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SCMedia News | Revista | Setembro 2020

A revista dos profissionais de logística e supply chain.

A revista dos profissionais de logística e supply chain.

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Set’ <strong>2020</strong><br />

4,60€<br />

Mensal<br />

14<br />

Adaptação do retalho<br />

aos tempos de<br />

pandemia<br />

1.º ano do supply chain<br />

hub Nespresso<br />

PROCUREMENT <strong>2020</strong>:<br />

RECOMEÇAR OU RESET?<br />

Rastreabilidade:<br />

Projecto pioneiro de<br />

blockchain<br />

Sociedade Central<br />

de Cervejas e Bebidas<br />

Um brinde à logística


Logística<br />

Compras<br />

Operações<br />

Workshops/Cursos<br />

Intra-Empresas<br />

estruturados e<br />

construídos à medida,<br />

realizados nas<br />

instalações da<br />

empresa, nos horários<br />

que forem mais<br />

convenientes.<br />

Esta é uma oportunidade<br />

para reciclar<br />

conhecimentos, ampliar<br />

outros e alargar horizontes<br />

profissionais.<br />

SAIBA MAIS EM:<br />

www.supplychainmagazine.pt/flow/<br />

flow@supplychainmagazine.pt<br />

Formação em Supply Chain<br />

Formação IN-HOUSE<br />

Auditoria Logística<br />

Como minimizar os custos de transporte<br />

E-commerce<br />

Estratégias e projectos de Colaboração Logística<br />

Estrutura de custos logísticos<br />

Facility Management<br />

Ferramentas de gestão logística para transitários<br />

Formação Air & Sea - Vertente Comercial<br />

Formação em Transporte Aéreo - Vertente Comercial<br />

Formação em Transporte Marítimo - Vertente Comercial<br />

Gerir com sucesso a sua frota<br />

Gestão de Compras<br />

Gestão de Processos<br />

Gestão de projectos aplicada à Logística e Supply Chain<br />

Gestão de Rotas<br />

Gestão de Stocks<br />

Gestão do Armazém<br />

Gestão do Retalho<br />

Health, Risk and Safety: certificações e inspecções anuais de racking<br />

Lean Logistics<br />

Libertar e maximizar o potencial das equipas logísticas<br />

Logística inversa e o seu papel na economia circular<br />

Marcação de reuniões no Sector Transitário<br />

Negociação na Logística através da liderança eficaz<br />

O essencial da Gestão Logística e da Cadeia de Abastecimento<br />

Procurement eficiente<br />

Qualidade em Supply Chain<br />

S&OP - Sales and Operations Planning<br />

Sector Transitário - Formação em Vendas<br />

Seleção e avaliação de fornecedores<br />

Sistemas de informação na Logística<br />

Powered by


Dora Assis<br />

dora.assis@supplychainmagazine.pt<br />

editorial<br />

Regresso ao presente<br />

“Sábio é aquele que conhece os limites<br />

da própria ignorância”<br />

Sócrates<br />

<strong>Setembro</strong> é por norma período de regresso.<br />

Ao trabalho, à escola, à rotina do quotidiano<br />

depois de uns dias de descanso. É o recomeçar<br />

de um novo ciclo com tudo aquilo que isso<br />

envolve, tanto do ponto de vista pessoal como<br />

profissional.<br />

Contudo, a rentrée de <strong>2020</strong>, como tudo<br />

neste ano, nada tem de habitual. Mas, afinal,<br />

que rentrée é esta? Pois, não sabemos. Que<br />

é diferente de todas as que já vivemos, isso<br />

seguramente.<br />

É uma luta de contrários esta, e<br />

continuamos todos a viver e trabalhar com<br />

a certeza da incerteza. Vamos continuar a<br />

reunir através de ecrãs, a assistir a eventos<br />

através de ecrãs, a fazer entrevistas através de<br />

ecrãs? É tãããããoooo cansativo passar o dia em<br />

videochamadas!<br />

Quem não sente falta de coisas tão simples<br />

como apertar as mãos no início de uma<br />

reunião, trocar cartões ou simplesmente<br />

decidir onde nos sentamos numa mesa com<br />

outras pessoas ou num auditório quando nos<br />

preparamos para assistir a uma conferência?<br />

Tudo rotinas que nos tempos mais próximos é<br />

pouco provável que regressem.<br />

Duas forças opostas, actuando em<br />

simultâneo, guiam-nos nesta rentrée logística:<br />

uma que aproxima e outra que afasta. Temos<br />

saudades das reuniões, dos auditórios, das<br />

visitas e saídas, da vida como ela era antes e<br />

até da correria… Por outro lado, os regressos<br />

da vida profissional são ainda esparsos,<br />

inseguros, incertos e todos consultamos<br />

as informações da “bolsa diária dos casos<br />

COVID-19” e as suas tendências. Quando<br />

damos por ela, já estamos a pensar “e se...”.<br />

A vontade de recuperar a vida é muita, as<br />

hesitações e as dúvidas também. Na certeza<br />

desta incerteza que parece estar para durar,<br />

saiba que não faltam na supply chain histórias<br />

e profissionais a fazerem o que melhor<br />

sabem, pelo que o que houver para saber, ler<br />

e conhecer está sempre aqui e no nosso site.<br />

E se precisamos todos que o sector continue<br />

vivo e de boa saúde!


4<br />

setembro <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 5<br />

índice<br />

FACTOS & NÚMEROS<br />

10 Formas de optimizar<br />

a Supply Chain 6<br />

logística<br />

Adaptação do retalho<br />

aos tempos de pandemia 8<br />

Aniversário Supply Chain Hub Nespresso<br />

Portugal, where else? 20<br />

Sociedade Central de Cervejas e<br />

Bebidas: Um brinde à logística 26<br />

Prémios Ecotrophelia PT 36<br />

#8 #41 #50 #60 #67<br />

procurement<br />

Investir no procurement torna<br />

as empresas mais resilientes 41<br />

Procurement <strong>2020</strong>: basta recomeçar<br />

ou é necessário um reset? 46<br />

intralogística<br />

Para grandes desafios,<br />

grandes parceiros 50<br />

tecnologias<br />

Blockchain aplicada à rastreabilidade<br />

dos produtos Auchan 54<br />

transportes<br />

Beirute: uma cidade sem porto 60<br />

O last mile e a entrega ao cliente final 64<br />

carreira<br />

Recrutamento num futuro pós-pandemia 67<br />

Promover as relações Universidade/Industria 74<br />

DIÁRIO DE BORDO<br />

Pedro Camilo - Um (não tão) novo normal 76<br />

o mundo é redondo<br />

TED Ideas worth spreading 2018,<br />

Kate Raworth, 3.7 milhões de visualizações 78<br />

FICHA TÉCNICA<br />

Sede, Administração e Redacção_<br />

Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />

2890-307 Alcochete<br />

T: 210 499 074<br />

Direcção Geral_<br />

Filipe Barros<br />

Directora_<br />

Dora Assis<br />

Redacção_<br />

Ana Paiva, Fábio Santos<br />

Projecto gráfico_<br />

Maria João Carvalho<br />

Paginação _<br />

Daniela Moço<br />

Circulação & Eventos _<br />

Inês Ferreira<br />

Direcção Comercial _<br />

Filipe Barros<br />

Sales & Marketing _<br />

Margarida Matildes<br />

Impressão _<br />

VASP DPS<br />

MLP – Quinta do Grajal,<br />

Venda Seca<br />

2739-511 Agualva Cacém<br />

Tiragem _<br />

3 mil exemplares<br />

Propriedade_<br />

SC Media Unipessoal, Lda.<br />

Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />

2890-307 Alcochete<br />

T: 210 499 074<br />

E: geral@supplychainmagazine.pt<br />

W: supplychainmagazine.pt<br />

NPC _<br />

514707143<br />

Capital Social_<br />

100,00€<br />

Participações sociais_<br />

Susana Silva<br />

Administração_<br />

Filipe Barros<br />

Registo na ERC n.º _<br />

127322<br />

Depósito Legal n.º _<br />

458604/19<br />

Os artigos assinados apenas veiculam<br />

a posição dos seus autores.<br />

Interdita a reprodução de textos e<br />

imagens sem autorização expressa.<br />

Esta revista é escrita respeitando a grafia<br />

anterior ao Acordo Ortográfico


6 setembro <strong>2020</strong><br />

FACTOS<br />

& NÚMEROS<br />

10 formas<br />

de optimizar<br />

a supply chain<br />

10. Negociar e Renegociar: Embora seja<br />

crucial negociar com os fornecedores<br />

para obter as melhores taxas possíveis,<br />

também pode valer a pena voltar e renegociar.<br />

O corte de custos é o objectivo final do<br />

processo de optimização.<br />

9. Usar ferramentas de análise: Há imensas<br />

ferramentas disponíveis para ajudar a analisar<br />

todos os dados para entender melhor o<br />

mercado e os seus clientes, como o que<br />

pretendem, como compram e os melhores<br />

momentos para vender.<br />

8. Alinhe-se com a demanda do seu cliente:<br />

Saber o que os clientes desejam permite<br />

que as empresas avaliem as tendências e<br />

mantenham o stock em níveis adequados.<br />

Analisar os dados de venda para determinar<br />

a procura e tendências futuras, e comunicar<br />

essas informações aos fornecedores, é<br />

importante.<br />

7. Planear com antecedência: O planeamento<br />

é vital para o atendimento de pedidos em<br />

tempo útil e ajudará a evitar todos os tipos de<br />

problemas na cadeia logística.<br />

6. Garantir produtos de alta qualidade:<br />

Optimizar a cadeia de abastecimento também<br />

significa obter produtos de qualidade superior<br />

a preços acessíveis. Isso significa que é<br />

importante entender bem o fabricante ou o<br />

fornecedor.<br />

Sectores afectados<br />

pela pandemia<br />

5. Utilizar uma abordagem multi-canal<br />

para demanda e oferta: A gestão de stock<br />

é essencial para um negócio de comércio<br />

electrónico eficiente, e as demandas devem<br />

ser comunicadas aos fornecedores de forma<br />

rápida e eficaz.<br />

4. Utilizar um software de gestão<br />

centralizado: A optimização do processo da<br />

cadeia de abastecimento requer que todas<br />

as facetas de um negócio funcionem de<br />

forma coesa. Existem softwares de gestão<br />

disponíveis que podem integrar diferentes<br />

departamentos de uma empresa, permitindo<br />

trabalhar eficazmente entre si.<br />

3. Utilizar tecnologia móvel e internet: A<br />

tecnologia móvel pode ser extremamente<br />

útil para marketing, vendas directas e<br />

informações. A internet permite que os<br />

retalhistas comuniquem por e-mail, enquanto<br />

as redes sociais permitem que os retalhistas<br />

julguem as tendências e sejam proactivos.<br />

2. Estabeleça comunicação entre<br />

fornecedores e retalhistas: Conversas<br />

abertas entre o retalhista e o fornecedor ou<br />

o fabricante é fundamental, pois garante o<br />

atendimento oportuno da demanda e evita<br />

qualquer confusão.<br />

1. Terceirizar actividades de negócios: Se<br />

uma empresa pretende optimizar os seus<br />

negócios, a terceirização deve ser considerada.<br />

A terceirização de funções como procurement,<br />

logística ou atendimento ao cliente pode<br />

Desenvolvemos, implementamos e integramos<br />

software para suportar o seu negócio<br />

MES<br />

Sistemas de Gestão ERP<br />

Sistemas de Gestão de Armazéns WMS<br />

Sistemas de Gestão Industrial SFC, APS<br />

Aquisição de dados MES<br />

Gestão de Transportes TMS<br />

Integração com plataformas B2C e B2B<br />

Mobilidade e Gestão de Equipas Comerciais MSS<br />

Portais colaborativos P2P e O2C<br />

Consultoria em Processos e Logística<br />

beneficiar as organizações a longo-prazo.• Estrada Nacional 113, Lote 21 - Edifício A – Piso 1<br />

Zona Industrial de Pousos - 2410-205 Leiria - Portugal<br />

Phone: +351 244849810 - Fax: +351 244849819<br />

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8 setembro <strong>2020</strong><br />

9<br />

logística<br />

Texto: Fábio Santos<br />

Evolução do retalho<br />

durante a pandemia<br />

Adaptação do retalho<br />

aos tempos de pandemia<br />

O primeiro trimestre do ano foi marcado pelo início da pandemia de COVID-19, e obrigou<br />

as empresas a agir de forma imediata, de forma a não só permanecer com os seus negócios<br />

abertos, mas também a proteger os seus colaboradores e clientes. No caso do retalho, o<br />

que envolvia bens de primeira necessidade permaneceram abertos, quando adaptadas<br />

determinadas medidas impostas, e mesmo os que não ficaram abertos conseguiram manterse<br />

através da venda online, uma das áreas mais afectadas positivamente pela pandemia,<br />

devido ao aumento da necessidade de entregas last mile.<br />

Março iniciou uma nova fase para as<br />

empresas, especialmente no que<br />

toca à digitalização. Foram meses<br />

de adaptação a uma mudança radical nas<br />

cadeias de abastecimento, e de reacção total<br />

a uma nova ameaça que afectou todos os<br />

pontos da cadeia. Às cegas, a logística foi<br />

obrigada a tentar perceber qual a melhor<br />

forma de responder a todas as implicações<br />

associadas à pandemia de forma a proteger<br />

os colaboradores e clientes das empresas, e a<br />

adaptar-se a esta nova realidade, que cada vez<br />

mais faz parte do nosso dia-a-dia.<br />

Em meados de Abril, um mês após o início<br />

do estado de emergência em Portugal, a<br />

Nielsen apresentou um estudo onde se viu<br />

a adaptação dos portugueses à vida com<br />

restrições, tendo por base dados da semana<br />

13 (23 a 29 de Março de <strong>2020</strong>). Entre os<br />

principais resultados, a empresa apresentou<br />

um decréscimo no consumo na primeira<br />

semana de quarentena, balanceado pelo<br />

aumento do e-Commerce. Neste sentido,<br />

também as plataformas de entrega ao<br />

domicílio aumentaram a sua actividade,<br />

assistimos à reinvenção de vários modelos<br />

de negócio e empresas, de modo adaptaremse<br />

às necessidades do momento utilizando<br />

os recursos de que dispunham. Para os<br />

consumidores que não encomendavam comida<br />

de fora, cozinhar em casa passou a ser mais<br />

frequente, e como tal o estudo também<br />

apresenta um aumento na venda de produtos<br />

alimentares.<br />

Mas não só a parte alimentar, o estudo<br />

indica que os portugueses procuraram<br />

mesmo melhorar a sua qualidade de vida<br />

em casa, visto que durante esta época seria<br />

uma realidade mais frequente no quotidiano<br />

pessoal e profissional. Como tal, outras áreas<br />

do retalho que não as mais direccionadas para<br />

o alimentar. Sectores como o desporto, lazer,<br />

tecnologias e bricolage foram alguns dos<br />

principais alvos das famílias portuguesas, e os<br />

retalhistas sentiram esses impactos, alguns<br />

mais que outros, mas isso também implicou<br />

muito trabalho de backstage.<br />

Procurámos perceber junto de alguns<br />

retalhistas como foi feita a adaptação<br />

à pandemia, alterações operacionais<br />

necessárias, quais as barreiras que<br />

encontraram e como as contornaram, o que<br />

aprenderam com a pandemia e se, apesar de<br />

tudo, conseguiram ver pontos positivos dentro<br />

de toda a negatividade da questão envolvente.<br />

Ao nível do retalho, a segurança e higiene<br />

foram as principais preocupações, limitando<br />

o número de clientes em loja consoante<br />

a área disponível, reforçando a limpeza e<br />

desinfecção de superfícies, equipamentos e<br />

produtos, colocando dispensadores de álcoolgel,<br />

delimitando o distanciamento em loja<br />

através de autocolantes e acrílicos colados<br />

no chão, distribuindo kits de desinfecção<br />

e EPIs aos colaboradores e controlando as<br />

suas temperaturas, entre outras medidas.<br />

Em grande parte, os que o podiam, ficaram<br />

em teletrabalho, os que se encontravam em<br />

situações de maior risco foram dispensados<br />

com direito a remuneração, e o número de<br />

pessoas em loja foi reduzido sendo também<br />

adaptados os horários de funcionamento.


10<br />

setembro <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 11<br />

Com a pandemia ficou claro que o país necessita do retalho alimentar para viver<br />

O Lidl apostou num modelo de microsite<br />

interno com toda a informação útil e<br />

importante sobre o tema, disponibilizando-a<br />

também na aplicação móvel, como forma<br />

de comunicar internamente, e alargaram o<br />

horário da Linha do Colaborador, para uma<br />

assistência mais alargada.<br />

Ao nível das lojas, no início da pandemia<br />

o retalhista sentiu uma variação, com “um<br />

aumento significativo de afluência às nossas<br />

lojas, bem como um aumento da procura em<br />

diversas categorias de bens alimentares<br />

Pingo Doce<br />

Ainda antes de ser decretado o estado de<br />

emergência, o Pingo Doce adoptou medidas<br />

de contingência e definiu como prioritária a<br />

segurança dos seus colaboradores e clientes,<br />

sem nunca deixar de abastecer o mercado e<br />

as famílias portuguesas. Num período inicial,<br />

metade das equipas de lojas e armazéns<br />

ficaram resguardadas em casa, durante 15<br />

dias, com o pacote de remuneração intacto.<br />

“Falamos de mais de 14 mil colaboradores –<br />

uma decisão inédita e que implicou a redução<br />

dos horários de abertura das nossas lojas”,<br />

explica fonte oficial do Pingo Doce.<br />

Garantiram um canal de comunicação<br />

interno aberto, através de telefone e<br />

e-mail, para esclarecimento de dúvidas e<br />

informações e procedimentos de segurança<br />

nos diversos locais de trabalho, bem como<br />

o acompanhamento e aconselhamento<br />

médico de todos os que necessitaram. Foi<br />

ainda criada uma equipa de coordenação de<br />

recursos humanos, multidisciplinar, totalmente<br />

dedicada a gerir e acompanhar a situação,<br />

com direito uma equipa médica composta<br />

Pingo Doce<br />

por especialistas de saúde para acompanhar<br />

desde o início todos os casos, que procuram<br />

investigar, esclarecer e acompanhar todos os<br />

que os procuram – tanto os infectados como<br />

os que se encontram em quarentena.<br />

Ao nível do e-commerce, o Pingo Doce<br />

manteve a sua parceria com o Mercadão.<br />

Segundo o anúncio da plataforma, entre<br />

Fevereiro e Maio as vendas aumentaram<br />

sete vezes, recrutaram mais de 250 personal<br />

shoppers e alargaram as suas zonas de<br />

entrega.<br />

“Com a pandemia ficou claro que o país<br />

necessita do retalho alimentar para viver”,<br />

comenta a fonte, “esta consciência e o<br />

reconhecimento das nossas pessoas é, para<br />

nós, um orgulho e motiva-nos e reforça o<br />

nosso propósito: servir os nossos clientes<br />

e fazê-los sentir ‘em casa’ nas nossas mais<br />

de 400 lojas. A união que testemunhámos<br />

entre os colaboradores e o modo como as<br />

nossas lideranças gerem e comunicam com as<br />

equipas, as motivam e mantêm focadas, nunca<br />

descurando a segurança e bem-estar destas,<br />

são outros pontos positivos que identificamos”,<br />

conclui.<br />

Lidl<br />

O Lidl também esteve a acompanhar a<br />

situação desde o primeiro momento em<br />

conjunto com as autoridades nacionais,<br />

segundo explica o Departamento de<br />

Comunicação Corporativa da empresa. Conta<br />

que a empresa se manteve a par do tema com<br />

uma permanente adaptabilidade dos seus<br />

processos, optimização da gestão das equipas<br />

e implementação progressiva de um conjunto<br />

de medidas que garantiram a segurança dos<br />

seus colaboradores e clientes, cumprindo<br />

sempre com o compromisso de fornecimento<br />

de bens a toda a sociedade.<br />

Aos colaboradores que se mantiveram<br />

activos, e que voluntariamente enfrentaram<br />

a pandemia durante o seu período mais<br />

complicado, o retalhista decidiu recompensar<br />

com um “agradecimento monetário”, que<br />

chegou a atingir 40% do valor do ordenado. Ao<br />

nível dos escritórios neste momento contam<br />

com uma presença de 30% por departamento,<br />

e suspenderam as viagens de trabalho,<br />

substituindo as reuniões com parceiros<br />

externos por tele/video-conferências.


12<br />

13<br />

e não perecíveis”, explica a fonte. “Durante<br />

esse período, decidimos priorizar o tipo de<br />

artigos que chegavam às nossas lojas, com<br />

foco na disponibilização de bens alimentares,<br />

garantindo uma resposta mais assertiva<br />

às necessidades dos clientes”, uma medida<br />

temporária que procurou gerir melhor a<br />

disponibilidade da oferta destes produtos,<br />

respondendo à crescente procura inicial.<br />

Entre os produtos mais procurados no início<br />

da pandemia estiveram os bens alimentares<br />

passíveis de serem armazenados em casa, bem<br />

como bens alimentares não perecíveis e de<br />

higiene.<br />

“Registámos um aumento substancial da<br />

procura num primeiro momento, de pico<br />

pontual, no início de Março”, e garante que<br />

em momento algum houve falta de stock, mas<br />

nem sempre foi possível efectuar a reposição<br />

à velocidade da procura, apesar dos esforços<br />

feitos nesse sentido. Decretado o estado de<br />

Neste momento difícil,<br />

estamos conscientes<br />

da importância dos<br />

nossos compromissos<br />

perante um<br />

contexto adverso,<br />

permanecendo ao<br />

lado dos nossos<br />

fornecedores e<br />

encontrando soluções<br />

em conjunto<br />

Lidl<br />

emergência, e quando passou o momento de<br />

maior agitação pré-contingência e os cidadãos<br />

começaram a tomar consciência de que não<br />

havia realmente falta de stock nas lojas, os<br />

consumidores optaram por gerir melhor as<br />

suas reais necessidades.<br />

Importante para esse sucesso foi a<br />

proximidade ao fornecedor e produtor<br />

nacional, uma grande aposta do Lidl,<br />

privilegiando parcerias a longo prazo. “Neste<br />

momento difícil, estamos conscientes da<br />

importância dos nossos compromissos perante<br />

um contexto adverso, permanecendo ao<br />

lado dos nossos fornecedores, encontrando<br />

soluções em conjunto”, comenta a fonte do<br />

Lidl, e revela que entre os meses de Março<br />

e Abril aumentaram a compra de artigos<br />

nacionais em aproximadamente 25%, quando<br />

comparado com os dados do ano passado. Em<br />

apenas dois meses e meio, entre inícios de<br />

Fevereiro e meados de Abril, o Lidl exportou<br />

quase 400 toneladas de laranja<br />

do Algarve, tendo ainda arrancado<br />

com a exportação de limão<br />

também desta região.<br />

“Num período crítico como<br />

o actual, o sector e o Lidl, em<br />

particular, reagiram aos novos<br />

desafios de forma positiva e<br />

com enorme capacidade de<br />

adaptação de processos”, afirma<br />

a fonte, destacando ainda que<br />

o abastecimento foi totalmente<br />

garantido, através de uma gestão<br />

optimizada dos recursos, e lhes<br />

tem permitido ultrapassar desafios<br />

como o aumento pontual da<br />

procura. “Acreditamos que este<br />

período de incerteza veio valorizar<br />

a importância do sector do retalho<br />

no bem-estar social, reconhecido<br />

publicamente, trazendo daqui em diante um<br />

reconhecimento acrescido a todas as pessoas<br />

que o constituem e ao trabalho do Lidl”,<br />

conclui.<br />

Grupo DIA<br />

Para o Grupo DIA, detentor da cadeia de<br />

retalho Minipreço em Portugal, a pandemia<br />

resultou num aceleramento dos processos<br />

digitais que já se encontravam em testes<br />

internamente e prestes a ser implementadas,<br />

uma delas a plataforma online para a venda<br />

de produtos, que começou por ser testada<br />

ainda em 2019.<br />

Helena Guedes, directora comercial em<br />

Portugal, conta que este conjunto de medidas<br />

que já estava a ser implementado incluía<br />

uma reorganização de toda a cadeia de<br />

fornecimento, logística, operação e sortido em<br />

loja, pelo que a resposta à pandemia já estava<br />

por si a ser dada. “Eram mudanças estruturais<br />

que faziam parte do plano de transformação<br />

em curso na DIA como nova oferta de valor<br />

para todas as nossas lojas e que estão a ser<br />

muito bem acolhidas pelos nossos clientes”,<br />

explica.<br />

Durante o estado de emergência, quando<br />

se sentiu o maior impacto ao nível do<br />

e-commerce, a empresa ainda não contava<br />

com a plataforma, mas foi rapidamente<br />

evoluindo e estabelecendo parcerias nesse<br />

sentido. “Tirámos muitas ilações desse período<br />

o que nos permitiu uma preparação mais<br />

adequada para um desafio desta envergadura”,<br />

refere a responsável. A empresa, que até este<br />

ano não contava com plataformas de venda,<br />

entrou no final de Abril na Glovo, em Junho<br />

lançou a plataforma minipreço.pt, e um mês<br />

depois chegou ao DOTT.<br />

“Esta operação era fundamental para<br />

a DIA Portugal e temos como objectivo<br />

crescer solidamente num canal com enorme


14<br />

setembro <strong>2020</strong><br />

15<br />

potencial de venda e qualitativamente<br />

com uma oferta ampla e diversificada que<br />

satisfaça as necessidades de consumo do perfil<br />

dos nossos clientes”, afirma ainda Helena<br />

Guedes, revelando que em menos de dois<br />

anos pretendem que esse canal represente<br />

aproximadamente 2% da facturação da DIA<br />

Portugal.<br />

Ao nível das lojas, a principal preocupação<br />

do grupo foi garantir o abastecimento e<br />

a segurança de todos, tendo a resposta à<br />

pandemia começado logo no dia 3 de Março.<br />

Anteciparam desde logo o fornecimento das<br />

suas lojas, preparando o aumento da procura<br />

de bens alimentares, procurando ao mesmo<br />

tempo manter as operações sem falhas que<br />

pudessem ocorrer. Os aumentos foram na casa<br />

dos três dígitos, revelou a directora comercial,<br />

Tirámos muitas ilações desse<br />

período o que nos permitiu uma<br />

preparação mais adequada para um<br />

desafio desta envergadura<br />

Helena Guedes, Grupo Dia<br />

ao nível dos produtos enlatados, congelados,<br />

produtos lácteos, papel higiénico e mercearia<br />

salgada. Também sentiram uma subida que já<br />

se encontrava a verificar, ao nível dos produtos<br />

de pequeno-almoço, frescos, ovos e produtos<br />

de limpeza do lar.<br />

“Estimamos que nos próximos tempos<br />

a procura dos produtos destas categorias<br />

mantenha esta dinâmica, por força do<br />

distanciamento social, dos constrangimentos<br />

na restauração e do confinamento. Muitas<br />

refeições que tradicionalmente eram feitas<br />

fora de casa, são agora feitas em casa e<br />

isso é algo que não vai mudar nos próximos<br />

tempos”, conclui Helena Guedes, referindo que<br />

o desafio será o de manter uma capacidade de<br />

resposta que respeite esta dinâmica e garanta<br />

que as lojas se encontrem abastecidas.<br />

FNAC<br />

Não só o retalho alimentar sentiu um<br />

impacto, mas também os artigos de lazer e<br />

tecnologia. No caso da FNAC, apesar de se ter<br />

visto obrigada a fechar todas as insígnias no<br />

início do confinamento, e de terem mantido<br />

abertas algumas lojas de rua ou de acesso<br />

mais directo, “rapidamente percebemos que<br />

as pessoas privilegiam o canal online, por<br />

questões de segurança e conforto”, refere<br />

Tiago Figueirôa, director de logística da FNAC,<br />

explicando que ao mesmo tempo conseguiram<br />

também garanti-las aos seus colaboradores.<br />

Apesar do grande impacto negativo causado<br />

pelo fecho temporário das lojas físicas, e a<br />

consequente suspensão das recolhas em loja,<br />

o online teve “um aumento excepcional”, tanto<br />

ao nível do site fnac.pt como do Marketplace.<br />

O aumento sentido nas vendas foi ao nível dos<br />

computadores, produtos de cozinha, gaming,<br />

jogos e brinquedos. Mais recentemente, com<br />

o desconfinamento, o ritmo do e-commerce<br />

abrandou, no entanto, mantendo-se superior<br />

aos índices pré-COVID. Tiago Figueirôa<br />

considera que este aumento “que chegou<br />

quase a quadruplicar durante este período,<br />

esteja relacionado com a necessidade das<br />

pessoas, de um momento para o outro,<br />

precisarem de se preparar e equipar com<br />

material para o teletrabalho, para o ensino<br />

à distância e até para o entretenimento em<br />

família”.<br />

O desafio para a FNAC foi garantir a entrega<br />

dentro dos prazos a que já tinham habituado<br />

os seus clientes, devido ao aumento radical<br />

das vendas. “Reforçámos as equipas do<br />

Armazém Central com recursos humanos que<br />

habitualmente estão em loja, beneficiando da<br />

versatilidade e disponibilidade das equipas<br />

FNAC”, explica, coordenando o trabalho com<br />

os parceiros de transporte para garantir o<br />

melhor serviço possível.<br />

“Ainda assim, principalmente nas primeiras<br />

semanas de confinamento, garantir o<br />

cumprimento dos prazos foi uma tarefa dura<br />

porque estávamos todos a passar por um<br />

cenário totalmente atípico e inesperado”,<br />

revela Tiago Figueirôa, acrescentando que<br />

foi necessário “ajustar algumas áreas, com<br />

particular foco no nosso armazém central,<br />

bem como garantir capacidade de resposta<br />

dos nossos fornecedores, seja de mercadoria,<br />

consumíveis ou transportes”.<br />

Outro impacto sentido foi ao nível da<br />

mudança da exigência do cliente, não só ao<br />

nível da compra, mas também da entrega, com<br />

novos moldes, “existindo uma necessidade de<br />

optimizar e adequar os recursos associados<br />

aos fluxos logísticos advindos da compra<br />

online e entrega no domicílio dos clientes ou<br />

levantamento em loja”.<br />

Rapidamente percebemos que as<br />

pessoas privilegiam o canal online,<br />

por questões de segurança e<br />

conforto<br />

Tiago Figueirôa, Fnac


16<br />

setembro <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 17<br />

No final, sentiu-se uma aprendizagem: “a<br />

FNAC ajustou o seu negócio para fazer face<br />

às necessidades dos clientes, não só ao nível<br />

operativo, como também ao nível da gama<br />

disponível, tendo já a vertente estratégica<br />

do negócio omnicanal trabalhada há vários<br />

anos”, sendo que ao nível do fluxo logístico já<br />

existia um trabalho efectuado previamente,<br />

pelo que será necessário “dar continuidade à<br />

sua concretização de forma ainda mais rápida”,<br />

conclui o director de logística.<br />

Wook<br />

Com as pessoas confinadas nas suas casas,<br />

algumas delas com mais tempo livre, também<br />

a leitura aumentou, mas também passou<br />

por uma fase má. Rui Aragão, director de<br />

e-commerce da Wook, conta-nos esta história.<br />

“O impacto global do confinamento<br />

na venda de livros foi, e continua a ser,<br />

brutalmente negativo”, visto os pontos<br />

habituais de compra para os cliente terem<br />

fechado temporariamente, enquanto os<br />

espaços comerciais que se mantiveram abertos<br />

se depararam “com a absoluta ausência<br />

de clientela”, explica, fundamentando que<br />

de acordo com os dados fornecidos pela<br />

associação do sector, as quebras atingiram os<br />

40% nesse período.<br />

No entanto, relativamente ao online, a<br />

situação foi diferente, e se nas primeiras<br />

semanas após a declaração do estado de<br />

emergência tenham sentido uma quebra<br />

por as prioridades dos consumidores<br />

se encontrarem nos bens de primeira<br />

necessidade, nas seguintes semanas a procura<br />

por livros cresceu. “O cenário manteve-se<br />

ao longo dos meses de Março, Abril e Maio,<br />

registando-se não só o aumento da frequência<br />

de compra dos nossos mais de um milhão de<br />

clientes registados, mas também pela adesão<br />

de milhares de novos clientes, muitos deles a<br />

efectuar a sua primeira compra on-line nesta<br />

época”, revela ainda Rui Aragão.<br />

O principal impacto verificado foi ao nível da<br />

operação logística, com as rigorosas medidas<br />

de protecção, nomeadamente ao nível do<br />

distanciamento físico e a redução do número<br />

de elementos por equipa, resultando numa<br />

inevitável quebra de produtividade. Ao nível<br />

do transporte de last mile, no entanto, não<br />

sentiram um grande impacto, tendo mantido<br />

o serviço de entrega no dia seguinte na<br />

maior parte das encomendas expedidas. “Os<br />

únicos constrangimentos registados foram<br />

com alguns envios internacionais para alguns<br />

dos países que implementaram restrições à<br />

circulação de mercadoria”, explica o director<br />

de e-commerce, comentando que a Wook<br />

expede regularmente para mais de uma<br />

centena de países.<br />

O cenário manteve-se ao longo<br />

dos meses de Março, Abril e Maio,<br />

registando-se não só o aumento<br />

da frequência de compra dos<br />

nossos mais de um milhão de<br />

clientes registados, mas também<br />

pela adesão de milhares de novos<br />

clientes<br />

Rui Aragão, Wook<br />

Ao nível da leitura, nas primeiras semanas o<br />

TOP de vendas continha livros de auto-ajuda<br />

e actividades infantis, “reflectindo o impacto<br />

do confinamento forçado em que muitos dos<br />

nossos clientes se encontravam”. Com o passar<br />

das semanas, a procura começou a inclinar-se<br />

para ficção, romances, biografias, poesias, e<br />

também livros de culinária, visto as pessoas<br />

terem passado a cozinhar mais em casa. Rui<br />

Aragão conta ainda que houve “um best seller<br />

improvável: A Peste, de Albert Camus, que<br />

vendeu – e continua a vender – de forma<br />

surpreendente nestes dias”.<br />

Leroy Merlin<br />

Outra prática que se desenvolveu durante o<br />

confinamento foi o conceito de produtos de<br />

uso caseiro, como jardinagem e bricolagem,<br />

pelo que procurámos compreender como foi<br />

a variação sentida pela Leroy Merlin, que tal<br />

como o retalho alimentar também se manteve<br />

aberta devido aos seus serviços essenciais.<br />

José Miranda, director de operações supply<br />

chain, explica que a prioridade foi garantir<br />

a disponibilidade dos produtos da Leroy<br />

Merlin para as famílias, colaboradores e PMEs<br />

e diferentes entidades que graças a esta<br />

disponibilidade puderam continuar a operar e<br />

a servir as necessidades da população.<br />

Implementaram “um novo modelo de<br />

negócio focado nas vendas à distância e no<br />

apoio personalizado ao cliente através de<br />

canais alternativos”, explica o responsável,<br />

desde a Venda de Livre Serviço, na qual<br />

o cliente faz as suas compras de forma<br />

autónoma e com o mínimo contacto pessoal<br />

com os colaboradores da loja, podendo<br />

recorrer a métodos alternativos para obter<br />

apoio e aconselhamento durante o processo<br />

de compra. Houve também uma maior<br />

aposta nas vendas online, com atendimento<br />

personalizado via chat ou telefone e entregas<br />

click & drive ou ao domicílio.<br />

“Durante as semanas de maiores limitações<br />

na deslocação de pessoas, a grande maioria<br />

das entregas de encomendas ao domicílio<br />

não tiveram qualquer custo para os nossos<br />

clientes”, explicou José Miranda, como aposta<br />

na responsabilidade social. Nessa altura<br />

sentiram uma quebra nas vendas físicas,<br />

compensadas pelo canal online, “ainda que<br />

esse crescimento não tenha sido suficiente<br />

para compensar o abrandamento das vendas e<br />

número de clientes em lojas”, mas revela que


18<br />

setembro <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 19<br />

nas últimas semanas registaram um regresso<br />

às lojas e aumento das compras físicas, “apesar<br />

de ainda se registar uma elevada procura nas<br />

vendas online”.<br />

A Leroy Merlin dispõe de um serviço de<br />

entregas ao domicílio, que também sofreu<br />

alterações, nomeadamente ao nível da<br />

segurança, devido às restrições causadas<br />

pela pandemia. “O aumento exponencial<br />

e repentino de procura online gerou um<br />

grande volume de entregas ao domicílio e<br />

provocou constrangimentos logísticos que<br />

Durante as semanas de maiores<br />

limitações na deslocação de<br />

pessoas, a grande maioria das<br />

entregas de encomendas ao<br />

domicílio não tiveram qualquer<br />

custo para os nossos clientes<br />

José Miranda, Leroy Merlin<br />

resultaram em alguns atrasos na entrega de<br />

encomendas”, revela o director de operações,<br />

pelo que foi necessário reforçar as equipas<br />

para dar suporte às vendas online, e equipas<br />

que habitualmente estavam em loja foram<br />

temporariamente apoiar este canal, bem<br />

como o atendimento telefónico e por chat,<br />

investindo nas suas formações para o novo<br />

modelo de atendimento.<br />

Ao nível dos produtos, conta que os clientes<br />

optaram, numa primeira fase, por “pequenas<br />

renovações, para aumentarem o conforto<br />

das suas casas e a aquisição de produtos<br />

indicados para intervenções de menor impacto<br />

estrutural”, e que com o desconfinamento<br />

evoluíram para remodelações e projectos de<br />

maiores dimensões. “Sentimos que os clientes<br />

estão a recuperar os projectos que tinham<br />

ficado interrompidos”, comenta José Miranda.•


20 setembro <strong>2020</strong><br />

SCM Supply Chain Magazine 21<br />

logística<br />

Texto: Ana Paiva<br />

Fotos: Nespresso<br />

1º ano do supply chain<br />

hub da Nespresso<br />

Portugal,<br />

where else?<br />

Faz agora um ano que a Nespresso abriu<br />

em Portugal o seu supply chain hub, onde<br />

se gere os fluxos de café que chega a Lisboa<br />

provenientes da Suíça, para todo o mundo. Um<br />

ano após a sua abertura, Pedro Freire, head<br />

of Nespresso supply chain service center em<br />

Lisboa, conta-nos o que foi feito, os desafios e o<br />

que pretendem alcançar no futuro.<br />

Em 2019, a Nespresso tomou a decisão<br />

estratégica de abrir, em Portugal, um<br />

supply chain hub. O objectivo deste espaço<br />

passa por gerir toda a parte operacional da<br />

cadeia de abastecimento, controlando todos<br />

os fluxos de cápsulas de café, uma vez que<br />

os produtos partem da fábrica localizada na<br />

Suíça, para Portugal e, daqui, para o mundo.<br />

Um ano após a sua abertura, Pedro Freire,<br />

faz um balanço bastante positivo daquele que<br />

é o primeiro hub da empresa em Portugal,<br />

admitindo que “a qualidade do suporte<br />

dado pela equipa de Lisboa ao negócio,<br />

a nível mundial, tem sido continuamente<br />

reconhecida”.<br />

Dos resultados obtidos, o responsável<br />

destaca o cumprimento dos objectivos em<br />

termos de disponibilidade de produto e de<br />

coberturas de stock, inclusive durante o forte<br />

pico de vendas no final de 2019; o apoio<br />

ao crescimento do negócio nas vertentes<br />

de expansão geográfica e do portefólio de<br />

produtos, no contexto da marca Nespresso<br />

e Starbucks; e o desenvolvimento de<br />

competências dos membros das equipas de<br />

Lisboa.<br />

Neste centro, a equipa de Supply Chain<br />

Development lidera projectos-chave<br />

desde a implementação de novos sistemas<br />

informáticos de gestão de encomendas dos<br />

membros do clube Nespresso, até novos<br />

armazéns supra-nacionais de preparação das<br />

mesmas encomendas. Por sua vez, a equipa<br />

de Demand Planning lidera a implementação<br />

de ferramentas estatísticas de última geração<br />

e de planeamento de abastecimento dos<br />

mercados em que a empresa opera. Já a<br />

equipa de Importação-Exportação apoia a<br />

implementação de ferramentas de interface<br />

com os transportadores e de seguimento de<br />

transporte marítimo e terrestre.<br />

Como já foi referido anteriormente, este<br />

centro está responsável por gerir os fluxos<br />

provenientes das fábricas da Suíça até à


22<br />

setembro <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 23<br />

O desafio do passado<br />

presente e futuro<br />

No início da pandemia, a Nespresso enfrentou<br />

alguns desafios a nível operacional, como o<br />

aumento dos tempos e custos do transporte<br />

internacional, os atrasos e reduzidas<br />

capacidades de produção, e a redução da<br />

fiabilidade de previsão de vendas dos seus<br />

mercados receptores.<br />

Para fazer face a esta realidade<br />

implementaram um sistema de reuniões de<br />

crise diárias e semanais através da partilha<br />

sistemática e proactiva de informações com<br />

os clientes internos. Reforçaram também a<br />

capacidade de simular cenários alternativos<br />

de forma a poderem fazer as escolhas mais<br />

acertadas.<br />

No que diz respeito à gestão de equipas<br />

“adaptámo-nos ao trabalho fora do escritório,<br />

usando ao máximo as tecnologias de<br />

informação e sendo bastante disciplinados<br />

na manutenção das reuniões de equipa e das<br />

reuniões semanais entre cada gestor e os seus<br />

colaboradores”, explica Pedro Freire. Foi ainda<br />

possível reduzir os impactos do COVID-19 na<br />

capacidade produtiva e de transporte.<br />

Numa perspectiva a longo-prazo, a<br />

Nespresso espera continuar a dar suporte aos<br />

vários projectos de crescimento do negócio,<br />

de forma optimizada em termos de recursos<br />

e, simultaneamente, enriquecer as funções<br />

dos 50 membros da equipa de Lisboa, “isto<br />

a qualidade do suporte dado pela equipa de Lisboa ao negócio, a nível<br />

mundial, tem sido continuamente reconhecida<br />

Pedro Freire<br />

totalidade dos países em que a Nespresso<br />

está presente, que são mais de 80. Além disso,<br />

coordena ainda a maior parte dos fluxos de<br />

máquinas de café, bem como de acessórios,<br />

oriundos de mais de 19 fornecedores em sete<br />

países.<br />

Esta gestão não se revela tarefa fácil, mas,<br />

ainda assim, Pedro Freire revela os elementoschave<br />

para uma coordenação bem-sucedida.<br />

Em primeiro lugar, “os cinco valores que<br />

partilhamos no dia-a-dia: confiança mútua,<br />

dedicação, trabalho em equipa, ambição<br />

e optimismo”. Destaca ainda a constante<br />

procura por oportunidades de aumentar<br />

as competências técnicas dos membros<br />

das equipas através de novos desafios, e<br />

o investimento no reforço do feedback e<br />

coaching no seio das equipas, de forma a<br />

melhorar o seu desempenho. Por fim, aponta<br />

as metodologias de melhoria contínua da<br />

Nestlé que “além de técnicas de resolução<br />

de problemas, nos instigam a um estado de<br />

espírito de fazer acontecer e de ir sempre mais<br />

além”.


24 SETEMBRO <strong>2020</strong><br />

SCM Supply Chain Magazine 25<br />

A presente fotografia remete para a realidade pré-COVID-19.<br />

adaptámo-nos ao trabalho<br />

fora do escritório, usando<br />

ao máximo as tecnologias<br />

de informação e sendo<br />

bastante disciplinados na<br />

manutenção das reuniões<br />

de equipa e das reuniões<br />

semanais entre cada gestor<br />

e os seus colaboradores<br />

Pedro Freire<br />

significa tornar os nossos processos internos<br />

ainda mais Lean, removendo mesmo todo o<br />

desperdício”, afirma o responsável. Pretende<br />

ainda incrementar o leque de serviços,<br />

nomeadamente na área de previsão de vendas<br />

através de ferramentas estatísticas de última<br />

geração.<br />

Este projecto veio revelar-se uma maisvalia<br />

para a marca, dado os bons resultados<br />

alcançados e, segundo o discurso de Pedro<br />

Freire, nada seria possível sem o esforço da<br />

equipa por detrás das operações. O head of<br />

supply chain termina referindo que “apesar da<br />

nossa curta existência, os mais de 50 membros<br />

da nossa equipa têm mostrado um entusiasmo,<br />

um espírito de entreajuda e uma capacidade<br />

de superar desafios e fazer acontecer, de que<br />

muito me orgulho”. •


26<br />

setembro <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 27<br />

logística<br />

Texto: Fábio Santos<br />

Fotos: SCC<br />

Um brinde<br />

à logística<br />

Sociedade Central<br />

de Cervejas e<br />

Bebidas<br />

A Sociedade Central de Cervejas e<br />

Bebidas (SCC) é uma empresa portuguesa<br />

de bebidas, constituída em 1934,<br />

primeiramente com o objectivo de<br />

comercializar cervejas. Com o tempo<br />

evoluíram, adquiriram novas bebidas<br />

para o seu portefólio, integraram o grupo<br />

Heineken, adaptaram-se aos tempos e aos<br />

novos hábitos dos consumidores, e hoje<br />

contam com um vasto leque de cervejas<br />

(com e sem álcool), sidras, refrigerantes<br />

e águas minerais e com sabores, que<br />

distribuem para todo o país e exportam para<br />

50 destinos diferentes por via rodoviária e<br />

marítima.<br />

Verão é sinónimo de calor, e para combater<br />

o calor, nada como refrescar um pouco,<br />

por fora e por dentro. Desde águas,<br />

refrigerantes ou cervejas, no Verão o consumo<br />

de bebidas aumenta, mas por detrás delas<br />

existe todo um planeamento acrescido que<br />

envolve semanas de preparação. Compra<br />

de matéria-prima, maturação e maltagem<br />

do cereal, produção, captação de água,<br />

armazenamento e transporte são alguns dos<br />

muitos processos associados às bebidas com<br />

que a SCC opera.<br />

Nuno Pinto de Magalhães, director de<br />

comunicação e relações institucionais da<br />

Sociedade Central de Cervejas e Bebidas,<br />

explica que os diferentes processos das<br />

bebidas requerem “um planeamento semanal<br />

tendo em conta as necessidades do mercado<br />

e as especificidades ao nível do processo<br />

de produção para os diferentes SKUs”, ou<br />

seja, trata-se de um planeamento ecológico<br />

meticuloso de modo a minimizar desperdícios<br />

ou faltas de stock, procurando responder ao<br />

mercado da melhor forma possível.<br />

Os processos são muito diferentes entre si,<br />

dependendo das bebidas, e a grande variedade<br />

de produtos da SCC requer um grande e<br />

complexo sistema organizacional.<br />

Cervejas<br />

O portefólio da Sociedade Central de<br />

Cervejas e Bebidas remonta à sua génese,<br />

tendo como objectivo inicial o comércio de<br />

cervejas produzidas pelas antigas Companhia<br />

Produtora de Malte e Cervejaria Portugália,<br />

Companhia de Cervejas Estrela, Companhia de<br />

Cervejas Coimbra e Companhia da Fábrica de<br />

Cerveja Jansen. Hoje dedica-se a vários outros<br />

tipos de bebida, mas a cerveja permanece<br />

como campeã de vendas da empresa,<br />

representando o canal HORECA mais de 65%<br />

do valor de vendas no mercado nacional.<br />

Ao longo dos anos foi-se adaptando às<br />

mudanças nos hábitos de consumo das<br />

pessoas e hoje negoceiam marcas como<br />

Heineken®, Sagres®, Bohemia, Guinness,<br />

Desperados, Affligem, John Smith ou Kilkenny,


28 SETEMBRO <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 29<br />

sendo também parte integrante do Grupo<br />

Central de Cervejas a Hoppy House Brewing,<br />

direccionada para as cervejas artesanais, como<br />

a Topázio & Onyx, a Trindade, Albert Liège<br />

Spelt Ale e a internacional Lagunitas.<br />

O enfoque principal está na produção e<br />

comercialização de malte e cerveja na sua<br />

Cervejeira de Vialonga, onde são produzidas<br />

e/ou engarrafadas as marcas de cerveja<br />

Sagres e suas variantes, com e sem álcool, e<br />

a Bohemia. As matérias-primas começam por<br />

ser compradas com quatro a seis semanas<br />

de antecedência, e chegam às instalações<br />

por via terrestre, por vezes combinada com<br />

a marítima, tendo como origem preferencial<br />

Portugal, mas vindo também de Espanha,<br />

França e Alemanha.<br />

“A cerveja é uma bebida fermentada a partir<br />

de cereais e produzida com ingredientes<br />

naturais”, explica Nuno Pinto de Magalhães,<br />

“os seus principais ingredientes são a<br />

água, o malte, o lúpulo e a levedura. A<br />

sua combinação em diferentes variedades,<br />

quantidade e intervenção no processo<br />

cervejeiro aliado à criatividade dos Mestres<br />

Cervejeiros, transformam-se em mais de 140<br />

estilos diferentes de Cerveja”.<br />

Produção e enchimento<br />

Os processos de produção e de enchimento<br />

ocorrem 24H/24H, o que fez com que apenas<br />

no ano passado a Sociedade Central de<br />

Cervejas e Bebidas alcançasse uma produção<br />

de 2,5 milhões de hectolitros de cerveja e<br />

sidra.<br />

Ao nível das cervejas, Nuno Pinto de<br />

Magalhães explica que na Cervejeira de<br />

Vialonga, a Sociedade Central de Cervejas e<br />

Bebidas produz a cerveja Sagres e todas as<br />

suas variantes (Sagres Branca; Sagres Preta;<br />

Sagres sem álcool; Sagres 0,0) Sagres Radler<br />

Limão, Sagres Radler Frutos Vermelhos e<br />

Sagres Radler Limão 0,0, a cerveja Bohemia e<br />

suas variantes.<br />

A produção de cerveja começa pela<br />

Maltagem, que consiste em transformar o<br />

cereal, no caso a cevada, em malte. Todos<br />

os dias são transformadas 180 toneladas<br />

de cevada em 150 toneladas de malte na<br />

Malteria da Cervejeira de Vialonga, sendo que<br />

esta fase tem entre três e quatro processos<br />

de maltagem: molha, germinação, secagem<br />

e, em alguns tipos de malte, a torra. Todo<br />

este processo dura cerca de uma semana, e<br />

Nuno Pinto de Magalhães reforça que “temos<br />

ainda de considerar cerca de dois meses para<br />

a maturação da cevada e um mês para a<br />

estabilização do malte”.<br />

Seguidamente a este processo, seguem-se<br />

as etapas de Brassagem (fabricação de mosto),<br />

Fermentação, Guarda (maturação da cerveja),<br />

Filtração e Enchimento, o que demora cerca de<br />

23 dias.<br />

Ao nível do enchimento, a SCC dispõe de<br />

sete linhas dedicadas ao efeito na Cervejeira<br />

de Vialonga, que abrange as diferentes<br />

referências e capacidades das embalagens:<br />

barril, latas, garrafas de tara perdida e<br />

garrafas de tara retornável.<br />

“A cerveja Sagres incorpora no seu ADN<br />

história e tradição que remetem para os<br />

valores da Portugalidade, inscrevendo nos<br />

seus códigos de embalagem e rotulagem o<br />

escudo e as quinas que sempre acompanharam<br />

a iconografia da marca, desde 1940, ano<br />

de lançamento da marca, para representar<br />

história e a identidade portuguesa na<br />

Exposição do Mundo Português”, explica<br />

o director de comunicação e relações<br />

institucionais da SCC.<br />

“Hoje, 80 anos depois, a cerveja Sagres<br />

somos todos nós. São gerações de história<br />

e décadas de trabalho contínuo para fazer<br />

da marca Sagres aquilo que é hoje: a cerveja<br />

preferida dos portugueses”, comenta ainda.<br />

A combinação [dos ingredientes]<br />

em diferentes variedades,<br />

quantidade e intervenção no<br />

processo cervejeiro aliado<br />

à criatividade dos Mestres<br />

Cervejeiros, transformam-se em<br />

mais de 140 estilos diferentes<br />

de Cerveja<br />

Nuno Pinto de Magalhães


30<br />

setembro <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 31<br />

Sidras<br />

“A Sidra é uma bebida alcoólica produzida a<br />

partir de sumo fermentado de maçã”, explica<br />

o responsável, “para fazer sidra são usadas<br />

maçãs específicas, que servem exclusivamente<br />

para esse efeito, recolhendo-se o sumo da<br />

polpa e realizando-se um processo natural de<br />

fermentação”.<br />

A Bandida do Pomar é a marca de sidra<br />

da SCC, representada por uma raposa. Foi<br />

lançada em Dezembro de 2016 e é produzida<br />

na unidade de Vialonga. Nuno Pinto de<br />

Magalhães explica que a sua produção<br />

segue um processo distinto das cervejas: “os<br />

ingredientes usados são a primeira diferença<br />

entre os dois processos, começando pelo<br />

ingrediente base que na cerveja é o cereal<br />

maltado e na sidra é sumo fermentado de<br />

maçã”.<br />

Produção<br />

O processo de produção desta bebida passa<br />

pela Produção de Sumo (Colheita, Limpeza e<br />

Trituração), Produção de Álcool (Fermentação<br />

e Filtração), Mistura e Enchimento. Na primeira<br />

fase, referente ao sumo de maçã, são usadas<br />

diferentes combinações entre vários tipos de<br />

frutos, de modo a criar uma grande variedade<br />

de sidras. A seguinte, do álcool, relativamente<br />

às leveduras utilizadas na fermentação do<br />

sumo de maçã. Por fim, os processos de<br />

mistura e enchimento, dão o toque final e o<br />

acondicionamento e estabilidade da sidra.<br />

“As Sidras têm vindo a conquistar um papel<br />

importante e com grande potencial de<br />

crescimento no mercado nacional”, comenta<br />

Nuno Pinto de Magalhães, revelando que de<br />

acordo com os dados da Nielsen a categoria<br />

de Sidra cresceu cerca de 16% em 2019,<br />

comparativamente com o período homólogo,<br />

e que na empresa esse crescimento conjunto<br />

atingiu os 22% em volume.<br />

Para além da marca da raposa também<br />

contam com as internacionais Strongbow<br />

e Old Mout no portefólio dos produtos que<br />

comercializam.<br />

Águas<br />

A Água Mineral Natural de Luso começou a<br />

ser comercializada em 1894, e é explorada<br />

através de três captações “em artesianismo<br />

repuchante, das quais emana uma água<br />

levíssima devido à especificidade mineralógica<br />

do aquífero (quartzo cristalino), beneficiadas<br />

pela nobreza singular das suas áreas de<br />

recarga (serra do Buçaco)”, caracteriza o<br />

responsável.<br />

Desde 2004, após a obra de instalação de<br />

condutas de ligação do Luso para o Cruzeiro,<br />

numa extensão de cerca de 5 quilómetros, que<br />

a unidade da Quinta do Cruzeiro, em Vacariça,<br />

passou a encher água mineral natural de Luso,<br />

onde também existe uma linha asséptica.<br />

É também neste local que se engarrafa a<br />

Água do Cruzeiro, e é produzida a Luso Fruta.<br />

Nuno Pinto de Magalhães avança ainda que<br />

recentemente a SCC adquiriu a concessão e<br />

marca Água Castello, em Pizões de Moura, a<br />

juntar ao portefólio de águas da empresa.<br />

Ao nível do engarrafamento, operam com<br />

garrafas de PET (Politereftalato de Etileno)<br />

que variam entre os 0,33L, 0,5L, 0,75L,<br />

1,5L, 5,4L e 7L, com características “não<br />

retornáveis”, bem como com garrafas de vidro<br />

entre os 0,25L, 0,5L e 1L, com características<br />

retornáveis. Em 2019 a Sociedade da Água<br />

de Luso teve uma produção de 2.490.012<br />

hectolitros.<br />

Nuno Pinto de Magalhães explica que a<br />

Água Mineral Natural de Luso “tem origem na<br />

água da chuva infiltrada na Serra do Buçaco,<br />

em rochas formadas, quase exclusivamente,<br />

por quartzo, designadas quartzitos”. Trata-se<br />

de um processo natural de filtração da água da<br />

chuva, que leva em média 1.000 anos, e que<br />

ocorre a centenas de metros de profundidade<br />

(estima-se cerca de 500 metros), criando<br />

um aquífero que termina precisamente na<br />

povoação de Luso. O responsável explica que<br />

deste modo a Água Mineral Natural de Luso<br />

se encontra protegida e preservada na Serra,<br />

intocada até ser engarrafada.<br />

Refere ainda que a protecção deste<br />

recurso é garantida por “um rigoroso plano<br />

de exploração e atenta vigilância, exercida<br />

sobre um perímetro de protecção legalmente<br />

definido”. Em cumprimento da legislação em<br />

vigor, foram definidas três zonas de vigilância<br />

dentro do perímetro total envolvente:<br />

Zona Alargada – Correspondente às áreas<br />

de recarga do aquífero;<br />

Zona Intermédia – Áreas próximas da Vila<br />

de Luso e dentro dela;<br />

Zonas imediatas – Áreas muito restritivas<br />

no uso do solo, em torno das captações.<br />

Ao nível da produção da Luso Fruta,<br />

Nuno Pinto de Magalhães conta que esta<br />

tem por base a Água Mineral Natural de<br />

Luso e sumo natural de fruta, sem corantes<br />

nem conservantes, e apenas com o açúcar<br />

natural da fruta. “É um produto com uma<br />

linha asséptica dedicada à sua produção e<br />

enchimento, o que permite a sua produção<br />

sem a adição de conservantes”, comenta.


32 SETEMBRO <strong>2020</strong><br />

SCM Supply Chain Magazine 33<br />

Armazenamento, gestão e<br />

distribuição<br />

A SCC dispõe de armazenamento a<br />

temperatura ambiente, tanto para matériasprimas<br />

como para produto acabado, em todas<br />

as suas unidades de produção, acompanhando<br />

as necessidades do negócio. Para além disso,<br />

conta ainda com 12 espaços a nível nacional<br />

da sua empresa de distribuição: Novadis.<br />

“No que respeita às encomendas de clientes<br />

de Retalho, Hotéis e Corporate Accounts,<br />

estas são recebidas diariamente pela nossa<br />

equipa de Customer Service através dos vários<br />

canais digitais (portal, winRest, EDI e OCR) ou<br />

tradicionais (email ou telefone)”, começa por<br />

explicar Nuno Pinto de Magalhães. Após feitas,<br />

são transmitidas em tempo real via EDI para<br />

os parceiros logísticos subcontratados, que<br />

também por EDI devolvem os comprovativos<br />

de entrega, ou Proof-of-Delivery, com base nos<br />

quais assenta o processo de facturação.<br />

Mais de 90% das facturas já são enviadas<br />

para os clientes de forma digital, através<br />

de EDI ou e-mail, no próprio dia da entrega,<br />

um serviço de e-billing para os clientes do<br />

Retalho, Hotéis e Corporate Accounts lançado<br />

no ano passado que segue a estratégia de<br />

inovação tecnológica da SCC e permite poupar<br />

10 toneladas de papel por ano.<br />

“As encomendas dos nossos clientes do<br />

canal HORECA são efectuadas através de<br />

um sistema de pré-venda, recepcionadas via<br />

visitação da nossa força de vendas ou em<br />

alguns casos pelo nosso Costumer Care. São<br />

depois processadas internamente para entrega<br />

via Novadis“, explica ainda o responsável.<br />

Relativamente à distribuição para o<br />

retalho, esta é feita essencialmente através<br />

do transporte primário subcontratado, indo<br />

directamente das suas fábricas para o cliente<br />

final. Em paralelo, desenvolveram ainda<br />

o conceito de “backhauling” com alguns<br />

retalhistas, que consiste no abastecimento dos<br />

camiões vazios dos retalhistas nas fábricas<br />

da SCC após a distribuição, quando estão<br />

a retornar aos seus entrepostos centrais,<br />

poupando assim tempo, recursos e viagens<br />

dedicadas ao efeito.<br />

Ao nível da distribuição capilar, esta é feita<br />

através da Novadis, com a sua frota própria, e<br />

que através dos seus 12 sites a nível nacional<br />

conseguem assegurar a cobertura de cerca de<br />

70% dos seus clientes do mercado HORECA.<br />

“Na distribuição o nosso foco de<br />

sustentabilidade passa pela redução das<br />

emissões de CO2. Reduzir a nossa pegada de<br />

carbono é um dos pilares principais da nossa<br />

agenda de Desenvolvimento Sustentável,<br />

o que inclui a transição para processos<br />

de logística que reduzam os níveis de<br />

emissões de carbono”, comenta Nuno Pinto<br />

de Magalhães, e explica que também nesse<br />

sentido têm desenvolvido projectos, tanto na<br />

distribuição primária como secundária.<br />

Relativamente à distribuição primária, “para<br />

além da optimização de rotas e de cargas<br />

e a utilização de veículos mais eficientes,<br />

investimos em dois veículos movidos a<br />

Gás Natural”, comenta o responsável,<br />

acrescentando que ao nível da Novadis<br />

efectuaram um teste piloto com um veículo<br />

eléctrico para entrega aos seus clientes.<br />

Centro Logístico da LPR, Warrington, Inglaterra<br />

Red is<br />

making<br />

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Com a LPR consegue facilmente gerir as suas<br />

encomendas e monitorizar os seus stocks online<br />

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seu parque de paletes. Todos os nossos serviços logísticos e de gestão de<br />

informação são automáticos. Para além disso, no nosso Portal poderá<br />

facilmente acompanhar toda a sua atividade: visualizar os fluxos de paletes,<br />

encomendas, stocks, inspeções de qualidade, rentabilizando tempo, espaço<br />

físico e custos de transporte. Para mais informações visite a LPR.eu<br />

Na distribuição o nosso foco de<br />

sustentabilidade passa pela<br />

redução das emissões de CO2.<br />

Reduzir a nossa pegada de carbono<br />

é um dos pilares principais da<br />

nossa agenda de Desenvolvimento<br />

Sustentável, o que inclui a<br />

transição para processos de<br />

logística que reduzam os níveis de<br />

emissões de carbono<br />

Nuno Pinto de Magalhães<br />

A pallet is red, red is a pallet


34 setembro <strong>2020</strong><br />

SCM Supply Chain Magazine 35<br />

Inovação<br />

A inovação é um factor determinante para<br />

o crescimento das diferentes categorias e<br />

como resposta às tendências de consumo,<br />

e o director de comunicação e relações<br />

institucionais explica que “os consumidores<br />

portugueses são bastante experimentalistas<br />

e procuram cada vez mais ser surpreendidos”.<br />

Deste modo, procuram apostar na<br />

diferenciação, e destaca as cervejas artesanais<br />

e a cerveja Bohemia, “pensada para os<br />

diferentes momentos de foodpairing”.<br />

Por outro lado, também comenta que as<br />

novas gerações tendem a valorizar os estilos<br />

de vida mais saudáveis, procurando cada<br />

vez mais novas opções no dia-a-dia, o que<br />

impulsionou o crescimento da categoria de<br />

bebidas com baixo teor alcoólico, ou sem<br />

álcool, a nível mundial.<br />

“Vimos isso como uma oportunidade e<br />

desenvolvemos uma categoria de cervejas<br />

0.0% de teor alcoólico, com cerca de metade<br />

das calorias de uma cerveja com álcool, e<br />

agora também com um sabor de excelência,<br />

em resposta às novas tendências e à entrada<br />

em novas ocasiões de consumo”, a chamada<br />

“Zona Zero”, que engloba os lançamentos das<br />

Heineken 0.0, Sagres 0.0 e Radler 0.0. Para<br />

além disso, considera que ao mesmo tempo<br />

“os nossos produtos sem álcool podem fazer<br />

parte de um estilo de vida equilibrada e<br />

oferecer uma opção alternativa – às pessoas<br />

que não podem ou não querem beber bebidas<br />

alcoólicas”.<br />

Mas a preocupação do cliente não passa<br />

apenas pela saúde: “os consumidores<br />

também se preocupam cada vez mais com os<br />

propósitos e pilares de sustentabilidade das<br />

marcas”. Neste sentido, “a cerveja Bohemia<br />

apresentou a sua mais recente novidade,<br />

a Bohemia Pilsener Cevada do Alentejo,<br />

fabricada com 100% de cevada do Alentejo”,<br />

avança o responsável, acrescentando que<br />

nesta aposta procuraram produtores regionais<br />

certificados e associados do Agrupamento de<br />

Produtores de Cereais do Sul (CERSUL).<br />

Nuno Pinto de Magalhães reforça ainda<br />

a ideia de que apesar de existirem clientes<br />

que compram pelo preço, pela qualidade ou<br />

pelo conhecimento/recomendação da marca,<br />

“actualmente os consumidores não compram<br />

só um produto, querem também saber que<br />

causas, valores e legados representam<br />

esses produtos/marcas. Querem sentir-se<br />

identificados e saber se as marcas reflectem<br />

os seus valores e crenças, saúde e bem-estar,<br />

sustentabilidade ambiental e até mesmo as<br />

suas conexões sociais e familiares”.<br />

Actualmente os consumidores não compram só um produto, querem também<br />

saber que causas, valores e legados representam esses produtos/marcas.<br />

Querem sentir-se identificados e saber se as marcas reflectem os seus<br />

valores e crenças, saúde e bem-estar, sustentabilidade ambiental e até mesmo<br />

as suas conexões sociais e familiares<br />

Actuação durante a<br />

pandemia<br />

Com o fecho temporário do canal HORECA,<br />

que representa mais de 65% do valor de<br />

vendas no mercado nacional, o sector<br />

cervejeiro e os seus operadores foram<br />

marcados de forma significativa. “Contudo,<br />

a Cervejeira de Vialonga nunca deixou de<br />

produzir, readaptando-se e dando resposta<br />

às solicitações do canal HORECA, o qual<br />

se reinventou para take-away e delivery,<br />

mas também às encomendas do canal da<br />

grande distribuição”, comenta o responsável,<br />

revelando ainda que “os modelos de negócio<br />

online são também um canal de vendas que<br />

tem vindo a crescer e no qual gostaríamos de<br />

continuar presentes”.<br />

Explica que numa primeira fase, o foco<br />

foi reforçar a produção e enchimentos para<br />

aumentar o nível de stock dos produtos<br />

essenciais, onde esperavam um reforço da<br />

procura, conseguindo assim dar resposta<br />

ao incremento de encomendas do canal<br />

da grande distribuição, principalmente nas<br />

referências de água engarrafada.<br />

Ao nível das pessoas, de uma forma<br />

transversal implementaram medidas<br />

essenciais ao nível do distanciamento social e<br />

etiqueta respiratória de forma a minimizar os<br />

Nuno Pinto de Magalhães<br />

contágios e propagação, as quais continuam<br />

a ser actualizadas, e dispõem de um plano<br />

de contingência detalhado que segue as<br />

recomendações da Direcção Geral da Saúde<br />

(DGS):<br />

> “Disponibilização a todos os nossos<br />

colaboradores Equipamento de Protecção<br />

Individual (EPI’s), máscara de protecção,<br />

viseira sempre que se adeque à função e<br />

desinfectante para higienização das mãos;<br />

> Medição de temperatura à entrada de<br />

todas as nossas instalações;<br />

>Asseguramos a limpeza e desinfecção das<br />

superfícies e dos espaços comuns de trabalho;<br />

> Definimos o procedimento de actuação<br />

para casos suspeitos, bem como preparar<br />

a resposta operacional para minimizar as<br />

condições de propagação;<br />

> Implementação de trabalho remoto para<br />

todas as funções que o permitam;<br />

Conta ainda que “todas as nossas equipas<br />

se encontram formadas e mobilizadas para se<br />

adaptar a esta nova realidade, não perdendo o<br />

foco na continuidade das nossas operações”.<br />

Posto isto, de boa saúde e com o devido<br />

distanciamento, brindemos juntos ao sucesso<br />

do sector com uma bebida fresca, com ou<br />

sem álcool e do seu sabor preferido, porque<br />

a variedade existe, mas não se esqueça: Beba<br />

com moderação.•


36<br />

setembro <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 37<br />

logística<br />

Texto: Fábio Santos<br />

Inovar é a resposta à<br />

evolução dos hábitos<br />

de consumo<br />

No sector alimentar, os hábitos dos<br />

consumidores têm registado uma evolução<br />

enorme. Preocupações ambientais e de<br />

sustentabilidade, maiores cuidados individuais<br />

e a busca por hábitos de vida mais saudáveis<br />

norteiam de grosso modo a mudança.<br />

Responder às novas exigências é o desafio da<br />

indústria e do retalho e graças a concursos<br />

como o ECOTROPHELIA, é possível ajudar as<br />

marcas, distinguindo projectos inovadores e<br />

impulsionando assim a mudança.<br />

O<br />

projecto ECOTROPHELIA, a nível<br />

internacional, já conta com 20 edições em<br />

17 países, mas em Portugal vai apenas na<br />

4.ª edição, promovida pela PortugalFoods. A<br />

edição deste ano contou com a participação<br />

de 62 estudantes de 14 instituições de ensino,<br />

que se habilitaram a um prémio monetário<br />

de 2.000 euros, prémios em serviços e a<br />

representar Portugal no ECOTROPHELIA<br />

Europe, em Outubro, no SIAL Paris.<br />

Ecotrophelia PT<br />

João Miranda, Fundador e Chairman da Frulact<br />

Desde 2008, esta competição já mobilizou<br />

mais de 4.000 estudantes, 500 instituições de<br />

ensino e 2.000 empresas, resultando em mais<br />

de 860 produtos alimentares eco-inovadores,<br />

dos quais mais de 100 foram industrializados<br />

ou comercializados.<br />

Representando o lado português, em<br />

entrevista à SCM, João Miranda, fundador e<br />

chairman da Frulact e embaixador do prémio<br />

ECOTROPHELIA Portugal, explica como é que<br />

o prémio tem contribuído para a inovação<br />

do sector agro-alimentar, acompanhando as<br />

mudanças.<br />

- Relativamente aos prémios<br />

ECOTROPHELIA, os participantes são<br />

estudantes, mas as verdadeiras interessadas<br />

são as empresas, sendo que dos mais de 860<br />

projectos eco-inovadores, mais de 100 já<br />

foram industrializados ou comercializados.<br />

Quais são as principais vantagens para as<br />

marcas ao aderir ao projecto e de que forma<br />

são desenvolvidos estes projectos vencedores?<br />

> Com quatro edições em Portugal, que<br />

possibilitaram a criação de dezenas de<br />

produtos por parte dos estudantes nacionais,<br />

o prémio ECOTROPHELIA tem contribuído<br />

ao longo dos anos para a inovação do sector<br />

agro-alimentar e para a sua constante<br />

adaptação às necessidades e desafios que<br />

vão surgindo, ajudando na revitalização do<br />

ecossistema e das suas organizações.<br />

O prémio fomenta a ligação entre o mundo<br />

académico e empresarial, com as empresas<br />

parceiras a terem a oportunidade de contactar<br />

com um grupo de jovens criativos e dinâmicos<br />

e com as suas ideias, pensadas para o<br />

contexto actual. Os profissionais do sector têm<br />

acesso à bolsa de talentos e a oportunidade<br />

de conhecer os projectos em primeira mão<br />

na competição nacional. Alguns contribuem<br />

mesmo com matéria-prima, mediante o pedido<br />

das equipas. Temos algumas parcerias que<br />

possibilitam que a equipa vencedora receba<br />

apoio/mentoria após a competição nacional<br />

e pré-competição europeia, de forma a<br />

que possa melhorar o seu projecto que vai<br />

representar Portugal na fase final. Por outro<br />

lado, permite-se à academia estar próxima<br />

da realidade empresarial, retirando o máximo<br />

de conhecimento que advém da experiência<br />

dos profissionais e dando aos estudantes uma<br />

oportunidade de aplicação prática.<br />

Na competição nacional, existe esta<br />

partilha de opinião, mas também, por vezes,<br />

o interesse dos empresários em apoiar<br />

o desenvolvimento dos projectos (póscompetição)<br />

para entrada no mercado.<br />

Nesse sentido, acreditamos que o prémio<br />

ECOTROPHELIA representa um ‘win-win’<br />

para as duas frentes, dadas as dinâmicas<br />

colaborativas que fomenta. O nosso objectivo<br />

passa por ter sempre mais e melhores<br />

produtos eco-inovadores, capazes de chegar<br />

ao mercado e contribuir para a sua inovação,<br />

que é a chave para continuar a crescer<br />

dentro e fora de Portugal, principalmente no<br />

momento de fragilidade que vivemos.<br />

- É impossível falar de inovação sem<br />

falar de risco. Sendo o ECOTROPHELIA<br />

um prémio que promove a eco-inovação,<br />

o empreendedorismo e a competitividade<br />

no sector agro-alimentar, como é que as<br />

empresas encaram e lidam com o risco<br />

associado ao desenvolvimento de novos<br />

produtos?<br />

> A inovação, mais do que um risco, é um<br />

investimento necessário. O risco é a variável<br />

mais importante na gestão e a inovação é o<br />

processo mais eficaz na sua mitigação. O maior<br />

risco será, seguramente, não inovar, desde<br />

logo porque permite às empresas ajustar a<br />

sua oferta às novas tendências, procura e<br />

expectativas do mercado e dos consumidores.<br />

Hoje, os ciclos de vida dos produtos são cada<br />

vez mais curtos, precisamente porque se<br />

percebeu que só com o esforço de inovação<br />

e lançamento de novas linhas se consegue<br />

manter uma dinâmica de reposicionamento e/<br />

ou extensão de produtos e gamas, que permita<br />

competir no mercado global. A par disso, o<br />

actual contexto provocado pela COVID-19 tem<br />

vindo a desafiar as empresas a ajustarem a sua<br />

oferta. Se uma empresa não o fizer, outra o<br />

fará e esse espaço será seguramente ocupado.


38 SETEMBRO <strong>2020</strong><br />

SCM Supply Chain Magazine 39<br />

- O desenvolvimento de edições limitadas<br />

vem estudar a recepção do mercado e ajudar<br />

as empresas a ter conhecimento da adesão e<br />

do feedback do consumidor final, minimizando<br />

assim os riscos associados à inovação?<br />

> Algumas empresas fazem-no com esse<br />

intuito e é indubitavelmente um dos modelos<br />

possíveis para testar a aceitação de um<br />

novo produto no mercado, principalmente<br />

para algumas categorias e em alguns canais<br />

específicos, mitigando os riscos e evitando o<br />

insucesso.<br />

Não obstante, as edições limitadas ou<br />

produtos sazonais, ditos produtos in & out,<br />

na sua essência permitem aos consumidores<br />

novas experiências de consumo, havendo<br />

casos em que o sucesso é tal que se justifica a<br />

sua passagem definitiva para o pipeline.<br />

Há excelentes exemplos dessa tipologia de<br />

produtos, que, por determinadas razões,<br />

como a dificuldade de encontrar consistência<br />

ou escala da cadeia de fornecimento para<br />

uma determinada matéria-prima, é a única<br />

maneira de fazer chegar, de forma controlada,<br />

produtos altamente diferenciados, únicos e<br />

excepcionais, sem defraudar as expectativas<br />

dos consumidores, o que permite também um<br />

aumento de notoriedade, fidelização à marca e<br />

crescimento das vendas e margens.<br />

- Passar a produzir um novo produto implica<br />

investimento e mudanças ao nível operacional.<br />

Quais são as principais alterações sentidas na<br />

indústria e no retalho aquando do lançamento<br />

de um novo produto e quais as principais<br />

preocupações que têm?<br />

> Depende do tipo de produto e grau de<br />

inovação de que estamos a falar. Existem<br />

novos produtos cuja inovação não implica<br />

alterações significativas na cadeia de valor.<br />

Se estivermos a falar de uma inovação de<br />

produto com maior disrupção, então, aí<br />

existem alterações mais estruturantes ao nível<br />

da indústria, como a gestão de supply chain e<br />

respectiva rastreabilidade e/ou a incorporação<br />

de novas tecnologias produtivas, que poderão<br />

implicar a alteração do layout produtivo, bem<br />

como processos e práticas de fabrico.<br />

Os desafios para a indústria, neste caso,<br />

são enormes. Além do investimento em<br />

tecnologia, poderá ter implicações ao nível da<br />

eficiência operacional.<br />

Ao nível do retalho, a principal preocupação<br />

prende-se na gestão de espaço e linear,<br />

para dar a visibilidade necessária aos novos<br />

produtos, combinado, ao mesmo tempo, com a<br />

gestão das vendas das outras referências.<br />

-E do lado da indústria, quais os desafios<br />

ao nível da gestão e adaptação das operações<br />

normais ao lançamento de novos produtos?<br />

> Uma parte relevante da inovação na<br />

fileira surge assente em novas embalagens,<br />

mais funcionais, mais ecológicas ou<br />

mais económicas, com menos material e<br />

biodegradáveis. Esta dinâmica, cada vez mais<br />

presente, exige investimentos avultados<br />

nas alterações ou mudanças de tecnologia e<br />

linhas de produção, bem como na formação e<br />

realocação de equipas de gestão.<br />

Uma das maiores vantagens competitivas e<br />

comparativas das empresas do agro-alimentar<br />

da maioria dos países na Europa, em relação<br />

às empresas em Portugal, está assente na<br />

dimensão do mercado de cada uma delas,<br />

o que permite investir com outra segurança<br />

e obter escala mais facilmente, abordando<br />

também os mercados de exportação de<br />

forma diferenciada, com maior agressividade,<br />

competitividade e capacidade de diferenciação<br />

e inovação, o que lhe dá, à partida, uma maior<br />

notoriedade e capacidade de captar valor.<br />

Às empresas portuguesas, por sua vez, exige-<br />

-se maior assunção de risco no pioneirismo<br />

destas decisões de investimento, em que a<br />

variável exportação é factor-chave para os<br />

níveis de produtividade e de competitividade,<br />

exigidos.<br />

-Actualmente, os hábitos dos consumidores<br />

tendem a mudar, e tentam adaptar-se<br />

através de práticas diferenciadoras, como por<br />

exemplo através da sustentabilidade. Quais as<br />

preocupações que as empresas têm mostrado<br />

ter ao nível da responsabilidade social e<br />

ambiental?<br />

> Eu gosto de dizer que a sustentabilidade<br />

é a nova inovação. Nova na essência da<br />

gestão actual, em que a transversalidade da<br />

sustentabilidade se posiciona num patamar<br />

superior ao da inovação e, obrigatoriamente,<br />

a vai condicionar. Deixou de fazer sentido<br />

para as empresas investir em inovação sem<br />

acautelar as variáveis da sustentabilidade.<br />

O ECOTROPHELIA é isto mesmo: a ecoinovação<br />

e a promoção de novo conhecimento,<br />

indutor de inovação e competitividade assente<br />

em conceitos de sustentabilidade. Conceber<br />

ou idealizar um novo produto ou processo<br />

tem, obrigatoriamente, que obedecer a<br />

critérios de respeito pela natureza e garantia<br />

da sua preservação em toda a cadeia de<br />

valor, de respeito e partilha pela comunidade<br />

onde estamos inseridos e com quem nos<br />

relacionamos, e de justiça e partilha nas<br />

relações económicas e de dependência com<br />

os colaboradores e na cadeia de valor onde<br />

nos movemos. A sustentabilidade é mais que<br />

um novo chavão, é a variável crítica para uma<br />

estratégia de longo prazo.<br />

CONNOSCO


40<br />

setembro <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 41<br />

procurement<br />

Estou certo que as empresas, no geral, e<br />

as do alimentar em particular, têm ainda<br />

algum caminho a percorrer relativamente<br />

à sustentabilidade, mas temos assistido<br />

a sinais muito claros nas empresas da<br />

fileira agro-alimentar, impulsionadas pelos<br />

consumidores, principalmente os da geração<br />

Millennial, que são geralmente mais bem<br />

informados e também os que mais têm<br />

revelado uma preocupação social e ambiental<br />

no comportamento de consumo, onde<br />

manifestam que procuram marcas e empresas<br />

com um propósito e sentido de mudança<br />

naquilo que fazem e como fazem, esperando<br />

que estejam alinhadas com o que desejam ver<br />

no mundo e na sociedade.<br />

Os modelos de negócio são construídos<br />

cada vez mais com base na confiança, na<br />

transparência e na total rastreabilidade da<br />

cadeia de valor, estes são valores cada vez<br />

mais escrutinados pelos novos consumidores.<br />

-E relativamente ao aprovisionamento<br />

de matérias-primas mais sustentáveis e<br />

diferenciadoras?<br />

> Nas cadeias de valor do sector alimentar, a<br />

sustentabilidade começa, indubitavelmente,<br />

a montante com preocupações na<br />

sustentabilidade dos recursos e melhoria de<br />

nível de vida das pessoas, na interacção com<br />

os fornecedores e na ligação com a natureza,<br />

de onde provêm as principais matérias-primas.<br />

As relações de transparência entre parceiros<br />

e uma relação cliente-fornecedor tem de<br />

ser muito estreita e de longo prazo, pelo<br />

que esta transição para um modelo de<br />

negócio sustentável leva o seu tempo. Pela<br />

particularidade dos sectores, as grandes<br />

indústrias do chocolate, que dependem<br />

fortemente do cacau, as do café, mas também<br />

as do têxtil, com a produção de algodão,<br />

são excelentes exemplos de como se deve<br />

trabalhar um modelo sustentável ao longo da<br />

cadeia de valor, iniciando-o precisamente na<br />

relação a montante com os países de origem<br />

e com os seus produtores, incentivando boas<br />

práticas de cultivo e exploração agrícola<br />

sustentável.<br />

-Estamos a passar por uma crise pandémica<br />

mundial que tem criado imensas barreiras<br />

e entraves. Quais as principais limitações<br />

criadas no sector da inovação e de que forma<br />

é que as empresas tentam ultrapassar estas<br />

dificuldades?<br />

> A indústria alimentar, principalmente em<br />

contextos adversos como o que vivemos, tem<br />

uma missão a cumprir – fazer chegar, de forma<br />

ininterrupta, alimentos seguros e saudáveis<br />

a milhões de consumidores. E, a fileira agroalimentar,<br />

no seu todo, conseguiu adaptar-se<br />

e reinventar-se, garantindo que os produtos<br />

alimentares nunca faltassem, mesmo em<br />

momentos de muita insegurança e incerteza<br />

por parte dos consumidores. É, pois, desses<br />

processos de readaptação e reinvenção que<br />

rasgam fronteiras aos modelos e processos<br />

tradicionais das empresas, que transformam<br />

as dificuldades em oportunidades, que se cria<br />

valor, tal como se espera da inovação.<br />

Nesta fase de pandemia, em específico, houve<br />

uma necessidade de inovar mais ao nível dos<br />

processos, no sentido de ajustar a capacidade<br />

produtiva e logística às reais necessidades dos<br />

consumidores, que mais que diversidade de<br />

oferta, procuraram abastecer-se de produtos<br />

de primeira necessidade e de produtos que<br />

habitualmente consumiam. Esta reacção,<br />

normal, fez com que as marcas optassem por<br />

privilegiar a produção de referências de maior<br />

consumo, deixando para uma fase posterior as<br />

referências sazonais ou novos lançamentos. •<br />

Texto:<br />

Rafael Ramírez, Ciaran McGinley, and Steve Churchhouse, na Harvard Business Review<br />

Resiliênica no<br />

procurement<br />

Investir no Procurement torna<br />

as empresas mais resilientes<br />

A pandemia COVID-19 veio mostrar que todos os processos podem sofrer imprevistos, mas,<br />

mais importante que isso, trouxe a visão de oportunidades que as empresas podem e devem<br />

agarrar para conseguirem combater de forma eficaz uma crise como a que vivemos. Trata-se<br />

de resiliência e, neste momento, só sobrevive quem a tem incorporada na sua organização.


42 SETEMBRO <strong>2020</strong><br />

SCM Supply Chain Magazine 43<br />

Durante décadas colocou-se a eficiência<br />

no centro da estratégia: execútamos<br />

as operações o mais próximo possível<br />

da capacidade máxima. Solicitou-se pedidos<br />

aos fornecedores de forma alinhada com<br />

os cronogramas da produção. Trabalhouse<br />

arduamente para minimizar os custos<br />

“suando os activos” sob a orientação do<br />

Chief Financial Officer (CFO), e entregouse<br />

retornos financeiros trimestralmente.<br />

De muitas maneiras, este é um sistema<br />

que funcionou notavelmente, mas como a<br />

pandemia COVID-19 deixou dolorosamente<br />

claro, tem uma grande falha: não ajuda as<br />

empresas a desenvolver resiliência. Isto<br />

terá de mudar porque, para sobreviver em<br />

tempos de crise e prosperar a longo-prazo,<br />

as empresas precisam de mudar o seu<br />

pensamento estratégico de just-in-time para<br />

just-in-case.<br />

A crise financeira global de 2008 revelou<br />

os perigos potencialmente catastróficos de<br />

administrar bancos da maneira mais eficiente<br />

possível, com o mínimo de reservas. Após a<br />

crise, os reguladores determinaram que os<br />

bancos mantivessem reservas maiores para<br />

melhorar a sua resiliência. Isso apresentou-<br />

-se como uma reforma importante, mas, na<br />

maioria dos países, foram os contribuintes<br />

que pagaram por essa mudança, o que deixou<br />

os proprietários dos bancos e os seus clientes<br />

sem dificuldades. Já se esperava que os<br />

bancos sentissem que a mudança poderia ser<br />

tomada como um custo para fazer negócios<br />

e a eficiência nesse sector manteve-se como<br />

a parte mais importante da actividade, como<br />

ocorreu em todo o sector privado.<br />

O cenário agora é diferente. Os governos<br />

de todo o mundo imprimiram e distribuíram<br />

tanto dinheiro para salvar empresas em<br />

falência durante esta pandemia que agora<br />

adquiriram uma participação importante<br />

em todos os sectores da economia. Nos<br />

próximos anos, isto irá mudar profundamente<br />

a natureza da relação entre o sector público<br />

e o sector privado. Agora que o público<br />

possui tantas dívidas em empresas privadas,<br />

desenvolverá um desejo e capacidade<br />

crescente de orquestrar o que acontece no<br />

mercado. O envolvimento do estado nesse<br />

novo nível significará novos valores. Pense,<br />

por exemplo, se as suas expectativas são<br />

maiores enquanto cidadão ou consumidor.<br />

O que estamos a testemunhar neste<br />

momento é um movimento acelerado em<br />

direção à ‘stakeholder economy’, que é uma<br />

mudança na qual as empresas prestam<br />

contas não só aos accionistas, mas também<br />

aos funcionários e clientes, fornecedores e<br />

distribuidores, investidores e sociedade em<br />

Para sobreviver em tempos<br />

de crise e prosperar a<br />

longo-prazo, as empresas<br />

precisam de mudar o seu<br />

pensamento estratégico<br />

de just-in-time para just-<br />

-in-case<br />

geral. Mais do que nunca, as empresas agora<br />

terão de prestar atenção aos municípios<br />

onde possuem instalações, aos impactos<br />

ambientais dos seus produtos, e às normas,<br />

culturas e direitos das comunidades em que<br />

operam.<br />

Como podem as empresas desenvolver a<br />

resiliência de que precisam para enfrentar<br />

de maneira estratégica e eficaz este novo<br />

desafio e satisfazer o que, às vezes, são<br />

interesses e valores concorrentes? Tirando o<br />

poder do CFO e aplicando-o no procurement.<br />

Antigamente, a palavra tinha um sentido


44 SETEMBRO <strong>2020</strong><br />

45<br />

mais amplo, envolvendo o ‘processo de<br />

criar algo’ e, agora, propõe-se que os<br />

líderes comecem a pensar nela com esse<br />

sentido. Implementada estrategicamente,<br />

as compras podem ajudar as empresas a<br />

criar ‘constelações de valor’ inteiras, em<br />

vez de simples cadeias de valor, nas quais<br />

os stakeholders estão conectados uns aos<br />

outros de maneira holística e dinâmica. Como<br />

referem Rafael Ramirez, um dos autores do<br />

presente artigo, com Richard Normann num<br />

artigo para a Harvard Business Review em<br />

1993, ‘constelações de valor’ são sistemas<br />

altamente resilientes que não podem ser<br />

criados com o foco na eficiência financeira.<br />

Citaram o modelo do IKEA que consiste em<br />

tratar os seus clientes como fornecedores e<br />

tratar muitos dos seus fornecedores como<br />

clientes, dando-lhes conselhos, comprando<br />

em massa para eles e instruindo-os sobre<br />

que equipamentos utilizar. No IKEA o valor<br />

não é produzido em etapas distintas por<br />

uma pessoa de cada vez, e adicionado ao<br />

próximo sequencialmente. Em vez disso, é<br />

co-produzido por muitas partes interagindo<br />

entre si ao mesmo tempo, uma maneira muito<br />

mais eficaz e resistente de gerar e manter<br />

valor.<br />

Como podem as empresas<br />

desenvolver a resiliência de<br />

que precisam para enfrentar de<br />

maneira estratégica e eficaz este<br />

novo desafio e satisfazer o que,<br />

às vezes, são interesses e valores<br />

concorrentes? Tirando o poder do<br />

CFO e aplicando-o no procurement<br />

Rafael Ramirez e Ulf Mannervik, chairman<br />

e co-fundador da NormannPartners,<br />

actualizaram recentemente esses insights<br />

para a Networked World que analisou como<br />

o design de tais sistemas de co-produção<br />

são realmente realizados. Um dos casos<br />

mostra como a concessionária francesa de<br />

electricidade EDF identificou oportunidades<br />

no processo de compras dos seus clientes<br />

no Sudeste Asiático, onde achou que<br />

poderia apoiá-los, e, de seguida, criou uma<br />

empresa totalmente nova com parceiros<br />

para abastecer essas necessidades. No<br />

modelo de co-produção o que importa não<br />

é o poder relativo, mas as relações entre<br />

todos os stakeholers e os múltiplos papéis<br />

que desempenham nesta relação. Projecte<br />

um sistema que crie valor melhorando essas<br />

relações e todas as partes ficam a ganhar.<br />

Pensar estrategicamente sobre compras torna<br />

isso possível.<br />

Recentemente, foi possível apresentar<br />

este argumento à liderança sénior de um<br />

departamento de compras europeu que,<br />

a cada ano, compra muitos milhões de<br />

dólares em serviços e bens a um conjunto<br />

complexo de fornecedores internacionais.<br />

O departamento necessitava de obter<br />

orientação na reformulação do seu sistema<br />

de fornecedores e, para isso, criaram-se<br />

e executaram-se workshops estratégicos,<br />

onde se incluíram estudos de caso focados<br />

em empresas que já tinham projectado e<br />

implementado novos sistemas de criação<br />

de valor baseados em compras estratégicas.<br />

Estes workshops foram realizados no<br />

contexto da actual pandemia que permitiu<br />

aos participantes explorar como poderiam<br />

projectar sistemas semelhantes numa<br />

realidade pós-COVID-19.<br />

Um desses casos passa-se com a Rolls<br />

Implementada estrategicamente, as compras podem ajudar as empresas a<br />

criar ‘constelações de valor’ inteiras, em vez de simples cadeias de valor,<br />

nas quais os stakeholders estão conectados uns aos outros de maneira<br />

holística e dinâmica<br />

Royce. No início dos anos 90, quando esta<br />

empresa era um pequeno player no mercado<br />

da tecnologia de propulsão, com uma<br />

cadeia de abastecimento muito tradicional,<br />

começou a redefinir o paradigma de criação<br />

de valor da sua indústria: trabalhar com<br />

cadeias de abastecimento tradicionais<br />

significava ter intermináveis ‘brigas de<br />

margem’ com clientes e fornecedores, o que<br />

levou a resultados de win-lose para muitas<br />

partes, particularmente aquelas com um<br />

poder de mercado relativamente fraco. Em<br />

vez de se focar na eficiência dentro desse<br />

contexto, a Rolls Royce decidiu focar-se na<br />

gestão de relacionamentos a longo-prazo,<br />

tendo oferecido contratos de hora a hora às<br />

companhias aéreas que determinava que não<br />

comprariam simplesmente motores e peças<br />

suplentes à Rolls Royce, mas pagariam pela<br />

propulsão consumida. Por outras palavras,<br />

a empresa optou por vender algo que os<br />

clientes consideram mais um serviço do<br />

que um bem, uma decisão que a tornou<br />

rapidamente líder do sector.<br />

Esta aposta foi amplamente anunciada,<br />

mas o que é menos conhecido é que a<br />

empresa criou as condições para o sucesso,<br />

trabalhando arduamente para desenvolver<br />

uma rede altamente persistente de parcerias<br />

de compras fiáveis com companhias aéreas,<br />

lojas de revisão, produtores de sistemas e<br />

peças, instituições financeiras e até nações.<br />

Todos os esforços se concentraram em<br />

minimizar e reconciliar os vários tipos de<br />

valor no ciclo de vida dos activos do motor,<br />

desde o projecto à disposição. O resultado<br />

foi uma conjugação de riscos, a co-produção<br />

de valores e a partilha de recompensas<br />

que criaram uma ‘constelação de valores’<br />

resiliente que beneficiou todos os envolvidos.<br />

À medida que as empresas se concentram<br />

menos na eficiência e mais na resiliência, as<br />

compras tornam-se centrais na estratégia.<br />

Isso ocorre porque o procurement está<br />

posicionado de forma única para orquestrar<br />

sistemas de criação de valor que podem<br />

acomodar detentores de valor incompatíveis,<br />

suportar exógenos choques, partilhar<br />

cargas e crescer dinamicamente. Aqui há<br />

uma lição importante: quando a resiliência<br />

é a prioridade, executar correctamente o<br />

procurement pode ser a estratégia.•


46<br />

setembro <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 47<br />

procurement<br />

Pedro Hugo Rocha<br />

E agora, o que vem aí<br />

para o Procurement?<br />

PROCUREMENT <strong>2020</strong>: BASTA<br />

RECOMEÇAR OU É NECESSÁRIO<br />

UM RESET ?<br />

Em Julho de <strong>2020</strong>, tive o gosto de participar na<br />

Procurement Digital Conference, num painel de<br />

debate com o tema “E agora, o que vem aí para o<br />

Procurement - basta recomeçar ou é necessário um<br />

reset?”<br />

Texto:<br />

Pedro Hugo Rocha, Global Procurement Director<br />

Center of Excellence no Campari Group<br />

Neste artigo tento resumir os quatro<br />

temas que, na minha óptica, ganharam<br />

importância com a emergência trazida<br />

pelo COVID-19. Propositadamente, não coloco<br />

a questão da tecnologia e do digital como<br />

um dos quatro temas porque considero que<br />

a tecnologia é um enabler estratégico para<br />

todos os temas que debatemos hoje em dia no<br />

Procurement, é omnipresente e transversal,<br />

e o COVID-19 veio reforçar ainda mais este<br />

conceito.<br />

Gestão de custos e de cash<br />

flow<br />

Não é um tema novo para o Procurement e,<br />

na minha perspectiva, nunca deixou de ser a<br />

prioridade número um do Procurement, apesar<br />

de muito se debater sobre as outras áreas<br />

onde o Procurement pode criar valor para a<br />

empresa. Em boa verdade, se perguntarmos à<br />

gestão executiva das empresas o que espera<br />

do Procurement, estou convencido que a<br />

grande maioria colocará o tema da gestão de<br />

custos e de cash no topo das prioridades.<br />

Com a emergência COVID-19, este tema<br />

ganha ainda mais importância. Julgo que há,<br />

no entanto, um ponto que potencialmente<br />

sairá reforçado, que é a colaboração com<br />

fornecedores para gerar poupanças numa<br />

lógica de benefício partilhado. Penso que<br />

não será eficaz procurar savings ou cash<br />

recorrendo aos métodos tradicionais de<br />

negociação de preços e de redução de<br />

margens de fornecedores, numa lógica de<br />

competição. Alguns fornecedores estarão<br />

já debaixo de grande pressão para gerir a<br />

emergência. Pressionar ainda mais, pode levar<br />

a consequências indesejáveis.


48 setembro SETEMBRO <strong>2020</strong><br />

SCM Supply Chain Magazine 49<br />

Um bom exemplo da geração colaborativa<br />

de benefícios é o supply chain finance, um<br />

mecanismo que permite libertar cash flow<br />

para a empresa e para o fornecedor numa<br />

lógica win-win.<br />

Gestão de risco e resiliência<br />

A emergência COVID-19 mostrou que o<br />

Procurement está à altura de dar respostas<br />

operacionais às necessidades do negócio,<br />

necessidades essas que variavam todos os<br />

dias a um ritmo frenético. Veja-se o exemplo<br />

emblemático do sourcing de material de<br />

protecção individual.<br />

Ao mesmo tempo, pôs a descoberto algumas<br />

lacunas nas áreas mais estratégicas e tácticas<br />

do Procurement. Uma delas é a gestão do<br />

risco. Muitas empresas foram apanhadas pela<br />

avalanche sem uma boa visibilidade da sua<br />

cadeia de fornecedores, principalmente ao<br />

nível de fornecedores tier2.<br />

Este é um ponto de atenção que sairá<br />

reforçado. É necessário o Procurement dedicar<br />

tempo e recursos para melhorar o processo<br />

de gestão de risco de fornecedores, dando<br />

importância às cadeias de fornecimento mais<br />

críticas e/ou estratégicas para o negócio.<br />

Agile Procurement<br />

Estou convencido que o Procurement<br />

encontrará agora uma nova forma de se<br />

organizar e vai adoptar um novo modelo<br />

operativo. A empresa espera que o<br />

Procurement seja mais rápido, mais flexível e<br />

mais atento às mudanças constantes, tanto do<br />

lado das necessidades da empresa (contexto<br />

interno) como do lado dos mercados de<br />

fornecimento (contexto externo).<br />

O Procurement deverá trabalhar numa<br />

lógica mais ágil, isto é, assente em projectos<br />

de curta duração (“sprints”) com equipas<br />

multi-disciplinares, sendo o objectivo principal<br />

dar resposta a problemas concretos do<br />

negócio. Se a ideia não funcionar, então párase<br />

de executar, aprende-se e parte-se para o<br />

próximo projecto. Se a ideia funcionar, então<br />

consolida-se a implementação e escala-se<br />

rapidamente. Esta forma “agile” de trabalhar<br />

requer um mindset específico de ter iniciativa<br />

para encontrar soluções, de aceitar o erro<br />

como forma de aprender e de ter resiliência.<br />

Sustentabilidade e<br />

Responsabilidade Social<br />

Várias organizações, entre as quais a<br />

União Europeia, estão a colocar o tema<br />

da sustentabilidade e da economia verde<br />

no centro do programa de recuperação da<br />

economia pós-covid-19. Os consumidores<br />

estão muito atentos ao que as empresas<br />

estão a fazer neste período, em termos<br />

de responsabilidade social e de contribuir<br />

para ajudar as comunidades a lidar com a<br />

emergência. Esta é uma realidade a que as<br />

empresas, e por consequência o Procurement,<br />

não podem ficar alheios.<br />

Será necessário ao Procurement reforçar nos<br />

seus planos os temas de sustentabilidade e de<br />

Food Service Logistics<br />

O seu parceiro de negócio<br />

HAVI.COM<br />

responsabilidade social. Em concreto, poderá<br />

passar por estabelecer critérios específicos<br />

nos processos de qualificação e selecção de<br />

fornecedores nos concursos de compra, e<br />

de avaliação de fornecedores ao longo do<br />

tempo de vida dos contratos. Num estado<br />

de maturidade mais avançado, as empresas<br />

poderão fazer iniciativas específicas de<br />

promoção da economia circular, por exemplo<br />

reformulando as supply chains dos produtos<br />

que compram para alcançar o maior efeito<br />

possível de circularidade (os cinco R’s : refuse,<br />

reduce, resuse, repurpose, recycle).<br />

Muitas empresas poderão já estar a seguir<br />

estas práticas, mas estou convencido que<br />

os critérios de sustentabilidade deverão<br />

ganhar peso nos processos de decisão do<br />

Procurement.•


50<br />

SETEMBRO <strong>2020</strong><br />

Para grandes desafios,<br />

grandes parceiros<br />

intralogística<br />

Beiersdorf e LPR<br />

Flexibilidade e<br />

disponibilidade<br />

A Beiersdorf, fabricante de marcas como a Nivea e a Elastoplast, estava a passar por grandes<br />

desafios no seu armazém em West Midlands, na Inglaterra, devido às especificidades das paletes do<br />

Reino Unido, que são bem diferentes das Europaletes. A LPR disponibilizou-se para ajudar e daqui a<br />

seis meses irão avaliar os progressos da operação.<br />

Texto: Ana Paiva<br />

Fotos: LPR<br />

Um dos grandes desafios pelo qual a<br />

Beiersdorf estava a passar consistia na<br />

logística de transferir os produtos da<br />

Europaletes para paletes standard do Reino<br />

Unido, o que significava que a empresa<br />

não era tão receptiva às necessidades dos<br />

clientes como gostaria quando chegava uma<br />

encomenda urgente.<br />

A maioria dos produtos da empresa são<br />

importados da Europa através da Europaletes,<br />

mas a maioria da sua carteira de clientes no<br />

Reino Unido só aceita produtos em paletes<br />

deste país.<br />

Utilizando inversores de paletes, a<br />

Beiersdorf virava cada Europalete armazenada<br />

de lado, libertava-a e substituía-a por uma do<br />

Reino Unido. Estas são mais largas do que as<br />

Europaletes, por isso, esta operação resulta<br />

apenas em três quartos da palete coberta<br />

com produtos. Posteriormente, a empresa<br />

preenchia manualmente este espaço com<br />

produtos adicionais do mesmo lote e, sem<br />

seguida, voltava a embalar a palete para ser<br />

enviada para o cliente. Este era um processo<br />

moroso que chegava a levar oito minutos e<br />

meio por palete.<br />

SCM Supply Chain Magazine 51<br />

Isto significa que os produtos<br />

que enviamos para os clientes<br />

do Reino Unido têm de ser<br />

substituídos [convertidos de<br />

Europaletes para paletes do<br />

Reino Unido] antes de saírem do<br />

armazém. Isto abranda o nosso<br />

processo de entrega e torna<br />

os prazos de resposta mais<br />

apertados<br />

“Isto significa que os produtos que enviamos<br />

para os clientes do Reino Unido têm de ser<br />

substituídos [convertidos de Europaletes para<br />

paletes do Reino Unido] antes de saírem do<br />

armazém. Isto abranda o nosso processo de<br />

entrega e torna os prazos de resposta mais<br />

apertados”, revela Peter Austin, responsável<br />

de transporte da Beiersdorf no Reino Unido e<br />

na Irlanda.<br />

Antigamente, o processo da troca de paletes<br />

decorria imediatamente antes dos artigos<br />

saírem para o armazém, mas isso tornava-se<br />

difícil caso a encomenda fosse urgente.


52 SETEMBRO <strong>2020</strong><br />

A intervenção da LPR<br />

O segundo desafio da empresa era recorrente<br />

com um grande cliente, o qual não eram<br />

capazes de satisfazer através do fornecedor de<br />

paletes existente. É aqui que entra a LPR.<br />

“A ASDA Lutterworth não podia aceitar<br />

os nossos produtos nas paletes do nosso<br />

fornecedor anterior porque o seu sistema de<br />

entrada automática rejeitava-as. Isto incitounos<br />

a falar com a LPR, pois tínhamos de<br />

encontrar uma solução”, refere Peter Austin,<br />

acrescentando que “não mudar de fornecedor<br />

de paletes deixar-nos-ia numa posição em que<br />

tínhamos de trocar as Europaletes quando<br />

recebíamos a mercadoria e, depois, éramos<br />

forçados a trocar a mesma palete novamente<br />

à saída da mercadoria para satisfazer os<br />

seus requisitos. Isto criou uma complexidade<br />

logística que teve impacto no negócio”.<br />

A empresa necessitava de um fornecedor<br />

que estivesse preparado para ser flexível e que<br />

conseguisse “pensar fora da caixa”. Quando<br />

apresentaram o concurso, foi a LPR que se<br />

disponibilizou para ajudar com todos estes<br />

desafios. Ofereceram-se para experimentar<br />

durante os primeiros seis meses para<br />

compreender o requisito do tempo de espera<br />

real, caracterizado por Peter Austin como “um<br />

gesto simples, mas que significou muito”.<br />

Assim, era necessário encontrar uma<br />

solução para que a Beiersdorf se tornasse mais<br />

receptiva às necessidades dos clientes e que<br />

acelerasse a distribuição dos produtos. Para<br />

alcançar esta meta, teriam de implementar um<br />

processo para mudar e substituir as paletes<br />

à entrada do armazém. O problema é que<br />

não sabiam durante quanto tempo teriam de<br />

utilizar as paletes no local e, por conseguinte,<br />

quais seriam as implicações em termos de<br />

custos.<br />

Através deste novo processo, a Beiersdorf<br />

iria usar as paletes do Reino Unido durante<br />

períodos maiores, entre 40 a 45 dias, em vez<br />

de 15 ou 16 dias com o sistema anterior em<br />

que só necessitavam de paletes na altura do<br />

envio.<br />

A empresa e a LPR concordaram em reunirse<br />

após os seis meses da operação para<br />

analisar o processo, tendo definido um tempo<br />

de espera padrão para o futuro.<br />

“Durante o processo do concurso, não<br />

pedimos favores. Pedimos apenas pessoas<br />

que trabalhassem connosco. A resposta que<br />

obtivemos da LPR foi incrivelmente forte e<br />

com uma perspetiva visionária”, termina o<br />

responsável de transporte da Beiersdorf no<br />

Reino Unido e Irlanda. •<br />

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54 setembro SETEMBRO <strong>2020</strong><br />

SCM Supply Chain Magazine 55<br />

Tecnologias<br />

Rastreabilidade dos<br />

produtos e produção<br />

controlada<br />

Texto: Fábio Santos<br />

Fotos: Auchan<br />

Auchan é<br />

pioneira<br />

nacional no<br />

uso de<br />

blockchain<br />

A Auchan apresentou recentemente o<br />

seu novo projecto de rastreabilidade<br />

através de blockchain, pioneiro<br />

em Portugal, que permite que o<br />

consumidor conheça o percurso de<br />

vida dos artigos da cadeia de retalho<br />

desde a sua origem até ao momento<br />

da compra. Os primeiros artigos<br />

a receber esta tecnologia foram<br />

a alface, melão e melancia Vida<br />

Auchan, numa parceria com a Planície<br />

Verde, e já se encontram à venda nas<br />

lojas da retalhista.<br />

Os hábitos dos consumidores têm vindo a<br />

alterar-se aos poucos nos últimos anos, e<br />

vão além dos próprios gostos e dos novos<br />

produtos que vão surgindo no mercado: cada<br />

vez mais a preocupação está na forma de<br />

actuação das marcas, com um importante<br />

foco nas responsabilidades ambiental e<br />

social. Sente-se uma aliança às marcas que<br />

também representem as suas preocupações, e<br />

conseguem desvincular-se facilmente de uma<br />

por passar uma imagem oposta àquela em que<br />

acreditam, pelo que as empresas tentam cada<br />

vez mais mostrar-se preocupadas em passar as<br />

suas mensagens.<br />

A chave para a comunicação entre as marcas<br />

e o consumidor é a transparência. As empresas<br />

pretendem que o consumidor perceba e<br />

tenha conhecimento das suas práticas e<br />

preocupações de forma a que estejam em<br />

sintonia e que os consumidores se aproximem<br />

delas.<br />

Como forma de obter essa visibilidade,a<br />

Auchan investiu num programa pioneiro<br />

em Portugal tendo como base o uso de<br />

blockchain para assegurar que os seus clientes<br />

teriam disponível toda a informação sobre<br />

determinado produto alimentar, mesmo antes<br />

de o comprarem, e poderem, através de um<br />

código de leitura QR presente na etiqueta,<br />

conhecer a história por detrás deles, desde a<br />

sua produção. Os primeiros produtos a utilizar<br />

esta tecnologia foram as alfaces, os melões e<br />

as melancias da Planície Verde, empresa com<br />

a qual a Auchan já tem uma parceria há vários<br />

anos, e foram lançados para o mercado no<br />

final do primeiro semestre do ano.


56 setembro <strong>2020</strong><br />

SCM Supply Chain Magazine 57<br />

José Cordeiro, responsável Produtos,<br />

Fornecedores e Fileira na Auchan Retail<br />

Portugal, explica que começaram pela<br />

Planície Verde para iniciar a implementação<br />

da fileira Auchan Produção Controlada,<br />

anterior Vida Auchan, por ser um dos mais<br />

antigos fornecedores, pelo conhecimento que<br />

têm dele, por ser um processo simplificado,<br />

mas suficientemente robusto para testar a<br />

tecnologia, e pelo “nível de qualidade elevado,<br />

com condições para fazer um teste piloto de<br />

sucesso”.<br />

Por parte da Planície Verde, Asdrúbal<br />

Machado, gestor comercial da empresa, conta<br />

que a Auchan lhes propôs iniciar este projecto,<br />

“pioneiro no nosso país e sector de actividade<br />

onde, através de um sistema de blockchain,<br />

poderíamos dar o próximo passo no acesso<br />

à informação de toda a rastreabilidade dos<br />

nossos artigos Vida Auchan directamente<br />

ao consumidor”. Explica que o processo de<br />

implementação demorou alguns meses, e que<br />

o sistema de cadeia blockchain actualmente<br />

implementado foi desenvolvido pela TE-<br />

FOOD, tecnológica com quem a Auchan tem<br />

um acordo a nível corporate.<br />

Pioneiro no nosso país e sector<br />

de actividade onde, através<br />

de um sistema de blockchain,<br />

poderíamos dar o próximo<br />

passo no acesso à informação<br />

de toda a rastreabilidade dos<br />

nossos artigos Vida Auchan<br />

directamente ao consumidor<br />

O rastreamento dos<br />

produtos<br />

Inicialmente é feita uma parceria de confiança<br />

com os fornecedores, e é necessário haver<br />

disponibilidade para o fazer, e só depois é<br />

construído o processo. A sua complexidade<br />

depende também da dos dados e variáveis que<br />

pretendem introduzir no sistema, que deve ser<br />

adaptado aos propósitos de transparência e<br />

confiança.<br />

“O processo começa com a recolha de<br />

informação disponível tendo em conta as<br />

possibilidades do produtor”, começa por<br />

explicar José Cordeiro, e pode ser feito<br />

com informação base, incluindo fotos e<br />

vídeos, focadas nos locais de produção e<br />

características do produto, tendo ainda<br />

a possibilidade de evoluir, mais tarde,<br />

para informação dinâmica, no caso de<br />

a variabilidade dos produtos e locais de<br />

produção serem numerosos, possibilitando<br />

a identificação de cada local de produção de<br />

lote ou conjunto de lotes.<br />

Posto isto, constrói-se um modelo ou<br />

Asdrúbal Machado<br />

“mockup”, avaliam-se as possibilidades,<br />

edita-se e melhora-se até chegar ao modelo<br />

final, valida-se e entra-se na produção<br />

do blockchain. Neste passo, a informação<br />

encriptada, inalterável e agregada por<br />

blocos é transmitida, visualmente, através<br />

de um código QR, que pode ser lido por um<br />

smartphone para ser encaminhado para a<br />

informação sobre o produto.<br />

“É um processo que se encontra na sua fase<br />

inicial, mas que garante ao consumidor toda<br />

a informação sobre os artigos Vida Auchan<br />

que adquire, através da leitura de um código<br />

QR, que dá acesso a um website onde tem os<br />

dados referentes ao seu artigo, tais como os<br />

dados do fornecedor, lote do artigo, local de<br />

colheita, informação nutricional, ou acesso a<br />

outras informações dinâmicas que permitem<br />

um maior contacto e interação por parte do<br />

consumidor final com o artigo adquirido”,<br />

explica Asdrúbal Machado.<br />

Ao nível da adaptação ao sistema, ainda<br />

não houve necessidade de adquirirem novos<br />

equipamentos, nem da parte do produtor,<br />

nem da parte da retalhista, “uma vez que<br />

o parceiro tecnológico incorpora o valor<br />

com os dispositivos que temos”, explica,<br />

mas não exclui a possibilidade de haver<br />

uma necessidade de upgrades ou de novos<br />

equipamentos consoante a complexidade da<br />

operação vá evoluindo.<br />

“A dificuldade maior não está na tecnologia,<br />

pois há um parceiro que a domina, mas no<br />

alinhamento com os produtores que têm<br />

características diferentes, necessitando por<br />

isso de uma motivação forte”, explica José<br />

Cordeiro, suportado por Asdrúbal Machado,<br />

que conta que “não foi um processo difícil de<br />

implementar”. Segundo revela o responsável<br />

da Planície Verde, a implementação obrigou<br />

a alguns ajustes, de modo a adaptar a<br />

informação de blockchain às máquinas de<br />

embalamento e de etiquetagem, e visto que<br />

a Planície Verde já tinha todo um sistema de<br />

rastreabilidade implementado, “foi apenas<br />

uma questão de ajustar ao blockchain”.


58<br />

setembro <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 59<br />

É um processo que se<br />

encontra na sua fase<br />

inicial, mas que garante<br />

ao consumidor toda a<br />

informação sobre os artigos<br />

Vida Auchan que adquire,<br />

através da leitura de um<br />

código QR<br />

Asdrúbal Machado<br />

fluida, sem ser necessário muita intervenção<br />

do exterior, é um meio que pode ser usado<br />

com vantagem, garantindo a inviolabilidade<br />

desses dados. Foi isso que permitiu gerar as<br />

cadeias de confiança da moeda digital Bitcoin”.<br />

“A rastreabilidade, para além de uma<br />

obrigatoriedade, é um factor de confiança<br />

que é transmitido ao cliente quando adquire<br />

qualquer artigo. A transparência do nosso<br />

trabalho sempre fez parte dos princípios<br />

da Planície Verde, como tal, não eram nem<br />

são preocupações, mas sim valores com que<br />

nos guiamos no nosso dia-a-dia”, comenta<br />

Asdrúbal Machado.<br />

Em termos de conclusão, o responsável<br />

da Planície Verde conta que “a confiança por<br />

parte do consumidor final nos artigos que<br />

adquire, e o acesso a toda a informação sobre<br />

A rastreabilidade, para além de<br />

uma obrigatoriedade, é um factor<br />

de confiança que é transmitido<br />

ao cliente quando adquire<br />

qualquer artigo<br />

José Cordeiro<br />

o mesmo, é cada vez mais uma exigência do<br />

mercado. A Planície Verde, enquanto um dos<br />

principais produtores de frutos da terra a nível<br />

nacional, tem toda a intenção de continuar a<br />

poder garantir aos seus parceiros e, portanto,<br />

o blockchain é uma ferramenta que vem<br />

optimizar todo este processo”.•<br />

Impacto e potencial da<br />

tecnologia<br />

O responsável da Planície Verde explica<br />

que a implementação do sistema não teve<br />

impacto na produção, apesar de existirem<br />

processos adicionais, mas que traz vantagens,<br />

especialmente para o consumidor final, que tal<br />

como os agentes da cadeia também pode ver<br />

todo o processo “desde o campo à sua mesa”.<br />

José Cordeiro revela que os primeiros testes<br />

foram feitos no Vietname, quando o governo<br />

quis organizar um sistema de rastreabilidade<br />

da produção agrícola. Ao mesmo tempo, isso<br />

permitiu criar uma cadeia de abastecimento<br />

e facilitar a facturação através de um simples<br />

smartphone. Ao nível da leitura de códigos<br />

contam com os sistemas de EDI e incorporação<br />

manual de dados em logística da GS1, que<br />

também permitem que o distribuidor levante<br />

os bens do produtor e entregue às lojas.<br />

À data do anúncio dos testes no Vietname,<br />

a Auchan falava em testar em Portugal com<br />

a carne de frango, mas o responsável explica<br />

que devido à diversidade de produtores e à<br />

necessidade de alinhamento de equipamento<br />

na fase terminal do produto, o processo<br />

atrasou-se. Para além disso, conta que o<br />

rótulo da embalagem já trazia uma grande<br />

quantidade de informação relacionada com<br />

a produção, e revela que pretendem alterar<br />

essa imagem para tentar fazer coincidir o<br />

processo. Foi também possível “criar um clima<br />

de trabalho, quase rotineiro, com o prestador<br />

de serviços de blockchain”, acrescenta ainda,<br />

facilitando a implementação em Portugal.<br />

José Cordeiro conta que esta tecnologia<br />

tem uma potencialidade enorme, e que “se<br />

as cadeias logísticas tiverem meios que lhes<br />

permitam alinhar e comunicar dados de forma<br />

IMOVEIS PARA VENDA<br />

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60<br />

SETEMBRO <strong>2020</strong><br />

SCM Supply Chain Magazine 61<br />

transporte<br />

Beirute:<br />

uma cidade sem<br />

porto<br />

No dia 4 de Agosto, pouco passava das<br />

18h00, hora local, quando uma mega<br />

explosão no porto devastou grande parte<br />

da cidade de Beirute. Além da gigantesca<br />

tragédia humanitária, a capital do Líbano<br />

vê-se também no meio de um enorme<br />

problema de abastecimento. É esse o foco<br />

aqui.<br />

Matérias perigosas<br />

Texto: Dora Assis<br />

Mergulhado numa das piores crises<br />

económicas em décadas, o Líbano já<br />

passava por problemas de abastecimento<br />

que, agora, devem acentuar-se ainda mais<br />

depois da tragédia que se abateu sobre<br />

Beirute.<br />

É que, pelo porto de Beirute, o local<br />

da explosão, passam 60% do total das<br />

importações do país. Além disso, era também<br />

ali que se localizavam importantes infra-<br />

-estruturas, como é o caso do maior elevador<br />

de grãos da cidade. O elevador de grãos é uma<br />

torre contendo um elevador de caçamba, que<br />

recolhe o grão e que usa a gravidade para em<br />

seguida despejá-los num silo ou noutra forma<br />

de depósito.<br />

Os silos têm uma capacidade total para a<br />

stockagem de 120 mil toneladas de grãos,<br />

segundo Elena Neroba, analista de mercado<br />

da Maxigrain, citada pela BBC, e têm uma<br />

importância estratégica para o Líbano, já que<br />

aproximadamente 85% dos cereais do país são<br />

armazenados naquelas instalações.<br />

No entanto, acredita-se que os silos não<br />

continham grandes quantidades de cereais<br />

no momento da explosão, já que o país<br />

tentava suprir a falta de pão que havia surgido<br />

recentemente devido à actual crise financeira<br />

em que já estava mergulhado.<br />

Dependência das<br />

importações<br />

O Líbano, que vive uma crise financeira,<br />

depende da importação de trigo para garantir<br />

o abastecimento alimentar, uma vez que<br />

a produção nacional cobre apenas 10% do<br />

consumo total do país.<br />

“A procura local do Líbano por trigo varia<br />

entre 35 mil a 40 mil toneladas por mês”,<br />

informou um relatório da agência de rating<br />

Standard & Poor’s. Embora a maioria das<br />

importações de trigo seja feita por moinhos<br />

privados, o governo libanês considerou<br />

no início deste ano importar trigo pela<br />

primeira vez em seis anos, face a crescentes<br />

preocupações com a variação da oferta devido<br />

à pandemia, sendo que a maior parte do trigo<br />

do Líbano vem da Rússia e da Ucrânia.<br />

O trigo é responsável por mais de 80% das<br />

importações agrícolas libanesas, seguido<br />

por milho e cevada e, de facto, a maior parte<br />

do trigo entra no país pelo terminal que foi<br />

atingido no início de Agosto.<br />

O porto é um elo crítico<br />

para a principal rota<br />

comercial do país, lidando<br />

com cerca de 70% das suas<br />

importações<br />

Elo crítico da cadeia<br />

Sendo assim, cresceram os temores de<br />

insegurança alimentar generalizada, sendo<br />

que até o futuro do próprio porto está<br />

em dúvida devido à destruição que foi<br />

desencadeada pelo acidente.<br />

As explosões terão sido desencadeadas<br />

por 2.750 toneladas de nitrato de amónio<br />

que ficaram armazenadas num armazém<br />

portuário durante seis anos, após terem sido<br />

descarregadas de um navio apreendido em<br />

2013. Prevê-se que o impacto da explosão<br />

seja duradouro, pois o porto de Beirute é<br />

considerado um dos portos marítimos mais<br />

importantes do Mediterrâneo, servindo como<br />

ponto de entrada e saída para o Líbano e como<br />

um centro regional e de transbordo entre a<br />

Europa e a Ásia.<br />

O porto é um elo crítico para a principal rota<br />

comercial do país, lidando com cerca de 70 por<br />

cento das suas importações, além de servir<br />

como área de armazenamento de alimentos e<br />

reservas médicas. O volume anual em termos<br />

de movimentação de contentores é de quase<br />

1 milhão de TEU, movimentando quase 3.000<br />

navios e cerca de 6 milhões de tonelagem de<br />

carga por ano.


62 SETEMBRO <strong>2020</strong><br />

SCM Supply Chain Magazine 63<br />

A<br />

EM SUA CASA<br />

Formação ONLINE - LIVE TRAINING<br />

Logística Compras Operações<br />

O impacto de curto prazo nas cadeias de abastecimento e no movimento<br />

de carga no Líbano será severo<br />

> 6, 7 E 8 DE OUTUBRO DAS 10H30 ÀS 12H30<br />

MODELOS DE GESTÃO DE STOCKS<br />

Constrangimentos<br />

operacionais<br />

Os danos são imensos, pois as explosões<br />

danificaram gravemente os equipamentos<br />

portuários, paralisando as operações. Por<br />

outro lado, muitos armazéns na envolvente<br />

foram completamente destruídos, enquanto<br />

as estradas de acesso ao porto, por seu turno,<br />

ficaram bloqueadas e/ou obstruídas por<br />

destroços.<br />

Estima-se que 60% da área do terminal<br />

de contentores tenha ficado destruída, além<br />

de ter sido suspenso todo o funcionamento<br />

alfandegário. Após o encerramento do porto,<br />

as companhias de navegação começaram<br />

a mudar as operações para outros portos<br />

próximos, como o porto de Trípoli e outros<br />

portos adjacentes, incluindo Sidon e Tire, com<br />

mudanças operacionais confirmadas pela MSC,<br />

CMA CGM e Hapag-Lloyd.<br />

Este aumento repentino na procura<br />

pelos portos mais próximos desencadeia<br />

congestionamento, resultando em custos<br />

mais altos e tempos de trânsito mais longos à<br />

medida que as companhias tentam transportar<br />

mercadorias para Beirute ou para outros<br />

destinos na região. Além disso, um aumento<br />

repentino na procura por transporte terrestre<br />

nesses portos pode resultar em escassez de<br />

capacidade temporária, o que se traduz em<br />

atrasos acrescidos no transporte.<br />

O impacto de curto prazo nas cadeias de<br />

abastecimento e no movimento de carga<br />

no Líbano será severo, com o principal<br />

ponto de entrada no país inutilizável e<br />

muitas limitações no redireccionamento do<br />

movimento de mercadorias por terra, uma vez<br />

que algumas regiões do Líbano estão cercadas<br />

pela Síria, devastada pela guerra.<br />

Os supply chain managers mantém-<br />

-se atentos para poderem ir ajustando<br />

às necessidades e possibilidades as suas<br />

operações, rotas e tempos. •<br />

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> 12, 13 E 14 DE OUTUBRO DAS 10H00 ÀS 12H00<br />

GESTÃO DE COMPRAS - do e-Sourcing<br />

às 6 Estratégias Fundamentais<br />

> 13, 14 E 15 DE OUTUBRO DAS 14H00 ÀS 16H00<br />

O ESSENCIAL DA GESTÃO LOGÍSTICA E DA<br />

CADEIA DE ABASTECIMENTO – Revisão<br />

Estratégica no contexto pós-covid19<br />

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64<br />

setembro <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 65<br />

Texto: Dora Assis<br />

transporte<br />

Last mile e a entrega ao<br />

cliente final<br />

Transformação na primeira<br />

milha é eficiência na última<br />

A last mile e a entrega ao consumidor são um dos pontos mais críticos na cadeia de<br />

abastecimento do comércio electrónico. A pandemia causou grandes perturbações nas<br />

cadeias de abastecimento e com o confinamento e consequente abandono de muitas lojas<br />

físicas, o foco voltou-se para o comércio electrónico e, de repente, retalhistas e empresas de<br />

logística empenharam-se a fundo na procura de respostas.<br />

O<br />

crescimento de dois dígitos que se<br />

verificou na indústria nos últimos anos<br />

parece agora destinado a continuar,<br />

ao mesmo tempo que as exigências dos<br />

consumidores por maior conveniência e<br />

entregas mais rápidas, precisas e atempadas<br />

são constantes.<br />

No white paper “A primeira e a última milha<br />

como factor de sucesso no retalho e logística”,<br />

a empresa de tecnologia para a cadeia de<br />

abastecimento Zetes explora os desafios que<br />

a indústria enfrenta ao melhorar a experiência<br />

ao cliente, desde a separação, embalamento e<br />

envio de uma encomenda, à entrega física ao<br />

cliente.<br />

Ao captar todos os pontos pelos quais<br />

um produto passa ao longo da cadeia de<br />

abastecimento, a tecnológica estabelece<br />

formas sobre como podem as organizações<br />

impulsionar a produtividade, aumentar<br />

a eficiência e reduzir os erros em todo o<br />

processo de entrega, e porque agora é o<br />

momento de agir.<br />

20% das entregas falham<br />

Actualmente, um factor que contribui para a<br />

ineficiência na indústria é o enorme volume<br />

de encomendas que não são entregues com<br />

sucesso na primeira tentativa. Um estudo<br />

efectuado no Japão, um mercado de comércio<br />

electrónico em rápido crescimento, revela que<br />

quase 20% das entregas não são efectuadas<br />

na primeira tentativa, e a percentagem é ainda<br />

maior em ambientes urbanos. Claramente,<br />

adicionar etapas às entregas implica um<br />

enorme gasto de custos e recursos. Os estudos<br />

da PCA Predict estimam que o custo das<br />

entregas perdidas e falhadas seja de 15€<br />

por entrega, um valor muito significativo<br />

quando tantas organizações têm margens<br />

incrivelmente reduzidas. Uma vez que a última<br />

milha pode ser responsável por 30% dos<br />

custos totais do cumprimento de encomendas,<br />

em termos de mão-de-obra, transporte e<br />

combustível, o nível atual de ineficiência<br />

de entrega simplesmente não pode ser<br />

sustentado, nem sustentável.<br />

Trabalho mais inteligente<br />

Embora seja evidente que as futuras<br />

tecnologias, incluindo robótica e veículos<br />

autónomos, vão ajudar a melhorar a eficiência<br />

e a sustentabilidade no processo de entrega<br />

de encomendas, estas soluções ainda estão<br />

numa fase inicial de desenvolvimento e<br />

representam um investimento significativo.<br />

Actualmente, os retalhistas e as empresas<br />

de logística precisam de fazer alterações<br />

que forneçam rapidamente a agilidade e o<br />

dimensionamento que permitem às empresas<br />

acompanhar a procura e as expectativas<br />

de forma eficiente em termos de custos.<br />

Também necessitam de trabalhar de forma<br />

mais inteligente utilizando tecnologias<br />

que optimizam os processos críticos, para<br />

que um modelo de logística elástica capaz<br />

de dimensionar as operações possa ser<br />

maximizado.<br />

Um factor que contribui para<br />

a ineficiência na indústria é o<br />

enorme volume de encomendas<br />

que não são entregues com<br />

sucesso na primeira tentativa


66<br />

<strong>Setembro</strong> <strong>2020</strong><br />

carreira<br />

67<br />

A tecnologia pode ser utilizada para melhorar a experiência dos<br />

motoristas e garantir que podem trabalhar com confiança durante<br />

todo o processo de entrega<br />

As novas exigências<br />

do recrutamento<br />

Na primeira milha, as tecnologias baseadas<br />

em visão e captação de imagens estão a ajudar<br />

a transformar os processos de expedição e<br />

envio, assim como erradicar erros. Tecnologias<br />

inovadoras como Visual Sort Assist e<br />

Reconhecimento de voz multimodal exigem<br />

formação mínima, permitindo que as forças de<br />

trabalho fiquem imediatamente produtivas.<br />

Para a máxima flexibilidade e valor, estes<br />

sistemas permitem que as operações utilizem<br />

uma combinação de tecnologias, por exemplo,<br />

combinar voz com digitalização de códigos de<br />

barras.<br />

Melhorar a experiência<br />

do cliente<br />

Na última milha, a tecnologia pode ser<br />

utilizada para melhorar a experiência dos<br />

motoristas e garantir que podem trabalhar<br />

com confiança durante todo o processo de<br />

entrega. Ao harmonizar os dados de estado e<br />

eventos em tempo real, recolhidos em cada<br />

ponto principal da cadeia de abastecimento<br />

para o cliente final, as soluções de prova de<br />

entrega permitem que as empresas optimizem<br />

os processos e melhorem a experiência do<br />

cliente.<br />

O estudo japonês destaca que 42% dos<br />

clientes não sabiam que uma entrega falhada<br />

estava a caminho, pelo que garantir que os<br />

clientes são informados atempadamente das<br />

entregas pode reduzir as novas tentativas de<br />

entrega dispendiosas e diminuir os custos e o<br />

impacto ambiental.<br />

É que os custos financeiros e ambientais<br />

de uma nova tentativa de entrega são muito<br />

significativos:<br />

> As novas tentativas de entrega<br />

correspondem a 25% da distância total<br />

percorrida pelos veículos de entrega de<br />

parcelas<br />

> 420.000 toneladas de CO2 são geradas<br />

todos os anos por veículos de entrega<br />

exclusivamente para efectuar novas tentativas<br />

de entrega<br />

> Isto equivale a 90.000 pessoas a trabalhar<br />

a tempo inteiro apenas para gerir entregas.<br />

Tiago Conceição, especialista em soluções<br />

de transporte na Zetes, salienta que “não<br />

há dúvidas que, no futuro, os robôs e os<br />

veículos autónomos vão desempenhar um<br />

papel importante nas operações de armazém<br />

e de entrega. No entanto, a indústria tem<br />

de começar a tirar partido das opções<br />

inovadoras disponíveis para alcançar um<br />

rápido cumprimento à primeira tentativa e<br />

uma melhor utilização dos recursos. Ao ter<br />

uma infra-estrutura assente numa solução<br />

tecnológica ágil, dimensionável e interligada,<br />

os retalhistas e empresas de logística podem<br />

utilizar a visibilidade de ponta a ponta para<br />

gerir proactivamente todos os passos do<br />

processo. Só então poderão garantir o produto<br />

certo, no local e hora certos, de uma forma<br />

económica e ecológica.” •<br />

Texto: Ana Paiva<br />

Fotos: Get the Job<br />

recrutamento<br />

num futuro<br />

pós-pandemia<br />

Sabe-se que o COVID-19 veio alterar por<br />

completo a forma como vivemos a nossa<br />

vida pessoal e, em alguns sectores, a forma<br />

de trabalhar. Muita coisa mudou, e a área<br />

do recrutamento também sofreu algumas<br />

alterações a nível das características<br />

pretendidas dos profissionais, e mesmo<br />

na forma como o recrutamento é feito nas<br />

empresas.


68 <strong>Setembro</strong> <strong>2020</strong><br />

SCM Supply Chain Magazine<br />

69<br />

Ricardo Prazeres, managing director da<br />

Get the Job, empresa de recrutamento<br />

especializado, explica o que poderá vir<br />

a mudar nos processos de recrutamento<br />

nas áreas da supply chain e procurement,<br />

que estão interligadas: “passa por valorizar<br />

todos os aspectos relacionados com as soft<br />

skills, com especial detalhe às capacidades<br />

de adaptabilidade e resiliência”, explica.<br />

“Ser-se resiliente é característica chave para<br />

o ano de <strong>2020</strong> e vindouros”. É ainda mais<br />

importante que, agora, os profissionais tenham<br />

a capacidade de se adaptar de forma rápida e<br />

Ricardo Prazeres, managing director<br />

Get the job<br />

célere, para que os constrangimentos sejam<br />

resolvidos com maior qualidade. Transpondo<br />

o sucesso também para o entendimento<br />

do negócio e as mudanças que, por vezes,<br />

são necessárias realizar. Pretende-se ainda<br />

que os futuros profissionais tenham uma<br />

mente aberta “com o foco constante na<br />

inovação e processos de melhoria, algo que é<br />

fundamental nas organizações”, revela.<br />

O procurement, área que, segundo Ricardo<br />

Prazeres, tem vindo a ter mais actualizações,<br />

tem ganho cada vez mais relevância nas<br />

empresas uma vez que está direccionada<br />

para a rentabilidade e qualidade do serviço,<br />

aspectos que são ponderados com bastante<br />

assertividade pelas organizações.Os<br />

profissionais desta área, que mantêm uma<br />

postura muito analítica, devem também<br />

acumular algumas competências, no que<br />

diz respeito à comunicação, e ainda ter uma<br />

visão mais abrangente, ou seja, procurar mais<br />

soluções e não estarem sempre confortáveis<br />

com a que está implementada.<br />

Relativamente à área logística, o managing<br />

director acredita que “terá uma actualização<br />

bastante grande, não só focada nas constantes<br />

evoluções dos ERP’s, que visam sempre uma<br />

melhoria do serviço, mas principalmente no fit<br />

cultural das empresas”.<br />

No que diz respeito aos processos de<br />

recrutamento e da adaptabilidade dos<br />

profissionais às empresas, o COVID-19<br />

quebrou algumas barreiras, e demonstrou<br />

a utilidade de certas ferramentas que toda<br />

a gente já tinha acesso, mas não davam<br />

muita relevância. Ricardo Prazeres dá um<br />

exemplo: “antes da pandemia, uma reunião/<br />

entrevista poderia ser feita desta forma [via<br />

digital] e poupava-se tempo e custos”, mas<br />

só agora que é completamente necessário é<br />

que se começou a explorar as competências<br />

destas ferramentas. “Estamos no século XXI<br />

e, provavelmente, temos de mudar muito a<br />

nossa forma de trabalhar e de pensar. Esta foi,<br />

digamos, uma ‘obrigação’ que muitas empresas<br />

tiveram de adoptar”, refere.<br />

Outra das ferramentas que foi obrigatória<br />

em grande parte das empresas foi o<br />

teletrabalho, cujo método também tem vindo<br />

a ser testado também em termos de benefícios<br />

e constrangimentos para as empresas e<br />

para os trabalhadores. “O teletrabalho em<br />

Estamos no século XXI e,<br />

provavelmente, temos<br />

de mudar muito a nossa<br />

forma de trabalhar e de<br />

pensar. Esta foi, digamos,<br />

uma ‘obrigação’ que<br />

muitas empresas tiveram<br />

de colocar<br />

Ricardo Prazeres<br />

si, de acordo com a nossa experiência e de<br />

acordo com várias conversas que temos<br />

vindo a ter em várias áreas de negócio, seja<br />

numa reunião, seja numa entrevista, seja<br />

mesmo no desempenho de função, será<br />

adoptado pela grande parte das empresas.<br />

Preferencialmente o regime misto, é aquele<br />

que mais agrada aos trabalhadores e que<br />

pode servir também melhor os interesses<br />

das empresas”, explica o profissional. Ainda<br />

assim, este pode revelar-se um benefício<br />

por um lado, e uma desvantagem por outro<br />

quando falamos em processos de selecção e<br />

de integração de novos colaboradores. Alguém<br />

que valorize o teletrabalho e a empresa<br />

para a qual se está a candidatar não tem<br />

esta política, pode ser encarado como uma<br />

desvantagem. Por outro lado, as vantagens<br />

principais para as empresas têm como factor<br />

principal a sustentabilidade de custos e risco<br />

reputacional que nesta fase é fundamental


70 <strong>Setembro</strong> <strong>2020</strong><br />

SCM Supply Chain Magazine 71<br />

Preferencialmente o<br />

regime misto, é aquele<br />

que mais agrada aos<br />

trabalhadores e que<br />

pode servir também<br />

melhor os interesses<br />

das empresas<br />

Ricardo Prazeres<br />

precaver. Por outro lado, o colaborador,<br />

tem uma diminuição na interacção entre<br />

equipas ou entre departamentos. “Para<br />

já, ainda é prematuro fazer análises sobre<br />

produtividade no regime de teletrabalho,<br />

porque ainda temos pouca experiência na<br />

maioria dos sectores, realizando este modelo<br />

de trabalho. “Considero que é relativamente<br />

mais fácil indicar que somos mais produtivos<br />

num ambiente mais favorável, no entanto<br />

temos que analisar e medir todas as variáveis<br />

envolvidas”, refere o managing director,<br />

acrescentando que “esta é uma situação que, a<br />

curto-prazo pode mostrar as suas vantagens,<br />

mas, a longo-prazo “poderá ter desvantagens<br />

caso não existam algumas mudanças, porque<br />

se entrarmos num regime tradicional só de<br />

teletrabalho vamos, daqui a uns anos, ter a<br />

mesma questão que temos com o regime de<br />

trabalho tradicional”, explica, “é uma rotina,<br />

um hábito e tudo o que é encarado dessa<br />

forma, tem como fim, problemas associados”.<br />

O perfil de um profissional<br />

da supply chain<br />

De acordo com as previsões de Ricardo<br />

Prazeres, poderemos estar numa situação<br />

similar em termos de emprego ao nível da<br />

que se viveu há cerca de 12 anos. Contudo,<br />

como muitas empresas já têm uma preparação<br />

do que foi feito anteriormente, bem como os<br />

profissionais já se encontram mais preparados<br />

do que há 12 anos. “O que vai acontecer é a<br />

junção de dois aspectos que são essenciais:<br />

os profissionais que tiveram capacidade de<br />

se adaptar e melhorar as suas competências<br />

durante este período e, sendo que com isso,<br />

ganharam vantagens relativamente a outros<br />

candidatos; mas também por outro lado as<br />

empresas que também fizeram o processo<br />

de transformação e “fazem match” com<br />

profissionais que tenham este mindset”,<br />

afirma o managing director. A partir de agora<br />

o panorama irá mudar, pois há menos ofertas<br />

qualificadas no mercado, mas os profissionais<br />

que estão disponíveis ou têm a capacidade<br />

de actualização muito rápida, ou não ‘fazem<br />

match’ bem com a transformação que é<br />

necessário continuar a fazer. “As organizações<br />

que não entenderam que o update digital<br />

é algo fundamental para o futuro poderão<br />

ter outro tipo de problemas que podem ser<br />

mais complexos no futuro se passarmos por<br />

situações similares”, acrescentando que “o<br />

mercado é muito complexo e actualiza-se<br />

de forma cada vez mais rápida, portanto, a<br />

análise e assertividade deverá ser cada vez<br />

maior e mais célere”.<br />

Ainda assim há uma característica essencial<br />

que qualquer profissional deve ter: resiliência.<br />

Uma vez que todas as empresas são formadas<br />

por profissionais, é importante que exista<br />

esta característica. Ricardo Prazeres faz<br />

a comparação entre a nossa vida pessoal<br />

e profissional em que, é fácil de gerirmos<br />

as situações quando tudo nos corre bem.<br />

Contudo, “a evolução acontece sempre quando<br />

são colocados obstáculos e desafios maiores,<br />

que não dependem apenas de nós, e que leva<br />

a uma capacidade de trabalhar a superação”.<br />

Por sua vez, na área da logística e do<br />

procurement, onde se lida frequentemente<br />

com várias entidades e parceiros numa lógica<br />

de negociação, muitas vezes complexa, é<br />

importante uma pessoa ter esta resiliência e<br />

ainda a capacidade de “perder por um lado,<br />

mas ganhar por outro e ter a noção que isso<br />

é sempre necessário para servir os interesses<br />

das várias organizações por vezes envolvidas<br />

no processo”, conclui.<br />

Além da resiliência, há outras características<br />

que completam o perfil de um profissional<br />

da supply chain. Segundo Ricardo Prazeres<br />

existem dois tipos: o que realiza funções<br />

operacionais, e o que realiza funções de<br />

chefia. Primeiro, têm de estar completamente<br />

relacionados e alinhados. Neste sector, o<br />

manager é, tradicionalmente, uma pessoa<br />

muito operacional e analítica, e além do<br />

fundamental conhecimento, a formação, o<br />

mindset no negócio, e uma forte componente<br />

de gestão. Nesta altura, todas as empresas<br />

que tenham colaboradores que juntem<br />

estas competências fortes, principalmente<br />

no que toca à gestão, têm ainda de juntar a<br />

parte da liderança que, embora sejam duas<br />

competências muito faladas actualmente, são<br />

completamente distintas para o managing<br />

director, “a gestão é muito operacional,<br />

tem muito processo, metodologia, análise<br />

e melhoria, e a liderança é uma algo muito<br />

inspiracional, que se cultiva e que serve de<br />

os profissionais que tiveram capacidade de se adaptar e melhorar as<br />

suas competências durante este período e, com isso, ganharam vantagens<br />

relativamente a outros candidatos; e empresas que também fizeram o<br />

processo de transformação e “casam bem” com profissionais que tenham este<br />

mindset<br />

Ricardo Prazeres


72<br />

setembro <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 73<br />

a gestão é muito operacional, tem muito processo, metodologia,<br />

análise e melhoria, e a liderança é uma coisa muito<br />

inspiracional. Se tivermos uma boa liderança podemos cumprir<br />

objectivos de forma diferente do que só termos uma pessoa que<br />

nos dá os guidelines sobre os objectivos a cumprir<br />

Ricardo Prazeres<br />

base para uma organização de sucesso. Se<br />

tivermos uma boa liderança podemos cumprir<br />

objectivos de forma diferente, ao invés de<br />

termos uma pessoa que nos dá os guidelines<br />

sobre os objectivos a cumprir”. Revela ainda<br />

que a liderança será um aspecto muito<br />

trabalhado nos próximos anos, no que diz<br />

respeito às posições de chefia.<br />

As tarefas mais ligadas às operações,<br />

poderão passar por uma actualização<br />

constante das funções habituais que<br />

se faz no dia-a-dia, pois estas posições<br />

são, normalmente, muito associadas a<br />

um procedimento e, caso não exista a<br />

preocupação de se actualizar será mais<br />

complicado ter pessoas muito motivadas para<br />

a mudança e resiliência.<br />

Além disso, as posições mais operacionais<br />

terão ainda de conviver, numa primeira<br />

fase, com a Inteligência Artificial (IA) e<br />

serão, posteriormente, substituídos por<br />

robôs que desempenhem essas funções<br />

automaticamente. Desta forma, de acordo com<br />

o managing director, para os trabalhadores<br />

evoluírem nesta área, têm de estar “focados<br />

em inovação e na melhoria constante dos<br />

processos, caso contrário as durações das<br />

mesmas dentro do negócio acabarão por,<br />

muito rapidamente, ser substituídas por<br />

soluções de IA”, revela.<br />

Apesar de ainda não ser muito claro o que<br />

irá acontecer em termos de substituição das<br />

pessoas por tecnologia, Ricardo Prazeres<br />

acredita que irão surgir novas funções<br />

e para as quais não existirão pessoas<br />

com essa experiência, o que levará o<br />

mercado a ter o seguinte pensamento “há<br />

pessoas sem experiência nesta tarefa, mas<br />

têm determinadas competências como<br />

adaptabilidade, resiliência, liderança e gestão<br />

que, através de uma formação, enquadramento<br />

e conhecimento do negócio, irão conseguir<br />

realizar esta tarefa de uma forma eficaz sem<br />

perder a motivação e a produtividade que<br />

tinham até então, noutra função”.•<br />

Organizado por:<br />

6-9<br />

<strong>2020</strong><br />

OCTUBRE<br />

EL GRAN EVENTO<br />

DISRUPTIVO<br />

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LA ECONOMÍA<br />

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74<br />

<strong>Setembro</strong> <strong>2020</strong><br />

carreira<br />

SCM Supply Chain Magazine 75<br />

Texto: Dora Assis<br />

Promover as relações<br />

Universidade - Indústria<br />

A Novabase e o Instituto Superior Técnico (IST) assinaram um protocolo<br />

que renova a parceria que une as duas entidades há três anos. O principal<br />

objectivo passa por reforçar a ligação da tecnológica aos jovens talentos<br />

à saída da instituição de ensino superior, ajudando-os no início do seu<br />

percurso profissional e apoiando-os naquele que é o primeiro contacto<br />

com o mercado de trabalho.<br />

À<br />

semelhança do que aconteceu nos anos<br />

anteriores, o protocolo assinado entre as<br />

duas entidades prevê o apoio à equipa de<br />

Formula Student do IST, que este ano, para<br />

além de construir e competir com um novo<br />

carro eléctrico, vai desenvolver o seu primeiro<br />

carro com condução autónoma.<br />

A Novabase vai também atribuir duas Bolsas<br />

de Estudo anuais para alunos de mestrado.<br />

Adicionalmente, serão ainda atribuídos dois<br />

prémios de mérito a grupos de alunos, no<br />

âmbito da unidade curricular de Engenharia de<br />

Software.<br />

Ainda no âmbito da parceria assinada, a<br />

Protocolo<br />

IST/Novabase<br />

Novabase vai dar apoio no equipamento e<br />

operação de um laboratório de computadores<br />

para uso dos alunos do IST.<br />

Aprendizagem e crescimento<br />

mútuos<br />

“A parceria IST-Novabase foi uma das<br />

primeiras a ser estabelecida no âmbito<br />

da Rede de Parceiros do Técnico e é um<br />

excelente exemplo de promoção das relações<br />

Universidade-Indústria. A parceria, que<br />

começou formalmente em 2017, focouse<br />

em 4 grandes temas: na ligação aos<br />

talentos, através de actividades como a<br />

participação nas Técnico Career Weeks; em<br />

programas de job shadowing ou em talent<br />

search meetings; um prémio de mérito a uma<br />

disciplina; apoio aos núcleos de estudantes<br />

do Técnico, especificamente ao projecto<br />

FST”, explica Pedro Amaral, vice-presidente<br />

do Instituto Superior Técnico para as<br />

Ligações Empresariais e Operações. O mesmo<br />

responsável salienta também que “os três anos<br />

de parceria, que agora se renovam por igual<br />

período, foram um processo de aprendizagem<br />

e crescimento mútuo, o que se reflecte neste<br />

novo período por um alargamento substancial<br />

das actividades preconizadas, passando<br />

a englobar também outros quatro temas<br />

centrais: um novo prémio de mérito ao melhor<br />

aluno de uma disciplina; bolsas para apoio ao<br />

desenvolvimento de dissertações de mestrado<br />

em contexto empresarial; workshops IST-<br />

Empresa; e o apoio à renovação, instalação de<br />

equipamento de apoio e manutenção de um<br />

laboratório no Departamento de Engenharia<br />

Informática”.<br />

Acelerar a inovação<br />

Pedro Amaral lembra que “a Rede de Parceiros<br />

do Técnico, na qual se integraram, em menos<br />

de cinco anos, 16 parceiros (esperando<br />

superar as duas dezenas já em <strong>2020</strong>), visa<br />

promover uma relação de proximidade e<br />

continuidade com as empresas que a integram.<br />

As actividades envolvidas nestas parcerias<br />

podem ser classificadas em cinco áreas. A<br />

primeira, que identificamos como “Conhecer os<br />

talentos”, permite criar uma ligação mais forte<br />

entre as empresas e os alunos do Técnico.<br />

A segunda, “Mais e melhores talentos”, visa<br />

melhorar o ensino envolvendo as empresas<br />

nos processos de aprendizagem, sendo que<br />

estas podem também beneficiar de formação<br />

avançada para os seus colaboradores. Na<br />

terceira área, o “Acelerador de inovação”, é<br />

pretendido criar elos de ligação que potenciem<br />

a inovação nos domínios da empresa com<br />

colaborações com os docentes, investigadores<br />

e alunos do Técnico. A componente de<br />

“Responsabilidade social” procura integrar o<br />

desejo de um número crescente de empresas<br />

que pretendem dar apoio aos alunos do<br />

Técnico cujas famílias têm dificuldade em<br />

suportar os encargos de estudar em Lisboa<br />

ou Oeiras. Finalmente, o Técnico pretende<br />

também mobilizar as empresas da sua rede de<br />

parceiros como interlocutoras privilegiadas<br />

nos aspectos relacionados com as decisões<br />

estratégicas da instituição. Cada uma<br />

destas áreas tem um conjunto de iniciativas,<br />

envolvendo a empresa e o Técnico que se<br />

devem realizar anualmente durante o período<br />

mínimo de três anos.”<br />

Alinhar competências<br />

Para João Nuno Bento, CEO da Novabase,<br />

“A captação de talento jovem e qualificado<br />

continua a ser um desafio na área das<br />

tecnologias da informação. Esta parceria é<br />

muito importante para nós, não só porque<br />

reconhecemos o IST como uma das melhores<br />

Universidades de tecnologia do país, mas<br />

também porque nos permite contribuir para<br />

a formação de jovens talentos ao preencher<br />

as lacunas existentes no mercado de<br />

trabalho com o melhor do talento nacional.<br />

A renovação desta parceria permite ainda<br />

que continuemos a alinhar as competências<br />

técnicas e conhecimento científico ao<br />

conhecimento do mercado e resolução de<br />

problemas de negócio reais, formando assim<br />

os jovens talentos, preparando-os para o seu<br />

percurso profissional.” •


76<br />

diário de bordo<br />

SCM Supply Chain Magazine 77<br />

Um<br />

(não tão)<br />

novo normal<br />

Estes últimos meses deram-nos a<br />

oportunidade para refletir (mais)<br />

um pouco sobre a arquitetura e<br />

funcionamento das redes e fluxos<br />

logísticos. Esta é mais uma reflexão<br />

através de alguns tópicos onde<br />

realidades não tão novas, mas cada<br />

vez mais importantes na assunção das<br />

medidas que creio corretas a um bom<br />

desempenho operacional.<br />

Pedro Camilo<br />

Gestor Centro de Distribuição, Lactogal<br />

Planeamento: O planeamento das ações<br />

e dos stocks têm cada vez mais um papel<br />

crítico no funcionamento das operações. Com<br />

a necessidade de em muitas circunstâncias<br />

criar mais pontos de stock, a predictibilidade é<br />

cada vez mais complexa. Mais pontos de stock<br />

com as quantidades necessárias e com risco<br />

reduzido de obsolescência. Para responder<br />

a esta complexidade estão em crescimento<br />

sistemas de apoio que através da análise de<br />

muitos dados, já existentes, os analisam e<br />

gerem dando suporte à tomada de decisão<br />

pelos planeadores.<br />

Posicionamento dos stocks: Os pontos<br />

de stock são fundamentais para esta nova<br />

realidade de proximidade e devem ser<br />

estrategicamente colocados entre o limite do<br />

transporte primário e o transporte capilar ou<br />

“last mile”. Estes nós, devem ter como objetivo<br />

ter o stock necessário para o abastecimento<br />

da procura regular e excecional (diferente<br />

da variação da procura), ou seja, alem de<br />

responder à procura normal, devem também<br />

servir para responder às oportunidades<br />

extra. Considero estas oportunidades extra<br />

um verdadeiro desafio e um grande fator<br />

diferenciador entre concorrentes.<br />

Otimização dos fluxos: Tendo<br />

em consideração que os custos da<br />

movimentação dos produtos têm uma grande<br />

representatividade nos orçamentos, esta deve<br />

ser uma área de gestão milimétrica. Cada<br />

km colocado a mais no produto representa<br />

um desperdício que tem de ser analisado e<br />

corrigido. Alem da preocupação da otimização<br />

do fluxo, deve ser alvo de análise a taxa de<br />

ocupação do meio de transporte e o próprio<br />

meio. Estamos no início dum processo de<br />

proximidade com clientes e consumidores<br />

finais e identificam-se novas necessidades que<br />

se ligam com o posicionamento dos stocks<br />

que abordei antes.<br />

Agilidade: Lead-times. Um lead time de n<br />

horas parece em muitas circunstâncias um<br />

bom objetivo. Será. Noutras, poderá não<br />

ser e representar perda de oportunidade.<br />

Em que ficamos? As estruturas devem ser<br />

pensadas para serem flexíveis. Ter alem dos<br />

timings normais dos fluxos de encomendas<br />

a flexibilidade e agilidade de responder em<br />

períodos mais curtos, portanto de forma<br />

mais rápida a necessidades do mercado ou<br />

criar oportunidades de mercado criando<br />

diferenciação. Este é um ponto decisivo na<br />

imagem para clientes e consumidores.<br />

Produtividade: A produtividade é sempre<br />

um ponto de foco crítico, mas sempre possível<br />

de melhorar. Alterações de processos e/ou<br />

mudança/modernização de equipamentos<br />

permitem em muitas circunstâncias aumentar<br />

o rendimento do trabalho. A procura<br />

da melhoria com vista ao aumento de<br />

produtividade deve ser constante.<br />

Processos: Os processos são repensados<br />

por dois motivos. Através de ação proativa<br />

para procura de melhoria (contínua) ou em<br />

reação a qualquer evento seja um erro ou<br />

necessidade de mudança. Formar equipas de<br />

melhoria, decompor o processo, analisá-lo até<br />

à sua parte mais ínfima e melhorá-lo é uma<br />

tarefa que deve ser constante para garantir a<br />

evolução das operações. Medir é fundamental<br />

para se apurar o resultado. É cada vez mais<br />

fácil fazê-lo dada a quantidade de dados que<br />

estão disponíveis pelos sistemas.<br />

Colaboração: Com as redes futuras a<br />

partilha de determinadas fases dos fluxos<br />

pode ser um fator de otimização de e redução<br />

de custos operacionais. Na armazenagem,<br />

no transporte, primário ou “last mile”,<br />

nos sistemas, em todos eles existem<br />

oportunidades de colaboração com vista à<br />

otimização de custos operacionais.<br />

Sistemas de informação: Os sistemas<br />

permitem registar, controlar, medir, gerir e<br />

mais recentemente decidir. É absolutamente<br />

fundamental investir em sistemas de<br />

informação nas diversas áreas da cadeia<br />

logística. Com a complexidade das atuais<br />

operações, ter uma cadeia logística otimizada<br />

sem sistemas que pelo menos auxiliem é<br />

apenas uma intenção.<br />

Pessoas: Por último o mais importante.<br />

Juntos conseguimos. Este é o espírito.<br />

Todos podem e devem contribuir. Não<br />

estimular o pensamento critico representa<br />

desperdiçar oportunidades. O pensamento<br />

crítico está presente em todas as funções<br />

e desperdiçá-lo representa perder valor. A<br />

formação, o desenvolvimento e evolução e<br />

o reconhecimento das pessoas são fatores<br />

decisivos para melhorar todos os aspetos<br />

referidos neste texto.<br />

Todas estas ações são cada vez mais estratégicas com impacto direto nos resultados<br />

e merecem os recursos necessários e adequados para responder não apenas à<br />

normalidade que conhecíamos, mas aquilo que se tem apelidado frequentemente, nos<br />

últimos tempos, de novo normal.


78<br />

O mundo é redondo, por Cláudia Brito<br />

“Uma economia saudavél devia ser desenhada<br />

para prosperar, não para crescer”<br />

Kate Raworth, 3.7 milhões de visualizações, 2018<br />

Kate Raworth desenvolveu o modelo económico a que chamou “doughnut economics” e que equilibra as<br />

necessidades humanas básicas com as fronteiras planetárias. O nome do modelo deriva da sua representação<br />

visual, em que o buraco no meio indica a proporção de pessoas que não têm acesso aos elementos essenciais à<br />

vida, enquanto a crosta representa os tectos ecológicos e sistémicos de que a vida depende e que não podem ser<br />

excedidos. O “doughnut”, colorido a verde, é o espaço justo e seguro, em que a humanidade pode prosperar.<br />

Somos viciados em crescimento, financeira,<br />

política e economicamente. Desde que o PIB<br />

foi inventado, no princípio do século passado,<br />

que a métrica do dinheiro domina tudo o que<br />

fazemos. A solução encontrada para alinhar<br />

todos os esforços da humanidade foi investir<br />

num consumo sempre a crescer, como um avião<br />

sempre a voar e que nunca poderá aterrar.<br />

Durante um tempo esta foi uma fonte de<br />

prosperidade para a maioria de nós, mas agora<br />

começamos a ver os limites do consumismo<br />

em massa, na economia degenerativa que se<br />

instalou, afectando o equilíbrio delicado deste<br />

planeta único e criando desigualdades sociais<br />

maiores do que nunca. O buraco no meio do<br />

“doughnut” aumenta, enquanto estamos à beira<br />

do colapso dos ecossistemas naturais. A solução<br />

que continua a ser proposta é o crescimento<br />

verde, equilibrado, inclusivo, resiliente, qualquer<br />

um serve, desde que seja crescimento. Contudo,<br />

o crescimento económico contínuo faz parte dum<br />

modelo ultrapassado, criado por economistas<br />

do século passado, cujo futuro nunca antecipou<br />

o presente em que agora vivemos. Faltou-lhes a<br />

clarividência para perceber que, neste mundo, o<br />

que cresce eventualmente estabiliza e adquire<br />

maturidade. Ou então funciona literalmente como<br />

um cancro, o qual ao crescer sem parar destrói a<br />

vida saudável que lhe deu origem.<br />

Kate Raworth propõe que está na altura de<br />

termos uma ambição maior, uma nova forma<br />

de progresso, em que tudo e todos possam<br />

prosperar. O nosso objectivo comum deve ser<br />

encontrar um ponto de equilíbrio dinâmico,<br />

como muitas culturas antigas reconheceram.<br />

E o modelo que temos de utilizar deve ser<br />

regenerativo e redistributivo, por “design”.<br />

Ao ambicionar a regeneração, através duma<br />

economia circular, repudiamos o paradigma do<br />

“fazer, usar e deitar fora” que nos trouxe a este<br />

ponto. A redistribuição, por sua vez, contraria a<br />

concentração de conhecimento, riqueza e poder.<br />

Tudo isto é facilitado pela tecnologia actual, com<br />

redes de energia renovável, plataformas digitais<br />

e impressão 3D. Mas a tecnologia não pode ser<br />

utilizada como uma ferramenta para aumentar<br />

ainda mais o crescimento, continuamente<br />

consumindo recursos, a não ser que acreditemos<br />

que um avião pode voar indefinidamente. As<br />

fronteiras que temos de estabelecer são de<br />

facto uma limitação, mas lembremo-nos que<br />

as limitações foram a fonte de criatividade das<br />

pessoas mais engenhosas e das evoluções mais<br />

belas.<br />

Kate Raworth é uma economista inglesa que trabalha<br />

para a Universidade de Oxford e a Universidade de<br />

Cambridge, depois de ter passado 20 anos nas Nações<br />

Unidas e Oxfam.

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