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DESAFIO<br />
Lição de<br />
TANGO<br />
É o título de um filme obrigatório. É o nome da escola criada pelos campeões<br />
europeus de tango, no Porto. E é a nossa proposta para apaixonar-se.<br />
Pela vida. Preparadas para uma lição de tango?<br />
A aula começa em Lisboa. Há uma bailarina de dança<br />
contemporânea que acaba de chegar e faz tempo com<br />
aquecimentos. Anunciam-se mais passos no soalho de<br />
madeira, alguns pela primeira vez. Dois casais assomam<br />
também nas escadas, mas apenas elas passam da porta.<br />
Há quem diga que são precisos dois para se dançar o<br />
tango. Elena Gonzalez diz o contrário. “As mulheres<br />
seguem e os homens lideram. Estes workshops têm precisamente<br />
como objetivo trabalhar a parte feminina e técnica,<br />
explicando às mulheres como ‘seguir’ e acompanhar<br />
bem.” Mas não só. “Em Buenos Aires, o homem está<br />
preocupado em agradar à mulher. Na Europa, esta cultura<br />
foi-se perdendo um pouco e ele acaba por estar sobretudo<br />
concentrado nos passos. O que fazemos aqui é lembrar<br />
o nosso par de que não somos apenas a parte que<br />
falta para completar o passo, mas que também temos algo<br />
a dizer.” Por isso, aos domingos, no Tango LAB, é dia de<br />
tango só para elas. Bem longe vão os tempos em que esta<br />
dança estava apenas reservada aos homens dos subúrbios<br />
de Buenos Aires. Por ser considerada obscena a proximidade<br />
entre homens e mulheres, o tango começou por estar<br />
circunscrito aos bordéis, mas a dança massificou-se,<br />
44 Caixa Woman<br />
TEXTO DE PAULA CRISTÓVÃO SANTOS.<br />
nomeadamente na alta sociedade, quando os emigrantes<br />
argentinos a introduziram em Paris, chegando, assim,<br />
num ápice à Europa. Elena ensina tango há cerca de quatro<br />
anos em Portugal, no Tango LAB, que criou juntamente<br />
com Tom Weber. Conheceram-se em Buenos Aires,<br />
numa dança. Elena, natural da Patagónia, estava na capital<br />
da Argentina a aperfeiçoar a técnica. Tom Weber, físico<br />
de profissão, estava em trabalho. Ela só falava espanhol.<br />
Ele só sabia francês. Nessa noite, só comunicaram “em<br />
tango”. E, ao longo da vida, tem sido este o ponto de equilíbrio<br />
a dois. Tom veio trabalhar para Lisboa, para a área<br />
da Imunologia. Elena seguiu-lhe os passos. “Decidi que<br />
queria partilhar o tango argentino tradicional. Não aquele<br />
que se prende com as grandes exibições, mas o tango<br />
mais social, que privilegia o movimento à rigidez de uma<br />
estrutura.” Elena defende uma escola de tango com mais<br />
enfoque no movimento do que na aprendizagem de passos.<br />
“O passo básico começa com um passo do homem<br />
atrás. Imaginemos que estamos numa sala cheia de pessoas<br />
e que este passo não é exequível. O homem fica perdido<br />
porque está preso a uma sequência. E o tango não<br />
é isso, o tango é improviso.” Daí Tango LAB.