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A Filosofia Explica Grandes Que - Clovis de Barros Filho

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melhor das vidas, também denominados de valores no mundo do trabalho, são

mesmo contraditórios, enfrentam-se, anulam-se. Não constituem uma

orquestra sinfônica. Traduzem-se em imperativos antagônicos, em conflitos de

máximas e deveres.

Como, por exemplo, a dificuldade de identificar o bem coletivo a partir

dos interesses individuais. Ou acertar a vida de cada um partindo de uma

vontade geral. Estamos imersos numa pluralidade axiológica. Numa floresta

complexa de deveres. Politeísmo, nomeiam os pós-modernos. Max Weber –

apenas um exemplo de analista desta complexidade – distingue a ética de

princípios, ou de convicção, da de responsabilidade. Esta última fundada nos

fins. A primeira, nos meios. Propostas inconciliáveis. Sem que se possa impor a

quem quer que seja a adoção de uma ou de outra.

Contradição entre valores. Entre meios e fins. Entre o particular e o

universal. Complexidade que desautoriza um entendimento sistêmico da ética.

Sistema que faria de toda dúvida existencial um simples input. Que para não

congestionar as instâncias decisórias de vida teria que ser filtrado. O filtro, ou

gatekeeper, excluiria as vidas sequer cogitadas ou rejeitadas de ofício. Só

ingressariam na caixa preta as possibilidades existenciais consideradas

plausíveis. Uma vez na caixa, todas elas seriam submetidas a valores. A um

tratamento axiológico, para falar difícil. Estes estariam dispostos de forma

funcionalmente complementar com vistas à redução da complexidade

existencial.

Aplicados os valores a cada uma das possibilidades de vida cogitadas,

identificar-se-ia, com o mínimo de desvio ou erro, a melhor das vidas, a

solução para a existência. Para que isso desse certo, seria preciso reduzir a

diversidade. Selecionar alguns valores. Excluir outros. Seus contrários.

Incompatíveis. Afinal, todos precisamos de segurança. Ainda mais quando

temos que decidir a cada minuto sobre políticas e estratégias com efeitos

decisivos para muita gente.

É preciso definir o certo e o errado a qualquer preço. Assim, da mesma

maneira que uma organização deixa claro em sua comunicação interna que,

em caso de dúvida, os critérios sobre o certo e o errado serão aqueles e não

outros, lembro-me de uma frase de Lênin, leitura de estudante, releitura de

professor. Se não for exatamente este o texto, é muito perto disso: “Nós

reconhecemos o valor da camaradagem, o valor da ajuda a todos os

camaradas, o valor de tolerância às suas opiniões. Mas para nós este valor da

camaradagem é secundário em relação ao dever que temos face à socialdemocracia

russa e internacional e não o contrário.”

A segurança ética parece necessária para a convivência. Para a vida em

sociedade. Todos de acordo. Mas ainda fica faltando explicar o fundamento

desta hierarquia. O porquê da primazia. O valor do valor. Porque alguns

valeriam mais do que outros.

Em palestra para a alta cúpula de uma multinacional, um de seus diretores

pediu-me que listasse num powerpoint os valores, em ordem decrescente de

importância. Para facilitar a minha vida, bastariam os top ten. Fiquei surpreso.

Esquivei-me, alegando ignorância da tecnologia sugerida. Ironia não captada.

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