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JANEIRO_2022-DIGITAL

Órgão informativo do Centro Lusitano de Zurique

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Entrevista

Entrevista

Tatiana

Cardoso

Estudante de Sociologia e membro da

Direcção do Rancho Folclórico Danças e

Cantares da Nossa Terra de Arbon

Tatiana Pinto Cardoso é uma

jovem promissora da nova geração

que integra a Comunidade

Portuguesa, neste país

helvético.

Nasceu e vive em St. Gallen

Tatiana Pinto Cardoso assume-se

com uma defensora da

Cultura Portuguesa.

Faz parte do Rancho Folclórico

Danças e Cantares da

Nossa Terra de Arbon, dança,

é ensaiadora e faz parte também

da Direcção e tem um

papel motivador em relação a

todo o grupo.

Decidida, ponderada, cuidadosa

em tudo o que faz, a

Tatiana é uma jovem responsável,

respeitadora e procura

dar à sociedade suíça e portuguesa

o melhor de si.

Nos poucos momentos livres

que tem, gosta de dançar, fazer

yoga, viajar, comer boa comida

e estar com os amigos.

Não dispensa um bom prato

gastronómico, sendo o seu

preferido novos sabores de

qualquer canto do mundo.

A sua vida gira um pouco por

toda a Suíça. Estuda Sociologia

e dentro de pouco tempo

irá apresentar a sua Tese de

Mestrado sobre os direitos de

cidadania.

Vamos descobrir um pouco

mais desta mulher sem preconceitos,

lutadora dos seus

ideais e ideias.

A V Maria dos Santos

Maria dos Santos — Como é

crescer fora de Portugal e estar

totalmente integrada nas

duas culturas?

— Tatiana Cardoso — Para mim,

é muito valioso e gratificante,

ter a possibilidade de crescer

entre várias culturas. Além

da cultura portuguesa e suíça,

cresci e convivo com muitas

pessoas de diferentes comunidades,

etnias, culturas e nacionalidades

que é literalmente

um enriquecimento poder

aprender com elas. Faço muitas

vezes a experiência que estando

fora do meu país, a cultura

é ainda mais valorizada e acarinhada

por existir a saudade de

estar longe. Tudo isso levou-me

apreciar cada cultura com a sua

singularidade e integrá-las na

minha vida.

M.S.— Tens uma estima elevada

por tudo o que diz respeito

à cultura portuguesa. Quem te

transmitiu este valor e como

construístes em ti este amor à

Pátria?

— T.C.— A minha avó paterna

veio para a suíça quando nasci,

além disso, sempre estive

rodeada de portugueses, andei

na escola portuguesa e os

meus pais sempre deram valor

a minha aprendizagem sobre

a nossa cultura. Cresci num

meio de muitas culturas diferentes,

onde se partilhava tradições,

comidas típicas e línguas.

Aprendi assim muito cedo

quanto valor a própria cultura

tem para as pessoas e que valioso

é pode-la partilhar para

os outros. Tive uma Professora

da escola portuguesa que nos

levou a duas visitas de estudo a

Portugal. Aí percebi que a nossa

cultura foi influenciada por

muitas outras. Nasceu assim o

meu bichinho por culturas do

Mundo, de conhecer novos países,

etnias e pessoas.

As nossas raízes, é o que nos

define, então ir a procurar os

segredos da cultura dos nossos

antepassados, é ir à procura da

nossa própria história.

M.S.— As tuas raízes folclóricas

vêm de que parte da tua família?

Porque assumistes este

projecto cultural?

— T.C. — O engraçado é que ninguém

da minha família algum

dia fez parte de um Rancho

Folclórico ou algo parecido. Antigamente

dançava Bachata e

Kizomba que são estilos completamente

diferentes e sinceramente

não ligava nada ao

folclore. Os meus pais sempre

foram ligados a Centros e Associações

portuguesas. Então

sempre tive convivência com

portugueses, com a nossa cultura,

e com o nosso país que

visito minimamente duas vezes

ao ano. Há uns anos fui com a

minha turma da escola portuguesa

ao Algarve. Fizemos uma

visita de estudo e a nossa Professora

levou-nos a ver um Rancho

Folclórico da região. Na brincadeira

dissemos que um dia íamos formar um

Rancho na Suíça. Quando ouvi falar que

se ia fundar um Rancho em Arbon tive

curiosidade, então fui ao primeiro ensaio

e desde aí a paixão foi crescendo.

Uma nota à parte, dois amigos meus, o

Christian e o José que estavam presentes

no Algarve quando fomos visitar o

Rancho, hoje fazem parte de Direcção

comigo.

M.S.— O Rancho Folclórico de Arbon

tem apenas cinco anos e a pandemia

não consegui abalar o vosso grupo.

Como se consegue isto?

— T.C. — Para nós como Direcção sempre

foi importante, manter o grupo unido

e não perder o ânimo durante a pandemia.

Por essa razão tentamos sempre

manter o nosso grupo activo com actividades

online, como fazer vídeos ou

pinturas para publicar nas nossas redes

sociais. Além disso, sempre mantivemos

contacto através do nosso grupo

de Whatsapp. Durante os últimos dois

anos, quando a situação melhorava e

o estado assim o permitiu, também fizemos

alguns convívios com diferentes

actividades. O nosso foco como grupo

foi sempre manter-nos unidos e manter

o contacto com a nossa Família Rancheira.

M.S.— Foste uma aluna exemplar e

dedicada no teu percurso académico.

Porque escolheste a Sociologia para

formação profissional?

— T.C. — Sempre soube que queria trabalhar

com pessoas. Estar o dia todo

presa a uma mesa, a um computador

ou estar fechada o dia todo, nunca foi

para mim. Eu costumo dizer que tenho

a síndrome da Madre Teresa de Calcutá,

gosto de entender o ser humano, ajudá-lo

com as suas dificuldades e no seu

percurso da vida. Então Sociologia foi

o curso que achei mais adequado para

entender a pessoa em si, mas também

como a sociedade funciona e influência

o ser humano ou vice-versa.

M.S.— És co-Presidente da INES (Instituto

Nova Suíça), porque abraçastes

este projecto e como pretendes demonstrar,

que de facto é possível termos

uma nova Suíça?

— T.C. — Ao longo do tempo, fui-me

apercebendo haver situações nas quais,

era tratada de outra maneira, por não

ter a nacionalidade suíça e por ser estrangeira.

Mesmo assim eu posso falar

de uma posição privilegiada, porque

há pessoas que sofrem ainda mais de

discriminação devido à nacionalidade,

etnia, religião ou recursos externos. A

suíça é uns pais caracterizado pela imigração,

mas a responsabilidade não

é assumida, porque em pleno século

XXI os estrangeiros continuam a ser

discriminados por várias razões. O Instituto

Nova Suíça, pretende mostrar a

realidade da nossa sociedade e quais

desafios que enfrentar. A nova Suíça é

sinónimo de participação, diversidade e

uma nova autoconfiança onde nos queremos

livrar da ideia do “nós” e “eles”. O

objectivo é concretizar uma Suíça onde

todas as pessoas que cá estão e que

ainda virão, possam participar e viver

sem desvantagens.

M.S.— Está nos teus planos uma carreira

política, neste país helvético?

— T.C. — Neste momento não, além disso,

não tenho nacionalidade Suíça, que

me impede disso. Mas, no fundo nos

projectos em que estou envolvida, entre

outros no Instituto Nova Suíça, faço trabalho

político e tento assim influenciar

a política de uma forma ou da outra.

M.S.— Ao longo destes últimos anos,

tens sido o foco, no jornalismo helvético.

Como lidas com pressão que tens

tido?

— T.C. — Inicialmente, com a minha

inocência jovem não entendia quais

consequências isso me poderia trazer.

Com o passar do tempo, e com os julgamentos

principalmente por não ter

a nacionalidade suíça e mesmo assim

ser politicamente activa e defender os

direitos dos emigrantes, tive algumas

dificuldades. Por algum tempo ausentei-me

de propósito, negava qualquer

convite para entrevistas, eventos, etc.

Hoje em dia, mais madura, lido bem

com os julgamentos e com a pressão de

ser uma mulher nova com biografia de

migração. Luto pelos meus direitos e os

dos outros, com a minha ideologia de

que nós somos todos iguais, luto pelos

mesmos direitos, mas também pelos

mesmos deveres! Tenho tanto direito

de expor a minha opinião como qualquer

outra pessoa, com ou sem história

de migração. Uma estratégia que

fui adquirindo com o tempo, é tentar

entrar em diálogo com as pessoas que

me confrontam e tentar mostrar assim

outras perspectivas.

M.S.— Em pouco tempo terás o teu

mestrado feito. Como projectas a tua

carreira profissional. Pensas ficar por

cá, ou gostarias de abraçar um projecto

internacional?

— T.C. — Por agora planeio ficar por aqui,

porque ainda há muito que fazer. Mas

sim tenho um bichinho dentro de mim,

que me quer levar mais além do que as

fronteiras helvéticas. Se calhar para o

país onde tenho as minhas raízes, quem

sabe...

M.S: Estudar Sociologia é estudar a

sociedade, relações sociais e cultura?

Vais dedicar-te a alguma secção ou

preferes um ramo mais abrangente?

— T.C. — Agora o meu foco está direccionado

a alguns tópicos que já mencionei

anteriormente. São temas diferenciados,

mas que são automaticamente

muito abrangentes. Tudo o que engloba

pessoas, são assuntos muito complexos

e conectados, é difícil traçar uma

linha clara. Além disso, não sou a categoria

de pessoa que se gosta de fixar

só numa coisa ou num tema, gosto de

manter a mente aberta para desafios

novos e poder assim crescer.

M.S.— De que forma poderás aproveitar

os teus estudos, para ajudares

mais a Comunidade portuguesa, nomeadamente

quem tem mais problemas

com a integração?

— T.C. — Já desde muito cedo que exerci

uma função ponte entre as duas culturas,

em tentar ajudar a quem não entende

a língua, os sistemas, a cultura.

Com os estudos que tenho e todos os

projectos em quais estou activa, aprendo

cada dia mais como funcionam as

diferentes pessoas, sistemas e culturas

para poder ajudar. É também por

isso mesmo, que sou muito sensível ao

termo da integração, porque pode ser

interpretado de várias maneiras e ao

longo do tempo, na história suíça teve

e tem aspectos negativos. Tento assim

ajudar de uma maneira que não haja

confrontação nem negação ou até discriminação.

Com diálogo, compreensão

das duas partes, transparência, sinceridade

tento gerir com entendimento

geral sem julgamento ou exigências

unilaterais.

M.S.— Estamos em Janeiro 2022. Que

desejas para este ano?

— T.C. — Desejo a todas as pessoas muita

paz interior e saúde. Espero que este

ano nos traga muitas coisas boas e possamos

ultrapassar esta fase difícil pela

qual estamos a passar. Estou ansiosa

que comecem outra vez as nossas atividades

culturais, das quais sinto muitas

saudades. Desejo uma Nova Suíça, onde

todos sejamos iguais e que os sonhos

de cada um se possam concretizar.

O Centro Lusitano Zurique deseja-te

muito sucesso a todos os níveis.

12 Lusitano de Zurique - Janeiro 2022 | www.cldz.eu

Lusitano de Zurique - Janeiro 2022 | www.cldz.eu

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