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anunciados são autênticos monumentos
à customeira burocracia, que se perdem
nas exigidas certificações, declarações e
garantias pessoais. Na hora de ajudar com
rapidez e agilidade, os governos responderam
como quase sempre o fazem, isto é, na
base da desconfiança de tudo e de todos,
tal como se se estivessem a ver no espelho.
A juntar a isto, temos os problemas que já
existiam: Uma estrutura económica demasiado
dependente do Turismo porque não
tem investido suficientemente na sua diversificação,
licenciados que têm de emigrar,
jovens que não conseguem sair da casa dos
pais, contribuintes que pagam impostos,
mas, em troca, recebem Serviços Públicos
delapidados e com pouca dignidade na gestão
dos utentes, uma Justiça amarrada por
interesses, uma Banca corrompida e Transportes
falidos e a consumir fortunas do erário
público. Haverá resposta para tudo isto
em 2021? No campo do Turismo, aos problemas
conjunturais inevitáveis, juntam-se
os custos de um diálogo que, por nossa extrema
necessidade, tem de gerar melhores
frutos, não só com os operadores turísticos
e com as empresas transportadoras, mas
também com todos os agentes que potenciem
a emancipação da TAP e a diversificação
dos nossos mercados emissores. Sentimos
o peso destas correntes sempre que
as famílias têm de desembolsar autênticos
salários só para abraçar os seus universitários
nas épocas especiais. E, neste Natal,
sentimo-lo de forma particularmente nociva,
quando a histórica dependência do mercado
britânico esvaziou o comércio local de
vinte mil visitantes. Estas questões não são
de agora, mas cabe a quem hoje gere o sector
fazer diferente e melhor, algo que, aliás,
já foi prometido. Em 2021, será cumprido?.
No campo da Educação, apenas a qualidade
e a dedicação dos profissionais que trabalham
nas escolas escondem o facto de que
aquelas não são mais centros de aprendizagem,
mas também cantinas (onde tantos
alunos comem a única refeição equilibrada
do dia), centros de acção social (onde famílias
carenciadas recebem roupas e alimentos),
locais de apoio psicológico (onde
se lidam com traumas e medos), pontos de
ensino para a sexualidade (onde se alertam
para comportamentos precoces e de risco)
e até estações de polícia (onde se detectam
atitudes desviantes e ameaças ao
Bem Comum). A este excesso de funções e
expectativas junta-se a carência de pessoal
auxiliar, a diminuição no apoio financeiro, a
falta de recursos básicos e a ridícula carga
burocrática colocada sobre os professores,
transformado o que é transmitido dentro
da sala de aula em meras notas de rodapé.
Será que ainda não se percebeu porque
é que a classe docente está a envelhecer?
Ou porque é que as desistências estão a
aumentar? Ou porque é que a escola, salvo
alguns bons exemplos, está inabilitada para
preparar as gerações para mais do que a
mediocridade que abunda?. Será que, em
2021, vamos perceber melhor?. Na Saúde,
valem os enfermeiros e os médicos para
quem não há impossíveis. Há pior. Há menos
bom. Mas nunca há o nada. Nem que
seja a palavra de conforto. E é para lá que
caminhamos. No ano novo que tem de existir
para além da pandemia, será preciso explicar
o aumento de mortes não-Covid em
relação aos anos anteriores e as consultas
adiadas e os exames suspensos e as cirurgias
não realizadas. Dizer que o Sistema de
Saúde soube responder ao vírus é esconder
o facto de que todo o sistema foi orientado
para a luta contra a Covid-19, com desconsideração
por quase todas as outras patologias,
que ceifaram vidas desnecessariamente.
Certamente, há quem não esquiçará e
que procure respostas. Será que 2021 trará
essas respostas?. No Relacionamento com
a República, é óbvio que a voz da Madeira
em São Bento e em Belém é muito mais fraca
que foi outrora. Temos pago um elevado
custo por isso mesmo e o que o comprova
são as perdas de apoios, a falta de seriedade
com que somos tidos em matérias nevrálgicas
como o transporte aéreo e a quase-garantida
perda do Centro Internacional
de Negócios. Se nada for feito, continuaremos
a dar passos incorrigíveis na direcção
do estatuto de cidadãos de segunda categoria
e da condição de colónia esquecida
por uma Lisboa distante. É isso que muitos
querem e nós não temos feito o suficiente
para contrariá-los. Em 2021, teremos capacidade
para tal?. É certo que 2021 até poderá
trazer o fim de um bicho que acarretou
mortes. O que não apagará é o seu rasto
de falências, desemprego e desespero.
Para isso, precisaremos de elevar a fasquia,
mesmo que haja quem prefira nivelar por
baixo. Precisaremos de competência e de
reconhecer melhores propósitos, mesmo
que haja quem valorize a incompetência e a
inércia. Precisaremos de rigor, mérito, coragem
e lucidez, mesmo que haja quem opte
por controlar, impor, ditar e subestimar a
responsabilidade individual. Precisaremos,
enfim, de uma reforçada Cidadania que nos
liberte de quem não nos deixa ir mais além
e que faça de nós mais ambiciosos, mais
capazes de nos superarmos, mais autónomos
do Estado e da governação e mais aptos
para nos criarmos e nos reinventarmos.
Se não o fizermos, 2021 será apenas mais
um ano em que seremos reféns de todos
aqueles que, no Público e no Privado, poderiam
criar condições para que tudo isto
fosse muito diferente, mas que, no final do
dia, fazem muito pouco. Será que não merecemos
mais?. s
saber JANEIRO 2021
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