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CaixaWoman#13

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PÚBLICO E ÍNTIMO<br />

ISABEL LEAL<br />

Psicóloga clínica<br />

38 Caixa Woman<br />

Primavera<br />

Mesmo que o Sol no céu, brilhe, que<br />

as andorinhas comecem a chegar, que os<br />

dias de praia sejam já, além de possíveis,<br />

saborosos, parece quase mal andar de<br />

sorriso afivelado, ter os ombros erguidos,<br />

as costas direitas e a testa sem franzidos.<br />

Parece quase mal não ter um ror de<br />

queixas a apresentar, não aproveitar o mais<br />

insípido mote para desfiar um imenso<br />

rosário de desconfortos, não dizer mal, a<br />

eito, de tudo o que nos rodeia e diz respeito.<br />

Parece que o país, que, há anos, estava de<br />

tanga, agora está mesmo nuzinho e que,<br />

por tal, devemos envergonhar-nos da nossa<br />

impudica nudez. Devemos esconder a cara,<br />

imbuirmo-nos do clima de ruína e<br />

mostrarmo-nos decentemente<br />

compungidos e tristonhos.<br />

Para alguns, mergulhar de cabeça na<br />

desgraceira é mais do que fado, é estilo de<br />

vida, e ter como pretexto uma crise<br />

reconhecida internacionalmente, com todos<br />

os condimentos devidos, é um momento<br />

áureo, culminando sucessivos anúncios<br />

de cataclismos próximos, castigadores<br />

do nosso desatino e da nossa leviandade.<br />

Para esses, há, em fundo, um “eu bem te<br />

avisei”, um “eu já te tinha dito”, que, mesmo<br />

que inúteia ou falseados, permitem<br />

o estranho consolo do ter razão.<br />

Para outros, no entanto, o que se passa<br />

à sua volta não consegue transpor os<br />

pequenos muretes defensivos, habilmente<br />

tecidos como recursos pessoais, que<br />

permitem que a vida de cada um não seja<br />

um mero espelho do mundo circundante,<br />

da baixa política ou da alta finança.<br />

Consegue viver-se em sociedade, viver-se<br />

com menos dinheiro e com menos objetos,<br />

ter, algures, um sentimento de perda<br />

ou de desilusão, experimentar sensações<br />

de maior insegurança e, ainda assim,<br />

apreciar o que há para apreciar.<br />

As boas notícias, nos tempos em que<br />

Consegue viver-se<br />

em sociedade, viver-se<br />

com menos dinheiro e<br />

com menos objetos, ter,<br />

algures, um sentimento<br />

de perda ou de<br />

desilusão, experimentar<br />

sensações de maior<br />

insegurança e, ainda<br />

assim, apreciar o que<br />

há para apreciar.<br />

as noticias parecem todas más, são as que<br />

nos permitem perceber que se consegue<br />

sempre descobrir zonas de conforto e<br />

bem-estar, mesmo no meio de adversidades.<br />

Quando se consegue construir redutos<br />

íntimos onde que o que conta é quem se<br />

é e o que se partilha com quem se aprecia<br />

e gosta, o que vai acontecendo como pano<br />

de fundo da nossa existência não passa<br />

de cenários. Uns melhores do que outros,<br />

mas, em todo o caso, cenários que não<br />

têm a força de nos impedir de receber<br />

a primavera que chega.

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