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Liberdade de escolha
De fato. Escolher o que queremos da vida pressupõe pensamento livre.
Liberdade para decidir a melhor forma de viver e conviver. Liberdade de
deliberar a melhor ação. A mais adequada. A mais justa. A mais eficaz.
Liberdade que nos permitiria decidir diferente. Por outra ação. Outra
estratégia. Liberdade que também nos autoriza a jogar no lixo muitas vidas
cogitadas. Iniciativas abortadas. Soluções de menor valor.
E toda esta liberdade nos torna responsáveis. Afinal, toda responsabilidade
implica ter consciência das próprias decisões. De agir com conhecimento de
causa, como se diz. Na hora de agir, toda escolha resulta de um exercício
intelectivo. Da aplicação de um critério, ou de uma máxima de conduta.
Por isso, quando se pretende reduzir ou eliminar a responsabilidade, tarefa
recorrente de advogados de defesa, discute-se a plena consciência do agente no
momento da ação. “Ele não sabia direito o que estava fazendo.”
Liberdade de resolução
Mas, para além da moral e da política, podemos nos perguntar: haverá
liberdade intelectiva quando estamos em plena resolução de um problema
matemático? Destes que já têm uma resposta certa? Não estaríamos, neste
caso, constrangidos por uma resolução que se impõe a nós? Não será uma
forma de escravidão ter que seguir certos passos para se chegar a um resultado
que não podemos contornar? Como poderia ser livre o pobre do aluno que
resolve um problema de geometria aplicando o teorema de Pitágoras? Ou
alguma fórmula para calcular a área de um polígono?
Argumentamos que poderia, sim. Perfeitamente. Afinal, na hora de
resolver uma questão matemática pensamos o que queremos. Sem nenhum
constrangimento externo. O espírito pensa o que quer. Sem obedecer a
ninguém. Porque é livre. E, se busca a resolução verdadeira, faz o que quer.
Porque quer. Se encontra o resultado verdadeiro do problema, consuma nele
mesmo sua própria liberdade. Porque se não buscasse livremente a verdade,
todo espírito estaria à deriva. Delirante.
O que falta deixar claro? Que neste caso da matemática, a liberdade nada
tem a ver com escolha. Com a liberdade da moral. Porque a área de um
quadrado corresponde ao quadrado do seu lado. E o triângulo retângulo que o
divide em dois tem a sua área definida pela metade da área do quadrado.
Necessariamente.
E chamamos de liberdade a este discernimento. De uma verdade que
nunca se impôs. Mas que, com liberdade, é alcançada. Não houvesse liberdade
para resolver o problema não haveria erro. Se a verdade matemática
escravizasse, quantas notas baixas em geometria eu teria evitado...