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Revista Empresários Abril e Maio 2021

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A crise e as empresas – Por : Carlos Fernando dos Santos Lima é advogado

especialista em compliance e proprietário do escritório Carlos Fernando Santos

Lima e Advogados, com sede em Curitiba, no Paraná. Antes de aposentar-se do

cargo de Procurador da República, atuou nas operações Banestado e Lava Jato

Ninguém está livre de enfrentar crises

graves em sua vida. Nem pessoas,

nem empresas, organizações ou

governos. As crises, diga-se, tornaram-

-se cada vez mais recorrentes, pelo que

podemos até afirmar que se tornaram

o novo normal. Quando a próxima

crise virá? Será ela financeira, como a

crise de 2008/2009? Ou será sanitária

como a atual pandemia da Covid-19?

Até mesmo crises decorrentes da disrupção

de modelos de negócio, como

foi a TV aberta para o cinema, como a

TV a cabo para a TV aberta e como o

streaming para a TV a cabo, são cada

vez mais comuns. Ninguém sabe o que

acontecerá neste ano, quanto mais em

um futuro de cinco anos.

Seja qual for esse futuro, um dos principais

ativos de um negócio será sua

resiliência à crise. Mesmo sendo as crises

relativamente imprevisíveis, estar

pronto para elas não é de todo impossível,

pois com uma gestão de riscos adequada

é possível compreender as perspectivas

de estresse do negócio. Para

o compliance, especificamente, não

interessa os riscos financeiros e do negócio;

a preocupação da conformidade

são com os riscos legais, regulamentares

e éticos e seus impactos reputacionais

para o negócio. Isso não é pouco,

pois danos reputacionais podem levar

a crise financeira, como o fechamento

de torneiras de crédito, e uma crise

econômica, com a perda de valor da

empresa e até mesmo sua falência por

perda de consumidores.

A Operação Lava Jato, por exemplo,

deixou mu itas empreiteiras muito

próximas desse fim.

É claro que o empreendedor prefere

apostar todo o seu capital naquilo que

é a essência do negócio. Parece mais

lógico apostar nas vendas e no desenvolvimento

tecnológico que em algo

que significa custo, entretanto, em um

mundo cada vez mais instável, apostar

seguro sempre faz sentido. Não só

os programas de conformidade serão

cada vez mais exigidos por consumidores

em geral, pois o mercado está

cada vez mais atento à responsabilidade

social das empresas, mas também

instituições financeiras exigirão que os

interessados em buscar crédito possuam

programas bem estruturados.

Além disso, para quem deseja ser fornecedor

de empresas multinacionais

ou governos, não ter compliance tornar-se-á

um impeditivo para atingir

esses setores da economia.

É preciso compreender que conformidade

não significa programas caríssimos

ou um freio aos negócios. Antes

de mais nada, um bom programa de

compliance deve ser desenhado para

aquela empresa, com suas características

que a tornam única, dentro do seu

setor de empreendimento.

A conformidade deve ser estabelecida

na ideia de eficácia e economicidade,

ou seja, deve ser capaz de prevenir os

riscos específicos levantados, mas também

ser estruturada com inteligência

para que se torne autogerenciável pela

empresa, com apoio de consultorias

externas apenas pontuais. Uma vez que

se introjete em todos os stakeholders,

principalmente na alta administração,

uma cultura ética e de controle de riscos,

o programa será aperfeiçoado por

seus próprios agentes.

E, por fim, um setor de compliance

jamais deve ser um dificultador dos

negócios, mas sim um programa que

objetiva favorecê-los com a prevenção

daqueles que podem dar errado e tornarem-se,

em uma crise, um motivo

de perdas financeiras graves. Uma boa

gestão da conformidade agirá sempre

no sentido de viabilizar soluções

para que negociações cheguem a um

fim positivo. Se não houver solução, e

isso será confirmado com o passar do

tempo, era porque o negócio não deveria

mesmo ter acontecido. E quando

perceber isso, o empresário agradecerá

por ter sido impedido o desastre.

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