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A Filosofia Explica Grandes Que - Clovis de Barros Filho

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a exemplo, na hora de decidir sobre o que colocar na bolha, a certeza arrogante

da apresentadora vai dando lugar a dúvidas angustiadas.

Vidas escolhidas

Nas relações que mantemos com outras pessoas, este quadro de incerteza

piora. Quando interagimos, somos afetados pela ação do outro (ou pela

interpretação que dela fazemos) e, ao agir, afetamos esse mesmo outro. Nossa

ação produz efeitos que participarão da sua vida. E, como esse outro nos

importa, por princípio moral, por amor, por compaixão ou qualquer outro

motivo, concluímos que nossa conduta, que vai afetá-lo, também importa. E

muito.

E o que é mais incrível: em muitos casos, a decisão sobre o que fazer está

na nossa mão. Quando agimos e pisamos na bola, causamos tristeza, sabemos

que somos causa. Causa que explica o efeito. Causa adequada da tristeza do

outro. E nos sentimos responsáveis.

Neste momento, várias condutas passam pela nossa cabeça. Umas

excluem outras. Só uma pode triunfar. Face a infinitas possibilidades. Por isso,

para escolher a vida de carne e osso temos que abdicar de muitas outras. Toda

escolha pressupõe renúncia. Toda positividade existencial implica negação. A

sensação de perda é inevitável. Vidas jogadas no lixo. Preteridas. Aquelas que

decidimos não viver. Confinadas ao mundo das quimeras. Excluídas da

materialidade das condutas. E neste trabalho de escolha, muitas dúvidas são

previsíveis e recorrentes.

Devo mentir em meu proveito? Devo mentir em proveito do outro? Devo

respeitar um compromisso assumido há tempos, mesmo sabendo que me trará

prejuízo? Se alguém suspeito se aproxima, em local deserto, jogo o carro em

cima mesmo sem ter certeza de tratar-se de uma agressão? Devo denunciar o

amigo e colega traidor dos interesses do grupo ou da empresa? E perguntas

como estas se seguiriam indefinidamente.

Escravos das paixões

Para alguns pensadores reconhecidos, sem dar nomes como prometido,

toda escolha existencial, aparentemente resultante de uma atividade soberana

da razão, é estritamente determinada pelos afetos. Pelas alegrias e tristezas,

pelos medos e as esperanças. A vida melhor seria simplesmente a que nos

alegra mais. Ou a que supomos nos alegrará mais.

Neste caso, seríamos escravos das paixões. Do esforço, que todo vivente

faz, para perseverar no seu ser. Luta pela reafirmação da própria potência.

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