28.03.2021 Views

A Filosofia Explica Grandes Que - Clovis de Barros Filho

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

é ideal. Uma ideia. Desencarnada. Uma aula perfeita. Em si mesma.

Absolutamente perfeita. Que não corresponde a nenhuma das que já

participamos. Mas que serve de referência na hora de identificar o valor de

todas elas.

Assim, como no caso da aula, haverá ideias e critérios objetivos para

valorar qualquer coisa inscrita no mundo da vida. Como o valor estético de uma

obra musical ou literária. Ou o valor moral de um fim cogitado num certo

instante. E o conhecimento destes critérios é condição de uma boa decisão

moral. Ao menos segundo a perspectiva objetivista. Ou do objetivismo

axiológico, para os mais pedantes. Defendido por autores idealistas do nosso

tempo como Max Scheler e Nicolai Hartmann.

Mas, e se não houver este gabarito absoluto para a melhor das vidas a

viver? Para a boa aula? O bom romance? Ou para nada? Neste caso, tudo

estaria na nossa mão. Dependeria do nosso apreço do momento. Valor inscrito

no fluxo da existência. Sem referência fora dela. Sem nada nem ninguém

acima, onde amarrar.

Vida linkada na vida. E o todo flutuando. À deriva. Os valores agora

seriam relativos. Ao sabor dos encontros com o mundo. Dos afetos de Espinosa.

Das alegrias e tristezas, dos prazeres e das dores. Neste caso, seria bom tudo

que alegra, enquanto alegra, na intensidade que alegra. E ruim, o que

entristece.

E agora, o que fazemos com a nossa aula? Qual o seu valor? Ora, o valor

da aula estaria à mercê de tudo isto. Seria relativo, portanto. Fossem outros os

leitores, a aula teria certamente outro valor. Aliás, como os leitores são muitos,

haverá os que se alegram mais com as coisas que digo. Para estes, a aula será

melhor. Há os que já não veem a hora de terminar o livro. Para estes a aula é

certamente pior. Perspectiva subjetivista, portanto. Ou subjetivismo axiológico.

Defendido em nossa época por R.B. Perry, I. Richards, CH. Stevenson, entre

outros.

Subjetivismo, com uma ressalva. Que este sujeito, todo-poderoso

definidor dos valores do mundo, seja entendido como o resultado, sempre

provisório, de um interminável processo de socialização, num mundo social

concreto, inserido histórica e geograficamente. Porque ele vive neste mundo. E

está em relação ininterrupta com ele. Na impermanência dele e do mundo.

Relação objetivada em encontros. Que vão esculpindo seu corpo.

Transformando. Ortopedizando.

Numa palmilha de interesses dominantes, posições de poder e suposta

ordem social. Predispondo a afetos futuros. Ensinando a se alegrar com o que é

alegrável. Com meios e fins morais legítimos e autorizados pela civilização.

Com os troféus reconhecidos. Canalizando as energias vitais na direção do que

vale a pena perseguir. Para que busquemos o bem e evitemos o mal. Pedra de

toque de toda ética.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!