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53ª Edição_Revista ATRAÇÃO

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Por Joacenira Oliveira

O Advento do Espiritismo

em Sergipe

São Pedro do Sul RS BR

Graduada em Ciências Econômicas (UFSM), Especialização em Ciências da Religião (UFS) e Mestrado em Sociologia (UFS).

Palestrante espírita e monitora de estudos espíritas vinculados à Federação Espírita Brasileira. Acadêmica da Academia de

Letras Espíritas do Estado de Sergipe (ALEESE).

Segundo reportagem inserida em Anuário Espírita, edição

1970, feita pelo escritor e jornalista Martins Peralva, natural

de Boquim/SE, o movimento espírita aqui se iniciou no final

do século XIX, nas décadas de 1880/1890, aproximadamente,

tendo como núcleo de recepção as cidades de Laranjeiras e

Estância. Por que não em Aracaju? Nessa época, as respectivas

cidades eram centros populacionais mais densos, onde havia

uma tendência à urbanização, portanto, mais receptivas às novas

ideias e alternativas religiosas, se comparado a Aracaju,

que, embora transformada em capital por ato administrativo

em 1855, era quase um povoado carente, não só de estrutura

física, mas também de vida urbana.

Seguindo as mesmas tendências que marcaram a fase inicial

do Espiritismo, tanto na França como no Brasil, tiveram nos

lares seus principais foros de difusão, caridade e atendimento

aos necessitados, igualmente, acompanhando o mesmo viés

dos primeiros passos do Cristianismo, onde tiveram, na casa

do apóstolo Pedro, seus núcleos de socorro aos sofredores e

fizeram conhecida a mensagem cristã “A Casa do Caminho”.

Em Aracaju, somente no início do século XX, a partir de

1903, iniciavam-se as primeiras reuniões em residências para

estudo da doutrina e práticas mediúnicas, conforme nos assegura

PERALVA:

Na capital, só no começo do século XX, nos idos de 1903,

um Sr. Serôa da Mota, em sua residência na antiga Praça Matriz

(...) realizava as primeiras sessões espíritas, com familiares e

amigos, estudando “O Evangelho Segundo o Espiritismo” e

“O Livro dos Médiuns”, além de praticar o intercâmbio com o

mundo espiritual pela mediunidade (PERALVA, 1970, p.148). 1

Sobre os primeiros passos do Espiritismo em Sergipe, dois

fatores são apontados por Peralva como marcantes na expansão

dessa nova forma religiosa: a palavra e as curas.

Sobre a palavra, partimos da compreensão de que nenhum

discurso existe que haja saído pronto, em seus objetivos,

do cérebro de um homem. Ele é a articulação da procedência

da palavra com que as pronúncias vão determinar sua legitimidade.

Temos em Bourdieu (2002, p.15) 2 : “(...) o poder das palavras,

(...) poder de manter a ordem ou de subverter, é a crença

na legitimidade das palavras e daqueles que as pronuncia,

crença cuja produção não é da competência das palavras”.

Esses fenômenos, sobretudo os de cura, passam a ganhar

notoriedade, e passam a atrair pessoas de diferentes seguimentos

sociais e notabilizar alguns médiuns. Esses fenômenos

eram atribuídos aos médiuns Basílio Martins Peralva, que, segundo

o jornalista e escritor Martins Peralva, os espíritos costumavam

avisá-lo, antes mesmo de as pessoas chegarem à

sua presença, dos problemas que traziam. O outro notável médium,

Elphêgo Nazário Gomes (1881-1937), conhecido popularmente

como irmão Fêgo, era um modesto funileiro, operário

pobre das Oficinas da Estrada de Ferro Leste Brasileiro. Foi o

mais famoso dos curadores, morador do Bairro Siqueira Campos

(Aribé), na Rua Góis 18, onde reunia multidões de todas

as classes sociais, cegos, aleijados, doentes físicos e morais

que procuravam a cura. A água do quintal de sua casa, dada

a beber aos doentes, realizava curas e atraía um número cada

vez maior de doentes necessitados de ajuda.

“Irmão Fêgo levantou paralíticos, restituiu a visão de cegos,

fez mudos falarem e surdos ouvirem, marcando inesquecível

época da fenomenologia espírita cristã” (PERALVA, 1979).

Estes fatos marcaram o início de uma longa caminhada até

dias atuais, conforme nos assegura Jesus (2006) 3 : “O Grupo

Espírita ‘Irmão Fêgo’, como todo o movimento espírita em Aracaju,

cresceu, tomou dimensões e nada lhe deteve a caminhada”.

1 PERALVA, Martins. Excertos do movimento espírita. Rio de Janeiro: FEB, 1970.

2 BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.

3 JESUS, Antônio Monteiro de. Memórias: excertos do movimento espírita em

Sergipe. Sergipe: Gráfica e Editora Triunfo Ltda, 2006.

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Atração_ maio de 2022

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