28.03.2021 Views

A Filosofia Explica Grandes Que - Clovis de Barros Filho

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

ocorrerem. Mais recentemente, veio somar-se a tudo isto o tripé do

charlatanismo chancelado pelo capital: lições de autoajuda, em forma de

livrinhos para aeroporto, palestras motivacionais e programas de qualidade de

vida.

Todos paliativos de curtíssima eficácia. Porque a tristeza sobrevém.

Denunciando a fraude, até para os mais incautos. Daí a necessidade de

empacotá-los de forma sempre inovadora. Nada melhor do que um oitavo

hábito quando os sete primeiros não cumpriram o prometido.

Ante a dificuldade de oferecer ao jovem perfeccionista a lista solicitada, o

homem vai vivendo como sempre viveu. Esgrimindo o mundo que se lhe surge

pela frente, às vezes por puro instinto, às vezes na moral, pensando um pouco

antes de fazer outra besteira. Alternando encontros alegres com outros tristes,

estes últimos infelizmente em maior número, no que me diz respeito.

E nesta radical ambiguidade de critérios, há os que garantam que fomos

feitos para o movimento. Que a atividade física é condição de uma vida boa.

Que quando nos exercitamos, o corpo libera uma substância chamada

endorfina. E esta nos traz sensação muito agradável. Por outro lado, há os que

preferem o repouso. Adeptos da contemplação. Odeiam academias de

ginástica. Expressão hoje pleonástica, dado o relativo desprestígio das

instituições de ensino superior. Sentem dores terríveis no segundo dia. Não

suportam as longas e solitárias caminhadas ou corridas. Estes estão convencidos

de que se endorfina fosse coisa boa não teria este nome.

Há também os que antecipam que comendo linhaça viveremos mais.

Bem como aqueles que consideram esta dieta um martírio em dose dupla. Por

um lado, ter que viver mais. Por exemplo, dos 100 aos 110 anos. Em condições

orgânicas centenárias. E ainda tendo que comer linhaça. Sempre triturada, para

surtir efeito. Contra os adeptos do aspartame para reduzir taxa glicêmica, e

emagrecer, insurgem-se os que lhe atribuem uma irrefreável vontade de

comer doces. Sem falar na retina e na memória... Meu santo!

Não faltam hoje os adeptos da adrenalina. Dos esportes radicais, na

natureza. Das ondas tubulares aos investimentos financeiros de altíssimo risco.

No caos da vida se sentiriam as grandes emoções. E se produziriam as grandes

transformações. Porque viver pressupõe assumir riscos. Ao mesmo tempo,

nunca tantos se dedicaram ao golfe. Buscaram a ordem e a harmonia na

mesma natureza. Construíram impérios hoteleiros ao redor de verdadeiros

lagos. Blindados por fortalezas. Sempre em nome do risco zero.

Há também os adeptos do pensamento positivo. Para eles é importante

imaginar que aquilo que você quer acontecerá. O otimismo seria a chave de

uma vida feliz. De triunfo em triunfo estaríamos quase sempre satisfeitos. E

para que não restem dúvidas sobre a pertinência destes argumentos, pesquisas

recentes indicam: os otimistas vivem em média três anos mais. Do que

pessimistas, supõe-se.

Na contramão, não são poucos os que garantem que fazendo exatamente

o contrário a vida será um pouco menos ruim. Evitaríamos muitas frustrações.

Afinal, não há nenhuma relação de causalidade entre os desejos imaginados e

as ocorrências do mundo. Que atestem os bilhões de desejantes miseráveis

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!