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A CULTURA DO DESAPEGO<br />
Por: Stephen Kanitz<br />
“Passei a trabalhar meio perío<strong>do</strong><br />
após os 55 anos de idade, em vez de<br />
riqueza preferi curtir a vida enquanto<br />
tivesse a energia necessária. “<br />
Uns 20 anos atrás, o meu amigo e presidente<br />
da Alcoa, Alain Belda, me mostrava à fábrica no<br />
Maranhão. Inspecionan<strong>do</strong> as instalações, Belda<br />
me apresenta o José “nosso melhor torneiro”.<br />
“Agora pergunta ao Zé por que ele só trabalha<br />
as segundas e terças, e falta as quartas, quintas e<br />
sextas?”. Perguntei. “Ah Doutor, pelo salário que<br />
me pagam aqui na Alcoa, não dá para trabalhar<br />
somente às segundas-feiras”. Outro caso é de um<br />
empresário alemão trabalhan<strong>do</strong> na Bahia, que<br />
simplesmente decidiu <strong>do</strong>brar os salários de seus<br />
funcionários. (Henry Ford fez a mesma coisa). Três<br />
meses depois, seus funcionários convocaram uma<br />
reunião, e perguntaram se não podiam trabalhar<br />
meio perío<strong>do</strong>. Essa questão nunca foi discutida,<br />
e tem a ver com produtividade. Anglo-saxões,<br />
quan<strong>do</strong> alguma máquina <strong>do</strong>bra a produtividade,<br />
em vez de trabalharem menos, ou até 50% menos,<br />
preferem trabalhar tanto quanto e ganhar o <strong>do</strong>bro.<br />
Latinos, mais humanos e liga<strong>do</strong>s na vida, com o<br />
aumento da produtividade preferem trocar salário<br />
por mais tempo disponível. E curtir a família, o Sol, as<br />
praias, a música e os amigos. Pela pesquisa abaixo,<br />
os nordestinos têm o maior índice de desapego<br />
desse país, e quem diz que não são eles os mais<br />
certos? Essa é a conclusão <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> “Dinheiro no<br />
Brasil: um estu<strong>do</strong> comparativo <strong>do</strong> significa<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
dinheiro entre as regiões geográficas”, de Alice da<br />
Silva Moreira. Com o clima e a natureza que temos<br />
faz senti<strong>do</strong> não sermos workaholics (vicia<strong>do</strong>s em<br />
trabalho). Não temos invernos que nos mantêm<br />
em casa, temos praias maravilhosas. Eu mesmo<br />
passei a trabalhar meio perío<strong>do</strong> após os 55 anos<br />
de idade, em vez de riqueza preferi curtir a vida<br />
enquanto tivesse a energia necessária. Curtir a vida<br />
numa cadeira de rodas não fazia senti<strong>do</strong> para mim.<br />
Pelo jeito o Brasil vai continuar não crescen<strong>do</strong> nos<br />
próximos oito anos, mas isso não será um problema<br />
tão sério como os economistas acreditam. Sempre<br />
fomos um povo desapega<strong>do</strong> a bens materiais. E<br />
isso não é sinal de pobreza, e sim de riqueza.<br />
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