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esticar demasiado este processo.<br />
As pessoas estão ansiosas<br />
e precisam de respostas<br />
logo no início... E, depois, o<br />
fator financeiro também pesa.<br />
A terapia demora seis ou sete<br />
sessões e a ideia é dar compe -<br />
tências ao casal para que possa<br />
enfrentar as diferentes situações<br />
com as quais vai de -<br />
parar-se ao longo da vida.<br />
É importante que ambos estejam comprometidos com a terapia,<br />
que acreditem nela. Por exemplo, há casos em que, no<br />
início da terapia, proíbo que avancem para sexo, para passar<br />
para mim essa responsabilidade de não acontecimento sexual,<br />
mas também para baixar a ansiedade, porque sou eu<br />
que não permito. Por outro lado, recomendo outras experiências:<br />
o voltar à carícia, o redescobrir o corpo, o redescobrir<br />
o outro. O objetivo é que a pessoa se sinta bem nas mãos<br />
do outro, porque, se isso não acontecer, não pode haver desejo<br />
sexual.<br />
Isso é recuperável?<br />
Sim. As pessoas entram em ciclos viciosos, é muito comum.<br />
Vejo essa repetição nos casais que acompanho. Em muitos<br />
casos, as mulheres deixam de ter gestos carinhosos para<br />
não alimentar a ideia de que vai haver sexo. E, quanto mais<br />
elas se afastam, mais eles as procuram. Isto era o mais comum<br />
no passado; hoje, já há muitos casos de homens que<br />
não têm desejo sexual pelas mulheres e há mulheres para<br />
quem o sexo é realmente importante. São mulheres que se<br />
sentem bem com o corpo, para quem a sexualidade é uma<br />
coisa descontraída, que até encaram o sexo como uma forma<br />
de alimentar outras áreas, porque lhes traz satisfação,<br />
prazer e energia. Claro que a intensidade do desejo pode diminuir,<br />
há fatores externos que podem interferir com a disponibilidade,<br />
como o trabalho, os filhos. De facto, no início,<br />
a excitação pode ser maior. Conheço muitos casos de mulheres<br />
que nunca tinham tido um orgasmo e que investiram<br />
muito no início de novas relações. Há o fator novidade, estão<br />
num processo de sedução, de descoberta do corpo do<br />
outro... Claro que não é preciso ter sempre um orgasmo,<br />
mas nunca ter também não é bom.<br />
BILHETE DE IDENTIDADE<br />
Licenciada em Psicologia, na área de Clínica,<br />
pelo Instituto Superior de Psicologia Aplicada,<br />
Marta Crawford é especializada em Sexologia<br />
Clínica. Apresentou os programas televisivos<br />
AB Sexo (na TVI, em 2005 e 2006) e Aqui Há<br />
Sexo (na TVI 24, em 2009), e publicou os<br />
livros Sexo sem Tabus (2006), Viver o Sexo<br />
com Prazer. Guia da Sexualidade Feminina<br />
(2008) e Diário Sexual e Conjugal de um Casal<br />
(2011), todos publicados pela Esfera dos Livros.<br />
É terapeuta sexual na Clínica do Homem<br />
e da Mulher, em Lisboa.<br />
Porque é que isso acontece?<br />
Pode ter a ver com situações<br />
anteriores, com o facto de serem<br />
muito contidas ou incapazes<br />
de se deixarem ir na relação,<br />
por nunca se terem<br />
masturbado durante a adolescência<br />
e não conhecerem<br />
bem ou não se sentirem bem<br />
com o seu corpo. Ou seja, há<br />
várias situações que podem<br />
fazer com que a mulher não se deixe ir, não se entregue<br />
e fique quase como uma espectadora do que está a acontecer.<br />
O orgasmo é precisamente o contrário, é o deixar-<br />
-se ir, o não controlar. Aquelas mulheres que são muito<br />
organizadas e controladoras sofrem frequentemente desta<br />
situação, ainda que não haja uma obrigatoriedade em<br />
que assim seja. Outras vezes, têm vergonha do corpo e,<br />
quando isso acontece, não se podem entregar, com medo<br />
de sentirem ridículas.<br />
O ridículo não existe nestas situações?<br />
Não, mas há muita gente a sentir-se ridícula e a preocupar-<br />
-se com outras questões, mais acessórias, como se estão gordas,<br />
se têm pelos, e não com a envolvência da própria relação.<br />
Também pode ter havido uma situação anterior, uma relação,<br />
uma desconfiança que explique uma maior contenção<br />
e a dificuldade em ter orgasmos. Há aqui vários condimentos<br />
que podem dificultar o orgasmo e o desconhecimento do próprio<br />
corpo é um dos principais. Por isso é que recomendamos<br />
a masturbação, é uma coisa importante.<br />
Ao longo de toda a vida?<br />
Sim. A necessidade de masturbação, mesmo quando existe<br />
uma relação sexual satisfatória, é perfeitamente normal e<br />
positiva. Masturbar alivia a tensão. Só é negativa quando se<br />
substituiu uma coisa pela outra. A dificuldade no relacionamento<br />
pode explicar que a pessoa recorra à masturbação,<br />
porque está sozinha, não é avaliada, não tem de debater-se<br />
com ansiedade. Quando as relações dão prazer, a procura<br />
de intimidade pode ser o maior antidepressivo, a grande vitamina.<br />
Intimidade significa poder viver livremente numa relação<br />
íntima, deixar de estar oprimido pelos pensamentos,<br />
ser capaz de libertar-me, de orientar o outro naquilo que me<br />
Caixa Woman 31