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melhor das vidas, também denominados de valores no mundo do trabalho, são
mesmo contraditórios, enfrentam-se, anulam-se. Não constituem uma
orquestra sinfônica. Traduzem-se em imperativos antagônicos, em conflitos de
máximas e deveres.
Como, por exemplo, a dificuldade de identificar o bem coletivo a partir
dos interesses individuais. Ou acertar a vida de cada um partindo de uma
vontade geral. Estamos imersos numa pluralidade axiológica. Numa floresta
complexa de deveres. Politeísmo, nomeiam os pós-modernos. Max Weber –
apenas um exemplo de analista desta complexidade – distingue a ética de
princípios, ou de convicção, da de responsabilidade. Esta última fundada nos
fins. A primeira, nos meios. Propostas inconciliáveis. Sem que se possa impor a
quem quer que seja a adoção de uma ou de outra.
Contradição entre valores. Entre meios e fins. Entre o particular e o
universal. Complexidade que desautoriza um entendimento sistêmico da ética.
Sistema que faria de toda dúvida existencial um simples input. Que para não
congestionar as instâncias decisórias de vida teria que ser filtrado. O filtro, ou
gatekeeper, excluiria as vidas sequer cogitadas ou rejeitadas de ofício. Só
ingressariam na caixa preta as possibilidades existenciais consideradas
plausíveis. Uma vez na caixa, todas elas seriam submetidas a valores. A um
tratamento axiológico, para falar difícil. Estes estariam dispostos de forma
funcionalmente complementar com vistas à redução da complexidade
existencial.
Aplicados os valores a cada uma das possibilidades de vida cogitadas,
identificar-se-ia, com o mínimo de desvio ou erro, a melhor das vidas, a
solução para a existência. Para que isso desse certo, seria preciso reduzir a
diversidade. Selecionar alguns valores. Excluir outros. Seus contrários.
Incompatíveis. Afinal, todos precisamos de segurança. Ainda mais quando
temos que decidir a cada minuto sobre políticas e estratégias com efeitos
decisivos para muita gente.
É preciso definir o certo e o errado a qualquer preço. Assim, da mesma
maneira que uma organização deixa claro em sua comunicação interna que,
em caso de dúvida, os critérios sobre o certo e o errado serão aqueles e não
outros, lembro-me de uma frase de Lênin, leitura de estudante, releitura de
professor. Se não for exatamente este o texto, é muito perto disso: “Nós
reconhecemos o valor da camaradagem, o valor da ajuda a todos os
camaradas, o valor de tolerância às suas opiniões. Mas para nós este valor da
camaradagem é secundário em relação ao dever que temos face à socialdemocracia
russa e internacional e não o contrário.”
A segurança ética parece necessária para a convivência. Para a vida em
sociedade. Todos de acordo. Mas ainda fica faltando explicar o fundamento
desta hierarquia. O porquê da primazia. O valor do valor. Porque alguns
valeriam mais do que outros.
Em palestra para a alta cúpula de uma multinacional, um de seus diretores
pediu-me que listasse num powerpoint os valores, em ordem decrescente de
importância. Para facilitar a minha vida, bastariam os top ten. Fiquei surpreso.
Esquivei-me, alegando ignorância da tecnologia sugerida. Ironia não captada.