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Por essas e outras, a vida em sociedade supõe alguma concordância sobre
o valor. Das coisas e das ações humanas. Pelo menos daquelas que podem
comprometer gravemente os fluxos sociais. Assim, as instituições condicionam
o pertencimento de seus membros ao conhecimento e à aceitação de alguns
valores. São exibidos em cartazes, repetidos a exaustão e aos gritos em eventos
motivacionais, constam de códigos de conduta e tudo mais. Mas sempre caberá
a pergunta: por que esses valores e não outros? Por que não seus contrários?
Assim, por exemplo, a desconfiança no lugar da confiança, a opacidade
no lugar da transparência, o prazer no lugar da disciplina, o máximo benefício
imediato no lugar da sustentabilidade do negócio, a superioridade étnica no
lugar da equidade e assim por diante. Afinal, também aprendemos a desconfiar
para viver, a reconstruir relatos que amenizem estragos, a minimizar o
desconforto na microgestão da vida. Os países ricos detonaram e continuam
detonando o meio ambiente, o que inviabilizará a continuidade da vida como
ela é. E a escravidão definida pela etnia era normal até ontem.
Pois é, ante tamanha oferta, é preciso simplificar. Reduzir. Escolher alguns
valores e não outros. Para que possam ser respeitados por qualquer um.
Universalmente talvez. Mas como o que alegra uns não alegra todos, todos
lutam pela generalização do valor que corresponda à própria alegria. Aos
próprios interesses. Que seja o meu valor o valor, o verdadeiro valor.
E, desta forma, o mundo acaba de se converter numa arena de luta. Luta
de agentes interessados pela definição do valor legítimo das coisas. Com
resultados sempre provisórios. Reféns de uma relação de forças sempre
subversível. Por este caminho, a ética tornou-se uma questão de poder.
Livres para viver
Para muitos outros pensadores, também clássicos, a escolha da vida não
pode estar à mercê de nada disso. Deve respeitar normas e critérios que não
levem em conta o que estamos sentindo. Alinhados com valores que não sejam
em nada relativos à situação vivida. Por isso denominados absolutos. Graças a
eles, poderíamos deliberar na contramão dos afetos. Pela tristeza. Em nome do
dever. Só neste caso teríamos certeza da própria liberdade. Da própria
dignidade.
Na paixão ou na autonomia, o fato é que, enquanto houver vida, estamos
condenados a vivê-la. A decidir sobre ela. Mesmo na hora de abreviá-la. Agir é
uma sina. Não há como fugir. Tirar férias. A opção de não agir transcende a
existência. Está fora da vida. Nossas ações se confundem com ela. Na solidão e
na interação com outros. E, face a essa necessidade que é toda nossa,
refletimos para decidir. E nossa ação muitas vezes dependerá desta reflexão.
Por isso, uma ação moral. Identificada e decidida pela razão, tendo como
referência algum tipo de norma.
Mas quando usamos a razão para deliberar entre várias condutas que