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a exemplo, na hora de decidir sobre o que colocar na bolha, a certeza arrogante
da apresentadora vai dando lugar a dúvidas angustiadas.
Vidas escolhidas
Nas relações que mantemos com outras pessoas, este quadro de incerteza
piora. Quando interagimos, somos afetados pela ação do outro (ou pela
interpretação que dela fazemos) e, ao agir, afetamos esse mesmo outro. Nossa
ação produz efeitos que participarão da sua vida. E, como esse outro nos
importa, por princípio moral, por amor, por compaixão ou qualquer outro
motivo, concluímos que nossa conduta, que vai afetá-lo, também importa. E
muito.
E o que é mais incrível: em muitos casos, a decisão sobre o que fazer está
na nossa mão. Quando agimos e pisamos na bola, causamos tristeza, sabemos
que somos causa. Causa que explica o efeito. Causa adequada da tristeza do
outro. E nos sentimos responsáveis.
Neste momento, várias condutas passam pela nossa cabeça. Umas
excluem outras. Só uma pode triunfar. Face a infinitas possibilidades. Por isso,
para escolher a vida de carne e osso temos que abdicar de muitas outras. Toda
escolha pressupõe renúncia. Toda positividade existencial implica negação. A
sensação de perda é inevitável. Vidas jogadas no lixo. Preteridas. Aquelas que
decidimos não viver. Confinadas ao mundo das quimeras. Excluídas da
materialidade das condutas. E neste trabalho de escolha, muitas dúvidas são
previsíveis e recorrentes.
Devo mentir em meu proveito? Devo mentir em proveito do outro? Devo
respeitar um compromisso assumido há tempos, mesmo sabendo que me trará
prejuízo? Se alguém suspeito se aproxima, em local deserto, jogo o carro em
cima mesmo sem ter certeza de tratar-se de uma agressão? Devo denunciar o
amigo e colega traidor dos interesses do grupo ou da empresa? E perguntas
como estas se seguiriam indefinidamente.
Escravos das paixões
Para alguns pensadores reconhecidos, sem dar nomes como prometido,
toda escolha existencial, aparentemente resultante de uma atividade soberana
da razão, é estritamente determinada pelos afetos. Pelas alegrias e tristezas,
pelos medos e as esperanças. A vida melhor seria simplesmente a que nos
alegra mais. Ou a que supomos nos alegrará mais.
Neste caso, seríamos escravos das paixões. Do esforço, que todo vivente
faz, para perseverar no seu ser. Luta pela reafirmação da própria potência.