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JANEIRO_2022-DIGITAL

Órgão informativo do Centro Lusitano de Zurique

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Opinião

Crónica

O

Sicofanta

do Chega

Carlos Matos Gomes

Sicofanta. A palavra é de origem

grega e significava o delator dos

ladrões de figos. Com o tempo

passou a designar lambe botas,

lambe-cus, denunciantes, e em

geral uma pessoa que tenta obter

vantagem lisonjeando pessoas

influentes ou comportando-se

de forma servil.

Dante, na Divina Comédia, colocou

os sicofantas no nono

círculo do Inferno, ainda abaixo

dos assassinos e dos tiranos.

Colocou-os mergulhados em

excrementos, dizendo deles: “A

punição é que aqueles que estavam

cheios de porcaria na vida

estão literalmente imersos nela

na vida após a morte.”

Uma autora de ciência política

americana, a propósito da

“gente” que rodeava Trump, escreveu

também sobre os sicofantas:

“ Os sycophants ajudam

a simplificar a questão da corrupção,

que é uma epidemia

assassina. Dizem aos senhores

a quem servem que é o que os

outros fazem, são o veículo para

ações escuras e saques maciços.

Percorrem os corredores do poder

sem evidências de formação

profissional para o papel que

desempenham, nem têm histórico

conhecido fora do “jobber

político”, nem um perfil pessoal

apresentável. Por outras palavras,

servem apenas como cães

de ataque.”

E, mais adiante: “ São demolidores

da sociedade porque

tornam a comunicação impossível,

pois mentem permanentemente

e minam a confiança.

Impõem uma dupla transação

entre o facilitador e eles, de que

os cidadãos adormecidos, ou ingénuos

são vítimas. Fomentam

uma cultura em que qualquer

troca leal de informação se torna

impossível, porque nunca sabemos

quando o sicofanta nos

está a dizer a verdade que ele

quer em que nós acreditemos,

ou se está a pretender provocar

uma desconfiança por um qualquer

meio enviesado.”

A descrição sobre o Sicofanta

vem a propósito de uma criatura

cuja corrupção foi apresentada

como uma curiosidade. Uma

criatura que terá sido militante

do Partido Socialista, chefe de

um sindicato de funcionários

dos impostos, que se introduziu

no Bloco de Esquerda, chegando

a candidato a deputado

e apoiante da candidatura presidencial

de Marisa Matias, que

surge agora mergulhado no

Chega. Olhem que sacaninha

engraçado! Comprem-lhe um

relógio, ou uns óculos escuros.

Mas não estamos em presença

de um videirinho, de um pequeno

traficante de quinquilharias.

Ou não estamos só perante

um escarro humano. Estamos

perante um tipo de cultura, de

aceitação de ausência de valores

e de princípios que destruirá

o compromisso social em que

a nossa civilização se fundou.

Estamos na civilização dos sicofantas

que Dante colocava na

vida após a morte nas fossas de

excrementos, porque em vida

foram como este exemplar moderno,

parte deles.

Um sicofanta que no PS e no BE

defendeu o serviço nacional de

saúde, a escola pública, a previdência

social, os direitos dos

trabalhadores e que hoje procura

tratar da vidinha e receber os

votos dos que defendem o negócio

privado da saúde, o negócio

do ensino privado contra fim

da escola pública e os seguros

privados contra as reformas e a

segurança socia, os patrões em

vez de quem trabalha por conta.

Dante colocou estes sicofantas

numa fossa de merda. Aqui há

quem o queira a seu lado, a deputar!

Fica a foto do sicofanta, sem direito

a nome de pessoa.

Cavaco Silva

– um homem coerente no ódio e

na militância

Carlos Esperança

Conheci boas pessoas salazaristas. Pensavam

mal, mas tinham bom coração. Julgavam que o

frio assassino de Santa Comba desconhecia os

assassínios da Pide, os massacres, as torturas, os

presídios, a violência policial e a miséria do povo.

Puderam, assim, ser salazaristas.

Não é o caso de Cavaco Silva, homem a quem a

democracia deu o que negou a pessoas inteligentes,

honestas e generosas. Nunca um homem tão

inculto e limitado chegou tão longe e durante

tanto tempo.

Rude nas maneiras, medroso e intriguista, foi arrogante

e pérfido para os adversários, a quem considera

inimigos. O folhetim da posse do Governo

de António Costa, depois de ter tentado contrariar

a AR e prejudicado o país com o medo que

incutiu e a denúncia às instituições estrangeiras,

do perigo do governo apoiado pelo PCP e BE, só

encontrou paralelo nas palavras boçais aos membros

do Governo que lhe desejaram Boas-Festas

de Natal, “uma boa tradição que se deve manter,

mesmo com este governo” (A. Costa).

Sobre as prevaricações ortográficas, o ódio a Saramago

e à democracia, os negócios do BPN, a

invenção das escutas do PM, as múltiplas reformas

que recebe, o seu carácter e o ódio que o

consome, paira um manto de silêncio.

Basta-lhe ver um cravo vermelho ou ouvir a data

do 25 de Abril para não conter o ódio à democracia.

Ignora que o 5 de Outubro, o 1 de Dezembro e

o 25 de Abril são datas da identidade do povo que

somos, e só o 28 de maio satisfaz a sua incultura

democrática.

O mundo é feito de mudança, mas o empedernido

salazarista não muda. Não conseguiu fazer do

PSD um partido fascista, nem ele nem o cúmplice

Passos Coelho, mas quer que o fascismo seja o

bálsamo da perfídia que acalenta.

«Cavaco diz que acordo com o Chega era melhor

solução».

(Frase proferida na formação do Governo dos

Açores)

Notícias sem sorriso e

um par de botas

Antonio Manuel Ribeiro (*)

Tem sido uma overdose de Covid-19/variantes há

demasiado tempo e nem a visita dos dirigentes do clube

de futebol brasileiro Flamengo à cata do JJ do meu clube

consegue destronar a verborreia científica e especializada

que nos consome os miolos.

Não sou um negacionista, como já por aqui escrevi, mas

estou atento ao marinar e ao fácies dos apresentadores

perante os médicos e matemáticos convidados para

verberar o óbvio:

A Covid não tem patinhas para se mexer mas sabe por

natureza vencer a oposição vacinal desenhando um novo

contexto infeccioso.

O contágio Covid existe, a infecção está aí, como a gripe,

a pneumonia e outros problemas respiratórios no tempo

invernoso que vamos vivendo. Falamos do primeiro,

escamoteando os segundos – valia a pena, apenas

para esclarecer, para acalmar, para retirar o medo do

Paulo Marques

Sabemos, pelos testemunhos

dos sobreviventes

dos campos de concentração

nazi, por exemplo, pelas

experiências do escritor

italiano Primo Levi (1919 –

1987) e do espanhol Jorge

Semprún (1923 – 2011), que

os prisioneiros se juntavam

na zona das latrinas, um

sítio pestilento, mas onde

estavam mais resguardados

do frio e da opressão

dos guardas, para recitarem

uns aos outros poemas,

passagens de livros

ou histórias que sabiam de

cor. Faziam-no, não porque

acreditassem que com

essa atitude se salvavam,

mas para diminuir a objetificação

de que eram alvo,

o facto de estarem reduzidos

a peças para abate,

para se sentirem parte da

Humanidade.

desconhecido que se instala perante tanto diagnóstico,

que as notícias abrandassem a chamada aos especialistas,

que vamos identificando pelo vestuário, os óculos, o corte

do cabelo e o remexer labial surdo.

Calou-se há muito a ordem que a sabedoria científica ditava:

“temos de alcançar a imunidade de grupo’. Lembram-se?

A vacinação tem falhado o objectivo e o slogan foi

substituído pela necessidade de reforço da dose vacinal

perante novas variantes. O mesmo acontece anualmente

com a gripe e ninguém se incomoda porque todos

transportamos o vírus da gripe.

Pedia-se outra informação, esperava-se o reforço do SNS,

sem esquecer os tão louvados profissionais que servem

para heróis nas horas amargas. Mas o SNS continua a ser

uma virgem mal tratada, amada e abandonada como

qualquer virgem incauta.

Felizmente, ontem, li que o SNS já contratualizou com os

privados 400 camas. É isso que se espera, e que as outras

urgências urgentes (o pleonasmo é sentido) não sejam

abandonadas à porta dos hospitais.

Tenham calma, desliguem, mas cuidem de se proteger

protegendo os outros porque ela anda aí.

Feliz Natal.

Fotografia: Doutor Carlos M. Trindade (obviamente de folga

na passada sexta-feira na FNAC de Almada) – talvez ainda

me vá bater por causa desta crónica…

(*) Fundador e vocalista do mais antigo grupo de Reock

português, UHF

A LITERATURA NÃO SALVA, MAS AJUDA, E MUITO...

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