maior detalhe as opiniões de líderes de<br />

empresas como a Nestlé, L’óreal, Huawei ou<br />

Continental relativamente a estas inovações. •


SCM Supply Chain Magazine 57<br />

28%<br />

2AF_Anuncio175x115.pdf 1 02/08/<strong>2019</strong> 17:42<br />

DAS EMPRESAS ESTÃO PREOCUPADAS<br />

QUE O SEU SISTEMA NÃO CONSIGA<br />

TER ESCALA PARA RESPONDER ÀS<br />

DEMANDAS DE PROJECTOS DE BIG DATA<br />

A Formação de Executivos<br />

tem um novo horizonte.<br />

Do qual todos fazemos parte.<br />

Sabemos o que queremos ser: pioneiros do futuro, numa<br />

comunidade determinada a impactar e transformar o agora.<br />

Junte-se a nós. O próximo capítulo desta história é consigo.<br />

exed.novasbe.pt/oproximocapitulo


58<br />

DEZEMBRO <strong>2019</strong><br />

10 PREVISÕES<br />

PARA AS SUPPLY<br />

CHAIN MUNDIAIS<br />

A PARTIR DE 2020<br />

TECNOLOGIAS<br />

2020 traz mais<br />

transformação digital<br />

à supply chain<br />

Estamos a chegar ao fim do ano e prestes<br />

a entrar numa nova década. Mudam-se<br />

os tempos e na área da logística não se<br />

mudam só as vontades, mas sim processos,<br />

recursos e modelos de negócio.<br />

O motivo? Tecnologia. Entramos em 2020<br />

com 10 previsões que irão marcar o sector<br />

da supply chain nos próximos anos.<br />

Fonte: Simon Ellis, no website<br />

Material Handling & Logistics<br />

A<br />

cadeia de abastecimento continua a sofrer<br />

grandes mudanças. Factores antigos e<br />

fundamentais ainda permanecem, como<br />

a produtividade, qualidade e serviço, mas<br />

actualmente a transformação digital está<br />

preparada para mudar tudo.<br />

A cadeia de abastecimento tem-se tornado,<br />

cada vez mais, um processo crítico para<br />

as empresas realizarem as suas ambições<br />

de negócios, e é uma arma competitiva na<br />

economia digital moderna. Recursos avançados<br />

da cadeia de abastecimento podem suportar<br />

abordagens de negócios actuais mais eficientes<br />

e eficazes, bem como novos modelos de<br />

negócios que se traduzem, directamente, em<br />

desempenho comercial tangível e mensurável.<br />

A cada ano, o IDC Manufacturing Insights<br />

fornece aos fabricantes e retalhistas as 10<br />

principais previsões, e factores subjacentes,<br />

que esperam impactar os investimentos<br />

em Inteligência Artificial na cadeia de<br />

abastecimentos em 2020 e após esse ano.<br />

Pelo segundo ano consecutivo, a transformação<br />

digital está no topo das previsões.


SCM Supply Chain Magazine 59<br />

1<br />

2<br />

3<br />

4<br />

Até ao final do ano de 2021, metade<br />

de todas as cadeias de abastecimento<br />

das fábricas terão investido<br />

na resiliência da cadeia e em Inteligência<br />

Artificial, resultando em<br />

melhorias de 15% na produtividade.<br />

Até 2022, as empresas irão aplicar<br />

35% do seu orçamento de serviços<br />

de outsourcing relativos a negócios<br />

de logística, à automação, focando<br />

no pedido, inventário e rastreamento.<br />

Até ao fim de 2020, metade de todos<br />

os grandes fabricantes terão análises<br />

automatizadas de dados de fornecedores,<br />

resultando num ganho<br />

de 15% na produtividade das compras.<br />

Até 2023, as micro-aplicações da<br />

extensão da cadeia de abastecimento<br />

responderão por um terço de<br />

todos os novos investimentos em<br />

tecnologia no fabrico e retalho.<br />

6<br />

7<br />

8<br />

Para diminuir o stress na cadeia de<br />

abastecimento, até 2023, 25% dos<br />

OEM’s (Fabricante Original do Equipamento)<br />

impulsionarão a tecnologia<br />

blockchain para obter peças<br />

de reposição, melhorando a precisão<br />

das peças utilizáveis em 60% e<br />

reduzindo os custos de expedição<br />

em 45%.<br />

Até 2023, 60% dos fabricantes do<br />

G2000 investirão em processos<br />

robotizados com Inteligência Artificial<br />

de maneira a automatizar tarefas<br />

de níveis de produção elevados,<br />

abordando as dificuldades existentes<br />

na cadeia de abastecimento.<br />

Até 2024, 75% de todas as empresas<br />

ligadas ao consumidor terão<br />

desenvolvido a capacidade de personalizar<br />

em escala dentro das suas<br />

cadeias de abastecimento, resultando,<br />

em média, num aumento de<br />

dois a três pontos percentuais na<br />

quota de mercado.<br />

5<br />

Até 2023, 65% das operações de<br />

armazém farão uso de robôs e análises<br />

de dados para permitir a optimização<br />

do armazenamento, aumentando<br />

a capacidade em mais de 20%<br />

e reduzindo, em metade, o tempo<br />

de processamento das ordens de<br />

serviço.<br />

9<br />

10<br />

Até 2022, o número de empresas que<br />

oferecem opções flexíveis de armazenamento<br />

terá aumentado em 50%, o<br />

que pode ajudar a enfrentar os desafios<br />

sazonais da procura e a reduzir os<br />

custos fixos em mais de 20%.<br />

Até 2024, em função da transparência<br />

e eficiência, 40% das agências aduaneiras<br />

irão juntar-se aos ecossistemas<br />

privados de blockchain e plataformas<br />

de comércio baseadas em API para<br />

obter um aumento de 50% na conformidade<br />

transfronteiriça.


60<br />

DEZEMBRO <strong>2019</strong><br />

DECISÕES QUE FAZEM<br />

A DIFERENÇA<br />

Recomendam-se às empresas manufatureiras<br />

para pensarem não só sobre o futuro dos<br />

negócios, mas também sobre a probabilidade<br />

de perturbações do sector, e recursos<br />

específicos que a tecnologia poderá adicionar<br />

à sua cadeia de abastecimento. Uma delas é o<br />

investimento em tecnologias que proporcionem<br />

eficiência e eficácia, e permitam que recursos<br />

futuros melhorem a resiliência ou identifiquem<br />

novas oportunidades.<br />

É importante não encarar a tecnologia<br />

como algo passivo, mas sim como um recurso<br />

para resolver problemas ou aproveitar<br />

oportunidades. Tem uma empresa de<br />

tecnologia? Se a resposta é não, trabalhe<br />

com um parceiro especializado e concentre<br />

os seus esforços em pensar como é que esta<br />

o pode ajudar a resolver problemas em<br />

negócios existentes,<br />

ou em antecipar problemas futuros.<br />

Trabalhar com pequenos e grandes<br />

parceiros para acelerar as suas capacidades de<br />

tecnologias de informação e atender à linha de<br />

negócios, pode-se mostrar benéfico.<br />

É IMPORTANTE NÃO<br />

ENCARAR A TECNOLOGIA<br />

COMO ALGO PASSIVO,<br />

MAS SIM COMO UM<br />

RECURSO PARA<br />

RESOLVER PROBLEMAS<br />

OU APROVEITAR<br />

OPORTUNIDADES


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62<br />

DEZEMBRO <strong>2019</strong><br />

Determinados recursos e conhecimentos<br />

externos podem ajudá-lo a mover-se de<br />

maneira mais rápida e eficaz, algo essencial no<br />

mercado global. Expanda os seus horizontes<br />

para incluir recursos menores direccionados<br />

a aplicações como extensões para sistemas<br />

mais amplos.<br />

Tire algum tempo para reavaliar a sua cadeia<br />

de abastecimentos de forma a garantir que está<br />

preparada para aumentar os níveis de produtos<br />

e activar processos digitalmente. Isto não são<br />

apenas aplicações, centros de dados e redes,<br />

trata-se também de arquitetura corporativa e<br />

das decisões de infraestrutura, como integração<br />

e segurança.<br />

Avalie a sua disponibilidade mental no que<br />

diz respeito à adopção de novas tecnologias e,<br />

mais importante do que isso, a sua capacidade<br />

de traduzir essas tecnologias em transformação<br />

digital. Provavelmente adaptar-se-á mais<br />

rapidamente a certas tecnologias, como<br />

a Internet das Coisas e machine learning,<br />

mas certifique-se que está a testar todas as<br />

tecnologias identificadas como aceleradores de<br />

inovação.<br />

É ainda importante tornar clara a ideia de<br />

que as tecnologias digitais modernas não<br />

se destinam a substituir pessoas, mas sim<br />

determinadas tarefas, dando aos trabalhadores<br />

liberdade para se concentrarem em funções<br />

com mais impacto.<br />

Fabricantes e retalhistas estão a repensar<br />

produtos, serviços e processos devido<br />

aos novos recursos que uma cadeia de<br />

abastecimento pensada pode oferecer.<br />

No entanto, não basta apenas ter tecnologia<br />

porque sim. Deve-se continuar a inovar<br />

e a criar valor a partir de investimentos<br />

destinados à resolução de problemas de<br />

negócios ou a novas ofertas.<br />

Os próximos anos irão alterar bastante o<br />

cenário tecnológico nos sectores do fabrico<br />

e do retalho. Estas previsões concentram-se<br />

amplamente a médio prazo, entre 2020 e 2024,<br />

o que leva a crer que muitas destas mudanças<br />

ocorrerão em breve. •<br />

É AINDA IMPORTANTE TORNAR<br />

CLARA A IDEIA DE QUE<br />

AS TECNOLOGIAS DIGITAIS<br />

MODERNAS NÃO SE DESTINAM<br />

A SUBSTITUIR PESSOAS, MAS SIM<br />

DETERMINADAS TAREFAS, DANDO<br />

AOS TRABALHADORES LIBERDADE<br />

PARA SE CONCENTRAREM EM<br />

FUNÇÕES COM MAIS IMPACTO


64<br />

DEZEMBRO <strong>2019</strong><br />

TRANSPORTE<br />

A revitalização da Rota<br />

da Seda do século XXI –<br />

One Belt One Road<br />

Texto: Ana Paiva<br />

A ROTA DA SEDA DO SÉCULO XXI<br />

A Nova Rota da Seda está a ser recriada. Há empresas que já têm planos em curso para<br />

esta iniciativa, países que se estão a integrar e outros que se estão a retrair. Fica por saber<br />

se a intenção chinesa é meramente comercial, bem como a posição de Portugal perante<br />

o projecto, uma vez que tem o seu maior porto nacional em disputa entre a China e os EUA.<br />

É uma história que volta agora à tona, mas que está ainda incompleta.<br />

S<br />

abe de onde nasceu a rota da seda? Pode<br />

soar a mera curiosidade, mas hoje-em-dia<br />

está bem renascida e a ganhar grandes<br />

repercussões em todo o mundo. Mas já lá vamos.<br />

Os chineses, há muitos anos, aprenderam<br />

a fabricar a seda a partir da fibra branca<br />

proveniente dos casulos dos bichos-da-seda.<br />

Acreditando ter feito uma grande descoberta,<br />

que mantiveram em segredo por algum tempo,<br />

estabeleceram contacto com as cidades do<br />

Ocidente onde encontraram pessoas dispostas<br />

a pagar um preço elevado pela seda. A partir<br />

deste momento o tecido passou a ser exportado<br />

naquela que é chamada a Rota da Seda.<br />

Consistia, então, num conjunto de trajectos<br />

interligados através do Sul da Ásia, que eram<br />

usados para o comércio da seda entre o<br />

Oriente e a Europa. Os carregamentos eram<br />

transportados por caravanas e embarcações que<br />

ligavam comercialmente os dois destinos.<br />

Actualmente, a história repete-se. O governo<br />

chinês quer agora revitalizar a antiga rota,<br />

denominando-se a Rota da Seda do século XXI<br />

composta por uma ‘faixa’ (belt), que se refere<br />

às ligações terrestres entre a China e a Ásia<br />

Central, e uma ‘estrada’ (road), que representa


SCM Supply Chain Magazine 65<br />

a rota marítima através da qual a China<br />

pretende reforçar a sua ligação ao Sudeste<br />

Asiático e liga-lo a África e Europa –<br />

‘one belt, one road’<br />

O governo chinês quer agora revitalizar<br />

a antiga rota, denominando-se a Rota da<br />

Seda do século XXI composta por uma<br />

‘faixa’ (belt), que se refere às ligações<br />

terrestres entre a China<br />

e a Ásia Central, e uma ‘estrada’ (road),<br />

que representa a rota marítima através<br />

da qual a China pretende reforçar a sua<br />

ligação ao Sudeste Asiático e liga-lo a<br />

África e Europa – ‘one belt, one road’<br />

‘O PLANO MARSHALL CHINÊS’<br />

No projecto estão integrados 71 países<br />

que representam metade da população<br />

mundial e um quarto do PIB global,<br />

quase todos subdesenvolvidos, e o Banco<br />

Asiático para o Desenvolvimento, estima<br />

que, para manter as economias a crescer,<br />

é necessário angariar mais de 26 mil milhões<br />

de dólares em investimentos até 2030.<br />

Esta iniciativa tem sido até denominada<br />

de ‘O Plano Marshall Chinês’, a diferença<br />

é que em vez de ser um programa de<br />

empréstimos norte-americano para<br />

apoiar a reconstrução da Europa após a II<br />

Guerra Mundial, é Pequim que irá investir,<br />

totalizando um valor 10 vezes maior<br />

do que o primeiro plano.<br />

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O seu parceiro de negócio<br />

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66<br />

DEZEMBRO <strong>2019</strong><br />

Embora existam diferentes estimativas em<br />

relação ao dinheiro que já foi gasto até ao<br />

momento, o projecto deverá custar mais de um<br />

bilião de dólares.<br />

Vejamos: em 2014 foi criado o Fundo da Rota<br />

da Seda com um capital de 40 mil milhões<br />

de dólares canalizados exclusivamente para<br />

financiar o projecto nos países-alvo. O Banco<br />

Asiático de Investimento em Infraestruturas<br />

acrescentou mais 100 mil milhões de dólares.<br />

Existe ainda um financiamento directo de<br />

110 mil milhões de dólares pelo Banco de<br />

Desenvolvimento da China, que é detido pelo<br />

Estado, segundo dados obtidos pelo Financial<br />

Times. Ao todo, o Crédit Suisse calcula que o<br />

valor investido se aproxime dos 502 mil milhões<br />

de dólares em 62 países, nos próximos anos.<br />

Como se pode ver, para alcançar o seu<br />

objectivo, a China está disposta a gastar muito<br />

dinheiro, nomeadamente em construir<br />

auto-estradas, caminhos-de-ferro, portos,<br />

oleodutos e gasodutos, de acordo com o Jornal<br />

Público. As empresas chinesas já estão a realizar<br />

trabalhos de construção em todo o mundo a<br />

uma escala inigualável.<br />

No entanto, a hegemonia chinesa no<br />

sector da construção deve-se aos contratos locais<br />

nos países parceiros. De acordo com o<br />

The Guardian, as vastas quantias arrecadadas<br />

pelas empresas chinesas estão em desacordo com<br />

a retórica oficial de que o ‘one belt, one road’<br />

está receptivo à participação global e sugere que<br />

esta iniciativa poderá também ser impulsionada<br />

por outros factores que não o comércio.<br />

À medida que a iniciativa avança, tem<br />

vindo a levantar questões sobre o<br />

imperialismo económico da China que<br />

terá muita influência sobre outros países,<br />

geralmente os que são menores e mais pobres.<br />

Paira alguma preocupação sobre a expansão<br />

da presença comercial chinesa que poderá<br />

corresponder também a presença militar.<br />

Analistas dizem que quase todos os portos<br />

e outras infraestruturas de transporte que<br />

estão a ser construídos podem ter duplo<br />

uso, para fins comerciais e militares.<br />

“Se pode transporta mercadorias, pode<br />

transportar tropas”, afirma Jonathan Hillman,<br />

EMBORA EXISTAM DIFERENTES ESTIMATIVAS<br />

EM RELAÇÃO AO DINHEIRO QUE JÁ FOI GASTO<br />

ATÉ AO MOMENTO, O PROJECTO DEVERÁ<br />

CUSTAR MAIS DE UM BILIÃO DE DÓLARES


SCM Supply Chain Magazine 67<br />

director do projecto Reconnecting Asia,<br />

no CSIS.<br />

De acordo com uma notícia publicada<br />

pelo Diário de Notícias em Abril de 2018, o<br />

relatório da organização não-governamental<br />

C4ADS, sediada nos EUA, concluiu que o<br />

projecto em questão não visa beneficiar os<br />

países receptores, como anunciava a China,<br />

mas sim expandir a influência de Pequim.<br />

Por sua vez, o Ministério dos Negócios<br />

Estrangeiros chinês rejeitou as conclusões e<br />

reiterou que o projecto tem como objectivo<br />

“sobretudo a cooperação económica” e a<br />

promoção do desenvolvimento comum através<br />

das infraestruturas. “A China não está a jogar<br />

jogos de geopolítica”, sublinhou. O relatório<br />

sugere ainda que “os investimentos<br />

parecem gerar influência política, expandir<br />

dissimuladamente a presença militar<br />

da China e criar um ambiente estratégico<br />

vantajoso na região”.<br />

ROTA DA SEDA<br />

CONTA COM PORTUGAL<br />

A nova Rota da Seda é um projecto a nível<br />

mundial, não deixando Portugal fora desta<br />

equação.<br />

Em <strong>Dezembro</strong> de 2018, o Diário de Notícias<br />

referiu que Portugal assinou um acordo com a<br />

China, para a cooperação bilateral entre os dois<br />

países no âmbito da iniciativa da ‘one belt, one<br />

road’’. O governo chinês demonstrou interesse<br />

em investir no porto de Sines, colocando-o na<br />

rota dos porta-contentores chegados do Canal<br />

do Panamá como ponto de transbordo de carga<br />

com destino à Ásia.<br />

Contudo, este interesse no porto português<br />

despertou a atenção dos EUA que, como se<br />

sabe, está em guerra comercial com a China.<br />

Desta forma, segundo o Expresso, o Terminal<br />

Vasco da Gama está no centro de mais uma<br />

disputa entre os dois governos, uma vez que<br />

a China já tinha manifestado interesse na<br />

concessão.<br />

Na altura, em declarações ao jornal Público,<br />

a ex-ministra do mar, Ana Paula Vitorino,<br />

confirmou o interesse dos dois polos e referiu<br />

que “a proposta vencedora será aquela que<br />

melhores benefícios ofereça a Portugal,<br />

independentemente da origem do operador”.<br />

No final de 2018, Washington endereçou<br />

um alerta ao nosso país, pedindo precaução,<br />

no que diz respeito à segurança nacional,<br />

relativamente a investimentos estrangeiros<br />

em áreas sensíveis. Roland Macellus, vicesecretário-adjunto<br />

do Departamento de<br />

Estado dos EUA para Finanças Internacionais<br />

e Desenvolvimento, recomendou “vigilância<br />

reforçada sempre que as empresas que<br />

adquirem sejam detidas ou controladas<br />

por um governo estrangeiro, ou afiliadas,<br />

principalmente quando os investidores<br />

estrangeiros beneficiam de acesso a subsídios<br />

estatais que lhe dão uma vantagem desleal<br />

face aos concorrentes comerciais, ou quando<br />

estão a agir com base em motivações<br />

estratégicas e não de natureza comercial”.<br />

Claro que esta mensagem se destinava à<br />

China, país que tem investimentos na EDP e na<br />

REN, e demonstrou interesse público na nova<br />

concessão de Sines para integrar no seu plano<br />

da Rota da Seda do século XXI.<br />

No entanto, Marcelo Rebelo de Sousa,<br />

presidente da república, na visita a Pequim<br />

em Abril de <strong>2019</strong>, reiterou ao presidente da<br />

China que Portugal continua a encarar os<br />

investimentos aplicados “sem preconceito<br />

nenhum”, mesmo tratando-se de infraestruturas<br />

estratégicas como o Terminal Vasco da Gama,<br />

em Sines.


68<br />

QUEM JÁ ADERIU?<br />

A nova Rota da Seda já está a ganhar forma.<br />

Várias empresas já puseram em prática<br />

projectos para, de facto, ‘não perderem<br />

o comboio’.<br />

A Rail Cargo Group juntou-se à<br />

TransContainer, assinando um memorando de<br />

entendimento, visando aumentar o tráfego de<br />

comboios na Rota da Seda. Os dois operadores,<br />

que já colaboravam num serviço com duas<br />

rotas semanais de ida e volta, definiram, até<br />

2020, aumentar até uma frequência de dez<br />

serviços semanais.<br />

Este acordo concede aos clientes de ambas as<br />

empresas, melhores tempos de trânsito e maior<br />

qualidade de serviço, sabendo que a oferta será<br />

mais competitiva para os clientes chineses.<br />

Em Março de 2018 consagrou-se o primeiro<br />

serviço ferroviário directo à cidade chinesa de<br />

Yiwu, partindo do porto de Amesterdão. É o<br />

segundo serviço directo na Nova Rota da Seda a<br />

ligar um porto holandês, após um primeiro que<br />

liga o porto de Tilburg a Chengdu desde 2016.<br />

Contudo, as ligações ferroviárias do porto<br />

de Roterdão até à China ainda não existem,<br />

pois, os desafios são muito diferentes, segundo<br />

Michel Lak, director geral da smartport, em<br />

parceria com a Port of Rotterdam Authority, a<br />

Deltalinqs, o Município de Roterdão, a Erasmus<br />

University Rotterdam e a Delft University of<br />

Technology.<br />

A iniciativa apresenta-se como uma ameaça<br />

aos seus volumes de carga marítima e muda<br />

a sua posição no mercado, podendo passar<br />

de local de trânsito para um destino final.<br />

Refere que “mais do que entrar na Europa<br />

através do Porto de Roterdão depois de viajar<br />

por mar, os produtos fabricados na China são<br />

agora transportados através da Europa, onde<br />

Roterdão está habitualmente no fim da viagem.<br />

A Nova Rota da Seda vai aumentar a quota<br />

de carga movimentada pela ferrovia, modo<br />

mais rápido e mais confiável. Com os avanços<br />

da Nova Rota da Seda, a Europa é também<br />

abastecida pela República Checa, Polónia e<br />

Grécia; não apenas via Roterdão, Hamburgo e<br />

Antuérpia”.


SCM Supply Chain Magazine 69<br />

Além disso, acrescenta ainda que os países<br />

de trânsito terão a oportunidade de acrescentar<br />

valor ao longo da viagem, como por exemplo<br />

quando há transbordo da mercadoria para um<br />

comboio diferente “ao longo da viagem, todos<br />

têm a oportunidade de ganhar dinheiro.<br />

E nós esperamos para comprar os produtos<br />

acabados – isto é, pagar”.<br />

A Dachser também já marcou a sua posição<br />

no projecto da revitalização da Rota da Seda.<br />

Lançou dois serviços ferroviários através da<br />

Dachser Rail Services, que ligam a Europa e a<br />

Ásia, percorrendo 11.000 km, com comboios<br />

a seguirem uma de duas rotas: o corredor<br />

sul, conhecido como a Nova Rota da Seda,<br />

atravessando a Bielorrússia, Rússia, Cazaquistão<br />

e chegando à China; ou a rota norte, a<br />

trans-siberiana, que atravessa a Bielorrússia,<br />

Sibéria e segue para sul em direcção à China.<br />

A Rota da Seda é um costume antigo que<br />

está a renascer e a ganhar forma em pleno<br />

século XXI. As vantagens e desvantagens ainda<br />

são incertas, mas é uma iniciativa que está a<br />

erguer-se perante o mundo, e com o mundo.<br />

Resta agora esperar pelos próximos episódios<br />

desta história que não está acabada, e muito<br />

menos esquecida. •<br />

O GOVERNO CHINÊS DEMONSTROU<br />

INTERESSE EM INVESTIR NO PORTO<br />

DE SINES, COLOCANDO-O NA ROTA<br />

DOS PORTA-CONTENTORES CHEGADOS<br />

DO CANAL DO PANAMÁ COMO<br />

PONTO DE TRANSBORDO DE CARGA<br />

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70<br />

DEZEMBRO <strong>2019</strong><br />

Texto: Fábio Santos<br />

UMA CARREIRA<br />

EM LOGÍSTICA…<br />

PORQUÊ?<br />

CARREIRA<br />

O que significa<br />

ser um profissional<br />

de logística?<br />

Algo que passava ao lado das empresas no passado surgiu de há algumas dezenas de anos<br />

para cá e tornou-se diferenciador para as empresas. A logística está hoje em todo o lado, e é<br />

a verdadeira responsável por fazer acontecer… Mas não leva o crédito todo. Afinal, é preciso<br />

existir um profissional de logística por detrás a planear as melhores estratégias para criar valor e<br />

melhores experiências para os seus clientes.<br />

U<br />

m profissional de logística enfrenta<br />

dificuldades todos os dias. A maior<br />

de todas é garantir que um produto<br />

esteja pronto em determinado momento,<br />

com as devidas especificidades e qualidade<br />

necessárias, em stock suficiente para satisfazer<br />

os diversos consumidores interessados,<br />

pronto a ser enviado de um local específico<br />

para um outro destino (seja ele próximo ou<br />

distante), no tempo devido e, claro, a preços<br />

competitivos, de modo a satisfazer o melhor<br />

possível o cliente.<br />

Ao mesmo tempo, não podemos esquecer que<br />

é necessário ter controlo ao longo da cadeia<br />

de abastecimento, garantir rastreabilidade e<br />

formas de devolução no caso de existir alguma<br />

incorrecção… Tudo isto envolve planeamento,<br />

muita dedicação e acima de tudo coragem para<br />

enfrentar o imprevisível. Mas porquê escolher<br />

esta carreira?


SCM Supply Chain Magazine 71<br />

Flexibilidade<br />

A logística está por todo o lado, e não apenas<br />

geograficamente: ela vai da matéria-prima à<br />

indústria, aos transportadores, e até mesmo ao<br />

cliente final. Uma carreira em logística pode<br />

começar em qualquer lugar da cadeia, e as<br />

oportunidades são muitas. Para além do mais,<br />

a procura por profissionais é imensa.<br />

Estabilidade<br />

O sector da logística hoje já tem grande oferta<br />

formativa a nível nacional, o que não se<br />

verificava há pouco mais de duas décadas. Ao<br />

longo desse tempo cresceu ao ponto de hoje<br />

empregar milhares de pessoas, e com contínua<br />

procura por profissionais, de tal modo que<br />

as empresas já procuram estar próximas de<br />

universidades que tenham cursos nesta área,<br />

de modo a captarem possíveis talentos.<br />

Oportunidade<br />

de progredir na carreira<br />

Geralmente as empresas do sector procuram<br />

instruir os seus funcionários para poderem<br />

atingir cargos superiores, ao invés de<br />

contratar fora pessoas que desconheçam os<br />

seus processos internos. As oportunidades<br />

são imensas e estão sempre disponíveis,<br />

e mesmo que mude de empresa, já tendo<br />

esse conhecimento sobre os procedimentos<br />

comuns, assim que esteja adaptado aos novos<br />

processos internos tem novamente grandes<br />

oportunidades de progressão na carreira.<br />

Horário<br />

Como a oferta é grande e as necessidades<br />

diversas, é possível encontrar horários<br />

muito diversos, desde o comum horário de<br />

expediente a outros “fora de horas”, o que<br />

pode ser ideal para algumas pessoas. A<br />

maioria das actividades acontece mesmo fora<br />

das horas ditas “comuns”, seja ao transportar<br />

mercadorias para outras pontas do país, ao<br />

gerir armazéns ou contratos com clientes, as<br />

oportunidades são diversas, e isso dá uma<br />

maior flexibilidade e liberdade de escolha aos<br />

colaboradores.<br />

Networking<br />

Nesta área é criada uma grande rede de<br />

contactos, tanto a nível nacional como<br />

internacional, e pode abrir portas para uma<br />

carreira no estrangeiro, ou apenas para<br />

troca de experiências entre outras áreas de<br />

negócio, outras regiões do país ou mesmo do<br />

mundo. Para além de possibilitar criar uma<br />

carreira internacional, também é uma boa<br />

forma de desenvolver as nossas skills, idiomas<br />

estrangeiros e conhecer novas culturas. •


72<br />

O MUNDO É REDONDO, por Cláudia Brito<br />

Factfulness, Hans Rosling,<br />

Temas e Debates - Círculo de Leitores, edição de <strong>2019</strong><br />

As coisas no mundo estão melhor do que pensamos. É importante percebermos que estamos quase<br />

todos errados sobre factos tão importantes como o crescimento da população mundial ou a evolução da<br />

saúde em regiões remotas. Se não nos educarmos nesse sentido, por um lado ignoramos o sucesso do<br />

trabalho feito nas últimas décadas nestas áreas, levando-nos a ser erradamente pessimistas, e, por outro,<br />

desanimamos perante ameaças reais, como as alterações climáticas, que temos de enfrentar acreditando<br />

que, com dados, disciplina e ética, podemos ainda encontrar soluções para elas.<br />

O livro “Factfulness” (“Factualidade”) de Hans<br />

Rosling foi escrito em parceria com os seus<br />

filho e nora, Ola e Anna, os quais criaram os<br />

maravilhosos gráficos de bolhas (tão bons que<br />

foram comprados pela Google) que ilustram,<br />

de forma clara e rigorosa, a evolução, ao longo<br />

das últimas décadas, da saúde e da riqueza das<br />

populações mundiais. Por exemplo, durante os<br />

últimos vinte anos, a proporção da população<br />

global que vive em extrema pobreza caiu para<br />

metade. Mesmo a maioria dos líderes mundiais<br />

ignora este facto, eles que tomam as decisões<br />

políticas e económicas com alcance planetário.<br />

As nossas reacções instintivas ao mundo que<br />

nos rodeia, como o medo ou a generalização,<br />

são o resultado de milhões de anos de evolução<br />

do cérebro humano e serviram-nos bem quando<br />

a nossa vida era uma luta diária de procura<br />

de comida e defesa contra predadores. Agora,<br />

contudo, levam-nos a conclusões demasiado<br />

rápidas e dramáticas sobre realidades que<br />

já não conseguimos abarcar com os nossos<br />

sentidos.<br />

Hans descreve no seu livro os dez instintos<br />

que levam a mega-concepções erradas. Estes<br />

devem ser substituídos por pensamento crítico,<br />

baseado em dados. Mas os dados devem ser<br />

usados para dizer a verdade e não para incitar<br />

à acção impensada, por muito nobres que<br />

sejam as intenções. Devemos desconfiar das<br />

médias, dos extremos e da nossa perspectiva<br />

relativa, normalmente simplicista. Temos<br />

de nos convencer que as coisas podem ser<br />

simultaneamente más e melhores, para além<br />

de nos lembrarmos que as más notícias viajam<br />

muito mais depressa e com mais alarde.<br />

O mundo já não se divide em pobres e ricos,<br />

“eles” e “nós”, como há cinquenta anos. Como<br />

o próprio Bill Gates enfatiza, dividir o mundo<br />

nas quatro categorias factuais e actuais que<br />

Hans propõe permite medir o progresso da<br />

humanidade e definir estratégias realistas<br />

e úteis. Lembremo-nos como nós próprios<br />

evoluímos, do início do século passado, em<br />

que, na Europa, a maioria das pessoas não<br />

tinham mais do que um buraco escuro no chão,<br />

fora de casa, para fazer as suas necessidades,<br />

enquanto que, hoje em dia, mesmo em regiões<br />

remotas de África, há sanitas em cubículos com<br />

privacidade, água corrente e luz.<br />

Hans Rosling foi médico, professor de Saúde<br />

Internacional e conselheiro da organização Mundial<br />

de Saúde e da UNICEF. Tem mais de 35 milhões de<br />

visualizações das suas conferências e aprendeu a<br />

engolir espadas para demonstrar que o aparentemente<br />

impossível é possível.

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