SCMedia News | Revista | Setembro 2020
A revista dos profissionais de logística e supply chain.
A revista dos profissionais de logística e supply chain.
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Set’ <strong>2020</strong><br />
4,60€<br />
Mensal<br />
14<br />
Adaptação do retalho<br />
aos tempos de<br />
pandemia<br />
1.º ano do supply chain<br />
hub Nespresso<br />
PROCUREMENT <strong>2020</strong>:<br />
RECOMEÇAR OU RESET?<br />
Rastreabilidade:<br />
Projecto pioneiro de<br />
blockchain<br />
Sociedade Central<br />
de Cervejas e Bebidas<br />
Um brinde à logística
Logística<br />
Compras<br />
Operações<br />
Workshops/Cursos<br />
Intra-Empresas<br />
estruturados e<br />
construídos à medida,<br />
realizados nas<br />
instalações da<br />
empresa, nos horários<br />
que forem mais<br />
convenientes.<br />
Esta é uma oportunidade<br />
para reciclar<br />
conhecimentos, ampliar<br />
outros e alargar horizontes<br />
profissionais.<br />
SAIBA MAIS EM:<br />
www.supplychainmagazine.pt/flow/<br />
flow@supplychainmagazine.pt<br />
Formação em Supply Chain<br />
Formação IN-HOUSE<br />
Auditoria Logística<br />
Como minimizar os custos de transporte<br />
E-commerce<br />
Estratégias e projectos de Colaboração Logística<br />
Estrutura de custos logísticos<br />
Facility Management<br />
Ferramentas de gestão logística para transitários<br />
Formação Air & Sea - Vertente Comercial<br />
Formação em Transporte Aéreo - Vertente Comercial<br />
Formação em Transporte Marítimo - Vertente Comercial<br />
Gerir com sucesso a sua frota<br />
Gestão de Compras<br />
Gestão de Processos<br />
Gestão de projectos aplicada à Logística e Supply Chain<br />
Gestão de Rotas<br />
Gestão de Stocks<br />
Gestão do Armazém<br />
Gestão do Retalho<br />
Health, Risk and Safety: certificações e inspecções anuais de racking<br />
Lean Logistics<br />
Libertar e maximizar o potencial das equipas logísticas<br />
Logística inversa e o seu papel na economia circular<br />
Marcação de reuniões no Sector Transitário<br />
Negociação na Logística através da liderança eficaz<br />
O essencial da Gestão Logística e da Cadeia de Abastecimento<br />
Procurement eficiente<br />
Qualidade em Supply Chain<br />
S&OP - Sales and Operations Planning<br />
Sector Transitário - Formação em Vendas<br />
Seleção e avaliação de fornecedores<br />
Sistemas de informação na Logística<br />
Powered by
Dora Assis<br />
dora.assis@supplychainmagazine.pt<br />
editorial<br />
Regresso ao presente<br />
“Sábio é aquele que conhece os limites<br />
da própria ignorância”<br />
Sócrates<br />
<strong>Setembro</strong> é por norma período de regresso.<br />
Ao trabalho, à escola, à rotina do quotidiano<br />
depois de uns dias de descanso. É o recomeçar<br />
de um novo ciclo com tudo aquilo que isso<br />
envolve, tanto do ponto de vista pessoal como<br />
profissional.<br />
Contudo, a rentrée de <strong>2020</strong>, como tudo<br />
neste ano, nada tem de habitual. Mas, afinal,<br />
que rentrée é esta? Pois, não sabemos. Que<br />
é diferente de todas as que já vivemos, isso<br />
seguramente.<br />
É uma luta de contrários esta, e<br />
continuamos todos a viver e trabalhar com<br />
a certeza da incerteza. Vamos continuar a<br />
reunir através de ecrãs, a assistir a eventos<br />
através de ecrãs, a fazer entrevistas através de<br />
ecrãs? É tãããããoooo cansativo passar o dia em<br />
videochamadas!<br />
Quem não sente falta de coisas tão simples<br />
como apertar as mãos no início de uma<br />
reunião, trocar cartões ou simplesmente<br />
decidir onde nos sentamos numa mesa com<br />
outras pessoas ou num auditório quando nos<br />
preparamos para assistir a uma conferência?<br />
Tudo rotinas que nos tempos mais próximos é<br />
pouco provável que regressem.<br />
Duas forças opostas, actuando em<br />
simultâneo, guiam-nos nesta rentrée logística:<br />
uma que aproxima e outra que afasta. Temos<br />
saudades das reuniões, dos auditórios, das<br />
visitas e saídas, da vida como ela era antes e<br />
até da correria… Por outro lado, os regressos<br />
da vida profissional são ainda esparsos,<br />
inseguros, incertos e todos consultamos<br />
as informações da “bolsa diária dos casos<br />
COVID-19” e as suas tendências. Quando<br />
damos por ela, já estamos a pensar “e se...”.<br />
A vontade de recuperar a vida é muita, as<br />
hesitações e as dúvidas também. Na certeza<br />
desta incerteza que parece estar para durar,<br />
saiba que não faltam na supply chain histórias<br />
e profissionais a fazerem o que melhor<br />
sabem, pelo que o que houver para saber, ler<br />
e conhecer está sempre aqui e no nosso site.<br />
E se precisamos todos que o sector continue<br />
vivo e de boa saúde!
4<br />
setembro <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 5<br />
índice<br />
FACTOS & NÚMEROS<br />
10 Formas de optimizar<br />
a Supply Chain 6<br />
logística<br />
Adaptação do retalho<br />
aos tempos de pandemia 8<br />
Aniversário Supply Chain Hub Nespresso<br />
Portugal, where else? 20<br />
Sociedade Central de Cervejas e<br />
Bebidas: Um brinde à logística 26<br />
Prémios Ecotrophelia PT 36<br />
#8 #41 #50 #60 #67<br />
procurement<br />
Investir no procurement torna<br />
as empresas mais resilientes 41<br />
Procurement <strong>2020</strong>: basta recomeçar<br />
ou é necessário um reset? 46<br />
intralogística<br />
Para grandes desafios,<br />
grandes parceiros 50<br />
tecnologias<br />
Blockchain aplicada à rastreabilidade<br />
dos produtos Auchan 54<br />
transportes<br />
Beirute: uma cidade sem porto 60<br />
O last mile e a entrega ao cliente final 64<br />
carreira<br />
Recrutamento num futuro pós-pandemia 67<br />
Promover as relações Universidade/Industria 74<br />
DIÁRIO DE BORDO<br />
Pedro Camilo - Um (não tão) novo normal 76<br />
o mundo é redondo<br />
TED Ideas worth spreading 2018,<br />
Kate Raworth, 3.7 milhões de visualizações 78<br />
FICHA TÉCNICA<br />
Sede, Administração e Redacção_<br />
Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />
2890-307 Alcochete<br />
T: 210 499 074<br />
Direcção Geral_<br />
Filipe Barros<br />
Directora_<br />
Dora Assis<br />
Redacção_<br />
Ana Paiva, Fábio Santos<br />
Projecto gráfico_<br />
Maria João Carvalho<br />
Paginação _<br />
Daniela Moço<br />
Circulação & Eventos _<br />
Inês Ferreira<br />
Direcção Comercial _<br />
Filipe Barros<br />
Sales & Marketing _<br />
Margarida Matildes<br />
Impressão _<br />
VASP DPS<br />
MLP – Quinta do Grajal,<br />
Venda Seca<br />
2739-511 Agualva Cacém<br />
Tiragem _<br />
3 mil exemplares<br />
Propriedade_<br />
SC Media Unipessoal, Lda.<br />
Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />
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E: geral@supplychainmagazine.pt<br />
W: supplychainmagazine.pt<br />
NPC _<br />
514707143<br />
Capital Social_<br />
100,00€<br />
Participações sociais_<br />
Susana Silva<br />
Administração_<br />
Filipe Barros<br />
Registo na ERC n.º _<br />
127322<br />
Depósito Legal n.º _<br />
458604/19<br />
Os artigos assinados apenas veiculam<br />
a posição dos seus autores.<br />
Interdita a reprodução de textos e<br />
imagens sem autorização expressa.<br />
Esta revista é escrita respeitando a grafia<br />
anterior ao Acordo Ortográfico
6 setembro <strong>2020</strong><br />
FACTOS<br />
& NÚMEROS<br />
10 formas<br />
de optimizar<br />
a supply chain<br />
10. Negociar e Renegociar: Embora seja<br />
crucial negociar com os fornecedores<br />
para obter as melhores taxas possíveis,<br />
também pode valer a pena voltar e renegociar.<br />
O corte de custos é o objectivo final do<br />
processo de optimização.<br />
9. Usar ferramentas de análise: Há imensas<br />
ferramentas disponíveis para ajudar a analisar<br />
todos os dados para entender melhor o<br />
mercado e os seus clientes, como o que<br />
pretendem, como compram e os melhores<br />
momentos para vender.<br />
8. Alinhe-se com a demanda do seu cliente:<br />
Saber o que os clientes desejam permite<br />
que as empresas avaliem as tendências e<br />
mantenham o stock em níveis adequados.<br />
Analisar os dados de venda para determinar<br />
a procura e tendências futuras, e comunicar<br />
essas informações aos fornecedores, é<br />
importante.<br />
7. Planear com antecedência: O planeamento<br />
é vital para o atendimento de pedidos em<br />
tempo útil e ajudará a evitar todos os tipos de<br />
problemas na cadeia logística.<br />
6. Garantir produtos de alta qualidade:<br />
Optimizar a cadeia de abastecimento também<br />
significa obter produtos de qualidade superior<br />
a preços acessíveis. Isso significa que é<br />
importante entender bem o fabricante ou o<br />
fornecedor.<br />
Sectores afectados<br />
pela pandemia<br />
5. Utilizar uma abordagem multi-canal<br />
para demanda e oferta: A gestão de stock<br />
é essencial para um negócio de comércio<br />
electrónico eficiente, e as demandas devem<br />
ser comunicadas aos fornecedores de forma<br />
rápida e eficaz.<br />
4. Utilizar um software de gestão<br />
centralizado: A optimização do processo da<br />
cadeia de abastecimento requer que todas<br />
as facetas de um negócio funcionem de<br />
forma coesa. Existem softwares de gestão<br />
disponíveis que podem integrar diferentes<br />
departamentos de uma empresa, permitindo<br />
trabalhar eficazmente entre si.<br />
3. Utilizar tecnologia móvel e internet: A<br />
tecnologia móvel pode ser extremamente<br />
útil para marketing, vendas directas e<br />
informações. A internet permite que os<br />
retalhistas comuniquem por e-mail, enquanto<br />
as redes sociais permitem que os retalhistas<br />
julguem as tendências e sejam proactivos.<br />
2. Estabeleça comunicação entre<br />
fornecedores e retalhistas: Conversas<br />
abertas entre o retalhista e o fornecedor ou<br />
o fabricante é fundamental, pois garante o<br />
atendimento oportuno da demanda e evita<br />
qualquer confusão.<br />
1. Terceirizar actividades de negócios: Se<br />
uma empresa pretende optimizar os seus<br />
negócios, a terceirização deve ser considerada.<br />
A terceirização de funções como procurement,<br />
logística ou atendimento ao cliente pode<br />
Desenvolvemos, implementamos e integramos<br />
software para suportar o seu negócio<br />
MES<br />
Sistemas de Gestão ERP<br />
Sistemas de Gestão de Armazéns WMS<br />
Sistemas de Gestão Industrial SFC, APS<br />
Aquisição de dados MES<br />
Gestão de Transportes TMS<br />
Integração com plataformas B2C e B2B<br />
Mobilidade e Gestão de Equipas Comerciais MSS<br />
Portais colaborativos P2P e O2C<br />
Consultoria em Processos e Logística<br />
beneficiar as organizações a longo-prazo.• Estrada Nacional 113, Lote 21 - Edifício A – Piso 1<br />
Zona Industrial de Pousos - 2410-205 Leiria - Portugal<br />
Phone: +351 244849810 - Fax: +351 244849819<br />
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MRP<br />
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8 setembro <strong>2020</strong><br />
9<br />
logística<br />
Texto: Fábio Santos<br />
Evolução do retalho<br />
durante a pandemia<br />
Adaptação do retalho<br />
aos tempos de pandemia<br />
O primeiro trimestre do ano foi marcado pelo início da pandemia de COVID-19, e obrigou<br />
as empresas a agir de forma imediata, de forma a não só permanecer com os seus negócios<br />
abertos, mas também a proteger os seus colaboradores e clientes. No caso do retalho, o<br />
que envolvia bens de primeira necessidade permaneceram abertos, quando adaptadas<br />
determinadas medidas impostas, e mesmo os que não ficaram abertos conseguiram manterse<br />
através da venda online, uma das áreas mais afectadas positivamente pela pandemia,<br />
devido ao aumento da necessidade de entregas last mile.<br />
Março iniciou uma nova fase para as<br />
empresas, especialmente no que<br />
toca à digitalização. Foram meses<br />
de adaptação a uma mudança radical nas<br />
cadeias de abastecimento, e de reacção total<br />
a uma nova ameaça que afectou todos os<br />
pontos da cadeia. Às cegas, a logística foi<br />
obrigada a tentar perceber qual a melhor<br />
forma de responder a todas as implicações<br />
associadas à pandemia de forma a proteger<br />
os colaboradores e clientes das empresas, e a<br />
adaptar-se a esta nova realidade, que cada vez<br />
mais faz parte do nosso dia-a-dia.<br />
Em meados de Abril, um mês após o início<br />
do estado de emergência em Portugal, a<br />
Nielsen apresentou um estudo onde se viu<br />
a adaptação dos portugueses à vida com<br />
restrições, tendo por base dados da semana<br />
13 (23 a 29 de Março de <strong>2020</strong>). Entre os<br />
principais resultados, a empresa apresentou<br />
um decréscimo no consumo na primeira<br />
semana de quarentena, balanceado pelo<br />
aumento do e-Commerce. Neste sentido,<br />
também as plataformas de entrega ao<br />
domicílio aumentaram a sua actividade,<br />
assistimos à reinvenção de vários modelos<br />
de negócio e empresas, de modo adaptaremse<br />
às necessidades do momento utilizando<br />
os recursos de que dispunham. Para os<br />
consumidores que não encomendavam comida<br />
de fora, cozinhar em casa passou a ser mais<br />
frequente, e como tal o estudo também<br />
apresenta um aumento na venda de produtos<br />
alimentares.<br />
Mas não só a parte alimentar, o estudo<br />
indica que os portugueses procuraram<br />
mesmo melhorar a sua qualidade de vida<br />
em casa, visto que durante esta época seria<br />
uma realidade mais frequente no quotidiano<br />
pessoal e profissional. Como tal, outras áreas<br />
do retalho que não as mais direccionadas para<br />
o alimentar. Sectores como o desporto, lazer,<br />
tecnologias e bricolage foram alguns dos<br />
principais alvos das famílias portuguesas, e os<br />
retalhistas sentiram esses impactos, alguns<br />
mais que outros, mas isso também implicou<br />
muito trabalho de backstage.<br />
Procurámos perceber junto de alguns<br />
retalhistas como foi feita a adaptação<br />
à pandemia, alterações operacionais<br />
necessárias, quais as barreiras que<br />
encontraram e como as contornaram, o que<br />
aprenderam com a pandemia e se, apesar de<br />
tudo, conseguiram ver pontos positivos dentro<br />
de toda a negatividade da questão envolvente.<br />
Ao nível do retalho, a segurança e higiene<br />
foram as principais preocupações, limitando<br />
o número de clientes em loja consoante<br />
a área disponível, reforçando a limpeza e<br />
desinfecção de superfícies, equipamentos e<br />
produtos, colocando dispensadores de álcoolgel,<br />
delimitando o distanciamento em loja<br />
através de autocolantes e acrílicos colados<br />
no chão, distribuindo kits de desinfecção<br />
e EPIs aos colaboradores e controlando as<br />
suas temperaturas, entre outras medidas.<br />
Em grande parte, os que o podiam, ficaram<br />
em teletrabalho, os que se encontravam em<br />
situações de maior risco foram dispensados<br />
com direito a remuneração, e o número de<br />
pessoas em loja foi reduzido sendo também<br />
adaptados os horários de funcionamento.
10<br />
setembro <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 11<br />
Com a pandemia ficou claro que o país necessita do retalho alimentar para viver<br />
O Lidl apostou num modelo de microsite<br />
interno com toda a informação útil e<br />
importante sobre o tema, disponibilizando-a<br />
também na aplicação móvel, como forma<br />
de comunicar internamente, e alargaram o<br />
horário da Linha do Colaborador, para uma<br />
assistência mais alargada.<br />
Ao nível das lojas, no início da pandemia<br />
o retalhista sentiu uma variação, com “um<br />
aumento significativo de afluência às nossas<br />
lojas, bem como um aumento da procura em<br />
diversas categorias de bens alimentares<br />
Pingo Doce<br />
Ainda antes de ser decretado o estado de<br />
emergência, o Pingo Doce adoptou medidas<br />
de contingência e definiu como prioritária a<br />
segurança dos seus colaboradores e clientes,<br />
sem nunca deixar de abastecer o mercado e<br />
as famílias portuguesas. Num período inicial,<br />
metade das equipas de lojas e armazéns<br />
ficaram resguardadas em casa, durante 15<br />
dias, com o pacote de remuneração intacto.<br />
“Falamos de mais de 14 mil colaboradores –<br />
uma decisão inédita e que implicou a redução<br />
dos horários de abertura das nossas lojas”,<br />
explica fonte oficial do Pingo Doce.<br />
Garantiram um canal de comunicação<br />
interno aberto, através de telefone e<br />
e-mail, para esclarecimento de dúvidas e<br />
informações e procedimentos de segurança<br />
nos diversos locais de trabalho, bem como<br />
o acompanhamento e aconselhamento<br />
médico de todos os que necessitaram. Foi<br />
ainda criada uma equipa de coordenação de<br />
recursos humanos, multidisciplinar, totalmente<br />
dedicada a gerir e acompanhar a situação,<br />
com direito uma equipa médica composta<br />
Pingo Doce<br />
por especialistas de saúde para acompanhar<br />
desde o início todos os casos, que procuram<br />
investigar, esclarecer e acompanhar todos os<br />
que os procuram – tanto os infectados como<br />
os que se encontram em quarentena.<br />
Ao nível do e-commerce, o Pingo Doce<br />
manteve a sua parceria com o Mercadão.<br />
Segundo o anúncio da plataforma, entre<br />
Fevereiro e Maio as vendas aumentaram<br />
sete vezes, recrutaram mais de 250 personal<br />
shoppers e alargaram as suas zonas de<br />
entrega.<br />
“Com a pandemia ficou claro que o país<br />
necessita do retalho alimentar para viver”,<br />
comenta a fonte, “esta consciência e o<br />
reconhecimento das nossas pessoas é, para<br />
nós, um orgulho e motiva-nos e reforça o<br />
nosso propósito: servir os nossos clientes<br />
e fazê-los sentir ‘em casa’ nas nossas mais<br />
de 400 lojas. A união que testemunhámos<br />
entre os colaboradores e o modo como as<br />
nossas lideranças gerem e comunicam com as<br />
equipas, as motivam e mantêm focadas, nunca<br />
descurando a segurança e bem-estar destas,<br />
são outros pontos positivos que identificamos”,<br />
conclui.<br />
Lidl<br />
O Lidl também esteve a acompanhar a<br />
situação desde o primeiro momento em<br />
conjunto com as autoridades nacionais,<br />
segundo explica o Departamento de<br />
Comunicação Corporativa da empresa. Conta<br />
que a empresa se manteve a par do tema com<br />
uma permanente adaptabilidade dos seus<br />
processos, optimização da gestão das equipas<br />
e implementação progressiva de um conjunto<br />
de medidas que garantiram a segurança dos<br />
seus colaboradores e clientes, cumprindo<br />
sempre com o compromisso de fornecimento<br />
de bens a toda a sociedade.<br />
Aos colaboradores que se mantiveram<br />
activos, e que voluntariamente enfrentaram<br />
a pandemia durante o seu período mais<br />
complicado, o retalhista decidiu recompensar<br />
com um “agradecimento monetário”, que<br />
chegou a atingir 40% do valor do ordenado. Ao<br />
nível dos escritórios neste momento contam<br />
com uma presença de 30% por departamento,<br />
e suspenderam as viagens de trabalho,<br />
substituindo as reuniões com parceiros<br />
externos por tele/video-conferências.
12<br />
13<br />
e não perecíveis”, explica a fonte. “Durante<br />
esse período, decidimos priorizar o tipo de<br />
artigos que chegavam às nossas lojas, com<br />
foco na disponibilização de bens alimentares,<br />
garantindo uma resposta mais assertiva<br />
às necessidades dos clientes”, uma medida<br />
temporária que procurou gerir melhor a<br />
disponibilidade da oferta destes produtos,<br />
respondendo à crescente procura inicial.<br />
Entre os produtos mais procurados no início<br />
da pandemia estiveram os bens alimentares<br />
passíveis de serem armazenados em casa, bem<br />
como bens alimentares não perecíveis e de<br />
higiene.<br />
“Registámos um aumento substancial da<br />
procura num primeiro momento, de pico<br />
pontual, no início de Março”, e garante que<br />
em momento algum houve falta de stock, mas<br />
nem sempre foi possível efectuar a reposição<br />
à velocidade da procura, apesar dos esforços<br />
feitos nesse sentido. Decretado o estado de<br />
Neste momento difícil,<br />
estamos conscientes<br />
da importância dos<br />
nossos compromissos<br />
perante um<br />
contexto adverso,<br />
permanecendo ao<br />
lado dos nossos<br />
fornecedores e<br />
encontrando soluções<br />
em conjunto<br />
Lidl<br />
emergência, e quando passou o momento de<br />
maior agitação pré-contingência e os cidadãos<br />
começaram a tomar consciência de que não<br />
havia realmente falta de stock nas lojas, os<br />
consumidores optaram por gerir melhor as<br />
suas reais necessidades.<br />
Importante para esse sucesso foi a<br />
proximidade ao fornecedor e produtor<br />
nacional, uma grande aposta do Lidl,<br />
privilegiando parcerias a longo prazo. “Neste<br />
momento difícil, estamos conscientes da<br />
importância dos nossos compromissos perante<br />
um contexto adverso, permanecendo ao<br />
lado dos nossos fornecedores, encontrando<br />
soluções em conjunto”, comenta a fonte do<br />
Lidl, e revela que entre os meses de Março<br />
e Abril aumentaram a compra de artigos<br />
nacionais em aproximadamente 25%, quando<br />
comparado com os dados do ano passado. Em<br />
apenas dois meses e meio, entre inícios de<br />
Fevereiro e meados de Abril, o Lidl exportou<br />
quase 400 toneladas de laranja<br />
do Algarve, tendo ainda arrancado<br />
com a exportação de limão<br />
também desta região.<br />
“Num período crítico como<br />
o actual, o sector e o Lidl, em<br />
particular, reagiram aos novos<br />
desafios de forma positiva e<br />
com enorme capacidade de<br />
adaptação de processos”, afirma<br />
a fonte, destacando ainda que<br />
o abastecimento foi totalmente<br />
garantido, através de uma gestão<br />
optimizada dos recursos, e lhes<br />
tem permitido ultrapassar desafios<br />
como o aumento pontual da<br />
procura. “Acreditamos que este<br />
período de incerteza veio valorizar<br />
a importância do sector do retalho<br />
no bem-estar social, reconhecido<br />
publicamente, trazendo daqui em diante um<br />
reconhecimento acrescido a todas as pessoas<br />
que o constituem e ao trabalho do Lidl”,<br />
conclui.<br />
Grupo DIA<br />
Para o Grupo DIA, detentor da cadeia de<br />
retalho Minipreço em Portugal, a pandemia<br />
resultou num aceleramento dos processos<br />
digitais que já se encontravam em testes<br />
internamente e prestes a ser implementadas,<br />
uma delas a plataforma online para a venda<br />
de produtos, que começou por ser testada<br />
ainda em 2019.<br />
Helena Guedes, directora comercial em<br />
Portugal, conta que este conjunto de medidas<br />
que já estava a ser implementado incluía<br />
uma reorganização de toda a cadeia de<br />
fornecimento, logística, operação e sortido em<br />
loja, pelo que a resposta à pandemia já estava<br />
por si a ser dada. “Eram mudanças estruturais<br />
que faziam parte do plano de transformação<br />
em curso na DIA como nova oferta de valor<br />
para todas as nossas lojas e que estão a ser<br />
muito bem acolhidas pelos nossos clientes”,<br />
explica.<br />
Durante o estado de emergência, quando<br />
se sentiu o maior impacto ao nível do<br />
e-commerce, a empresa ainda não contava<br />
com a plataforma, mas foi rapidamente<br />
evoluindo e estabelecendo parcerias nesse<br />
sentido. “Tirámos muitas ilações desse período<br />
o que nos permitiu uma preparação mais<br />
adequada para um desafio desta envergadura”,<br />
refere a responsável. A empresa, que até este<br />
ano não contava com plataformas de venda,<br />
entrou no final de Abril na Glovo, em Junho<br />
lançou a plataforma minipreço.pt, e um mês<br />
depois chegou ao DOTT.<br />
“Esta operação era fundamental para<br />
a DIA Portugal e temos como objectivo<br />
crescer solidamente num canal com enorme
14<br />
setembro <strong>2020</strong><br />
15<br />
potencial de venda e qualitativamente<br />
com uma oferta ampla e diversificada que<br />
satisfaça as necessidades de consumo do perfil<br />
dos nossos clientes”, afirma ainda Helena<br />
Guedes, revelando que em menos de dois<br />
anos pretendem que esse canal represente<br />
aproximadamente 2% da facturação da DIA<br />
Portugal.<br />
Ao nível das lojas, a principal preocupação<br />
do grupo foi garantir o abastecimento e<br />
a segurança de todos, tendo a resposta à<br />
pandemia começado logo no dia 3 de Março.<br />
Anteciparam desde logo o fornecimento das<br />
suas lojas, preparando o aumento da procura<br />
de bens alimentares, procurando ao mesmo<br />
tempo manter as operações sem falhas que<br />
pudessem ocorrer. Os aumentos foram na casa<br />
dos três dígitos, revelou a directora comercial,<br />
Tirámos muitas ilações desse<br />
período o que nos permitiu uma<br />
preparação mais adequada para um<br />
desafio desta envergadura<br />
Helena Guedes, Grupo Dia<br />
ao nível dos produtos enlatados, congelados,<br />
produtos lácteos, papel higiénico e mercearia<br />
salgada. Também sentiram uma subida que já<br />
se encontrava a verificar, ao nível dos produtos<br />
de pequeno-almoço, frescos, ovos e produtos<br />
de limpeza do lar.<br />
“Estimamos que nos próximos tempos<br />
a procura dos produtos destas categorias<br />
mantenha esta dinâmica, por força do<br />
distanciamento social, dos constrangimentos<br />
na restauração e do confinamento. Muitas<br />
refeições que tradicionalmente eram feitas<br />
fora de casa, são agora feitas em casa e<br />
isso é algo que não vai mudar nos próximos<br />
tempos”, conclui Helena Guedes, referindo que<br />
o desafio será o de manter uma capacidade de<br />
resposta que respeite esta dinâmica e garanta<br />
que as lojas se encontrem abastecidas.<br />
FNAC<br />
Não só o retalho alimentar sentiu um<br />
impacto, mas também os artigos de lazer e<br />
tecnologia. No caso da FNAC, apesar de se ter<br />
visto obrigada a fechar todas as insígnias no<br />
início do confinamento, e de terem mantido<br />
abertas algumas lojas de rua ou de acesso<br />
mais directo, “rapidamente percebemos que<br />
as pessoas privilegiam o canal online, por<br />
questões de segurança e conforto”, refere<br />
Tiago Figueirôa, director de logística da FNAC,<br />
explicando que ao mesmo tempo conseguiram<br />
também garanti-las aos seus colaboradores.<br />
Apesar do grande impacto negativo causado<br />
pelo fecho temporário das lojas físicas, e a<br />
consequente suspensão das recolhas em loja,<br />
o online teve “um aumento excepcional”, tanto<br />
ao nível do site fnac.pt como do Marketplace.<br />
O aumento sentido nas vendas foi ao nível dos<br />
computadores, produtos de cozinha, gaming,<br />
jogos e brinquedos. Mais recentemente, com<br />
o desconfinamento, o ritmo do e-commerce<br />
abrandou, no entanto, mantendo-se superior<br />
aos índices pré-COVID. Tiago Figueirôa<br />
considera que este aumento “que chegou<br />
quase a quadruplicar durante este período,<br />
esteja relacionado com a necessidade das<br />
pessoas, de um momento para o outro,<br />
precisarem de se preparar e equipar com<br />
material para o teletrabalho, para o ensino<br />
à distância e até para o entretenimento em<br />
família”.<br />
O desafio para a FNAC foi garantir a entrega<br />
dentro dos prazos a que já tinham habituado<br />
os seus clientes, devido ao aumento radical<br />
das vendas. “Reforçámos as equipas do<br />
Armazém Central com recursos humanos que<br />
habitualmente estão em loja, beneficiando da<br />
versatilidade e disponibilidade das equipas<br />
FNAC”, explica, coordenando o trabalho com<br />
os parceiros de transporte para garantir o<br />
melhor serviço possível.<br />
“Ainda assim, principalmente nas primeiras<br />
semanas de confinamento, garantir o<br />
cumprimento dos prazos foi uma tarefa dura<br />
porque estávamos todos a passar por um<br />
cenário totalmente atípico e inesperado”,<br />
revela Tiago Figueirôa, acrescentando que<br />
foi necessário “ajustar algumas áreas, com<br />
particular foco no nosso armazém central,<br />
bem como garantir capacidade de resposta<br />
dos nossos fornecedores, seja de mercadoria,<br />
consumíveis ou transportes”.<br />
Outro impacto sentido foi ao nível da<br />
mudança da exigência do cliente, não só ao<br />
nível da compra, mas também da entrega, com<br />
novos moldes, “existindo uma necessidade de<br />
optimizar e adequar os recursos associados<br />
aos fluxos logísticos advindos da compra<br />
online e entrega no domicílio dos clientes ou<br />
levantamento em loja”.<br />
Rapidamente percebemos que as<br />
pessoas privilegiam o canal online,<br />
por questões de segurança e<br />
conforto<br />
Tiago Figueirôa, Fnac
16<br />
setembro <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 17<br />
No final, sentiu-se uma aprendizagem: “a<br />
FNAC ajustou o seu negócio para fazer face<br />
às necessidades dos clientes, não só ao nível<br />
operativo, como também ao nível da gama<br />
disponível, tendo já a vertente estratégica<br />
do negócio omnicanal trabalhada há vários<br />
anos”, sendo que ao nível do fluxo logístico já<br />
existia um trabalho efectuado previamente,<br />
pelo que será necessário “dar continuidade à<br />
sua concretização de forma ainda mais rápida”,<br />
conclui o director de logística.<br />
Wook<br />
Com as pessoas confinadas nas suas casas,<br />
algumas delas com mais tempo livre, também<br />
a leitura aumentou, mas também passou<br />
por uma fase má. Rui Aragão, director de<br />
e-commerce da Wook, conta-nos esta história.<br />
“O impacto global do confinamento<br />
na venda de livros foi, e continua a ser,<br />
brutalmente negativo”, visto os pontos<br />
habituais de compra para os cliente terem<br />
fechado temporariamente, enquanto os<br />
espaços comerciais que se mantiveram abertos<br />
se depararam “com a absoluta ausência<br />
de clientela”, explica, fundamentando que<br />
de acordo com os dados fornecidos pela<br />
associação do sector, as quebras atingiram os<br />
40% nesse período.<br />
No entanto, relativamente ao online, a<br />
situação foi diferente, e se nas primeiras<br />
semanas após a declaração do estado de<br />
emergência tenham sentido uma quebra<br />
por as prioridades dos consumidores<br />
se encontrarem nos bens de primeira<br />
necessidade, nas seguintes semanas a procura<br />
por livros cresceu. “O cenário manteve-se<br />
ao longo dos meses de Março, Abril e Maio,<br />
registando-se não só o aumento da frequência<br />
de compra dos nossos mais de um milhão de<br />
clientes registados, mas também pela adesão<br />
de milhares de novos clientes, muitos deles a<br />
efectuar a sua primeira compra on-line nesta<br />
época”, revela ainda Rui Aragão.<br />
O principal impacto verificado foi ao nível da<br />
operação logística, com as rigorosas medidas<br />
de protecção, nomeadamente ao nível do<br />
distanciamento físico e a redução do número<br />
de elementos por equipa, resultando numa<br />
inevitável quebra de produtividade. Ao nível<br />
do transporte de last mile, no entanto, não<br />
sentiram um grande impacto, tendo mantido<br />
o serviço de entrega no dia seguinte na<br />
maior parte das encomendas expedidas. “Os<br />
únicos constrangimentos registados foram<br />
com alguns envios internacionais para alguns<br />
dos países que implementaram restrições à<br />
circulação de mercadoria”, explica o director<br />
de e-commerce, comentando que a Wook<br />
expede regularmente para mais de uma<br />
centena de países.<br />
O cenário manteve-se ao longo<br />
dos meses de Março, Abril e Maio,<br />
registando-se não só o aumento<br />
da frequência de compra dos<br />
nossos mais de um milhão de<br />
clientes registados, mas também<br />
pela adesão de milhares de novos<br />
clientes<br />
Rui Aragão, Wook<br />
Ao nível da leitura, nas primeiras semanas o<br />
TOP de vendas continha livros de auto-ajuda<br />
e actividades infantis, “reflectindo o impacto<br />
do confinamento forçado em que muitos dos<br />
nossos clientes se encontravam”. Com o passar<br />
das semanas, a procura começou a inclinar-se<br />
para ficção, romances, biografias, poesias, e<br />
também livros de culinária, visto as pessoas<br />
terem passado a cozinhar mais em casa. Rui<br />
Aragão conta ainda que houve “um best seller<br />
improvável: A Peste, de Albert Camus, que<br />
vendeu – e continua a vender – de forma<br />
surpreendente nestes dias”.<br />
Leroy Merlin<br />
Outra prática que se desenvolveu durante o<br />
confinamento foi o conceito de produtos de<br />
uso caseiro, como jardinagem e bricolagem,<br />
pelo que procurámos compreender como foi<br />
a variação sentida pela Leroy Merlin, que tal<br />
como o retalho alimentar também se manteve<br />
aberta devido aos seus serviços essenciais.<br />
José Miranda, director de operações supply<br />
chain, explica que a prioridade foi garantir<br />
a disponibilidade dos produtos da Leroy<br />
Merlin para as famílias, colaboradores e PMEs<br />
e diferentes entidades que graças a esta<br />
disponibilidade puderam continuar a operar e<br />
a servir as necessidades da população.<br />
Implementaram “um novo modelo de<br />
negócio focado nas vendas à distância e no<br />
apoio personalizado ao cliente através de<br />
canais alternativos”, explica o responsável,<br />
desde a Venda de Livre Serviço, na qual<br />
o cliente faz as suas compras de forma<br />
autónoma e com o mínimo contacto pessoal<br />
com os colaboradores da loja, podendo<br />
recorrer a métodos alternativos para obter<br />
apoio e aconselhamento durante o processo<br />
de compra. Houve também uma maior<br />
aposta nas vendas online, com atendimento<br />
personalizado via chat ou telefone e entregas<br />
click & drive ou ao domicílio.<br />
“Durante as semanas de maiores limitações<br />
na deslocação de pessoas, a grande maioria<br />
das entregas de encomendas ao domicílio<br />
não tiveram qualquer custo para os nossos<br />
clientes”, explicou José Miranda, como aposta<br />
na responsabilidade social. Nessa altura<br />
sentiram uma quebra nas vendas físicas,<br />
compensadas pelo canal online, “ainda que<br />
esse crescimento não tenha sido suficiente<br />
para compensar o abrandamento das vendas e<br />
número de clientes em lojas”, mas revela que
18<br />
setembro <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 19<br />
nas últimas semanas registaram um regresso<br />
às lojas e aumento das compras físicas, “apesar<br />
de ainda se registar uma elevada procura nas<br />
vendas online”.<br />
A Leroy Merlin dispõe de um serviço de<br />
entregas ao domicílio, que também sofreu<br />
alterações, nomeadamente ao nível da<br />
segurança, devido às restrições causadas<br />
pela pandemia. “O aumento exponencial<br />
e repentino de procura online gerou um<br />
grande volume de entregas ao domicílio e<br />
provocou constrangimentos logísticos que<br />
Durante as semanas de maiores<br />
limitações na deslocação de<br />
pessoas, a grande maioria das<br />
entregas de encomendas ao<br />
domicílio não tiveram qualquer<br />
custo para os nossos clientes<br />
José Miranda, Leroy Merlin<br />
resultaram em alguns atrasos na entrega de<br />
encomendas”, revela o director de operações,<br />
pelo que foi necessário reforçar as equipas<br />
para dar suporte às vendas online, e equipas<br />
que habitualmente estavam em loja foram<br />
temporariamente apoiar este canal, bem<br />
como o atendimento telefónico e por chat,<br />
investindo nas suas formações para o novo<br />
modelo de atendimento.<br />
Ao nível dos produtos, conta que os clientes<br />
optaram, numa primeira fase, por “pequenas<br />
renovações, para aumentarem o conforto<br />
das suas casas e a aquisição de produtos<br />
indicados para intervenções de menor impacto<br />
estrutural”, e que com o desconfinamento<br />
evoluíram para remodelações e projectos de<br />
maiores dimensões. “Sentimos que os clientes<br />
estão a recuperar os projectos que tinham<br />
ficado interrompidos”, comenta José Miranda.•
20 setembro <strong>2020</strong><br />
SCM Supply Chain Magazine 21<br />
logística<br />
Texto: Ana Paiva<br />
Fotos: Nespresso<br />
1º ano do supply chain<br />
hub da Nespresso<br />
Portugal,<br />
where else?<br />
Faz agora um ano que a Nespresso abriu<br />
em Portugal o seu supply chain hub, onde<br />
se gere os fluxos de café que chega a Lisboa<br />
provenientes da Suíça, para todo o mundo. Um<br />
ano após a sua abertura, Pedro Freire, head<br />
of Nespresso supply chain service center em<br />
Lisboa, conta-nos o que foi feito, os desafios e o<br />
que pretendem alcançar no futuro.<br />
Em 2019, a Nespresso tomou a decisão<br />
estratégica de abrir, em Portugal, um<br />
supply chain hub. O objectivo deste espaço<br />
passa por gerir toda a parte operacional da<br />
cadeia de abastecimento, controlando todos<br />
os fluxos de cápsulas de café, uma vez que<br />
os produtos partem da fábrica localizada na<br />
Suíça, para Portugal e, daqui, para o mundo.<br />
Um ano após a sua abertura, Pedro Freire,<br />
faz um balanço bastante positivo daquele que<br />
é o primeiro hub da empresa em Portugal,<br />
admitindo que “a qualidade do suporte<br />
dado pela equipa de Lisboa ao negócio,<br />
a nível mundial, tem sido continuamente<br />
reconhecida”.<br />
Dos resultados obtidos, o responsável<br />
destaca o cumprimento dos objectivos em<br />
termos de disponibilidade de produto e de<br />
coberturas de stock, inclusive durante o forte<br />
pico de vendas no final de 2019; o apoio<br />
ao crescimento do negócio nas vertentes<br />
de expansão geográfica e do portefólio de<br />
produtos, no contexto da marca Nespresso<br />
e Starbucks; e o desenvolvimento de<br />
competências dos membros das equipas de<br />
Lisboa.<br />
Neste centro, a equipa de Supply Chain<br />
Development lidera projectos-chave<br />
desde a implementação de novos sistemas<br />
informáticos de gestão de encomendas dos<br />
membros do clube Nespresso, até novos<br />
armazéns supra-nacionais de preparação das<br />
mesmas encomendas. Por sua vez, a equipa<br />
de Demand Planning lidera a implementação<br />
de ferramentas estatísticas de última geração<br />
e de planeamento de abastecimento dos<br />
mercados em que a empresa opera. Já a<br />
equipa de Importação-Exportação apoia a<br />
implementação de ferramentas de interface<br />
com os transportadores e de seguimento de<br />
transporte marítimo e terrestre.<br />
Como já foi referido anteriormente, este<br />
centro está responsável por gerir os fluxos<br />
provenientes das fábricas da Suíça até à
22<br />
setembro <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 23<br />
O desafio do passado<br />
presente e futuro<br />
No início da pandemia, a Nespresso enfrentou<br />
alguns desafios a nível operacional, como o<br />
aumento dos tempos e custos do transporte<br />
internacional, os atrasos e reduzidas<br />
capacidades de produção, e a redução da<br />
fiabilidade de previsão de vendas dos seus<br />
mercados receptores.<br />
Para fazer face a esta realidade<br />
implementaram um sistema de reuniões de<br />
crise diárias e semanais através da partilha<br />
sistemática e proactiva de informações com<br />
os clientes internos. Reforçaram também a<br />
capacidade de simular cenários alternativos<br />
de forma a poderem fazer as escolhas mais<br />
acertadas.<br />
No que diz respeito à gestão de equipas<br />
“adaptámo-nos ao trabalho fora do escritório,<br />
usando ao máximo as tecnologias de<br />
informação e sendo bastante disciplinados<br />
na manutenção das reuniões de equipa e das<br />
reuniões semanais entre cada gestor e os seus<br />
colaboradores”, explica Pedro Freire. Foi ainda<br />
possível reduzir os impactos do COVID-19 na<br />
capacidade produtiva e de transporte.<br />
Numa perspectiva a longo-prazo, a<br />
Nespresso espera continuar a dar suporte aos<br />
vários projectos de crescimento do negócio,<br />
de forma optimizada em termos de recursos<br />
e, simultaneamente, enriquecer as funções<br />
dos 50 membros da equipa de Lisboa, “isto<br />
a qualidade do suporte dado pela equipa de Lisboa ao negócio, a nível<br />
mundial, tem sido continuamente reconhecida<br />
Pedro Freire<br />
totalidade dos países em que a Nespresso<br />
está presente, que são mais de 80. Além disso,<br />
coordena ainda a maior parte dos fluxos de<br />
máquinas de café, bem como de acessórios,<br />
oriundos de mais de 19 fornecedores em sete<br />
países.<br />
Esta gestão não se revela tarefa fácil, mas,<br />
ainda assim, Pedro Freire revela os elementoschave<br />
para uma coordenação bem-sucedida.<br />
Em primeiro lugar, “os cinco valores que<br />
partilhamos no dia-a-dia: confiança mútua,<br />
dedicação, trabalho em equipa, ambição<br />
e optimismo”. Destaca ainda a constante<br />
procura por oportunidades de aumentar<br />
as competências técnicas dos membros<br />
das equipas através de novos desafios, e<br />
o investimento no reforço do feedback e<br />
coaching no seio das equipas, de forma a<br />
melhorar o seu desempenho. Por fim, aponta<br />
as metodologias de melhoria contínua da<br />
Nestlé que “além de técnicas de resolução<br />
de problemas, nos instigam a um estado de<br />
espírito de fazer acontecer e de ir sempre mais<br />
além”.
24 SETEMBRO <strong>2020</strong><br />
SCM Supply Chain Magazine 25<br />
A presente fotografia remete para a realidade pré-COVID-19.<br />
adaptámo-nos ao trabalho<br />
fora do escritório, usando<br />
ao máximo as tecnologias<br />
de informação e sendo<br />
bastante disciplinados na<br />
manutenção das reuniões<br />
de equipa e das reuniões<br />
semanais entre cada gestor<br />
e os seus colaboradores<br />
Pedro Freire<br />
significa tornar os nossos processos internos<br />
ainda mais Lean, removendo mesmo todo o<br />
desperdício”, afirma o responsável. Pretende<br />
ainda incrementar o leque de serviços,<br />
nomeadamente na área de previsão de vendas<br />
através de ferramentas estatísticas de última<br />
geração.<br />
Este projecto veio revelar-se uma maisvalia<br />
para a marca, dado os bons resultados<br />
alcançados e, segundo o discurso de Pedro<br />
Freire, nada seria possível sem o esforço da<br />
equipa por detrás das operações. O head of<br />
supply chain termina referindo que “apesar da<br />
nossa curta existência, os mais de 50 membros<br />
da nossa equipa têm mostrado um entusiasmo,<br />
um espírito de entreajuda e uma capacidade<br />
de superar desafios e fazer acontecer, de que<br />
muito me orgulho”. •
26<br />
setembro <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 27<br />
logística<br />
Texto: Fábio Santos<br />
Fotos: SCC<br />
Um brinde<br />
à logística<br />
Sociedade Central<br />
de Cervejas e<br />
Bebidas<br />
A Sociedade Central de Cervejas e<br />
Bebidas (SCC) é uma empresa portuguesa<br />
de bebidas, constituída em 1934,<br />
primeiramente com o objectivo de<br />
comercializar cervejas. Com o tempo<br />
evoluíram, adquiriram novas bebidas<br />
para o seu portefólio, integraram o grupo<br />
Heineken, adaptaram-se aos tempos e aos<br />
novos hábitos dos consumidores, e hoje<br />
contam com um vasto leque de cervejas<br />
(com e sem álcool), sidras, refrigerantes<br />
e águas minerais e com sabores, que<br />
distribuem para todo o país e exportam para<br />
50 destinos diferentes por via rodoviária e<br />
marítima.<br />
Verão é sinónimo de calor, e para combater<br />
o calor, nada como refrescar um pouco,<br />
por fora e por dentro. Desde águas,<br />
refrigerantes ou cervejas, no Verão o consumo<br />
de bebidas aumenta, mas por detrás delas<br />
existe todo um planeamento acrescido que<br />
envolve semanas de preparação. Compra<br />
de matéria-prima, maturação e maltagem<br />
do cereal, produção, captação de água,<br />
armazenamento e transporte são alguns dos<br />
muitos processos associados às bebidas com<br />
que a SCC opera.<br />
Nuno Pinto de Magalhães, director de<br />
comunicação e relações institucionais da<br />
Sociedade Central de Cervejas e Bebidas,<br />
explica que os diferentes processos das<br />
bebidas requerem “um planeamento semanal<br />
tendo em conta as necessidades do mercado<br />
e as especificidades ao nível do processo<br />
de produção para os diferentes SKUs”, ou<br />
seja, trata-se de um planeamento ecológico<br />
meticuloso de modo a minimizar desperdícios<br />
ou faltas de stock, procurando responder ao<br />
mercado da melhor forma possível.<br />
Os processos são muito diferentes entre si,<br />
dependendo das bebidas, e a grande variedade<br />
de produtos da SCC requer um grande e<br />
complexo sistema organizacional.<br />
Cervejas<br />
O portefólio da Sociedade Central de<br />
Cervejas e Bebidas remonta à sua génese,<br />
tendo como objectivo inicial o comércio de<br />
cervejas produzidas pelas antigas Companhia<br />
Produtora de Malte e Cervejaria Portugália,<br />
Companhia de Cervejas Estrela, Companhia de<br />
Cervejas Coimbra e Companhia da Fábrica de<br />
Cerveja Jansen. Hoje dedica-se a vários outros<br />
tipos de bebida, mas a cerveja permanece<br />
como campeã de vendas da empresa,<br />
representando o canal HORECA mais de 65%<br />
do valor de vendas no mercado nacional.<br />
Ao longo dos anos foi-se adaptando às<br />
mudanças nos hábitos de consumo das<br />
pessoas e hoje negoceiam marcas como<br />
Heineken®, Sagres®, Bohemia, Guinness,<br />
Desperados, Affligem, John Smith ou Kilkenny,
28 SETEMBRO <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 29<br />
sendo também parte integrante do Grupo<br />
Central de Cervejas a Hoppy House Brewing,<br />
direccionada para as cervejas artesanais, como<br />
a Topázio & Onyx, a Trindade, Albert Liège<br />
Spelt Ale e a internacional Lagunitas.<br />
O enfoque principal está na produção e<br />
comercialização de malte e cerveja na sua<br />
Cervejeira de Vialonga, onde são produzidas<br />
e/ou engarrafadas as marcas de cerveja<br />
Sagres e suas variantes, com e sem álcool, e<br />
a Bohemia. As matérias-primas começam por<br />
ser compradas com quatro a seis semanas<br />
de antecedência, e chegam às instalações<br />
por via terrestre, por vezes combinada com<br />
a marítima, tendo como origem preferencial<br />
Portugal, mas vindo também de Espanha,<br />
França e Alemanha.<br />
“A cerveja é uma bebida fermentada a partir<br />
de cereais e produzida com ingredientes<br />
naturais”, explica Nuno Pinto de Magalhães,<br />
“os seus principais ingredientes são a<br />
água, o malte, o lúpulo e a levedura. A<br />
sua combinação em diferentes variedades,<br />
quantidade e intervenção no processo<br />
cervejeiro aliado à criatividade dos Mestres<br />
Cervejeiros, transformam-se em mais de 140<br />
estilos diferentes de Cerveja”.<br />
Produção e enchimento<br />
Os processos de produção e de enchimento<br />
ocorrem 24H/24H, o que fez com que apenas<br />
no ano passado a Sociedade Central de<br />
Cervejas e Bebidas alcançasse uma produção<br />
de 2,5 milhões de hectolitros de cerveja e<br />
sidra.<br />
Ao nível das cervejas, Nuno Pinto de<br />
Magalhães explica que na Cervejeira de<br />
Vialonga, a Sociedade Central de Cervejas e<br />
Bebidas produz a cerveja Sagres e todas as<br />
suas variantes (Sagres Branca; Sagres Preta;<br />
Sagres sem álcool; Sagres 0,0) Sagres Radler<br />
Limão, Sagres Radler Frutos Vermelhos e<br />
Sagres Radler Limão 0,0, a cerveja Bohemia e<br />
suas variantes.<br />
A produção de cerveja começa pela<br />
Maltagem, que consiste em transformar o<br />
cereal, no caso a cevada, em malte. Todos<br />
os dias são transformadas 180 toneladas<br />
de cevada em 150 toneladas de malte na<br />
Malteria da Cervejeira de Vialonga, sendo que<br />
esta fase tem entre três e quatro processos<br />
de maltagem: molha, germinação, secagem<br />
e, em alguns tipos de malte, a torra. Todo<br />
este processo dura cerca de uma semana, e<br />
Nuno Pinto de Magalhães reforça que “temos<br />
ainda de considerar cerca de dois meses para<br />
a maturação da cevada e um mês para a<br />
estabilização do malte”.<br />
Seguidamente a este processo, seguem-se<br />
as etapas de Brassagem (fabricação de mosto),<br />
Fermentação, Guarda (maturação da cerveja),<br />
Filtração e Enchimento, o que demora cerca de<br />
23 dias.<br />
Ao nível do enchimento, a SCC dispõe de<br />
sete linhas dedicadas ao efeito na Cervejeira<br />
de Vialonga, que abrange as diferentes<br />
referências e capacidades das embalagens:<br />
barril, latas, garrafas de tara perdida e<br />
garrafas de tara retornável.<br />
“A cerveja Sagres incorpora no seu ADN<br />
história e tradição que remetem para os<br />
valores da Portugalidade, inscrevendo nos<br />
seus códigos de embalagem e rotulagem o<br />
escudo e as quinas que sempre acompanharam<br />
a iconografia da marca, desde 1940, ano<br />
de lançamento da marca, para representar<br />
história e a identidade portuguesa na<br />
Exposição do Mundo Português”, explica<br />
o director de comunicação e relações<br />
institucionais da SCC.<br />
“Hoje, 80 anos depois, a cerveja Sagres<br />
somos todos nós. São gerações de história<br />
e décadas de trabalho contínuo para fazer<br />
da marca Sagres aquilo que é hoje: a cerveja<br />
preferida dos portugueses”, comenta ainda.<br />
A combinação [dos ingredientes]<br />
em diferentes variedades,<br />
quantidade e intervenção no<br />
processo cervejeiro aliado<br />
à criatividade dos Mestres<br />
Cervejeiros, transformam-se em<br />
mais de 140 estilos diferentes<br />
de Cerveja<br />
Nuno Pinto de Magalhães
30<br />
setembro <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 31<br />
Sidras<br />
“A Sidra é uma bebida alcoólica produzida a<br />
partir de sumo fermentado de maçã”, explica<br />
o responsável, “para fazer sidra são usadas<br />
maçãs específicas, que servem exclusivamente<br />
para esse efeito, recolhendo-se o sumo da<br />
polpa e realizando-se um processo natural de<br />
fermentação”.<br />
A Bandida do Pomar é a marca de sidra<br />
da SCC, representada por uma raposa. Foi<br />
lançada em Dezembro de 2016 e é produzida<br />
na unidade de Vialonga. Nuno Pinto de<br />
Magalhães explica que a sua produção<br />
segue um processo distinto das cervejas: “os<br />
ingredientes usados são a primeira diferença<br />
entre os dois processos, começando pelo<br />
ingrediente base que na cerveja é o cereal<br />
maltado e na sidra é sumo fermentado de<br />
maçã”.<br />
Produção<br />
O processo de produção desta bebida passa<br />
pela Produção de Sumo (Colheita, Limpeza e<br />
Trituração), Produção de Álcool (Fermentação<br />
e Filtração), Mistura e Enchimento. Na primeira<br />
fase, referente ao sumo de maçã, são usadas<br />
diferentes combinações entre vários tipos de<br />
frutos, de modo a criar uma grande variedade<br />
de sidras. A seguinte, do álcool, relativamente<br />
às leveduras utilizadas na fermentação do<br />
sumo de maçã. Por fim, os processos de<br />
mistura e enchimento, dão o toque final e o<br />
acondicionamento e estabilidade da sidra.<br />
“As Sidras têm vindo a conquistar um papel<br />
importante e com grande potencial de<br />
crescimento no mercado nacional”, comenta<br />
Nuno Pinto de Magalhães, revelando que de<br />
acordo com os dados da Nielsen a categoria<br />
de Sidra cresceu cerca de 16% em 2019,<br />
comparativamente com o período homólogo,<br />
e que na empresa esse crescimento conjunto<br />
atingiu os 22% em volume.<br />
Para além da marca da raposa também<br />
contam com as internacionais Strongbow<br />
e Old Mout no portefólio dos produtos que<br />
comercializam.<br />
Águas<br />
A Água Mineral Natural de Luso começou a<br />
ser comercializada em 1894, e é explorada<br />
através de três captações “em artesianismo<br />
repuchante, das quais emana uma água<br />
levíssima devido à especificidade mineralógica<br />
do aquífero (quartzo cristalino), beneficiadas<br />
pela nobreza singular das suas áreas de<br />
recarga (serra do Buçaco)”, caracteriza o<br />
responsável.<br />
Desde 2004, após a obra de instalação de<br />
condutas de ligação do Luso para o Cruzeiro,<br />
numa extensão de cerca de 5 quilómetros, que<br />
a unidade da Quinta do Cruzeiro, em Vacariça,<br />
passou a encher água mineral natural de Luso,<br />
onde também existe uma linha asséptica.<br />
É também neste local que se engarrafa a<br />
Água do Cruzeiro, e é produzida a Luso Fruta.<br />
Nuno Pinto de Magalhães avança ainda que<br />
recentemente a SCC adquiriu a concessão e<br />
marca Água Castello, em Pizões de Moura, a<br />
juntar ao portefólio de águas da empresa.<br />
Ao nível do engarrafamento, operam com<br />
garrafas de PET (Politereftalato de Etileno)<br />
que variam entre os 0,33L, 0,5L, 0,75L,<br />
1,5L, 5,4L e 7L, com características “não<br />
retornáveis”, bem como com garrafas de vidro<br />
entre os 0,25L, 0,5L e 1L, com características<br />
retornáveis. Em 2019 a Sociedade da Água<br />
de Luso teve uma produção de 2.490.012<br />
hectolitros.<br />
Nuno Pinto de Magalhães explica que a<br />
Água Mineral Natural de Luso “tem origem na<br />
água da chuva infiltrada na Serra do Buçaco,<br />
em rochas formadas, quase exclusivamente,<br />
por quartzo, designadas quartzitos”. Trata-se<br />
de um processo natural de filtração da água da<br />
chuva, que leva em média 1.000 anos, e que<br />
ocorre a centenas de metros de profundidade<br />
(estima-se cerca de 500 metros), criando<br />
um aquífero que termina precisamente na<br />
povoação de Luso. O responsável explica que<br />
deste modo a Água Mineral Natural de Luso<br />
se encontra protegida e preservada na Serra,<br />
intocada até ser engarrafada.<br />
Refere ainda que a protecção deste<br />
recurso é garantida por “um rigoroso plano<br />
de exploração e atenta vigilância, exercida<br />
sobre um perímetro de protecção legalmente<br />
definido”. Em cumprimento da legislação em<br />
vigor, foram definidas três zonas de vigilância<br />
dentro do perímetro total envolvente:<br />
Zona Alargada – Correspondente às áreas<br />
de recarga do aquífero;<br />
Zona Intermédia – Áreas próximas da Vila<br />
de Luso e dentro dela;<br />
Zonas imediatas – Áreas muito restritivas<br />
no uso do solo, em torno das captações.<br />
Ao nível da produção da Luso Fruta,<br />
Nuno Pinto de Magalhães conta que esta<br />
tem por base a Água Mineral Natural de<br />
Luso e sumo natural de fruta, sem corantes<br />
nem conservantes, e apenas com o açúcar<br />
natural da fruta. “É um produto com uma<br />
linha asséptica dedicada à sua produção e<br />
enchimento, o que permite a sua produção<br />
sem a adição de conservantes”, comenta.
32 SETEMBRO <strong>2020</strong><br />
SCM Supply Chain Magazine 33<br />
Armazenamento, gestão e<br />
distribuição<br />
A SCC dispõe de armazenamento a<br />
temperatura ambiente, tanto para matériasprimas<br />
como para produto acabado, em todas<br />
as suas unidades de produção, acompanhando<br />
as necessidades do negócio. Para além disso,<br />
conta ainda com 12 espaços a nível nacional<br />
da sua empresa de distribuição: Novadis.<br />
“No que respeita às encomendas de clientes<br />
de Retalho, Hotéis e Corporate Accounts,<br />
estas são recebidas diariamente pela nossa<br />
equipa de Customer Service através dos vários<br />
canais digitais (portal, winRest, EDI e OCR) ou<br />
tradicionais (email ou telefone)”, começa por<br />
explicar Nuno Pinto de Magalhães. Após feitas,<br />
são transmitidas em tempo real via EDI para<br />
os parceiros logísticos subcontratados, que<br />
também por EDI devolvem os comprovativos<br />
de entrega, ou Proof-of-Delivery, com base nos<br />
quais assenta o processo de facturação.<br />
Mais de 90% das facturas já são enviadas<br />
para os clientes de forma digital, através<br />
de EDI ou e-mail, no próprio dia da entrega,<br />
um serviço de e-billing para os clientes do<br />
Retalho, Hotéis e Corporate Accounts lançado<br />
no ano passado que segue a estratégia de<br />
inovação tecnológica da SCC e permite poupar<br />
10 toneladas de papel por ano.<br />
“As encomendas dos nossos clientes do<br />
canal HORECA são efectuadas através de<br />
um sistema de pré-venda, recepcionadas via<br />
visitação da nossa força de vendas ou em<br />
alguns casos pelo nosso Costumer Care. São<br />
depois processadas internamente para entrega<br />
via Novadis“, explica ainda o responsável.<br />
Relativamente à distribuição para o<br />
retalho, esta é feita essencialmente através<br />
do transporte primário subcontratado, indo<br />
directamente das suas fábricas para o cliente<br />
final. Em paralelo, desenvolveram ainda<br />
o conceito de “backhauling” com alguns<br />
retalhistas, que consiste no abastecimento dos<br />
camiões vazios dos retalhistas nas fábricas<br />
da SCC após a distribuição, quando estão<br />
a retornar aos seus entrepostos centrais,<br />
poupando assim tempo, recursos e viagens<br />
dedicadas ao efeito.<br />
Ao nível da distribuição capilar, esta é feita<br />
através da Novadis, com a sua frota própria, e<br />
que através dos seus 12 sites a nível nacional<br />
conseguem assegurar a cobertura de cerca de<br />
70% dos seus clientes do mercado HORECA.<br />
“Na distribuição o nosso foco de<br />
sustentabilidade passa pela redução das<br />
emissões de CO2. Reduzir a nossa pegada de<br />
carbono é um dos pilares principais da nossa<br />
agenda de Desenvolvimento Sustentável,<br />
o que inclui a transição para processos<br />
de logística que reduzam os níveis de<br />
emissões de carbono”, comenta Nuno Pinto<br />
de Magalhães, e explica que também nesse<br />
sentido têm desenvolvido projectos, tanto na<br />
distribuição primária como secundária.<br />
Relativamente à distribuição primária, “para<br />
além da optimização de rotas e de cargas<br />
e a utilização de veículos mais eficientes,<br />
investimos em dois veículos movidos a<br />
Gás Natural”, comenta o responsável,<br />
acrescentando que ao nível da Novadis<br />
efectuaram um teste piloto com um veículo<br />
eléctrico para entrega aos seus clientes.<br />
Centro Logístico da LPR, Warrington, Inglaterra<br />
Red is<br />
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encomendas e monitorizar os seus stocks online<br />
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informação são automáticos. Para além disso, no nosso Portal poderá<br />
facilmente acompanhar toda a sua atividade: visualizar os fluxos de paletes,<br />
encomendas, stocks, inspeções de qualidade, rentabilizando tempo, espaço<br />
físico e custos de transporte. Para mais informações visite a LPR.eu<br />
Na distribuição o nosso foco de<br />
sustentabilidade passa pela<br />
redução das emissões de CO2.<br />
Reduzir a nossa pegada de carbono<br />
é um dos pilares principais da<br />
nossa agenda de Desenvolvimento<br />
Sustentável, o que inclui a<br />
transição para processos de<br />
logística que reduzam os níveis de<br />
emissões de carbono<br />
Nuno Pinto de Magalhães<br />
A pallet is red, red is a pallet
34 setembro <strong>2020</strong><br />
SCM Supply Chain Magazine 35<br />
Inovação<br />
A inovação é um factor determinante para<br />
o crescimento das diferentes categorias e<br />
como resposta às tendências de consumo,<br />
e o director de comunicação e relações<br />
institucionais explica que “os consumidores<br />
portugueses são bastante experimentalistas<br />
e procuram cada vez mais ser surpreendidos”.<br />
Deste modo, procuram apostar na<br />
diferenciação, e destaca as cervejas artesanais<br />
e a cerveja Bohemia, “pensada para os<br />
diferentes momentos de foodpairing”.<br />
Por outro lado, também comenta que as<br />
novas gerações tendem a valorizar os estilos<br />
de vida mais saudáveis, procurando cada<br />
vez mais novas opções no dia-a-dia, o que<br />
impulsionou o crescimento da categoria de<br />
bebidas com baixo teor alcoólico, ou sem<br />
álcool, a nível mundial.<br />
“Vimos isso como uma oportunidade e<br />
desenvolvemos uma categoria de cervejas<br />
0.0% de teor alcoólico, com cerca de metade<br />
das calorias de uma cerveja com álcool, e<br />
agora também com um sabor de excelência,<br />
em resposta às novas tendências e à entrada<br />
em novas ocasiões de consumo”, a chamada<br />
“Zona Zero”, que engloba os lançamentos das<br />
Heineken 0.0, Sagres 0.0 e Radler 0.0. Para<br />
além disso, considera que ao mesmo tempo<br />
“os nossos produtos sem álcool podem fazer<br />
parte de um estilo de vida equilibrada e<br />
oferecer uma opção alternativa – às pessoas<br />
que não podem ou não querem beber bebidas<br />
alcoólicas”.<br />
Mas a preocupação do cliente não passa<br />
apenas pela saúde: “os consumidores<br />
também se preocupam cada vez mais com os<br />
propósitos e pilares de sustentabilidade das<br />
marcas”. Neste sentido, “a cerveja Bohemia<br />
apresentou a sua mais recente novidade,<br />
a Bohemia Pilsener Cevada do Alentejo,<br />
fabricada com 100% de cevada do Alentejo”,<br />
avança o responsável, acrescentando que<br />
nesta aposta procuraram produtores regionais<br />
certificados e associados do Agrupamento de<br />
Produtores de Cereais do Sul (CERSUL).<br />
Nuno Pinto de Magalhães reforça ainda<br />
a ideia de que apesar de existirem clientes<br />
que compram pelo preço, pela qualidade ou<br />
pelo conhecimento/recomendação da marca,<br />
“actualmente os consumidores não compram<br />
só um produto, querem também saber que<br />
causas, valores e legados representam<br />
esses produtos/marcas. Querem sentir-se<br />
identificados e saber se as marcas reflectem<br />
os seus valores e crenças, saúde e bem-estar,<br />
sustentabilidade ambiental e até mesmo as<br />
suas conexões sociais e familiares”.<br />
Actualmente os consumidores não compram só um produto, querem também<br />
saber que causas, valores e legados representam esses produtos/marcas.<br />
Querem sentir-se identificados e saber se as marcas reflectem os seus<br />
valores e crenças, saúde e bem-estar, sustentabilidade ambiental e até mesmo<br />
as suas conexões sociais e familiares<br />
Actuação durante a<br />
pandemia<br />
Com o fecho temporário do canal HORECA,<br />
que representa mais de 65% do valor de<br />
vendas no mercado nacional, o sector<br />
cervejeiro e os seus operadores foram<br />
marcados de forma significativa. “Contudo,<br />
a Cervejeira de Vialonga nunca deixou de<br />
produzir, readaptando-se e dando resposta<br />
às solicitações do canal HORECA, o qual<br />
se reinventou para take-away e delivery,<br />
mas também às encomendas do canal da<br />
grande distribuição”, comenta o responsável,<br />
revelando ainda que “os modelos de negócio<br />
online são também um canal de vendas que<br />
tem vindo a crescer e no qual gostaríamos de<br />
continuar presentes”.<br />
Explica que numa primeira fase, o foco<br />
foi reforçar a produção e enchimentos para<br />
aumentar o nível de stock dos produtos<br />
essenciais, onde esperavam um reforço da<br />
procura, conseguindo assim dar resposta<br />
ao incremento de encomendas do canal<br />
da grande distribuição, principalmente nas<br />
referências de água engarrafada.<br />
Ao nível das pessoas, de uma forma<br />
transversal implementaram medidas<br />
essenciais ao nível do distanciamento social e<br />
etiqueta respiratória de forma a minimizar os<br />
Nuno Pinto de Magalhães<br />
contágios e propagação, as quais continuam<br />
a ser actualizadas, e dispõem de um plano<br />
de contingência detalhado que segue as<br />
recomendações da Direcção Geral da Saúde<br />
(DGS):<br />
> “Disponibilização a todos os nossos<br />
colaboradores Equipamento de Protecção<br />
Individual (EPI’s), máscara de protecção,<br />
viseira sempre que se adeque à função e<br />
desinfectante para higienização das mãos;<br />
> Medição de temperatura à entrada de<br />
todas as nossas instalações;<br />
>Asseguramos a limpeza e desinfecção das<br />
superfícies e dos espaços comuns de trabalho;<br />
> Definimos o procedimento de actuação<br />
para casos suspeitos, bem como preparar<br />
a resposta operacional para minimizar as<br />
condições de propagação;<br />
> Implementação de trabalho remoto para<br />
todas as funções que o permitam;<br />
Conta ainda que “todas as nossas equipas<br />
se encontram formadas e mobilizadas para se<br />
adaptar a esta nova realidade, não perdendo o<br />
foco na continuidade das nossas operações”.<br />
Posto isto, de boa saúde e com o devido<br />
distanciamento, brindemos juntos ao sucesso<br />
do sector com uma bebida fresca, com ou<br />
sem álcool e do seu sabor preferido, porque<br />
a variedade existe, mas não se esqueça: Beba<br />
com moderação.•
36<br />
setembro <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 37<br />
logística<br />
Texto: Fábio Santos<br />
Inovar é a resposta à<br />
evolução dos hábitos<br />
de consumo<br />
No sector alimentar, os hábitos dos<br />
consumidores têm registado uma evolução<br />
enorme. Preocupações ambientais e de<br />
sustentabilidade, maiores cuidados individuais<br />
e a busca por hábitos de vida mais saudáveis<br />
norteiam de grosso modo a mudança.<br />
Responder às novas exigências é o desafio da<br />
indústria e do retalho e graças a concursos<br />
como o ECOTROPHELIA, é possível ajudar as<br />
marcas, distinguindo projectos inovadores e<br />
impulsionando assim a mudança.<br />
O<br />
projecto ECOTROPHELIA, a nível<br />
internacional, já conta com 20 edições em<br />
17 países, mas em Portugal vai apenas na<br />
4.ª edição, promovida pela PortugalFoods. A<br />
edição deste ano contou com a participação<br />
de 62 estudantes de 14 instituições de ensino,<br />
que se habilitaram a um prémio monetário<br />
de 2.000 euros, prémios em serviços e a<br />
representar Portugal no ECOTROPHELIA<br />
Europe, em Outubro, no SIAL Paris.<br />
Ecotrophelia PT<br />
João Miranda, Fundador e Chairman da Frulact<br />
Desde 2008, esta competição já mobilizou<br />
mais de 4.000 estudantes, 500 instituições de<br />
ensino e 2.000 empresas, resultando em mais<br />
de 860 produtos alimentares eco-inovadores,<br />
dos quais mais de 100 foram industrializados<br />
ou comercializados.<br />
Representando o lado português, em<br />
entrevista à SCM, João Miranda, fundador e<br />
chairman da Frulact e embaixador do prémio<br />
ECOTROPHELIA Portugal, explica como é que<br />
o prémio tem contribuído para a inovação<br />
do sector agro-alimentar, acompanhando as<br />
mudanças.<br />
- Relativamente aos prémios<br />
ECOTROPHELIA, os participantes são<br />
estudantes, mas as verdadeiras interessadas<br />
são as empresas, sendo que dos mais de 860<br />
projectos eco-inovadores, mais de 100 já<br />
foram industrializados ou comercializados.<br />
Quais são as principais vantagens para as<br />
marcas ao aderir ao projecto e de que forma<br />
são desenvolvidos estes projectos vencedores?<br />
> Com quatro edições em Portugal, que<br />
possibilitaram a criação de dezenas de<br />
produtos por parte dos estudantes nacionais,<br />
o prémio ECOTROPHELIA tem contribuído<br />
ao longo dos anos para a inovação do sector<br />
agro-alimentar e para a sua constante<br />
adaptação às necessidades e desafios que<br />
vão surgindo, ajudando na revitalização do<br />
ecossistema e das suas organizações.<br />
O prémio fomenta a ligação entre o mundo<br />
académico e empresarial, com as empresas<br />
parceiras a terem a oportunidade de contactar<br />
com um grupo de jovens criativos e dinâmicos<br />
e com as suas ideias, pensadas para o<br />
contexto actual. Os profissionais do sector têm<br />
acesso à bolsa de talentos e a oportunidade<br />
de conhecer os projectos em primeira mão<br />
na competição nacional. Alguns contribuem<br />
mesmo com matéria-prima, mediante o pedido<br />
das equipas. Temos algumas parcerias que<br />
possibilitam que a equipa vencedora receba<br />
apoio/mentoria após a competição nacional<br />
e pré-competição europeia, de forma a<br />
que possa melhorar o seu projecto que vai<br />
representar Portugal na fase final. Por outro<br />
lado, permite-se à academia estar próxima<br />
da realidade empresarial, retirando o máximo<br />
de conhecimento que advém da experiência<br />
dos profissionais e dando aos estudantes uma<br />
oportunidade de aplicação prática.<br />
Na competição nacional, existe esta<br />
partilha de opinião, mas também, por vezes,<br />
o interesse dos empresários em apoiar<br />
o desenvolvimento dos projectos (póscompetição)<br />
para entrada no mercado.<br />
Nesse sentido, acreditamos que o prémio<br />
ECOTROPHELIA representa um ‘win-win’<br />
para as duas frentes, dadas as dinâmicas<br />
colaborativas que fomenta. O nosso objectivo<br />
passa por ter sempre mais e melhores<br />
produtos eco-inovadores, capazes de chegar<br />
ao mercado e contribuir para a sua inovação,<br />
que é a chave para continuar a crescer<br />
dentro e fora de Portugal, principalmente no<br />
momento de fragilidade que vivemos.<br />
- É impossível falar de inovação sem<br />
falar de risco. Sendo o ECOTROPHELIA<br />
um prémio que promove a eco-inovação,<br />
o empreendedorismo e a competitividade<br />
no sector agro-alimentar, como é que as<br />
empresas encaram e lidam com o risco<br />
associado ao desenvolvimento de novos<br />
produtos?<br />
> A inovação, mais do que um risco, é um<br />
investimento necessário. O risco é a variável<br />
mais importante na gestão e a inovação é o<br />
processo mais eficaz na sua mitigação. O maior<br />
risco será, seguramente, não inovar, desde<br />
logo porque permite às empresas ajustar a<br />
sua oferta às novas tendências, procura e<br />
expectativas do mercado e dos consumidores.<br />
Hoje, os ciclos de vida dos produtos são cada<br />
vez mais curtos, precisamente porque se<br />
percebeu que só com o esforço de inovação<br />
e lançamento de novas linhas se consegue<br />
manter uma dinâmica de reposicionamento e/<br />
ou extensão de produtos e gamas, que permita<br />
competir no mercado global. A par disso, o<br />
actual contexto provocado pela COVID-19 tem<br />
vindo a desafiar as empresas a ajustarem a sua<br />
oferta. Se uma empresa não o fizer, outra o<br />
fará e esse espaço será seguramente ocupado.
38 SETEMBRO <strong>2020</strong><br />
SCM Supply Chain Magazine 39<br />
- O desenvolvimento de edições limitadas<br />
vem estudar a recepção do mercado e ajudar<br />
as empresas a ter conhecimento da adesão e<br />
do feedback do consumidor final, minimizando<br />
assim os riscos associados à inovação?<br />
> Algumas empresas fazem-no com esse<br />
intuito e é indubitavelmente um dos modelos<br />
possíveis para testar a aceitação de um<br />
novo produto no mercado, principalmente<br />
para algumas categorias e em alguns canais<br />
específicos, mitigando os riscos e evitando o<br />
insucesso.<br />
Não obstante, as edições limitadas ou<br />
produtos sazonais, ditos produtos in & out,<br />
na sua essência permitem aos consumidores<br />
novas experiências de consumo, havendo<br />
casos em que o sucesso é tal que se justifica a<br />
sua passagem definitiva para o pipeline.<br />
Há excelentes exemplos dessa tipologia de<br />
produtos, que, por determinadas razões,<br />
como a dificuldade de encontrar consistência<br />
ou escala da cadeia de fornecimento para<br />
uma determinada matéria-prima, é a única<br />
maneira de fazer chegar, de forma controlada,<br />
produtos altamente diferenciados, únicos e<br />
excepcionais, sem defraudar as expectativas<br />
dos consumidores, o que permite também um<br />
aumento de notoriedade, fidelização à marca e<br />
crescimento das vendas e margens.<br />
- Passar a produzir um novo produto implica<br />
investimento e mudanças ao nível operacional.<br />
Quais são as principais alterações sentidas na<br />
indústria e no retalho aquando do lançamento<br />
de um novo produto e quais as principais<br />
preocupações que têm?<br />
> Depende do tipo de produto e grau de<br />
inovação de que estamos a falar. Existem<br />
novos produtos cuja inovação não implica<br />
alterações significativas na cadeia de valor.<br />
Se estivermos a falar de uma inovação de<br />
produto com maior disrupção, então, aí<br />
existem alterações mais estruturantes ao nível<br />
da indústria, como a gestão de supply chain e<br />
respectiva rastreabilidade e/ou a incorporação<br />
de novas tecnologias produtivas, que poderão<br />
implicar a alteração do layout produtivo, bem<br />
como processos e práticas de fabrico.<br />
Os desafios para a indústria, neste caso,<br />
são enormes. Além do investimento em<br />
tecnologia, poderá ter implicações ao nível da<br />
eficiência operacional.<br />
Ao nível do retalho, a principal preocupação<br />
prende-se na gestão de espaço e linear,<br />
para dar a visibilidade necessária aos novos<br />
produtos, combinado, ao mesmo tempo, com a<br />
gestão das vendas das outras referências.<br />
-E do lado da indústria, quais os desafios<br />
ao nível da gestão e adaptação das operações<br />
normais ao lançamento de novos produtos?<br />
> Uma parte relevante da inovação na<br />
fileira surge assente em novas embalagens,<br />
mais funcionais, mais ecológicas ou<br />
mais económicas, com menos material e<br />
biodegradáveis. Esta dinâmica, cada vez mais<br />
presente, exige investimentos avultados<br />
nas alterações ou mudanças de tecnologia e<br />
linhas de produção, bem como na formação e<br />
realocação de equipas de gestão.<br />
Uma das maiores vantagens competitivas e<br />
comparativas das empresas do agro-alimentar<br />
da maioria dos países na Europa, em relação<br />
às empresas em Portugal, está assente na<br />
dimensão do mercado de cada uma delas,<br />
o que permite investir com outra segurança<br />
e obter escala mais facilmente, abordando<br />
também os mercados de exportação de<br />
forma diferenciada, com maior agressividade,<br />
competitividade e capacidade de diferenciação<br />
e inovação, o que lhe dá, à partida, uma maior<br />
notoriedade e capacidade de captar valor.<br />
Às empresas portuguesas, por sua vez, exige-<br />
-se maior assunção de risco no pioneirismo<br />
destas decisões de investimento, em que a<br />
variável exportação é factor-chave para os<br />
níveis de produtividade e de competitividade,<br />
exigidos.<br />
-Actualmente, os hábitos dos consumidores<br />
tendem a mudar, e tentam adaptar-se<br />
através de práticas diferenciadoras, como por<br />
exemplo através da sustentabilidade. Quais as<br />
preocupações que as empresas têm mostrado<br />
ter ao nível da responsabilidade social e<br />
ambiental?<br />
> Eu gosto de dizer que a sustentabilidade<br />
é a nova inovação. Nova na essência da<br />
gestão actual, em que a transversalidade da<br />
sustentabilidade se posiciona num patamar<br />
superior ao da inovação e, obrigatoriamente,<br />
a vai condicionar. Deixou de fazer sentido<br />
para as empresas investir em inovação sem<br />
acautelar as variáveis da sustentabilidade.<br />
O ECOTROPHELIA é isto mesmo: a ecoinovação<br />
e a promoção de novo conhecimento,<br />
indutor de inovação e competitividade assente<br />
em conceitos de sustentabilidade. Conceber<br />
ou idealizar um novo produto ou processo<br />
tem, obrigatoriamente, que obedecer a<br />
critérios de respeito pela natureza e garantia<br />
da sua preservação em toda a cadeia de<br />
valor, de respeito e partilha pela comunidade<br />
onde estamos inseridos e com quem nos<br />
relacionamos, e de justiça e partilha nas<br />
relações económicas e de dependência com<br />
os colaboradores e na cadeia de valor onde<br />
nos movemos. A sustentabilidade é mais que<br />
um novo chavão, é a variável crítica para uma<br />
estratégia de longo prazo.<br />
CONNOSCO
40<br />
setembro <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 41<br />
procurement<br />
Estou certo que as empresas, no geral, e<br />
as do alimentar em particular, têm ainda<br />
algum caminho a percorrer relativamente<br />
à sustentabilidade, mas temos assistido<br />
a sinais muito claros nas empresas da<br />
fileira agro-alimentar, impulsionadas pelos<br />
consumidores, principalmente os da geração<br />
Millennial, que são geralmente mais bem<br />
informados e também os que mais têm<br />
revelado uma preocupação social e ambiental<br />
no comportamento de consumo, onde<br />
manifestam que procuram marcas e empresas<br />
com um propósito e sentido de mudança<br />
naquilo que fazem e como fazem, esperando<br />
que estejam alinhadas com o que desejam ver<br />
no mundo e na sociedade.<br />
Os modelos de negócio são construídos<br />
cada vez mais com base na confiança, na<br />
transparência e na total rastreabilidade da<br />
cadeia de valor, estes são valores cada vez<br />
mais escrutinados pelos novos consumidores.<br />
-E relativamente ao aprovisionamento<br />
de matérias-primas mais sustentáveis e<br />
diferenciadoras?<br />
> Nas cadeias de valor do sector alimentar, a<br />
sustentabilidade começa, indubitavelmente,<br />
a montante com preocupações na<br />
sustentabilidade dos recursos e melhoria de<br />
nível de vida das pessoas, na interacção com<br />
os fornecedores e na ligação com a natureza,<br />
de onde provêm as principais matérias-primas.<br />
As relações de transparência entre parceiros<br />
e uma relação cliente-fornecedor tem de<br />
ser muito estreita e de longo prazo, pelo<br />
que esta transição para um modelo de<br />
negócio sustentável leva o seu tempo. Pela<br />
particularidade dos sectores, as grandes<br />
indústrias do chocolate, que dependem<br />
fortemente do cacau, as do café, mas também<br />
as do têxtil, com a produção de algodão,<br />
são excelentes exemplos de como se deve<br />
trabalhar um modelo sustentável ao longo da<br />
cadeia de valor, iniciando-o precisamente na<br />
relação a montante com os países de origem<br />
e com os seus produtores, incentivando boas<br />
práticas de cultivo e exploração agrícola<br />
sustentável.<br />
-Estamos a passar por uma crise pandémica<br />
mundial que tem criado imensas barreiras<br />
e entraves. Quais as principais limitações<br />
criadas no sector da inovação e de que forma<br />
é que as empresas tentam ultrapassar estas<br />
dificuldades?<br />
> A indústria alimentar, principalmente em<br />
contextos adversos como o que vivemos, tem<br />
uma missão a cumprir – fazer chegar, de forma<br />
ininterrupta, alimentos seguros e saudáveis<br />
a milhões de consumidores. E, a fileira agroalimentar,<br />
no seu todo, conseguiu adaptar-se<br />
e reinventar-se, garantindo que os produtos<br />
alimentares nunca faltassem, mesmo em<br />
momentos de muita insegurança e incerteza<br />
por parte dos consumidores. É, pois, desses<br />
processos de readaptação e reinvenção que<br />
rasgam fronteiras aos modelos e processos<br />
tradicionais das empresas, que transformam<br />
as dificuldades em oportunidades, que se cria<br />
valor, tal como se espera da inovação.<br />
Nesta fase de pandemia, em específico, houve<br />
uma necessidade de inovar mais ao nível dos<br />
processos, no sentido de ajustar a capacidade<br />
produtiva e logística às reais necessidades dos<br />
consumidores, que mais que diversidade de<br />
oferta, procuraram abastecer-se de produtos<br />
de primeira necessidade e de produtos que<br />
habitualmente consumiam. Esta reacção,<br />
normal, fez com que as marcas optassem por<br />
privilegiar a produção de referências de maior<br />
consumo, deixando para uma fase posterior as<br />
referências sazonais ou novos lançamentos. •<br />
Texto:<br />
Rafael Ramírez, Ciaran McGinley, and Steve Churchhouse, na Harvard Business Review<br />
Resiliênica no<br />
procurement<br />
Investir no Procurement torna<br />
as empresas mais resilientes<br />
A pandemia COVID-19 veio mostrar que todos os processos podem sofrer imprevistos, mas,<br />
mais importante que isso, trouxe a visão de oportunidades que as empresas podem e devem<br />
agarrar para conseguirem combater de forma eficaz uma crise como a que vivemos. Trata-se<br />
de resiliência e, neste momento, só sobrevive quem a tem incorporada na sua organização.
42 SETEMBRO <strong>2020</strong><br />
SCM Supply Chain Magazine 43<br />
Durante décadas colocou-se a eficiência<br />
no centro da estratégia: execútamos<br />
as operações o mais próximo possível<br />
da capacidade máxima. Solicitou-se pedidos<br />
aos fornecedores de forma alinhada com<br />
os cronogramas da produção. Trabalhouse<br />
arduamente para minimizar os custos<br />
“suando os activos” sob a orientação do<br />
Chief Financial Officer (CFO), e entregouse<br />
retornos financeiros trimestralmente.<br />
De muitas maneiras, este é um sistema<br />
que funcionou notavelmente, mas como a<br />
pandemia COVID-19 deixou dolorosamente<br />
claro, tem uma grande falha: não ajuda as<br />
empresas a desenvolver resiliência. Isto<br />
terá de mudar porque, para sobreviver em<br />
tempos de crise e prosperar a longo-prazo,<br />
as empresas precisam de mudar o seu<br />
pensamento estratégico de just-in-time para<br />
just-in-case.<br />
A crise financeira global de 2008 revelou<br />
os perigos potencialmente catastróficos de<br />
administrar bancos da maneira mais eficiente<br />
possível, com o mínimo de reservas. Após a<br />
crise, os reguladores determinaram que os<br />
bancos mantivessem reservas maiores para<br />
melhorar a sua resiliência. Isso apresentou-<br />
-se como uma reforma importante, mas, na<br />
maioria dos países, foram os contribuintes<br />
que pagaram por essa mudança, o que deixou<br />
os proprietários dos bancos e os seus clientes<br />
sem dificuldades. Já se esperava que os<br />
bancos sentissem que a mudança poderia ser<br />
tomada como um custo para fazer negócios<br />
e a eficiência nesse sector manteve-se como<br />
a parte mais importante da actividade, como<br />
ocorreu em todo o sector privado.<br />
O cenário agora é diferente. Os governos<br />
de todo o mundo imprimiram e distribuíram<br />
tanto dinheiro para salvar empresas em<br />
falência durante esta pandemia que agora<br />
adquiriram uma participação importante<br />
em todos os sectores da economia. Nos<br />
próximos anos, isto irá mudar profundamente<br />
a natureza da relação entre o sector público<br />
e o sector privado. Agora que o público<br />
possui tantas dívidas em empresas privadas,<br />
desenvolverá um desejo e capacidade<br />
crescente de orquestrar o que acontece no<br />
mercado. O envolvimento do estado nesse<br />
novo nível significará novos valores. Pense,<br />
por exemplo, se as suas expectativas são<br />
maiores enquanto cidadão ou consumidor.<br />
O que estamos a testemunhar neste<br />
momento é um movimento acelerado em<br />
direção à ‘stakeholder economy’, que é uma<br />
mudança na qual as empresas prestam<br />
contas não só aos accionistas, mas também<br />
aos funcionários e clientes, fornecedores e<br />
distribuidores, investidores e sociedade em<br />
Para sobreviver em tempos<br />
de crise e prosperar a<br />
longo-prazo, as empresas<br />
precisam de mudar o seu<br />
pensamento estratégico<br />
de just-in-time para just-<br />
-in-case<br />
geral. Mais do que nunca, as empresas agora<br />
terão de prestar atenção aos municípios<br />
onde possuem instalações, aos impactos<br />
ambientais dos seus produtos, e às normas,<br />
culturas e direitos das comunidades em que<br />
operam.<br />
Como podem as empresas desenvolver a<br />
resiliência de que precisam para enfrentar<br />
de maneira estratégica e eficaz este novo<br />
desafio e satisfazer o que, às vezes, são<br />
interesses e valores concorrentes? Tirando o<br />
poder do CFO e aplicando-o no procurement.<br />
Antigamente, a palavra tinha um sentido
44 SETEMBRO <strong>2020</strong><br />
45<br />
mais amplo, envolvendo o ‘processo de<br />
criar algo’ e, agora, propõe-se que os<br />
líderes comecem a pensar nela com esse<br />
sentido. Implementada estrategicamente,<br />
as compras podem ajudar as empresas a<br />
criar ‘constelações de valor’ inteiras, em<br />
vez de simples cadeias de valor, nas quais<br />
os stakeholders estão conectados uns aos<br />
outros de maneira holística e dinâmica. Como<br />
referem Rafael Ramirez, um dos autores do<br />
presente artigo, com Richard Normann num<br />
artigo para a Harvard Business Review em<br />
1993, ‘constelações de valor’ são sistemas<br />
altamente resilientes que não podem ser<br />
criados com o foco na eficiência financeira.<br />
Citaram o modelo do IKEA que consiste em<br />
tratar os seus clientes como fornecedores e<br />
tratar muitos dos seus fornecedores como<br />
clientes, dando-lhes conselhos, comprando<br />
em massa para eles e instruindo-os sobre<br />
que equipamentos utilizar. No IKEA o valor<br />
não é produzido em etapas distintas por<br />
uma pessoa de cada vez, e adicionado ao<br />
próximo sequencialmente. Em vez disso, é<br />
co-produzido por muitas partes interagindo<br />
entre si ao mesmo tempo, uma maneira muito<br />
mais eficaz e resistente de gerar e manter<br />
valor.<br />
Como podem as empresas<br />
desenvolver a resiliência de<br />
que precisam para enfrentar de<br />
maneira estratégica e eficaz este<br />
novo desafio e satisfazer o que,<br />
às vezes, são interesses e valores<br />
concorrentes? Tirando o poder do<br />
CFO e aplicando-o no procurement<br />
Rafael Ramirez e Ulf Mannervik, chairman<br />
e co-fundador da NormannPartners,<br />
actualizaram recentemente esses insights<br />
para a Networked World que analisou como<br />
o design de tais sistemas de co-produção<br />
são realmente realizados. Um dos casos<br />
mostra como a concessionária francesa de<br />
electricidade EDF identificou oportunidades<br />
no processo de compras dos seus clientes<br />
no Sudeste Asiático, onde achou que<br />
poderia apoiá-los, e, de seguida, criou uma<br />
empresa totalmente nova com parceiros<br />
para abastecer essas necessidades. No<br />
modelo de co-produção o que importa não<br />
é o poder relativo, mas as relações entre<br />
todos os stakeholers e os múltiplos papéis<br />
que desempenham nesta relação. Projecte<br />
um sistema que crie valor melhorando essas<br />
relações e todas as partes ficam a ganhar.<br />
Pensar estrategicamente sobre compras torna<br />
isso possível.<br />
Recentemente, foi possível apresentar<br />
este argumento à liderança sénior de um<br />
departamento de compras europeu que,<br />
a cada ano, compra muitos milhões de<br />
dólares em serviços e bens a um conjunto<br />
complexo de fornecedores internacionais.<br />
O departamento necessitava de obter<br />
orientação na reformulação do seu sistema<br />
de fornecedores e, para isso, criaram-se<br />
e executaram-se workshops estratégicos,<br />
onde se incluíram estudos de caso focados<br />
em empresas que já tinham projectado e<br />
implementado novos sistemas de criação<br />
de valor baseados em compras estratégicas.<br />
Estes workshops foram realizados no<br />
contexto da actual pandemia que permitiu<br />
aos participantes explorar como poderiam<br />
projectar sistemas semelhantes numa<br />
realidade pós-COVID-19.<br />
Um desses casos passa-se com a Rolls<br />
Implementada estrategicamente, as compras podem ajudar as empresas a<br />
criar ‘constelações de valor’ inteiras, em vez de simples cadeias de valor,<br />
nas quais os stakeholders estão conectados uns aos outros de maneira<br />
holística e dinâmica<br />
Royce. No início dos anos 90, quando esta<br />
empresa era um pequeno player no mercado<br />
da tecnologia de propulsão, com uma<br />
cadeia de abastecimento muito tradicional,<br />
começou a redefinir o paradigma de criação<br />
de valor da sua indústria: trabalhar com<br />
cadeias de abastecimento tradicionais<br />
significava ter intermináveis ‘brigas de<br />
margem’ com clientes e fornecedores, o que<br />
levou a resultados de win-lose para muitas<br />
partes, particularmente aquelas com um<br />
poder de mercado relativamente fraco. Em<br />
vez de se focar na eficiência dentro desse<br />
contexto, a Rolls Royce decidiu focar-se na<br />
gestão de relacionamentos a longo-prazo,<br />
tendo oferecido contratos de hora a hora às<br />
companhias aéreas que determinava que não<br />
comprariam simplesmente motores e peças<br />
suplentes à Rolls Royce, mas pagariam pela<br />
propulsão consumida. Por outras palavras,<br />
a empresa optou por vender algo que os<br />
clientes consideram mais um serviço do<br />
que um bem, uma decisão que a tornou<br />
rapidamente líder do sector.<br />
Esta aposta foi amplamente anunciada,<br />
mas o que é menos conhecido é que a<br />
empresa criou as condições para o sucesso,<br />
trabalhando arduamente para desenvolver<br />
uma rede altamente persistente de parcerias<br />
de compras fiáveis com companhias aéreas,<br />
lojas de revisão, produtores de sistemas e<br />
peças, instituições financeiras e até nações.<br />
Todos os esforços se concentraram em<br />
minimizar e reconciliar os vários tipos de<br />
valor no ciclo de vida dos activos do motor,<br />
desde o projecto à disposição. O resultado<br />
foi uma conjugação de riscos, a co-produção<br />
de valores e a partilha de recompensas<br />
que criaram uma ‘constelação de valores’<br />
resiliente que beneficiou todos os envolvidos.<br />
À medida que as empresas se concentram<br />
menos na eficiência e mais na resiliência, as<br />
compras tornam-se centrais na estratégia.<br />
Isso ocorre porque o procurement está<br />
posicionado de forma única para orquestrar<br />
sistemas de criação de valor que podem<br />
acomodar detentores de valor incompatíveis,<br />
suportar exógenos choques, partilhar<br />
cargas e crescer dinamicamente. Aqui há<br />
uma lição importante: quando a resiliência<br />
é a prioridade, executar correctamente o<br />
procurement pode ser a estratégia.•
46<br />
setembro <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 47<br />
procurement<br />
Pedro Hugo Rocha<br />
E agora, o que vem aí<br />
para o Procurement?<br />
PROCUREMENT <strong>2020</strong>: BASTA<br />
RECOMEÇAR OU É NECESSÁRIO<br />
UM RESET ?<br />
Em Julho de <strong>2020</strong>, tive o gosto de participar na<br />
Procurement Digital Conference, num painel de<br />
debate com o tema “E agora, o que vem aí para o<br />
Procurement - basta recomeçar ou é necessário um<br />
reset?”<br />
Texto:<br />
Pedro Hugo Rocha, Global Procurement Director<br />
Center of Excellence no Campari Group<br />
Neste artigo tento resumir os quatro<br />
temas que, na minha óptica, ganharam<br />
importância com a emergência trazida<br />
pelo COVID-19. Propositadamente, não coloco<br />
a questão da tecnologia e do digital como<br />
um dos quatro temas porque considero que<br />
a tecnologia é um enabler estratégico para<br />
todos os temas que debatemos hoje em dia no<br />
Procurement, é omnipresente e transversal,<br />
e o COVID-19 veio reforçar ainda mais este<br />
conceito.<br />
Gestão de custos e de cash<br />
flow<br />
Não é um tema novo para o Procurement e,<br />
na minha perspectiva, nunca deixou de ser a<br />
prioridade número um do Procurement, apesar<br />
de muito se debater sobre as outras áreas<br />
onde o Procurement pode criar valor para a<br />
empresa. Em boa verdade, se perguntarmos à<br />
gestão executiva das empresas o que espera<br />
do Procurement, estou convencido que a<br />
grande maioria colocará o tema da gestão de<br />
custos e de cash no topo das prioridades.<br />
Com a emergência COVID-19, este tema<br />
ganha ainda mais importância. Julgo que há,<br />
no entanto, um ponto que potencialmente<br />
sairá reforçado, que é a colaboração com<br />
fornecedores para gerar poupanças numa<br />
lógica de benefício partilhado. Penso que<br />
não será eficaz procurar savings ou cash<br />
recorrendo aos métodos tradicionais de<br />
negociação de preços e de redução de<br />
margens de fornecedores, numa lógica de<br />
competição. Alguns fornecedores estarão<br />
já debaixo de grande pressão para gerir a<br />
emergência. Pressionar ainda mais, pode levar<br />
a consequências indesejáveis.
48 setembro SETEMBRO <strong>2020</strong><br />
SCM Supply Chain Magazine 49<br />
Um bom exemplo da geração colaborativa<br />
de benefícios é o supply chain finance, um<br />
mecanismo que permite libertar cash flow<br />
para a empresa e para o fornecedor numa<br />
lógica win-win.<br />
Gestão de risco e resiliência<br />
A emergência COVID-19 mostrou que o<br />
Procurement está à altura de dar respostas<br />
operacionais às necessidades do negócio,<br />
necessidades essas que variavam todos os<br />
dias a um ritmo frenético. Veja-se o exemplo<br />
emblemático do sourcing de material de<br />
protecção individual.<br />
Ao mesmo tempo, pôs a descoberto algumas<br />
lacunas nas áreas mais estratégicas e tácticas<br />
do Procurement. Uma delas é a gestão do<br />
risco. Muitas empresas foram apanhadas pela<br />
avalanche sem uma boa visibilidade da sua<br />
cadeia de fornecedores, principalmente ao<br />
nível de fornecedores tier2.<br />
Este é um ponto de atenção que sairá<br />
reforçado. É necessário o Procurement dedicar<br />
tempo e recursos para melhorar o processo<br />
de gestão de risco de fornecedores, dando<br />
importância às cadeias de fornecimento mais<br />
críticas e/ou estratégicas para o negócio.<br />
Agile Procurement<br />
Estou convencido que o Procurement<br />
encontrará agora uma nova forma de se<br />
organizar e vai adoptar um novo modelo<br />
operativo. A empresa espera que o<br />
Procurement seja mais rápido, mais flexível e<br />
mais atento às mudanças constantes, tanto do<br />
lado das necessidades da empresa (contexto<br />
interno) como do lado dos mercados de<br />
fornecimento (contexto externo).<br />
O Procurement deverá trabalhar numa<br />
lógica mais ágil, isto é, assente em projectos<br />
de curta duração (“sprints”) com equipas<br />
multi-disciplinares, sendo o objectivo principal<br />
dar resposta a problemas concretos do<br />
negócio. Se a ideia não funcionar, então párase<br />
de executar, aprende-se e parte-se para o<br />
próximo projecto. Se a ideia funcionar, então<br />
consolida-se a implementação e escala-se<br />
rapidamente. Esta forma “agile” de trabalhar<br />
requer um mindset específico de ter iniciativa<br />
para encontrar soluções, de aceitar o erro<br />
como forma de aprender e de ter resiliência.<br />
Sustentabilidade e<br />
Responsabilidade Social<br />
Várias organizações, entre as quais a<br />
União Europeia, estão a colocar o tema<br />
da sustentabilidade e da economia verde<br />
no centro do programa de recuperação da<br />
economia pós-covid-19. Os consumidores<br />
estão muito atentos ao que as empresas<br />
estão a fazer neste período, em termos<br />
de responsabilidade social e de contribuir<br />
para ajudar as comunidades a lidar com a<br />
emergência. Esta é uma realidade a que as<br />
empresas, e por consequência o Procurement,<br />
não podem ficar alheios.<br />
Será necessário ao Procurement reforçar nos<br />
seus planos os temas de sustentabilidade e de<br />
Food Service Logistics<br />
O seu parceiro de negócio<br />
HAVI.COM<br />
responsabilidade social. Em concreto, poderá<br />
passar por estabelecer critérios específicos<br />
nos processos de qualificação e selecção de<br />
fornecedores nos concursos de compra, e<br />
de avaliação de fornecedores ao longo do<br />
tempo de vida dos contratos. Num estado<br />
de maturidade mais avançado, as empresas<br />
poderão fazer iniciativas específicas de<br />
promoção da economia circular, por exemplo<br />
reformulando as supply chains dos produtos<br />
que compram para alcançar o maior efeito<br />
possível de circularidade (os cinco R’s : refuse,<br />
reduce, resuse, repurpose, recycle).<br />
Muitas empresas poderão já estar a seguir<br />
estas práticas, mas estou convencido que<br />
os critérios de sustentabilidade deverão<br />
ganhar peso nos processos de decisão do<br />
Procurement.•
50<br />
SETEMBRO <strong>2020</strong><br />
Para grandes desafios,<br />
grandes parceiros<br />
intralogística<br />
Beiersdorf e LPR<br />
Flexibilidade e<br />
disponibilidade<br />
A Beiersdorf, fabricante de marcas como a Nivea e a Elastoplast, estava a passar por grandes<br />
desafios no seu armazém em West Midlands, na Inglaterra, devido às especificidades das paletes do<br />
Reino Unido, que são bem diferentes das Europaletes. A LPR disponibilizou-se para ajudar e daqui a<br />
seis meses irão avaliar os progressos da operação.<br />
Texto: Ana Paiva<br />
Fotos: LPR<br />
Um dos grandes desafios pelo qual a<br />
Beiersdorf estava a passar consistia na<br />
logística de transferir os produtos da<br />
Europaletes para paletes standard do Reino<br />
Unido, o que significava que a empresa<br />
não era tão receptiva às necessidades dos<br />
clientes como gostaria quando chegava uma<br />
encomenda urgente.<br />
A maioria dos produtos da empresa são<br />
importados da Europa através da Europaletes,<br />
mas a maioria da sua carteira de clientes no<br />
Reino Unido só aceita produtos em paletes<br />
deste país.<br />
Utilizando inversores de paletes, a<br />
Beiersdorf virava cada Europalete armazenada<br />
de lado, libertava-a e substituía-a por uma do<br />
Reino Unido. Estas são mais largas do que as<br />
Europaletes, por isso, esta operação resulta<br />
apenas em três quartos da palete coberta<br />
com produtos. Posteriormente, a empresa<br />
preenchia manualmente este espaço com<br />
produtos adicionais do mesmo lote e, sem<br />
seguida, voltava a embalar a palete para ser<br />
enviada para o cliente. Este era um processo<br />
moroso que chegava a levar oito minutos e<br />
meio por palete.<br />
SCM Supply Chain Magazine 51<br />
Isto significa que os produtos<br />
que enviamos para os clientes<br />
do Reino Unido têm de ser<br />
substituídos [convertidos de<br />
Europaletes para paletes do<br />
Reino Unido] antes de saírem do<br />
armazém. Isto abranda o nosso<br />
processo de entrega e torna<br />
os prazos de resposta mais<br />
apertados<br />
“Isto significa que os produtos que enviamos<br />
para os clientes do Reino Unido têm de ser<br />
substituídos [convertidos de Europaletes para<br />
paletes do Reino Unido] antes de saírem do<br />
armazém. Isto abranda o nosso processo de<br />
entrega e torna os prazos de resposta mais<br />
apertados”, revela Peter Austin, responsável<br />
de transporte da Beiersdorf no Reino Unido e<br />
na Irlanda.<br />
Antigamente, o processo da troca de paletes<br />
decorria imediatamente antes dos artigos<br />
saírem para o armazém, mas isso tornava-se<br />
difícil caso a encomenda fosse urgente.
52 SETEMBRO <strong>2020</strong><br />
A intervenção da LPR<br />
O segundo desafio da empresa era recorrente<br />
com um grande cliente, o qual não eram<br />
capazes de satisfazer através do fornecedor de<br />
paletes existente. É aqui que entra a LPR.<br />
“A ASDA Lutterworth não podia aceitar<br />
os nossos produtos nas paletes do nosso<br />
fornecedor anterior porque o seu sistema de<br />
entrada automática rejeitava-as. Isto incitounos<br />
a falar com a LPR, pois tínhamos de<br />
encontrar uma solução”, refere Peter Austin,<br />
acrescentando que “não mudar de fornecedor<br />
de paletes deixar-nos-ia numa posição em que<br />
tínhamos de trocar as Europaletes quando<br />
recebíamos a mercadoria e, depois, éramos<br />
forçados a trocar a mesma palete novamente<br />
à saída da mercadoria para satisfazer os<br />
seus requisitos. Isto criou uma complexidade<br />
logística que teve impacto no negócio”.<br />
A empresa necessitava de um fornecedor<br />
que estivesse preparado para ser flexível e que<br />
conseguisse “pensar fora da caixa”. Quando<br />
apresentaram o concurso, foi a LPR que se<br />
disponibilizou para ajudar com todos estes<br />
desafios. Ofereceram-se para experimentar<br />
durante os primeiros seis meses para<br />
compreender o requisito do tempo de espera<br />
real, caracterizado por Peter Austin como “um<br />
gesto simples, mas que significou muito”.<br />
Assim, era necessário encontrar uma<br />
solução para que a Beiersdorf se tornasse mais<br />
receptiva às necessidades dos clientes e que<br />
acelerasse a distribuição dos produtos. Para<br />
alcançar esta meta, teriam de implementar um<br />
processo para mudar e substituir as paletes<br />
à entrada do armazém. O problema é que<br />
não sabiam durante quanto tempo teriam de<br />
utilizar as paletes no local e, por conseguinte,<br />
quais seriam as implicações em termos de<br />
custos.<br />
Através deste novo processo, a Beiersdorf<br />
iria usar as paletes do Reino Unido durante<br />
períodos maiores, entre 40 a 45 dias, em vez<br />
de 15 ou 16 dias com o sistema anterior em<br />
que só necessitavam de paletes na altura do<br />
envio.<br />
A empresa e a LPR concordaram em reunirse<br />
após os seis meses da operação para<br />
analisar o processo, tendo definido um tempo<br />
de espera padrão para o futuro.<br />
“Durante o processo do concurso, não<br />
pedimos favores. Pedimos apenas pessoas<br />
que trabalhassem connosco. A resposta que<br />
obtivemos da LPR foi incrivelmente forte e<br />
com uma perspetiva visionária”, termina o<br />
responsável de transporte da Beiersdorf no<br />
Reino Unido e Irlanda. •<br />
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54 setembro SETEMBRO <strong>2020</strong><br />
SCM Supply Chain Magazine 55<br />
Tecnologias<br />
Rastreabilidade dos<br />
produtos e produção<br />
controlada<br />
Texto: Fábio Santos<br />
Fotos: Auchan<br />
Auchan é<br />
pioneira<br />
nacional no<br />
uso de<br />
blockchain<br />
A Auchan apresentou recentemente o<br />
seu novo projecto de rastreabilidade<br />
através de blockchain, pioneiro<br />
em Portugal, que permite que o<br />
consumidor conheça o percurso de<br />
vida dos artigos da cadeia de retalho<br />
desde a sua origem até ao momento<br />
da compra. Os primeiros artigos<br />
a receber esta tecnologia foram<br />
a alface, melão e melancia Vida<br />
Auchan, numa parceria com a Planície<br />
Verde, e já se encontram à venda nas<br />
lojas da retalhista.<br />
Os hábitos dos consumidores têm vindo a<br />
alterar-se aos poucos nos últimos anos, e<br />
vão além dos próprios gostos e dos novos<br />
produtos que vão surgindo no mercado: cada<br />
vez mais a preocupação está na forma de<br />
actuação das marcas, com um importante<br />
foco nas responsabilidades ambiental e<br />
social. Sente-se uma aliança às marcas que<br />
também representem as suas preocupações, e<br />
conseguem desvincular-se facilmente de uma<br />
por passar uma imagem oposta àquela em que<br />
acreditam, pelo que as empresas tentam cada<br />
vez mais mostrar-se preocupadas em passar as<br />
suas mensagens.<br />
A chave para a comunicação entre as marcas<br />
e o consumidor é a transparência. As empresas<br />
pretendem que o consumidor perceba e<br />
tenha conhecimento das suas práticas e<br />
preocupações de forma a que estejam em<br />
sintonia e que os consumidores se aproximem<br />
delas.<br />
Como forma de obter essa visibilidade,a<br />
Auchan investiu num programa pioneiro<br />
em Portugal tendo como base o uso de<br />
blockchain para assegurar que os seus clientes<br />
teriam disponível toda a informação sobre<br />
determinado produto alimentar, mesmo antes<br />
de o comprarem, e poderem, através de um<br />
código de leitura QR presente na etiqueta,<br />
conhecer a história por detrás deles, desde a<br />
sua produção. Os primeiros produtos a utilizar<br />
esta tecnologia foram as alfaces, os melões e<br />
as melancias da Planície Verde, empresa com<br />
a qual a Auchan já tem uma parceria há vários<br />
anos, e foram lançados para o mercado no<br />
final do primeiro semestre do ano.
56 setembro <strong>2020</strong><br />
SCM Supply Chain Magazine 57<br />
José Cordeiro, responsável Produtos,<br />
Fornecedores e Fileira na Auchan Retail<br />
Portugal, explica que começaram pela<br />
Planície Verde para iniciar a implementação<br />
da fileira Auchan Produção Controlada,<br />
anterior Vida Auchan, por ser um dos mais<br />
antigos fornecedores, pelo conhecimento que<br />
têm dele, por ser um processo simplificado,<br />
mas suficientemente robusto para testar a<br />
tecnologia, e pelo “nível de qualidade elevado,<br />
com condições para fazer um teste piloto de<br />
sucesso”.<br />
Por parte da Planície Verde, Asdrúbal<br />
Machado, gestor comercial da empresa, conta<br />
que a Auchan lhes propôs iniciar este projecto,<br />
“pioneiro no nosso país e sector de actividade<br />
onde, através de um sistema de blockchain,<br />
poderíamos dar o próximo passo no acesso<br />
à informação de toda a rastreabilidade dos<br />
nossos artigos Vida Auchan directamente<br />
ao consumidor”. Explica que o processo de<br />
implementação demorou alguns meses, e que<br />
o sistema de cadeia blockchain actualmente<br />
implementado foi desenvolvido pela TE-<br />
FOOD, tecnológica com quem a Auchan tem<br />
um acordo a nível corporate.<br />
Pioneiro no nosso país e sector<br />
de actividade onde, através<br />
de um sistema de blockchain,<br />
poderíamos dar o próximo<br />
passo no acesso à informação<br />
de toda a rastreabilidade dos<br />
nossos artigos Vida Auchan<br />
directamente ao consumidor<br />
O rastreamento dos<br />
produtos<br />
Inicialmente é feita uma parceria de confiança<br />
com os fornecedores, e é necessário haver<br />
disponibilidade para o fazer, e só depois é<br />
construído o processo. A sua complexidade<br />
depende também da dos dados e variáveis que<br />
pretendem introduzir no sistema, que deve ser<br />
adaptado aos propósitos de transparência e<br />
confiança.<br />
“O processo começa com a recolha de<br />
informação disponível tendo em conta as<br />
possibilidades do produtor”, começa por<br />
explicar José Cordeiro, e pode ser feito<br />
com informação base, incluindo fotos e<br />
vídeos, focadas nos locais de produção e<br />
características do produto, tendo ainda<br />
a possibilidade de evoluir, mais tarde,<br />
para informação dinâmica, no caso de<br />
a variabilidade dos produtos e locais de<br />
produção serem numerosos, possibilitando<br />
a identificação de cada local de produção de<br />
lote ou conjunto de lotes.<br />
Posto isto, constrói-se um modelo ou<br />
Asdrúbal Machado<br />
“mockup”, avaliam-se as possibilidades,<br />
edita-se e melhora-se até chegar ao modelo<br />
final, valida-se e entra-se na produção<br />
do blockchain. Neste passo, a informação<br />
encriptada, inalterável e agregada por<br />
blocos é transmitida, visualmente, através<br />
de um código QR, que pode ser lido por um<br />
smartphone para ser encaminhado para a<br />
informação sobre o produto.<br />
“É um processo que se encontra na sua fase<br />
inicial, mas que garante ao consumidor toda<br />
a informação sobre os artigos Vida Auchan<br />
que adquire, através da leitura de um código<br />
QR, que dá acesso a um website onde tem os<br />
dados referentes ao seu artigo, tais como os<br />
dados do fornecedor, lote do artigo, local de<br />
colheita, informação nutricional, ou acesso a<br />
outras informações dinâmicas que permitem<br />
um maior contacto e interação por parte do<br />
consumidor final com o artigo adquirido”,<br />
explica Asdrúbal Machado.<br />
Ao nível da adaptação ao sistema, ainda<br />
não houve necessidade de adquirirem novos<br />
equipamentos, nem da parte do produtor,<br />
nem da parte da retalhista, “uma vez que<br />
o parceiro tecnológico incorpora o valor<br />
com os dispositivos que temos”, explica,<br />
mas não exclui a possibilidade de haver<br />
uma necessidade de upgrades ou de novos<br />
equipamentos consoante a complexidade da<br />
operação vá evoluindo.<br />
“A dificuldade maior não está na tecnologia,<br />
pois há um parceiro que a domina, mas no<br />
alinhamento com os produtores que têm<br />
características diferentes, necessitando por<br />
isso de uma motivação forte”, explica José<br />
Cordeiro, suportado por Asdrúbal Machado,<br />
que conta que “não foi um processo difícil de<br />
implementar”. Segundo revela o responsável<br />
da Planície Verde, a implementação obrigou<br />
a alguns ajustes, de modo a adaptar a<br />
informação de blockchain às máquinas de<br />
embalamento e de etiquetagem, e visto que<br />
a Planície Verde já tinha todo um sistema de<br />
rastreabilidade implementado, “foi apenas<br />
uma questão de ajustar ao blockchain”.
58<br />
setembro <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 59<br />
É um processo que se<br />
encontra na sua fase<br />
inicial, mas que garante<br />
ao consumidor toda a<br />
informação sobre os artigos<br />
Vida Auchan que adquire,<br />
através da leitura de um<br />
código QR<br />
Asdrúbal Machado<br />
fluida, sem ser necessário muita intervenção<br />
do exterior, é um meio que pode ser usado<br />
com vantagem, garantindo a inviolabilidade<br />
desses dados. Foi isso que permitiu gerar as<br />
cadeias de confiança da moeda digital Bitcoin”.<br />
“A rastreabilidade, para além de uma<br />
obrigatoriedade, é um factor de confiança<br />
que é transmitido ao cliente quando adquire<br />
qualquer artigo. A transparência do nosso<br />
trabalho sempre fez parte dos princípios<br />
da Planície Verde, como tal, não eram nem<br />
são preocupações, mas sim valores com que<br />
nos guiamos no nosso dia-a-dia”, comenta<br />
Asdrúbal Machado.<br />
Em termos de conclusão, o responsável<br />
da Planície Verde conta que “a confiança por<br />
parte do consumidor final nos artigos que<br />
adquire, e o acesso a toda a informação sobre<br />
A rastreabilidade, para além de<br />
uma obrigatoriedade, é um factor<br />
de confiança que é transmitido<br />
ao cliente quando adquire<br />
qualquer artigo<br />
José Cordeiro<br />
o mesmo, é cada vez mais uma exigência do<br />
mercado. A Planície Verde, enquanto um dos<br />
principais produtores de frutos da terra a nível<br />
nacional, tem toda a intenção de continuar a<br />
poder garantir aos seus parceiros e, portanto,<br />
o blockchain é uma ferramenta que vem<br />
optimizar todo este processo”.•<br />
Impacto e potencial da<br />
tecnologia<br />
O responsável da Planície Verde explica<br />
que a implementação do sistema não teve<br />
impacto na produção, apesar de existirem<br />
processos adicionais, mas que traz vantagens,<br />
especialmente para o consumidor final, que tal<br />
como os agentes da cadeia também pode ver<br />
todo o processo “desde o campo à sua mesa”.<br />
José Cordeiro revela que os primeiros testes<br />
foram feitos no Vietname, quando o governo<br />
quis organizar um sistema de rastreabilidade<br />
da produção agrícola. Ao mesmo tempo, isso<br />
permitiu criar uma cadeia de abastecimento<br />
e facilitar a facturação através de um simples<br />
smartphone. Ao nível da leitura de códigos<br />
contam com os sistemas de EDI e incorporação<br />
manual de dados em logística da GS1, que<br />
também permitem que o distribuidor levante<br />
os bens do produtor e entregue às lojas.<br />
À data do anúncio dos testes no Vietname,<br />
a Auchan falava em testar em Portugal com<br />
a carne de frango, mas o responsável explica<br />
que devido à diversidade de produtores e à<br />
necessidade de alinhamento de equipamento<br />
na fase terminal do produto, o processo<br />
atrasou-se. Para além disso, conta que o<br />
rótulo da embalagem já trazia uma grande<br />
quantidade de informação relacionada com<br />
a produção, e revela que pretendem alterar<br />
essa imagem para tentar fazer coincidir o<br />
processo. Foi também possível “criar um clima<br />
de trabalho, quase rotineiro, com o prestador<br />
de serviços de blockchain”, acrescenta ainda,<br />
facilitando a implementação em Portugal.<br />
José Cordeiro conta que esta tecnologia<br />
tem uma potencialidade enorme, e que “se<br />
as cadeias logísticas tiverem meios que lhes<br />
permitam alinhar e comunicar dados de forma<br />
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60<br />
SETEMBRO <strong>2020</strong><br />
SCM Supply Chain Magazine 61<br />
transporte<br />
Beirute:<br />
uma cidade sem<br />
porto<br />
No dia 4 de Agosto, pouco passava das<br />
18h00, hora local, quando uma mega<br />
explosão no porto devastou grande parte<br />
da cidade de Beirute. Além da gigantesca<br />
tragédia humanitária, a capital do Líbano<br />
vê-se também no meio de um enorme<br />
problema de abastecimento. É esse o foco<br />
aqui.<br />
Matérias perigosas<br />
Texto: Dora Assis<br />
Mergulhado numa das piores crises<br />
económicas em décadas, o Líbano já<br />
passava por problemas de abastecimento<br />
que, agora, devem acentuar-se ainda mais<br />
depois da tragédia que se abateu sobre<br />
Beirute.<br />
É que, pelo porto de Beirute, o local<br />
da explosão, passam 60% do total das<br />
importações do país. Além disso, era também<br />
ali que se localizavam importantes infra-<br />
-estruturas, como é o caso do maior elevador<br />
de grãos da cidade. O elevador de grãos é uma<br />
torre contendo um elevador de caçamba, que<br />
recolhe o grão e que usa a gravidade para em<br />
seguida despejá-los num silo ou noutra forma<br />
de depósito.<br />
Os silos têm uma capacidade total para a<br />
stockagem de 120 mil toneladas de grãos,<br />
segundo Elena Neroba, analista de mercado<br />
da Maxigrain, citada pela BBC, e têm uma<br />
importância estratégica para o Líbano, já que<br />
aproximadamente 85% dos cereais do país são<br />
armazenados naquelas instalações.<br />
No entanto, acredita-se que os silos não<br />
continham grandes quantidades de cereais<br />
no momento da explosão, já que o país<br />
tentava suprir a falta de pão que havia surgido<br />
recentemente devido à actual crise financeira<br />
em que já estava mergulhado.<br />
Dependência das<br />
importações<br />
O Líbano, que vive uma crise financeira,<br />
depende da importação de trigo para garantir<br />
o abastecimento alimentar, uma vez que<br />
a produção nacional cobre apenas 10% do<br />
consumo total do país.<br />
“A procura local do Líbano por trigo varia<br />
entre 35 mil a 40 mil toneladas por mês”,<br />
informou um relatório da agência de rating<br />
Standard & Poor’s. Embora a maioria das<br />
importações de trigo seja feita por moinhos<br />
privados, o governo libanês considerou<br />
no início deste ano importar trigo pela<br />
primeira vez em seis anos, face a crescentes<br />
preocupações com a variação da oferta devido<br />
à pandemia, sendo que a maior parte do trigo<br />
do Líbano vem da Rússia e da Ucrânia.<br />
O trigo é responsável por mais de 80% das<br />
importações agrícolas libanesas, seguido<br />
por milho e cevada e, de facto, a maior parte<br />
do trigo entra no país pelo terminal que foi<br />
atingido no início de Agosto.<br />
O porto é um elo crítico<br />
para a principal rota<br />
comercial do país, lidando<br />
com cerca de 70% das suas<br />
importações<br />
Elo crítico da cadeia<br />
Sendo assim, cresceram os temores de<br />
insegurança alimentar generalizada, sendo<br />
que até o futuro do próprio porto está<br />
em dúvida devido à destruição que foi<br />
desencadeada pelo acidente.<br />
As explosões terão sido desencadeadas<br />
por 2.750 toneladas de nitrato de amónio<br />
que ficaram armazenadas num armazém<br />
portuário durante seis anos, após terem sido<br />
descarregadas de um navio apreendido em<br />
2013. Prevê-se que o impacto da explosão<br />
seja duradouro, pois o porto de Beirute é<br />
considerado um dos portos marítimos mais<br />
importantes do Mediterrâneo, servindo como<br />
ponto de entrada e saída para o Líbano e como<br />
um centro regional e de transbordo entre a<br />
Europa e a Ásia.<br />
O porto é um elo crítico para a principal rota<br />
comercial do país, lidando com cerca de 70 por<br />
cento das suas importações, além de servir<br />
como área de armazenamento de alimentos e<br />
reservas médicas. O volume anual em termos<br />
de movimentação de contentores é de quase<br />
1 milhão de TEU, movimentando quase 3.000<br />
navios e cerca de 6 milhões de tonelagem de<br />
carga por ano.
62 SETEMBRO <strong>2020</strong><br />
SCM Supply Chain Magazine 63<br />
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Logística Compras Operações<br />
O impacto de curto prazo nas cadeias de abastecimento e no movimento<br />
de carga no Líbano será severo<br />
> 6, 7 E 8 DE OUTUBRO DAS 10H30 ÀS 12H30<br />
MODELOS DE GESTÃO DE STOCKS<br />
Constrangimentos<br />
operacionais<br />
Os danos são imensos, pois as explosões<br />
danificaram gravemente os equipamentos<br />
portuários, paralisando as operações. Por<br />
outro lado, muitos armazéns na envolvente<br />
foram completamente destruídos, enquanto<br />
as estradas de acesso ao porto, por seu turno,<br />
ficaram bloqueadas e/ou obstruídas por<br />
destroços.<br />
Estima-se que 60% da área do terminal<br />
de contentores tenha ficado destruída, além<br />
de ter sido suspenso todo o funcionamento<br />
alfandegário. Após o encerramento do porto,<br />
as companhias de navegação começaram<br />
a mudar as operações para outros portos<br />
próximos, como o porto de Trípoli e outros<br />
portos adjacentes, incluindo Sidon e Tire, com<br />
mudanças operacionais confirmadas pela MSC,<br />
CMA CGM e Hapag-Lloyd.<br />
Este aumento repentino na procura<br />
pelos portos mais próximos desencadeia<br />
congestionamento, resultando em custos<br />
mais altos e tempos de trânsito mais longos à<br />
medida que as companhias tentam transportar<br />
mercadorias para Beirute ou para outros<br />
destinos na região. Além disso, um aumento<br />
repentino na procura por transporte terrestre<br />
nesses portos pode resultar em escassez de<br />
capacidade temporária, o que se traduz em<br />
atrasos acrescidos no transporte.<br />
O impacto de curto prazo nas cadeias de<br />
abastecimento e no movimento de carga<br />
no Líbano será severo, com o principal<br />
ponto de entrada no país inutilizável e<br />
muitas limitações no redireccionamento do<br />
movimento de mercadorias por terra, uma vez<br />
que algumas regiões do Líbano estão cercadas<br />
pela Síria, devastada pela guerra.<br />
Os supply chain managers mantém-<br />
-se atentos para poderem ir ajustando<br />
às necessidades e possibilidades as suas<br />
operações, rotas e tempos. •<br />
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> 13, 14 E 15 DE OUTUBRO DAS 14H00 ÀS 16H00<br />
O ESSENCIAL DA GESTÃO LOGÍSTICA E DA<br />
CADEIA DE ABASTECIMENTO – Revisão<br />
Estratégica no contexto pós-covid19<br />
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64<br />
setembro <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 65<br />
Texto: Dora Assis<br />
transporte<br />
Last mile e a entrega ao<br />
cliente final<br />
Transformação na primeira<br />
milha é eficiência na última<br />
A last mile e a entrega ao consumidor são um dos pontos mais críticos na cadeia de<br />
abastecimento do comércio electrónico. A pandemia causou grandes perturbações nas<br />
cadeias de abastecimento e com o confinamento e consequente abandono de muitas lojas<br />
físicas, o foco voltou-se para o comércio electrónico e, de repente, retalhistas e empresas de<br />
logística empenharam-se a fundo na procura de respostas.<br />
O<br />
crescimento de dois dígitos que se<br />
verificou na indústria nos últimos anos<br />
parece agora destinado a continuar,<br />
ao mesmo tempo que as exigências dos<br />
consumidores por maior conveniência e<br />
entregas mais rápidas, precisas e atempadas<br />
são constantes.<br />
No white paper “A primeira e a última milha<br />
como factor de sucesso no retalho e logística”,<br />
a empresa de tecnologia para a cadeia de<br />
abastecimento Zetes explora os desafios que<br />
a indústria enfrenta ao melhorar a experiência<br />
ao cliente, desde a separação, embalamento e<br />
envio de uma encomenda, à entrega física ao<br />
cliente.<br />
Ao captar todos os pontos pelos quais<br />
um produto passa ao longo da cadeia de<br />
abastecimento, a tecnológica estabelece<br />
formas sobre como podem as organizações<br />
impulsionar a produtividade, aumentar<br />
a eficiência e reduzir os erros em todo o<br />
processo de entrega, e porque agora é o<br />
momento de agir.<br />
20% das entregas falham<br />
Actualmente, um factor que contribui para a<br />
ineficiência na indústria é o enorme volume<br />
de encomendas que não são entregues com<br />
sucesso na primeira tentativa. Um estudo<br />
efectuado no Japão, um mercado de comércio<br />
electrónico em rápido crescimento, revela que<br />
quase 20% das entregas não são efectuadas<br />
na primeira tentativa, e a percentagem é ainda<br />
maior em ambientes urbanos. Claramente,<br />
adicionar etapas às entregas implica um<br />
enorme gasto de custos e recursos. Os estudos<br />
da PCA Predict estimam que o custo das<br />
entregas perdidas e falhadas seja de 15€<br />
por entrega, um valor muito significativo<br />
quando tantas organizações têm margens<br />
incrivelmente reduzidas. Uma vez que a última<br />
milha pode ser responsável por 30% dos<br />
custos totais do cumprimento de encomendas,<br />
em termos de mão-de-obra, transporte e<br />
combustível, o nível atual de ineficiência<br />
de entrega simplesmente não pode ser<br />
sustentado, nem sustentável.<br />
Trabalho mais inteligente<br />
Embora seja evidente que as futuras<br />
tecnologias, incluindo robótica e veículos<br />
autónomos, vão ajudar a melhorar a eficiência<br />
e a sustentabilidade no processo de entrega<br />
de encomendas, estas soluções ainda estão<br />
numa fase inicial de desenvolvimento e<br />
representam um investimento significativo.<br />
Actualmente, os retalhistas e as empresas<br />
de logística precisam de fazer alterações<br />
que forneçam rapidamente a agilidade e o<br />
dimensionamento que permitem às empresas<br />
acompanhar a procura e as expectativas<br />
de forma eficiente em termos de custos.<br />
Também necessitam de trabalhar de forma<br />
mais inteligente utilizando tecnologias<br />
que optimizam os processos críticos, para<br />
que um modelo de logística elástica capaz<br />
de dimensionar as operações possa ser<br />
maximizado.<br />
Um factor que contribui para<br />
a ineficiência na indústria é o<br />
enorme volume de encomendas<br />
que não são entregues com<br />
sucesso na primeira tentativa
66<br />
<strong>Setembro</strong> <strong>2020</strong><br />
carreira<br />
67<br />
A tecnologia pode ser utilizada para melhorar a experiência dos<br />
motoristas e garantir que podem trabalhar com confiança durante<br />
todo o processo de entrega<br />
As novas exigências<br />
do recrutamento<br />
Na primeira milha, as tecnologias baseadas<br />
em visão e captação de imagens estão a ajudar<br />
a transformar os processos de expedição e<br />
envio, assim como erradicar erros. Tecnologias<br />
inovadoras como Visual Sort Assist e<br />
Reconhecimento de voz multimodal exigem<br />
formação mínima, permitindo que as forças de<br />
trabalho fiquem imediatamente produtivas.<br />
Para a máxima flexibilidade e valor, estes<br />
sistemas permitem que as operações utilizem<br />
uma combinação de tecnologias, por exemplo,<br />
combinar voz com digitalização de códigos de<br />
barras.<br />
Melhorar a experiência<br />
do cliente<br />
Na última milha, a tecnologia pode ser<br />
utilizada para melhorar a experiência dos<br />
motoristas e garantir que podem trabalhar<br />
com confiança durante todo o processo de<br />
entrega. Ao harmonizar os dados de estado e<br />
eventos em tempo real, recolhidos em cada<br />
ponto principal da cadeia de abastecimento<br />
para o cliente final, as soluções de prova de<br />
entrega permitem que as empresas optimizem<br />
os processos e melhorem a experiência do<br />
cliente.<br />
O estudo japonês destaca que 42% dos<br />
clientes não sabiam que uma entrega falhada<br />
estava a caminho, pelo que garantir que os<br />
clientes são informados atempadamente das<br />
entregas pode reduzir as novas tentativas de<br />
entrega dispendiosas e diminuir os custos e o<br />
impacto ambiental.<br />
É que os custos financeiros e ambientais<br />
de uma nova tentativa de entrega são muito<br />
significativos:<br />
> As novas tentativas de entrega<br />
correspondem a 25% da distância total<br />
percorrida pelos veículos de entrega de<br />
parcelas<br />
> 420.000 toneladas de CO2 são geradas<br />
todos os anos por veículos de entrega<br />
exclusivamente para efectuar novas tentativas<br />
de entrega<br />
> Isto equivale a 90.000 pessoas a trabalhar<br />
a tempo inteiro apenas para gerir entregas.<br />
Tiago Conceição, especialista em soluções<br />
de transporte na Zetes, salienta que “não<br />
há dúvidas que, no futuro, os robôs e os<br />
veículos autónomos vão desempenhar um<br />
papel importante nas operações de armazém<br />
e de entrega. No entanto, a indústria tem<br />
de começar a tirar partido das opções<br />
inovadoras disponíveis para alcançar um<br />
rápido cumprimento à primeira tentativa e<br />
uma melhor utilização dos recursos. Ao ter<br />
uma infra-estrutura assente numa solução<br />
tecnológica ágil, dimensionável e interligada,<br />
os retalhistas e empresas de logística podem<br />
utilizar a visibilidade de ponta a ponta para<br />
gerir proactivamente todos os passos do<br />
processo. Só então poderão garantir o produto<br />
certo, no local e hora certos, de uma forma<br />
económica e ecológica.” •<br />
Texto: Ana Paiva<br />
Fotos: Get the Job<br />
recrutamento<br />
num futuro<br />
pós-pandemia<br />
Sabe-se que o COVID-19 veio alterar por<br />
completo a forma como vivemos a nossa<br />
vida pessoal e, em alguns sectores, a forma<br />
de trabalhar. Muita coisa mudou, e a área<br />
do recrutamento também sofreu algumas<br />
alterações a nível das características<br />
pretendidas dos profissionais, e mesmo<br />
na forma como o recrutamento é feito nas<br />
empresas.
68 <strong>Setembro</strong> <strong>2020</strong><br />
SCM Supply Chain Magazine<br />
69<br />
Ricardo Prazeres, managing director da<br />
Get the Job, empresa de recrutamento<br />
especializado, explica o que poderá vir<br />
a mudar nos processos de recrutamento<br />
nas áreas da supply chain e procurement,<br />
que estão interligadas: “passa por valorizar<br />
todos os aspectos relacionados com as soft<br />
skills, com especial detalhe às capacidades<br />
de adaptabilidade e resiliência”, explica.<br />
“Ser-se resiliente é característica chave para<br />
o ano de <strong>2020</strong> e vindouros”. É ainda mais<br />
importante que, agora, os profissionais tenham<br />
a capacidade de se adaptar de forma rápida e<br />
Ricardo Prazeres, managing director<br />
Get the job<br />
célere, para que os constrangimentos sejam<br />
resolvidos com maior qualidade. Transpondo<br />
o sucesso também para o entendimento<br />
do negócio e as mudanças que, por vezes,<br />
são necessárias realizar. Pretende-se ainda<br />
que os futuros profissionais tenham uma<br />
mente aberta “com o foco constante na<br />
inovação e processos de melhoria, algo que é<br />
fundamental nas organizações”, revela.<br />
O procurement, área que, segundo Ricardo<br />
Prazeres, tem vindo a ter mais actualizações,<br />
tem ganho cada vez mais relevância nas<br />
empresas uma vez que está direccionada<br />
para a rentabilidade e qualidade do serviço,<br />
aspectos que são ponderados com bastante<br />
assertividade pelas organizações.Os<br />
profissionais desta área, que mantêm uma<br />
postura muito analítica, devem também<br />
acumular algumas competências, no que<br />
diz respeito à comunicação, e ainda ter uma<br />
visão mais abrangente, ou seja, procurar mais<br />
soluções e não estarem sempre confortáveis<br />
com a que está implementada.<br />
Relativamente à área logística, o managing<br />
director acredita que “terá uma actualização<br />
bastante grande, não só focada nas constantes<br />
evoluções dos ERP’s, que visam sempre uma<br />
melhoria do serviço, mas principalmente no fit<br />
cultural das empresas”.<br />
No que diz respeito aos processos de<br />
recrutamento e da adaptabilidade dos<br />
profissionais às empresas, o COVID-19<br />
quebrou algumas barreiras, e demonstrou<br />
a utilidade de certas ferramentas que toda<br />
a gente já tinha acesso, mas não davam<br />
muita relevância. Ricardo Prazeres dá um<br />
exemplo: “antes da pandemia, uma reunião/<br />
entrevista poderia ser feita desta forma [via<br />
digital] e poupava-se tempo e custos”, mas<br />
só agora que é completamente necessário é<br />
que se começou a explorar as competências<br />
destas ferramentas. “Estamos no século XXI<br />
e, provavelmente, temos de mudar muito a<br />
nossa forma de trabalhar e de pensar. Esta foi,<br />
digamos, uma ‘obrigação’ que muitas empresas<br />
tiveram de adoptar”, refere.<br />
Outra das ferramentas que foi obrigatória<br />
em grande parte das empresas foi o<br />
teletrabalho, cujo método também tem vindo<br />
a ser testado também em termos de benefícios<br />
e constrangimentos para as empresas e<br />
para os trabalhadores. “O teletrabalho em<br />
Estamos no século XXI e,<br />
provavelmente, temos<br />
de mudar muito a nossa<br />
forma de trabalhar e de<br />
pensar. Esta foi, digamos,<br />
uma ‘obrigação’ que<br />
muitas empresas tiveram<br />
de colocar<br />
Ricardo Prazeres<br />
si, de acordo com a nossa experiência e de<br />
acordo com várias conversas que temos<br />
vindo a ter em várias áreas de negócio, seja<br />
numa reunião, seja numa entrevista, seja<br />
mesmo no desempenho de função, será<br />
adoptado pela grande parte das empresas.<br />
Preferencialmente o regime misto, é aquele<br />
que mais agrada aos trabalhadores e que<br />
pode servir também melhor os interesses<br />
das empresas”, explica o profissional. Ainda<br />
assim, este pode revelar-se um benefício<br />
por um lado, e uma desvantagem por outro<br />
quando falamos em processos de selecção e<br />
de integração de novos colaboradores. Alguém<br />
que valorize o teletrabalho e a empresa<br />
para a qual se está a candidatar não tem<br />
esta política, pode ser encarado como uma<br />
desvantagem. Por outro lado, as vantagens<br />
principais para as empresas têm como factor<br />
principal a sustentabilidade de custos e risco<br />
reputacional que nesta fase é fundamental
70 <strong>Setembro</strong> <strong>2020</strong><br />
SCM Supply Chain Magazine 71<br />
Preferencialmente o<br />
regime misto, é aquele<br />
que mais agrada aos<br />
trabalhadores e que<br />
pode servir também<br />
melhor os interesses<br />
das empresas<br />
Ricardo Prazeres<br />
precaver. Por outro lado, o colaborador,<br />
tem uma diminuição na interacção entre<br />
equipas ou entre departamentos. “Para<br />
já, ainda é prematuro fazer análises sobre<br />
produtividade no regime de teletrabalho,<br />
porque ainda temos pouca experiência na<br />
maioria dos sectores, realizando este modelo<br />
de trabalho. “Considero que é relativamente<br />
mais fácil indicar que somos mais produtivos<br />
num ambiente mais favorável, no entanto<br />
temos que analisar e medir todas as variáveis<br />
envolvidas”, refere o managing director,<br />
acrescentando que “esta é uma situação que, a<br />
curto-prazo pode mostrar as suas vantagens,<br />
mas, a longo-prazo “poderá ter desvantagens<br />
caso não existam algumas mudanças, porque<br />
se entrarmos num regime tradicional só de<br />
teletrabalho vamos, daqui a uns anos, ter a<br />
mesma questão que temos com o regime de<br />
trabalho tradicional”, explica, “é uma rotina,<br />
um hábito e tudo o que é encarado dessa<br />
forma, tem como fim, problemas associados”.<br />
O perfil de um profissional<br />
da supply chain<br />
De acordo com as previsões de Ricardo<br />
Prazeres, poderemos estar numa situação<br />
similar em termos de emprego ao nível da<br />
que se viveu há cerca de 12 anos. Contudo,<br />
como muitas empresas já têm uma preparação<br />
do que foi feito anteriormente, bem como os<br />
profissionais já se encontram mais preparados<br />
do que há 12 anos. “O que vai acontecer é a<br />
junção de dois aspectos que são essenciais:<br />
os profissionais que tiveram capacidade de<br />
se adaptar e melhorar as suas competências<br />
durante este período e, sendo que com isso,<br />
ganharam vantagens relativamente a outros<br />
candidatos; mas também por outro lado as<br />
empresas que também fizeram o processo<br />
de transformação e “fazem match” com<br />
profissionais que tenham este mindset”,<br />
afirma o managing director. A partir de agora<br />
o panorama irá mudar, pois há menos ofertas<br />
qualificadas no mercado, mas os profissionais<br />
que estão disponíveis ou têm a capacidade<br />
de actualização muito rápida, ou não ‘fazem<br />
match’ bem com a transformação que é<br />
necessário continuar a fazer. “As organizações<br />
que não entenderam que o update digital<br />
é algo fundamental para o futuro poderão<br />
ter outro tipo de problemas que podem ser<br />
mais complexos no futuro se passarmos por<br />
situações similares”, acrescentando que “o<br />
mercado é muito complexo e actualiza-se<br />
de forma cada vez mais rápida, portanto, a<br />
análise e assertividade deverá ser cada vez<br />
maior e mais célere”.<br />
Ainda assim há uma característica essencial<br />
que qualquer profissional deve ter: resiliência.<br />
Uma vez que todas as empresas são formadas<br />
por profissionais, é importante que exista<br />
esta característica. Ricardo Prazeres faz<br />
a comparação entre a nossa vida pessoal<br />
e profissional em que, é fácil de gerirmos<br />
as situações quando tudo nos corre bem.<br />
Contudo, “a evolução acontece sempre quando<br />
são colocados obstáculos e desafios maiores,<br />
que não dependem apenas de nós, e que leva<br />
a uma capacidade de trabalhar a superação”.<br />
Por sua vez, na área da logística e do<br />
procurement, onde se lida frequentemente<br />
com várias entidades e parceiros numa lógica<br />
de negociação, muitas vezes complexa, é<br />
importante uma pessoa ter esta resiliência e<br />
ainda a capacidade de “perder por um lado,<br />
mas ganhar por outro e ter a noção que isso<br />
é sempre necessário para servir os interesses<br />
das várias organizações por vezes envolvidas<br />
no processo”, conclui.<br />
Além da resiliência, há outras características<br />
que completam o perfil de um profissional<br />
da supply chain. Segundo Ricardo Prazeres<br />
existem dois tipos: o que realiza funções<br />
operacionais, e o que realiza funções de<br />
chefia. Primeiro, têm de estar completamente<br />
relacionados e alinhados. Neste sector, o<br />
manager é, tradicionalmente, uma pessoa<br />
muito operacional e analítica, e além do<br />
fundamental conhecimento, a formação, o<br />
mindset no negócio, e uma forte componente<br />
de gestão. Nesta altura, todas as empresas<br />
que tenham colaboradores que juntem<br />
estas competências fortes, principalmente<br />
no que toca à gestão, têm ainda de juntar a<br />
parte da liderança que, embora sejam duas<br />
competências muito faladas actualmente, são<br />
completamente distintas para o managing<br />
director, “a gestão é muito operacional,<br />
tem muito processo, metodologia, análise<br />
e melhoria, e a liderança é uma algo muito<br />
inspiracional, que se cultiva e que serve de<br />
os profissionais que tiveram capacidade de se adaptar e melhorar as<br />
suas competências durante este período e, com isso, ganharam vantagens<br />
relativamente a outros candidatos; e empresas que também fizeram o<br />
processo de transformação e “casam bem” com profissionais que tenham este<br />
mindset<br />
Ricardo Prazeres
72<br />
setembro <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 73<br />
a gestão é muito operacional, tem muito processo, metodologia,<br />
análise e melhoria, e a liderança é uma coisa muito<br />
inspiracional. Se tivermos uma boa liderança podemos cumprir<br />
objectivos de forma diferente do que só termos uma pessoa que<br />
nos dá os guidelines sobre os objectivos a cumprir<br />
Ricardo Prazeres<br />
base para uma organização de sucesso. Se<br />
tivermos uma boa liderança podemos cumprir<br />
objectivos de forma diferente, ao invés de<br />
termos uma pessoa que nos dá os guidelines<br />
sobre os objectivos a cumprir”. Revela ainda<br />
que a liderança será um aspecto muito<br />
trabalhado nos próximos anos, no que diz<br />
respeito às posições de chefia.<br />
As tarefas mais ligadas às operações,<br />
poderão passar por uma actualização<br />
constante das funções habituais que<br />
se faz no dia-a-dia, pois estas posições<br />
são, normalmente, muito associadas a<br />
um procedimento e, caso não exista a<br />
preocupação de se actualizar será mais<br />
complicado ter pessoas muito motivadas para<br />
a mudança e resiliência.<br />
Além disso, as posições mais operacionais<br />
terão ainda de conviver, numa primeira<br />
fase, com a Inteligência Artificial (IA) e<br />
serão, posteriormente, substituídos por<br />
robôs que desempenhem essas funções<br />
automaticamente. Desta forma, de acordo com<br />
o managing director, para os trabalhadores<br />
evoluírem nesta área, têm de estar “focados<br />
em inovação e na melhoria constante dos<br />
processos, caso contrário as durações das<br />
mesmas dentro do negócio acabarão por,<br />
muito rapidamente, ser substituídas por<br />
soluções de IA”, revela.<br />
Apesar de ainda não ser muito claro o que<br />
irá acontecer em termos de substituição das<br />
pessoas por tecnologia, Ricardo Prazeres<br />
acredita que irão surgir novas funções<br />
e para as quais não existirão pessoas<br />
com essa experiência, o que levará o<br />
mercado a ter o seguinte pensamento “há<br />
pessoas sem experiência nesta tarefa, mas<br />
têm determinadas competências como<br />
adaptabilidade, resiliência, liderança e gestão<br />
que, através de uma formação, enquadramento<br />
e conhecimento do negócio, irão conseguir<br />
realizar esta tarefa de uma forma eficaz sem<br />
perder a motivação e a produtividade que<br />
tinham até então, noutra função”.•<br />
Organizado por:<br />
6-9<br />
<strong>2020</strong><br />
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DISRUPTIVO<br />
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74<br />
<strong>Setembro</strong> <strong>2020</strong><br />
carreira<br />
SCM Supply Chain Magazine 75<br />
Texto: Dora Assis<br />
Promover as relações<br />
Universidade - Indústria<br />
A Novabase e o Instituto Superior Técnico (IST) assinaram um protocolo<br />
que renova a parceria que une as duas entidades há três anos. O principal<br />
objectivo passa por reforçar a ligação da tecnológica aos jovens talentos<br />
à saída da instituição de ensino superior, ajudando-os no início do seu<br />
percurso profissional e apoiando-os naquele que é o primeiro contacto<br />
com o mercado de trabalho.<br />
À<br />
semelhança do que aconteceu nos anos<br />
anteriores, o protocolo assinado entre as<br />
duas entidades prevê o apoio à equipa de<br />
Formula Student do IST, que este ano, para<br />
além de construir e competir com um novo<br />
carro eléctrico, vai desenvolver o seu primeiro<br />
carro com condução autónoma.<br />
A Novabase vai também atribuir duas Bolsas<br />
de Estudo anuais para alunos de mestrado.<br />
Adicionalmente, serão ainda atribuídos dois<br />
prémios de mérito a grupos de alunos, no<br />
âmbito da unidade curricular de Engenharia de<br />
Software.<br />
Ainda no âmbito da parceria assinada, a<br />
Protocolo<br />
IST/Novabase<br />
Novabase vai dar apoio no equipamento e<br />
operação de um laboratório de computadores<br />
para uso dos alunos do IST.<br />
Aprendizagem e crescimento<br />
mútuos<br />
“A parceria IST-Novabase foi uma das<br />
primeiras a ser estabelecida no âmbito<br />
da Rede de Parceiros do Técnico e é um<br />
excelente exemplo de promoção das relações<br />
Universidade-Indústria. A parceria, que<br />
começou formalmente em 2017, focouse<br />
em 4 grandes temas: na ligação aos<br />
talentos, através de actividades como a<br />
participação nas Técnico Career Weeks; em<br />
programas de job shadowing ou em talent<br />
search meetings; um prémio de mérito a uma<br />
disciplina; apoio aos núcleos de estudantes<br />
do Técnico, especificamente ao projecto<br />
FST”, explica Pedro Amaral, vice-presidente<br />
do Instituto Superior Técnico para as<br />
Ligações Empresariais e Operações. O mesmo<br />
responsável salienta também que “os três anos<br />
de parceria, que agora se renovam por igual<br />
período, foram um processo de aprendizagem<br />
e crescimento mútuo, o que se reflecte neste<br />
novo período por um alargamento substancial<br />
das actividades preconizadas, passando<br />
a englobar também outros quatro temas<br />
centrais: um novo prémio de mérito ao melhor<br />
aluno de uma disciplina; bolsas para apoio ao<br />
desenvolvimento de dissertações de mestrado<br />
em contexto empresarial; workshops IST-<br />
Empresa; e o apoio à renovação, instalação de<br />
equipamento de apoio e manutenção de um<br />
laboratório no Departamento de Engenharia<br />
Informática”.<br />
Acelerar a inovação<br />
Pedro Amaral lembra que “a Rede de Parceiros<br />
do Técnico, na qual se integraram, em menos<br />
de cinco anos, 16 parceiros (esperando<br />
superar as duas dezenas já em <strong>2020</strong>), visa<br />
promover uma relação de proximidade e<br />
continuidade com as empresas que a integram.<br />
As actividades envolvidas nestas parcerias<br />
podem ser classificadas em cinco áreas. A<br />
primeira, que identificamos como “Conhecer os<br />
talentos”, permite criar uma ligação mais forte<br />
entre as empresas e os alunos do Técnico.<br />
A segunda, “Mais e melhores talentos”, visa<br />
melhorar o ensino envolvendo as empresas<br />
nos processos de aprendizagem, sendo que<br />
estas podem também beneficiar de formação<br />
avançada para os seus colaboradores. Na<br />
terceira área, o “Acelerador de inovação”, é<br />
pretendido criar elos de ligação que potenciem<br />
a inovação nos domínios da empresa com<br />
colaborações com os docentes, investigadores<br />
e alunos do Técnico. A componente de<br />
“Responsabilidade social” procura integrar o<br />
desejo de um número crescente de empresas<br />
que pretendem dar apoio aos alunos do<br />
Técnico cujas famílias têm dificuldade em<br />
suportar os encargos de estudar em Lisboa<br />
ou Oeiras. Finalmente, o Técnico pretende<br />
também mobilizar as empresas da sua rede de<br />
parceiros como interlocutoras privilegiadas<br />
nos aspectos relacionados com as decisões<br />
estratégicas da instituição. Cada uma<br />
destas áreas tem um conjunto de iniciativas,<br />
envolvendo a empresa e o Técnico que se<br />
devem realizar anualmente durante o período<br />
mínimo de três anos.”<br />
Alinhar competências<br />
Para João Nuno Bento, CEO da Novabase,<br />
“A captação de talento jovem e qualificado<br />
continua a ser um desafio na área das<br />
tecnologias da informação. Esta parceria é<br />
muito importante para nós, não só porque<br />
reconhecemos o IST como uma das melhores<br />
Universidades de tecnologia do país, mas<br />
também porque nos permite contribuir para<br />
a formação de jovens talentos ao preencher<br />
as lacunas existentes no mercado de<br />
trabalho com o melhor do talento nacional.<br />
A renovação desta parceria permite ainda<br />
que continuemos a alinhar as competências<br />
técnicas e conhecimento científico ao<br />
conhecimento do mercado e resolução de<br />
problemas de negócio reais, formando assim<br />
os jovens talentos, preparando-os para o seu<br />
percurso profissional.” •
76<br />
diário de bordo<br />
SCM Supply Chain Magazine 77<br />
Um<br />
(não tão)<br />
novo normal<br />
Estes últimos meses deram-nos a<br />
oportunidade para refletir (mais)<br />
um pouco sobre a arquitetura e<br />
funcionamento das redes e fluxos<br />
logísticos. Esta é mais uma reflexão<br />
através de alguns tópicos onde<br />
realidades não tão novas, mas cada<br />
vez mais importantes na assunção das<br />
medidas que creio corretas a um bom<br />
desempenho operacional.<br />
Pedro Camilo<br />
Gestor Centro de Distribuição, Lactogal<br />
Planeamento: O planeamento das ações<br />
e dos stocks têm cada vez mais um papel<br />
crítico no funcionamento das operações. Com<br />
a necessidade de em muitas circunstâncias<br />
criar mais pontos de stock, a predictibilidade é<br />
cada vez mais complexa. Mais pontos de stock<br />
com as quantidades necessárias e com risco<br />
reduzido de obsolescência. Para responder<br />
a esta complexidade estão em crescimento<br />
sistemas de apoio que através da análise de<br />
muitos dados, já existentes, os analisam e<br />
gerem dando suporte à tomada de decisão<br />
pelos planeadores.<br />
Posicionamento dos stocks: Os pontos<br />
de stock são fundamentais para esta nova<br />
realidade de proximidade e devem ser<br />
estrategicamente colocados entre o limite do<br />
transporte primário e o transporte capilar ou<br />
“last mile”. Estes nós, devem ter como objetivo<br />
ter o stock necessário para o abastecimento<br />
da procura regular e excecional (diferente<br />
da variação da procura), ou seja, alem de<br />
responder à procura normal, devem também<br />
servir para responder às oportunidades<br />
extra. Considero estas oportunidades extra<br />
um verdadeiro desafio e um grande fator<br />
diferenciador entre concorrentes.<br />
Otimização dos fluxos: Tendo<br />
em consideração que os custos da<br />
movimentação dos produtos têm uma grande<br />
representatividade nos orçamentos, esta deve<br />
ser uma área de gestão milimétrica. Cada<br />
km colocado a mais no produto representa<br />
um desperdício que tem de ser analisado e<br />
corrigido. Alem da preocupação da otimização<br />
do fluxo, deve ser alvo de análise a taxa de<br />
ocupação do meio de transporte e o próprio<br />
meio. Estamos no início dum processo de<br />
proximidade com clientes e consumidores<br />
finais e identificam-se novas necessidades que<br />
se ligam com o posicionamento dos stocks<br />
que abordei antes.<br />
Agilidade: Lead-times. Um lead time de n<br />
horas parece em muitas circunstâncias um<br />
bom objetivo. Será. Noutras, poderá não<br />
ser e representar perda de oportunidade.<br />
Em que ficamos? As estruturas devem ser<br />
pensadas para serem flexíveis. Ter alem dos<br />
timings normais dos fluxos de encomendas<br />
a flexibilidade e agilidade de responder em<br />
períodos mais curtos, portanto de forma<br />
mais rápida a necessidades do mercado ou<br />
criar oportunidades de mercado criando<br />
diferenciação. Este é um ponto decisivo na<br />
imagem para clientes e consumidores.<br />
Produtividade: A produtividade é sempre<br />
um ponto de foco crítico, mas sempre possível<br />
de melhorar. Alterações de processos e/ou<br />
mudança/modernização de equipamentos<br />
permitem em muitas circunstâncias aumentar<br />
o rendimento do trabalho. A procura<br />
da melhoria com vista ao aumento de<br />
produtividade deve ser constante.<br />
Processos: Os processos são repensados<br />
por dois motivos. Através de ação proativa<br />
para procura de melhoria (contínua) ou em<br />
reação a qualquer evento seja um erro ou<br />
necessidade de mudança. Formar equipas de<br />
melhoria, decompor o processo, analisá-lo até<br />
à sua parte mais ínfima e melhorá-lo é uma<br />
tarefa que deve ser constante para garantir a<br />
evolução das operações. Medir é fundamental<br />
para se apurar o resultado. É cada vez mais<br />
fácil fazê-lo dada a quantidade de dados que<br />
estão disponíveis pelos sistemas.<br />
Colaboração: Com as redes futuras a<br />
partilha de determinadas fases dos fluxos<br />
pode ser um fator de otimização de e redução<br />
de custos operacionais. Na armazenagem,<br />
no transporte, primário ou “last mile”,<br />
nos sistemas, em todos eles existem<br />
oportunidades de colaboração com vista à<br />
otimização de custos operacionais.<br />
Sistemas de informação: Os sistemas<br />
permitem registar, controlar, medir, gerir e<br />
mais recentemente decidir. É absolutamente<br />
fundamental investir em sistemas de<br />
informação nas diversas áreas da cadeia<br />
logística. Com a complexidade das atuais<br />
operações, ter uma cadeia logística otimizada<br />
sem sistemas que pelo menos auxiliem é<br />
apenas uma intenção.<br />
Pessoas: Por último o mais importante.<br />
Juntos conseguimos. Este é o espírito.<br />
Todos podem e devem contribuir. Não<br />
estimular o pensamento critico representa<br />
desperdiçar oportunidades. O pensamento<br />
crítico está presente em todas as funções<br />
e desperdiçá-lo representa perder valor. A<br />
formação, o desenvolvimento e evolução e<br />
o reconhecimento das pessoas são fatores<br />
decisivos para melhorar todos os aspetos<br />
referidos neste texto.<br />
Todas estas ações são cada vez mais estratégicas com impacto direto nos resultados<br />
e merecem os recursos necessários e adequados para responder não apenas à<br />
normalidade que conhecíamos, mas aquilo que se tem apelidado frequentemente, nos<br />
últimos tempos, de novo normal.
78<br />
O mundo é redondo, por Cláudia Brito<br />
“Uma economia saudavél devia ser desenhada<br />
para prosperar, não para crescer”<br />
Kate Raworth, 3.7 milhões de visualizações, 2018<br />
Kate Raworth desenvolveu o modelo económico a que chamou “doughnut economics” e que equilibra as<br />
necessidades humanas básicas com as fronteiras planetárias. O nome do modelo deriva da sua representação<br />
visual, em que o buraco no meio indica a proporção de pessoas que não têm acesso aos elementos essenciais à<br />
vida, enquanto a crosta representa os tectos ecológicos e sistémicos de que a vida depende e que não podem ser<br />
excedidos. O “doughnut”, colorido a verde, é o espaço justo e seguro, em que a humanidade pode prosperar.<br />
Somos viciados em crescimento, financeira,<br />
política e economicamente. Desde que o PIB<br />
foi inventado, no princípio do século passado,<br />
que a métrica do dinheiro domina tudo o que<br />
fazemos. A solução encontrada para alinhar<br />
todos os esforços da humanidade foi investir<br />
num consumo sempre a crescer, como um avião<br />
sempre a voar e que nunca poderá aterrar.<br />
Durante um tempo esta foi uma fonte de<br />
prosperidade para a maioria de nós, mas agora<br />
começamos a ver os limites do consumismo<br />
em massa, na economia degenerativa que se<br />
instalou, afectando o equilíbrio delicado deste<br />
planeta único e criando desigualdades sociais<br />
maiores do que nunca. O buraco no meio do<br />
“doughnut” aumenta, enquanto estamos à beira<br />
do colapso dos ecossistemas naturais. A solução<br />
que continua a ser proposta é o crescimento<br />
verde, equilibrado, inclusivo, resiliente, qualquer<br />
um serve, desde que seja crescimento. Contudo,<br />
o crescimento económico contínuo faz parte dum<br />
modelo ultrapassado, criado por economistas<br />
do século passado, cujo futuro nunca antecipou<br />
o presente em que agora vivemos. Faltou-lhes a<br />
clarividência para perceber que, neste mundo, o<br />
que cresce eventualmente estabiliza e adquire<br />
maturidade. Ou então funciona literalmente como<br />
um cancro, o qual ao crescer sem parar destrói a<br />
vida saudável que lhe deu origem.<br />
Kate Raworth propõe que está na altura de<br />
termos uma ambição maior, uma nova forma<br />
de progresso, em que tudo e todos possam<br />
prosperar. O nosso objectivo comum deve ser<br />
encontrar um ponto de equilíbrio dinâmico,<br />
como muitas culturas antigas reconheceram.<br />
E o modelo que temos de utilizar deve ser<br />
regenerativo e redistributivo, por “design”.<br />
Ao ambicionar a regeneração, através duma<br />
economia circular, repudiamos o paradigma do<br />
“fazer, usar e deitar fora” que nos trouxe a este<br />
ponto. A redistribuição, por sua vez, contraria a<br />
concentração de conhecimento, riqueza e poder.<br />
Tudo isto é facilitado pela tecnologia actual, com<br />
redes de energia renovável, plataformas digitais<br />
e impressão 3D. Mas a tecnologia não pode ser<br />
utilizada como uma ferramenta para aumentar<br />
ainda mais o crescimento, continuamente<br />
consumindo recursos, a não ser que acreditemos<br />
que um avião pode voar indefinidamente. As<br />
fronteiras que temos de estabelecer são de<br />
facto uma limitação, mas lembremo-nos que<br />
as limitações foram a fonte de criatividade das<br />
pessoas mais engenhosas e das evoluções mais<br />
belas.<br />
Kate Raworth é uma economista inglesa que trabalha<br />
para a Universidade de Oxford e a Universidade de<br />
Cambridge, depois de ter passado 20 anos nas Nações<br />
Unidas e Oxfam.