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Liberdade de agir
O primeiro sentido de liberdade é mesmo este a que nos referimos logo
acima: de fazer o que se quer. Liberdade de agir. De fazer alguma coisa.
Liberdade física. De movimento, de deslocamento. Evidente num animal
selvagem. Como aqueles usados em outros tempos para anunciar cigarros na
televisão. Um animal que age apenas pela sua vontade é livre. Neste sentido
físico da liberdade.
Esta liberdade também é evidente na nossa humana vida. Quando vamos
e voltamos. Decidimos sair de madrugada. Pegar a estrada. Ir de helicóptero.
Descer a escada rolante de dois em dois para conseguir pegar aquele metrô
que anuncia partida. Parar de correr para degustar um pastel de feira e um
copo grande de caldo de cana. E ficar morgando. Liberdade de não se mover,
simplesmente. De coçar por coçar. Liberdade sem dúvidas. Sua realidade é
comprovada o tempo todo. Pela experiência de cada um.
O mesmo diríamos de todo um povo. Que é livre quando pode definir sua
própria trajetória. Sobretudo, quando recebem uma ajudinha de forças
supracelestes para abrir os mares. E permitir uma passagem a seco. Liberdade
de assentamento. De poder ficar. Mas também de ser nômade. De atravessar
fronteiras. Afinal, a liberdade política é, antes de tudo, física.
Esta liberdade para agir é o contrário da obrigação. Ou da escravidão. Ou
ainda, como observa Hobbes, é a ausência de qualquer impedimento que se
oponha ao movimento. A água que se encontra num copo não é livre. Porque
este último impede seu movimento. O exemplo é dele. Fica mais claro quando
o obstáculo é removido. O copo se rompe. E a água recupera sua liberdade.
Também os antigos espartilhos ou as mais recentes meias antivarizes.
Impedimento à expansão das carnes e suas gorduras. Exemplo meu. As
gaiolas, as jaulas, os anestésicos de laboratório tolhem, cerceiam o movimento,
cortam as asas. Da mesma forma, qualquer um de nós será livre para agir
quando nada nem ninguém impedir nosso movimento.
Uma questão de grau
Esta liberdade nunca é nula. Nem absoluta. De um lado, porque algum
movimento é sempre possível. Mesmo com muitos obstáculos. No copo,
líquidos se agitam. Roupas apertadas esgarçam com o tempo. E ainda, na cela,
o prisioneiro simplesmente se levanta, comanda operações de tráfico ou
mesmo uma revolução contra o poder do Estado. De fato, enquanto houver
vida em seres moventes, nunca é nula a liberdade de movimento.
Em contrapartida, esta mesma liberdade também nunca será absoluta.
Afinal, ninguém pode fazer, a todo momento, tudo o que quer. Por sua condição
física. Como voar, sem o auxílio de algum meio propulsor externo ou planador.