You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Opinião
Crónica
O
Sicofanta
do Chega
Carlos Matos Gomes
Sicofanta. A palavra é de origem
grega e significava o delator dos
ladrões de figos. Com o tempo
passou a designar lambe botas,
lambe-cus, denunciantes, e em
geral uma pessoa que tenta obter
vantagem lisonjeando pessoas
influentes ou comportando-se
de forma servil.
Dante, na Divina Comédia, colocou
os sicofantas no nono
círculo do Inferno, ainda abaixo
dos assassinos e dos tiranos.
Colocou-os mergulhados em
excrementos, dizendo deles: “A
punição é que aqueles que estavam
cheios de porcaria na vida
estão literalmente imersos nela
na vida após a morte.”
Uma autora de ciência política
americana, a propósito da
“gente” que rodeava Trump, escreveu
também sobre os sicofantas:
“ Os sycophants ajudam
a simplificar a questão da corrupção,
que é uma epidemia
assassina. Dizem aos senhores
a quem servem que é o que os
outros fazem, são o veículo para
ações escuras e saques maciços.
Percorrem os corredores do poder
sem evidências de formação
profissional para o papel que
desempenham, nem têm histórico
conhecido fora do “jobber
político”, nem um perfil pessoal
apresentável. Por outras palavras,
servem apenas como cães
de ataque.”
E, mais adiante: “ São demolidores
da sociedade porque
tornam a comunicação impossível,
pois mentem permanentemente
e minam a confiança.
Impõem uma dupla transação
entre o facilitador e eles, de que
os cidadãos adormecidos, ou ingénuos
são vítimas. Fomentam
uma cultura em que qualquer
troca leal de informação se torna
impossível, porque nunca sabemos
quando o sicofanta nos
está a dizer a verdade que ele
quer em que nós acreditemos,
ou se está a pretender provocar
uma desconfiança por um qualquer
meio enviesado.”
A descrição sobre o Sicofanta
vem a propósito de uma criatura
cuja corrupção foi apresentada
como uma curiosidade. Uma
criatura que terá sido militante
do Partido Socialista, chefe de
um sindicato de funcionários
dos impostos, que se introduziu
no Bloco de Esquerda, chegando
a candidato a deputado
e apoiante da candidatura presidencial
de Marisa Matias, que
surge agora mergulhado no
Chega. Olhem que sacaninha
engraçado! Comprem-lhe um
relógio, ou uns óculos escuros.
Mas não estamos em presença
de um videirinho, de um pequeno
traficante de quinquilharias.
Ou não estamos só perante
um escarro humano. Estamos
perante um tipo de cultura, de
aceitação de ausência de valores
e de princípios que destruirá
o compromisso social em que
a nossa civilização se fundou.
Estamos na civilização dos sicofantas
que Dante colocava na
vida após a morte nas fossas de
excrementos, porque em vida
foram como este exemplar moderno,
parte deles.
Um sicofanta que no PS e no BE
defendeu o serviço nacional de
saúde, a escola pública, a previdência
social, os direitos dos
trabalhadores e que hoje procura
tratar da vidinha e receber os
votos dos que defendem o negócio
privado da saúde, o negócio
do ensino privado contra fim
da escola pública e os seguros
privados contra as reformas e a
segurança socia, os patrões em
vez de quem trabalha por conta.
Dante colocou estes sicofantas
numa fossa de merda. Aqui há
quem o queira a seu lado, a deputar!
Fica a foto do sicofanta, sem direito
a nome de pessoa.
Cavaco Silva
– um homem coerente no ódio e
na militância
Carlos Esperança
Conheci boas pessoas salazaristas. Pensavam
mal, mas tinham bom coração. Julgavam que o
frio assassino de Santa Comba desconhecia os
assassínios da Pide, os massacres, as torturas, os
presídios, a violência policial e a miséria do povo.
Puderam, assim, ser salazaristas.
Não é o caso de Cavaco Silva, homem a quem a
democracia deu o que negou a pessoas inteligentes,
honestas e generosas. Nunca um homem tão
inculto e limitado chegou tão longe e durante
tanto tempo.
Rude nas maneiras, medroso e intriguista, foi arrogante
e pérfido para os adversários, a quem considera
inimigos. O folhetim da posse do Governo
de António Costa, depois de ter tentado contrariar
a AR e prejudicado o país com o medo que
incutiu e a denúncia às instituições estrangeiras,
do perigo do governo apoiado pelo PCP e BE, só
encontrou paralelo nas palavras boçais aos membros
do Governo que lhe desejaram Boas-Festas
de Natal, “uma boa tradição que se deve manter,
mesmo com este governo” (A. Costa).
Sobre as prevaricações ortográficas, o ódio a Saramago
e à democracia, os negócios do BPN, a
invenção das escutas do PM, as múltiplas reformas
que recebe, o seu carácter e o ódio que o
consome, paira um manto de silêncio.
Basta-lhe ver um cravo vermelho ou ouvir a data
do 25 de Abril para não conter o ódio à democracia.
Ignora que o 5 de Outubro, o 1 de Dezembro e
o 25 de Abril são datas da identidade do povo que
somos, e só o 28 de maio satisfaz a sua incultura
democrática.
O mundo é feito de mudança, mas o empedernido
salazarista não muda. Não conseguiu fazer do
PSD um partido fascista, nem ele nem o cúmplice
Passos Coelho, mas quer que o fascismo seja o
bálsamo da perfídia que acalenta.
«Cavaco diz que acordo com o Chega era melhor
solução».
(Frase proferida na formação do Governo dos
Açores)
Notícias sem sorriso e
um par de botas
Antonio Manuel Ribeiro (*)
Tem sido uma overdose de Covid-19/variantes há
demasiado tempo e nem a visita dos dirigentes do clube
de futebol brasileiro Flamengo à cata do JJ do meu clube
consegue destronar a verborreia científica e especializada
que nos consome os miolos.
Não sou um negacionista, como já por aqui escrevi, mas
estou atento ao marinar e ao fácies dos apresentadores
perante os médicos e matemáticos convidados para
verberar o óbvio:
A Covid não tem patinhas para se mexer mas sabe por
natureza vencer a oposição vacinal desenhando um novo
contexto infeccioso.
O contágio Covid existe, a infecção está aí, como a gripe,
a pneumonia e outros problemas respiratórios no tempo
invernoso que vamos vivendo. Falamos do primeiro,
escamoteando os segundos – valia a pena, apenas
para esclarecer, para acalmar, para retirar o medo do
Paulo Marques
Sabemos, pelos testemunhos
dos sobreviventes
dos campos de concentração
nazi, por exemplo, pelas
experiências do escritor
italiano Primo Levi (1919 –
1987) e do espanhol Jorge
Semprún (1923 – 2011), que
os prisioneiros se juntavam
na zona das latrinas, um
sítio pestilento, mas onde
estavam mais resguardados
do frio e da opressão
dos guardas, para recitarem
uns aos outros poemas,
passagens de livros
ou histórias que sabiam de
cor. Faziam-no, não porque
acreditassem que com
essa atitude se salvavam,
mas para diminuir a objetificação
de que eram alvo,
o facto de estarem reduzidos
a peças para abate,
para se sentirem parte da
Humanidade.
desconhecido que se instala perante tanto diagnóstico,
que as notícias abrandassem a chamada aos especialistas,
que vamos identificando pelo vestuário, os óculos, o corte
do cabelo e o remexer labial surdo.
Calou-se há muito a ordem que a sabedoria científica ditava:
“temos de alcançar a imunidade de grupo’. Lembram-se?
A vacinação tem falhado o objectivo e o slogan foi
substituído pela necessidade de reforço da dose vacinal
perante novas variantes. O mesmo acontece anualmente
com a gripe e ninguém se incomoda porque todos
transportamos o vírus da gripe.
Pedia-se outra informação, esperava-se o reforço do SNS,
sem esquecer os tão louvados profissionais que servem
para heróis nas horas amargas. Mas o SNS continua a ser
uma virgem mal tratada, amada e abandonada como
qualquer virgem incauta.
Felizmente, ontem, li que o SNS já contratualizou com os
privados 400 camas. É isso que se espera, e que as outras
urgências urgentes (o pleonasmo é sentido) não sejam
abandonadas à porta dos hospitais.
Tenham calma, desliguem, mas cuidem de se proteger
protegendo os outros porque ela anda aí.
Feliz Natal.
Fotografia: Doutor Carlos M. Trindade (obviamente de folga
na passada sexta-feira na FNAC de Almada) – talvez ainda
me vá bater por causa desta crónica…
(*) Fundador e vocalista do mais antigo grupo de Reock
português, UHF
A LITERATURA NÃO SALVA, MAS AJUDA, E MUITO...
40 Lusitano de Zurique - Janeiro 2022 | www.cldz.eu Lusitano de Zurique - Janeiro 2022 | www.cldz.eu
41