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A Filosofia Explica Grandes Que - Clovis de Barros Filho

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BEM-VINDO AO NOSSO terceiro capítulo. Grato pela persistência. O assunto

de hoje é liberdade. Tema que está longe de fazer unanimidade. Discutir se

somos ou não livres, se podemos ou não ser livres, implica, antes de mais nada,

responder duas perguntas preliminares.

A primeira: o que exatamente pode ou não ser livre? Ou, se você preferir,

livre pode ser adjetivo de qual substantivo? Atributo de qual substância?

Para os que ainda não entraram no clima, proponho a comparação entre

os adjetivos “livre” e “amargo”. Nem tudo pode ser amargo. Então, que coisas

no mundo podem ter este atributo? Um criado-mudo, dificilmente. Não por ser

mudo, evidentemente. Criados-mudos, como o resto da mobília, não se deixam

degustar facilmente. O mesmo não acontece com uma barra de chocolate.

Que pode ser amargo. Ou não. Agora fica mais fácil. Se o chocolate pode ser

amargo, o que pode ser livre?

E a segunda: quais os eventuais obstáculos da liberdade? O que poderia

impedi-la? Se não há liberdade, o que ou quem pode ser o responsável?

Fazer o que quer?

Comecemos com uma provocação. Para aquecer. Muitos, se fossem

perguntados sobre liberdade, diriam, espontaneamente, que só são livres

quando podem fazer o que querem. Pois bem. Considerando com calma esta

definição, qualquer ação só será livre quando adequada a um querer do agente

que lhe é anterior.

Em ordem cronológica: primeiro haveria um querer qualquer; e, só

depois, a possibilidade de agir livremente, de acordo com ele. Assim, de vez

em quando dá aquela vontade de degustar uma berinjela gratinada. Na

sequência, você vai ver se é livre para degustá-la. Ou não.

Como num spa. Ou num presídio. Ou ainda, quando era criança e tinha

que esperar pela tia Bibi e pelo tio Ênio para começar a comer. Ataque

desautorizado à berinjela. Adiado. Salivação recolhida. Até que finalmente um

pai libertador advertia que não era bom para uma criança passar vontade.

Livre, finalmente. Para pôr os dentes naquela berinjela tão querida. Porque o

querer é condição da liberdade. Se não quisesse tanto a tal berinjela, a

liberdade para comê-la não teria a menor relevância.

De acordo com este entendimento do senso comum, tornei-me livre para

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