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Revista Dr Plinio 270

Setembro 2020

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Luzes da Civilização Cristã<br />

château de Versailles (CC3.0)<br />

Luís XIV - Museu de História da França,<br />

Palácio de Versailles, França<br />

tuso, sabendo estar tratando com Pasteur, sentiria respeito.<br />

Contudo esse respeito vinha da constatação de seus feitos e<br />

não de uma irradiação de sua personalidade.<br />

Outro exemplo, o Marechal Foch. Sua figura nunca<br />

me pareceu irradiante de respeitabilidade. Se eu o visse<br />

andando à paisana num ônibus qualquer, meu olhar não<br />

se deteria nele nem um minuto, mas se o reconhecesse,<br />

pensaria: “O grande Marechal Foch, vencedor da Primeira<br />

Guerra Mundial!”, e lhe prestaria todo o respeito.<br />

Para dar um exemplo nacional, cito Santos Dumont.<br />

É inegável que ele proporcionou um importante avanço<br />

na Ciência ao inventar a dirigibilidade do avião, pelo<br />

que merece um lugar saliente na consideração das pessoas.<br />

Entretanto quem vê sua clássica fotografia, com<br />

aquele chapelão, não exclama: “Como sua personalidade<br />

irradia superioridade!” Porque não irradia.<br />

Esses exemplos correspondem, sem dúvida, a uma<br />

respeitabilidade autêntica e muito alta, mas incutida pelo<br />

mérito do sujeito e não irradiada por sua personalidade.<br />

Portanto, não é uma respeitabilidade proveniente do<br />

homem inteiro, mas de uma zona de sua alma, de uma<br />

capacidade. A respeitabilidade de Luís XIV, ao contrário,<br />

vinha de sua personalidade e irradiava dele inteiro.<br />

Analogia com a visão beatífica<br />

Então, em face do conceito segundo o qual há uma<br />

forma especial de superioridade que irradia, o que é essa<br />

superioridade?<br />

Em certo sentido, o corpo é o símbolo da alma, e as<br />

propriedades da alma irradiam através dele quando<br />

a pessoa possui certos gêneros de atributos num grau<br />

muito alto, por onde ao ver o aspecto físico de alguém de<br />

alguma maneira se discerne a alma, e se nota, de modo<br />

espiritual, uma realidade que fica por cima da realidade<br />

física. Assim, percebe-se a respeitabilidade na alma.<br />

Trata-se, pois, de um discernimento que vai além do<br />

olhar, e corresponde a um bem de ordem espiritual percebido<br />

através da consideração dos aspectos físicos. Olhando<br />

para a face de Luís XIV, percebo simbolicamente um<br />

bem de sua alma, a majestade de um rei no sentido pleno<br />

da palavra. Assim, através das aparências sensíveis,<br />

apreendo realidades espirituais que os sentidos não atingem,<br />

mas transparecem nos aspectos físicos.<br />

Quem vê o fenômeno espiritual dessa aparência de uma<br />

qualidade moral num homem acaba adquirindo uma ideia<br />

do que é, em si mesma, essa qualidade moral. Mas não é<br />

uma noção oriunda de uma definição; é uma ideia, por assim<br />

dizer, apalpada e sentida. Por mais que alguém definisse<br />

num dicionário ou tratado de Moral o que é majestade,<br />

não teria a noção de majestade que se teve vendo Luís XIV<br />

e, mediante suas feições físicas, a alma do Rei-Sol.<br />

Apalpar assim uma coisa que, entretanto, é abstrata,<br />

leva a outro passo que conduz a Deus. Porque d’Ele não<br />

podemos dizer apenas que é majestoso, mas devemos<br />

afirmar que é a Majestade, pois Deus não somente possui,<br />

mas é as qualidades. De maneira que Ele não é bom,<br />

mas a Bondade; não é sábio, e sim a Sabedoria.<br />

Por conseguinte, se olhando para um homem vi nele a<br />

majestade de sua alma e, através dela, formei uma ideia<br />

do que é a majestade em abstrato, considerada em seu<br />

modo absoluto, eu adquiri algo que tem certa analogia<br />

com a visão beatífica. De fato, mesmo sem explicitar, em<br />

Luís XIV algo da majestade de Deus foi vista.<br />

Isso nos explica<br />

porque aqueles<br />

bandidos recuaram<br />

quando viram<br />

o cadáver de Luís<br />

XIV. Sempre que<br />

um atributo bom e<br />

digno da alma de<br />

um homem aparece<br />

com tanta intensidade,<br />

a ponto<br />

de provocar um<br />

pasmo, uma surpresa,<br />

um entusiasmo,<br />

um enlevo<br />

ou um sentimento<br />

de veneração recolhida,<br />

há uma<br />

transparência de<br />

Alberto Santos Dumont<br />

Museu Paulista da USP (CC3.0)<br />

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