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Reflexões teológicas<br />
Gabriel K.<br />
Devoção a São Rafael<br />
São Rafael Arcanjo (coleção<br />
privada) - Lima, Peru<br />
do, notei que acabara de ser posta<br />
junto a um altar lateral uma imagem<br />
muito feia de um Anjo que, pelas características,<br />
notei tratar-se de São<br />
Rafael, mas pensei: “Esta é propriamente<br />
a imagem de um Anjo como<br />
não deve ser. Até nem vou olhar para<br />
ela, vou rezar abstraindo da imagem.”<br />
Enquanto rezava o meu Rosário,<br />
tive uma moção interior, semelhante<br />
à da graça de Mater Boni Consilii<br />
a Genazzano 5 , como quem me dizia:<br />
“Reze a mim porque eu estarei ao<br />
seu lado e o ajudarei!”<br />
De lá para cá nunca mais rezei um<br />
Rosário em que não intercalasse, depois<br />
de cada dezena, uma jaculatória<br />
a São Rafael para ele me ajudar.<br />
O mais curioso é que eu não percebi<br />
uma só vez a ajuda prometida. Continuo<br />
a rezar como quem vai acumulando<br />
jaculatórias para um belo dia<br />
dar o resultado desejado. Vejo que<br />
esta proteção está reservada para<br />
uma determinada ocasião.<br />
Com efeito, precisamos<br />
compreender que tudo quanto<br />
estou tratando a respeito<br />
de honra, de Anjos e Arcanjos,<br />
há um momento em que<br />
isso deve tocar a nossa alma;<br />
e que a ação desses espíritos<br />
celestes está preponderantemente<br />
nisso, não podemos<br />
nos antecipar. Isso é muito de<br />
acordo com a verdadeira vida<br />
espiritual.<br />
Meu modo de<br />
sentir e pensar<br />
Segundo o curso comum<br />
das coisas, deveríamos terminar<br />
estas considerações dizendo:<br />
“Vamos fazer uma deliberação<br />
de rezar todos os<br />
dias tal oração.” Eu aprovo<br />
muito isso com entusiasmo,<br />
mas não é o nosso caso, pois<br />
seria nos anteciparmos a uma<br />
certa moção angélica. Eu, por<br />
Há mais um aspecto curioso a se<br />
considerar: por vezes, a aridez em<br />
certo tipo de devoção é o sinal de que<br />
aquela devoção é para nós. Mas algumas<br />
vezes esse sinal consiste em uma<br />
consolação. Por exemplo, toda minha<br />
vida tive aridez pela devoção a São<br />
Rafael. Aquela história de Tobias, o<br />
Anjo que tira o fígado daquele peixe...<br />
Mexer com o fígado de um peixe<br />
para tirar daí um óleo, eu compreendo<br />
que é enormemente respeitável,<br />
mas tenho certa estranheza com<br />
esse gênero de ações. Mandar o demônio<br />
para o Inferno: Ó, magnífico!<br />
Mas aquilo tudo com o peixe, embora<br />
eu venere muito, minha alma não<br />
voa para esse lado. Entretanto depois<br />
que comecei a fazer estas reflexões<br />
sobre os Anjos e compreendi o papel<br />
de São Rafael, nasceu um grande desejo<br />
de relacionar-me com ele.<br />
Entrando certo dia em uma igreja<br />
onde costumo rezar de vez em quanexemplo,<br />
começaria isso meio hirto.<br />
Se quisessem eu acompanharia,<br />
mas não entraria minha alma inteira<br />
nisso. O que está na minha alma<br />
é esperar a moção angélica que virá<br />
em dado momento, não sei qual,<br />
mas virá. Aguardar com a esperança<br />
de que venha e voltar os olhos nessa<br />
direção.<br />
Há qualquer coisa no meu modo<br />
de sentir e pensar que nunca consegui<br />
explicitar bem, mas entra eminentemente<br />
no modo de ser de São<br />
Gabriel e corresponde ao que eu<br />
considero uma excelência, uma magnificência<br />
especial da Igreja Católica:<br />
é uma suma seriedade, elevação,<br />
nobreza, acompanhadas de uma<br />
bondade, uma proteção por onde<br />
as coisas muito altas e sublimes se<br />
apresentam revestidas de doçura. É<br />
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