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Crónica

Um dia até Deus se

CRÓNICA

cansará da Igreja Católica

Alemanha:

Ministro da Saúde vai avançar

com a legalização do

uso adulto de canábis

Laura Ramos

O Ministro da Saúde alemão, Karl Lauterbach, anunciou ontem novas medidas sobre a assistência

médica na Alemanha, onde incluiu a legalização do uso adulto de canábis no país, de acordo com

o jornal Spiegel. Lauterbach disse ao Handesblatt, que mudou de ideia sobre a canábis nos últimos

dois anos. “Sempre fui um oponente da legalização da canábis, mas revi a minha opinião há cerca

de um ano”. O Ministro da Saúde acredita agora que os perigos da ilegalidade superam os perigos da

reforma “recreativa”.

Surpreendentemente, Lauterbach surge em contra-corrente, num momento em que praticamente todos

os partidos da coligação queriam adiar a discussão sobre a legalização da canábis. Apesar de a legalização

ter sido destacada na plataforma eleitoral que colocou a coligação no poder, durante muito tempo tentou-

-se atacar a tomada de medidas. Mas, recentemente, os três partidos parceiros da coligação começaram a

apoiar publicamente a ideia do cultivo doméstico como parte da lei de reforma inicial, em parte como resposta

às dificuldades de acesso à canábis medicinal por parte dos pacientes.

Segundo o Spiegel, o processo para a legalização controlada de canábis deverá começar com várias discussões

técnicas entre o comissário federal de drogas, Burkhard Blienert, e especialistas nacionais e internacionais.

“Um projecto de lei deverá seguir no segundo semestre do ano”, explicou o Ministro. A coligação

quer introduzir uma “venda controlada de canábis para adultos para fins recreativos em lojas licenciadas”,

conforme declarado no acordo de coligação.

Luís Osório

1.

Sempre me comovi com a procissão

das velas, em Fátima. Acreditando mais

ou menos, tendo uma fé extraordinária

ou um racional ceticismo, é impossível

não ficar arrepiado com as manifestações

de fé, com a energia acumulada,

com a soma de tantas vidas juntas em

prece à passagem de Nossa Senhora.

Hoje não deve ter sido diferente.

2.

As aparições de Fátima não são um

dogma para a Igreja Católica – uma

pessoa pode pertencer à Igreja, pode

até ser padre ou freira, e não acreditar

que os pastorinhos viram Nossa Senhora.

É para muitos teólogos um fenómeno

mais profano do que sagrado.

No entanto, diria eu, menos profano do

que tantas decisões, omissões e opiniões

de cardeais, bispos, arcebispos,

padres ou leigos ligados à Igreja Católica

ao longo dos séculos.

Diria, vendo o copo meio cheio, que a

Igreja Católica só pode ser uma criação

de Deus pois com tantos erros, iniquidades

e pecados outra instituição já

teria sido extinta.

Mas não.

Com mais crise ou menos crise, a Igreja

Católica lá continua, o que não deixa

de ser extraordinário.

3.

Não quero hoje falar dos casos de pedofilia

– agora também esmiuçados

em Portugal por uma comissão acima

de qualquer suspeita – ou da aparente

resistência a que se saiba mais por parte

de algumas figuras distintas.

Também não é a altura para comentar

as resistências várias da Igreja Católica

portuguesa ao 25 de Abril – é conhecido

no essencial o compromisso histórico

entre a cúpula católica e o salazarismo.

Um dia destes ainda escreverei sobre

as reticências e o desdém de muitos

católicos proeminentes em Portugal

ao Papa Francisco e a tudo o que ele

representa.

4.

Acredito em Deus.

Mas é-me difícil encontrar na Igreja

Católica um lugar onde me seja fácil o

caminho para uma ideia de transcendência.

Admiro muito o Papa Francisco.

Como admiro Frei Bento Domingues,

Tolentino de Mendonça, Fernando

Ventura ou até José Ornelas, o atual

porta-voz da Conferência Episcopal.

Mas quando procuro encontrar razões

para ter esperança na Igreja logo a realidade

se encarrega de me dizer que

sou demasiadamente crédulo.

5.

Repararam no episódio do desejo de

compra da sede histórica do CDS pelo

Chega?

Para quem não sabe, o prédio de quatro

andares no Largo do Caldas pertence

ao Patriarcado de Lisboa.

E aparentemente o CDS não tem dinheiro

para pagar a renda e quer renegociar

valores.

André Ventura aproveitou a brecha e

anunciou que iria fazer uma proposta

de compra ou arrendamento ao Patriarcado.

Chegou inclusivamente a falar

de verbas concretas: 7 milhões de

euros pela compra e 5 mil euros mês

pelo arrendamento.

Também hoje não vos quero maçar

acerca dos 7 milhões de euros que o

líder do Chega se propõe pagar – arranjar

tanta massa é uma boa matéria

para uma conversa de pé de orelha.

O que vos quero confessar é que esperei

todos estes dias por uma declaração

da Conferência Episcopal ou do

patriarcado, no sentido de me tranquilizar.

Do género:

“Em nenhuma circunstância o Patriarcado,

a Igreja Católica, venderá o seu

prédio do Largo do Caldas ao Chega”.

“Em nenhuma circunstância e por um

qualquer valor. A Igreja Católica não

pactua com projetos políticos ancorados

em valores que não são os nossos”.

Mas não.

Não houve qualquer declaração.

Na verdade, minto.

Houve uma declaração.

A de que até ao momento não chegara

qualquer proposta formal do Chega

pela compra do edifício.

Só pode ser obra de Deus.

Mas até Deus se cansa, meus queridos

amigos.

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