Edição de Julho e Agosto 2021
Edição de Julho e Agosto 2021 Nºs 277 e 278
Edição de Julho e Agosto 2021
Nºs 277 e 278
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RETRATOS CONTADOS...
Diário de uma avó e de um neto
Alice
Vieira
V NELSON MATEUS (*) - (**)
Nélson
Mateus
uerida Avó,
Nos últimos anos muito se tem ouvido,
e escrito, sobre a “Saloia da Malveira”.
Mas hoje apetece-me falar da verdadeira “Saloia da Malveira”,
a que partiu há 25 anos.
Lembro-me perfeitamente de ver a Beatriz Costa a
contar histórias da sua vida na televisão. As gerações
mais novas não fazem ideia de quem foi Beatriz Costa,
mas os mais velhos recordam perfeitamente esta figura
que não deve ser esquecida.
Ficará para sempre conhecida como a “Menina da Franja”,
uma moda à qual aderiu para se estrear no cinema,
(e à qual também as tuas tias te fizeram aderir, mesmo
que então não tivesses voto na matéria )
Beatriz da Conceição (seu nome de batismo) deu os
primeiros passos no mundo artístico no teatro de revista,
quando subiu ao palco do teatro Éden (sim, o hotel
Éden nos Restauradores, antes de ser convertido em
hotel foi um magnifico Cineteatro). Beatriz da Conceição
sonhava conquistar os palcos. Um ano depois o
fundador do Parque Mayer dava-lhe o nome artístico
de Beatriz Costa, e ela estreia-se no Rio de Janeiro, recebendo
os aplausos do público. Aparece pela primeira
vez no cinema em 1927. Tudo isto há quase um século.
A década de 1930 foi para Beatriz Costa a década do
reconhecimento e da consagração. Para além de muitos
outros trabalhos, foi nos filmes “A Canção de Lisboa”
e “A Aldeia da Roupa Branca” que fez os papéis da sua
vida. São muitos os que ainda têm bem presentes na
A verdadeira
memória as eternas costureira Alice e lavadeira Gracinda.
Personagens não muito diferentes da Beatriz nascida em
Mafra, trazida ainda em criança pela mãe para Lisboa, e
que só aprendeu a ler e a escrever aos 13 anos.
A partir daí, a busca pelo conhecimento nunca mais teve
fim. Em 1960 terminou a carreira de representação e começou
a dedicar-se à sua alfabetização e a escrever autobiografias,
com a ajuda de nomes como Almada Negreiros
e Aquilino Ribeiro.
Recordo-me de a ver (na TV) a falar do facto de ter optado
por viver no Hotel Tivoli (onde veio a morrer a 15 de
abril 1996) e do seu desejo de ser
sepultada no cemitério da Malveira.
Em Mafra, para além de um
Auditório Municipal com o seu
nome, existe ainda o Museu da
“Diva Saloia”, onde está exposto
o legado que a atriz Beatriz Costa
doou ao povo da Malveira.
Foi vontade de Beatriz Costa
que muitos dos objetos de que
se fazia rodear no seu quarto, no
Hotel Tivoli, em Lisboa, fossem
doados ao povo da Malveira. Foi
inaugurado pela atriz no dia 10
de agosto de 1993. Este espólio
está hoje na Casa de Cultura
da Malveira. Foi conferida uma
nova dinâmica à presente exposição
ilustrativa, sob o título
Beatriz Costa: a diva saloia.
Quando for levar-te à Ericeira,
podemos parar em Mafra para
irmos espreitar este testemunho
do amor de Beatriz Costa pelas
suas gentes. Uma vez que até foste
sua amiga, irás gostar de ver
alguns objetos pessoais, recordações
de viagens, ofertas de amigos e admiradores de todas
as esferas, com especial destaque para as suas coleções
de bonecas e burrinhos, assim como por uma substancial
parte documental (fotografias, cartas, recortes da imprensa,
entre outros.
Agora fiquei com imensa vontade de ir à Malveira comer
umas trouxas.
Mete na agenda.
Agora que estamos desconfinados ninguém nos agarra.
Mas sempre com muito cuidado, claro!
Bjs
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Lusitano de Zurique - Julho/Agosto 2021 | www.cldz.eu